Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

TT Catalão

‘Eu vi um cortejo de 30 mártires contornar o mármore dos palácios, cercar a exuberância dos altares e abrir caminho ao Sumo Pontífice até o Paraíso. Eu vi que os 30 mártires brasileiros tombados pelas balas assassinas da Baixada Fluminense usavam suas vestes originais em camiseta surrada, sandálias piratas havaianas e a pompa dos vestidos de grife camelô. Só conseguiram do Estado a cova, o atestado de óbito, algumas velas e muita, muita, promessa de ‘medidas drásticas para conter a violência’. E tome força-tarefa e suas comissões de inquérito de praxe.


O cortejo dos 30 mártires não sensibilizou tanto aos Senhores da Mídia Empresarial pela inoportuna e desagradável ação de serem chacinados quando morria um Santo Súbito de óbvio impacto extraordinário no coração do mundo. Claro que, embora estivesse um João (ninguém) e um Paulo (das quebradas) entre os 30 assassinados não seria de bom tom macular o foco das coberturas – o ritual de poder e glória é irresistível – com algo tão desagradável que é o espetáculo mórbido da putrefação em céu aberto entre as valas fétidas e biroscas recendendo a 51 e calibre 38 ou 7 meia cinco. Nem a grande foto que deu pôster e símbolo de luta dos corpos alinhados em caixões de ciprestes de Vigário Geral foi feita. Apenas o rosto, isolado, excluído até no massacre, recebia a manchete daquele dia como manto banal incapaz de deter a voracidade de curiosos, moscas e cabos eleitorais. Aliás, foi um breve momento em que alguns jornais adquiriram alguma função pública desinteressada: ao cobrir cadáveres.


A mácula da suspeição sobre policiais civis e militares, atores do macabro extermínio, APENAS para ‘demonstrar represália ao comando central que os investigavam’, demonstra a nossa falência moral em planos inimagináveis: não temos mecanismos de controle nem onde deveria haver o mínimo de atitude em pessoas pagas para controlar o crime.


O cortejo de mártires saiu da Baixada Fluminense e sem vaticínio algum – pois a morte estúpida permite o desaparecimento coletivo de anônimos sem registro – entrou na história do colapso que nos aguarda. O mundo não recitou os nomes dos 30 brasileiros fuzilados pela insanidade de assassinos. Não teriam como lembrar de tantos miseráveis. Os líderes mundiais pregam, mas não praticam a paz. Querem ‘matar a fome’ no sentido virtual e emblemático das suas ‘honras culpadas’, porém nunca se mexem para facilitar um comercio exterior justo, a troca de dívidas em bônus de Educação, Saúde e Meio Ambiente. Consternados por João Paulo II, que mereceu realmente todo o pranto e elevação midiática, não havia tempo, nem cultura de interesse para que lembrassem dos milhares tombados em chacinas (algumas não tão explícitas quanto a da Baixada, mas um lento e degradante definhar do corpo e do espírito pelo desrespeito e o abandono).


Nossa compaixão precisa ir além dos desabafos, idéias indignadas e palavras. Os 30 mártires prometem ajudar João Paulo II (agora em outro estágio de plasma e energia) a convencer que a Igreja Viva nasce do comprometimento traduzido em atos. E o Evangelho ainda é o projeto mais radical de compaixão e luta pela fraternidade. Nossa solidariedade precisa estar muito mais próxima do próximo. E cada um fazer com que as condições e omissões que permitem as chacinas não mais continuem acontecendo nas periferias do Brasil. Lembrar que a palavra ‘exéquias’ do latim significa ‘seguir até o fim’. Daí seu uso para o acompanhamento funeral. Seja de exéquias a postura do Estado em seguir até o fim a Justiça para punir e erradicar os bandidos da Baixada, para honra, glória e Santidade Súbita dos 30 mártires de João.’



MESQUITAS NO OI
O Globo


‘Mesquita: jornal é leitura obrigatória’, copyright O Globo, 14/04/05


‘Homenageado anteontem pelo programa ‘Observatório da Imprensa’, da TVE do Rio, pelos 80 anos que completa esta semana, o diretor do jornal ‘O Estado de S.Paulo’, Ruy Mesquita, afirmou que imparcialidade não significa neutralidade e disse que os jornais são dirigidos ‘às camadas dirigentes da sociedade’, por isso não atingem grande parcela da população.


Segundo Mesquita, a salvação para os jornais brasileiros está em tornar-se leitura obrigatória para grupos que decidem.


– A salvação para a imprensa brasileira, como para a americana, é se preocupar em tornar o jornal leitura obrigatória para grupos que decidem. Quem lê, não lê por prazer. Lê porque precisa – disse Mesquita, que respondeu a perguntas dos filhos João Lara Mesquita e Fernão Lara Mesquita, do editor de Opinião do GLOBO, Aluizio Maranhão, do jornalista Wilson Figueiredo, do ‘Jornal do Brasil’, e do apresentador do programa, Alberto Dines.


Mesquita afirmou que não acredita em estratégias para atrair jovens leitores, seduzidos pela internet. Segundo ele, por causa da agilidade de meios como a internet e a TV, o leitor tem informação suficiente, o que torna a opinião do jornal um fator que o diferencia dos outros meios.


– O destino da imprensa depende mais da sua capacidade de completar a informação – disse, lembrando que o jornal consegue publicidade não pela tiragem, mas pelo prestígio.


Preocupação com ‘murdochização da imprensa’


Respondendo ao filho João, voltou a falar de sua preocupação com a ‘murdochização da imprensa’ de um modo geral. Por murdochização, ele se referiu à ação de empresários que conduzem seus jornais como um negócio qualquer, cujo objetivo é só o lucro e não uma linha editorial opinativa. Citou como exemplo desta prática o ‘Times’, na Inglaterra, e o ‘Jornal do Brasil’ e a ‘Gazeta Mercantil’, no Brasil. O programa será reapresentado sábado, às 22h30m.’



***


‘Herdeiro de uma tradição jornalística’, copyright O Globo, 14/04/05


‘O diretor do ‘Estado de S.Paulo’, Ruy Mesquita é herdeiro de uma das mais tradicionais empresas jornalísticas do Brasil. Seu avô, Júlio Mesquita, redator político, obteve notoriedade no jornal ‘A Província de S. Paulo’, fundado em 4 de janeiro de 1875, ainda durante o Império.


Em janeiro de 1890, já na República, o jornal foi rebatizado para ‘O Estado de S.Paulo’. Um ano depois, Júlio Mesquita assumiu a empresa, concretizando a proposta de criação de um diário republicano, surgida durante a realização da Convenção Republicana de Itu, com o objetivo de combater a monarquia e a escravidão. Começou a história de quatro gerações da família Mesquita.


Depois do fundador, falecido em 1927, assumiu seu filho, Júlio de Mesquita Filho. Até 1969, ele dirigiu o jornal enfrentando 17 prisões e dois períodos de exílio. Deu lugar a Júlio de Mesquita Neto, que esteve à frente do jornal durante o regime militar. Ruy Mesquita assumiu a direção do jornal com o desafio de consolidar o grupo Estado, hoje formado também por rádios, agência de notícias e o ‘Jornal da Tarde’.’




GLOBO
PREMIADO
O Globo


‘Repórteres do GLOBO recebem prêmio’, copyright O Globo, 14/04/05


‘O prêmio Rey de España, na categoria Imprensa, foi entregue ontem pelo rei Juan Carlos a Angelina Nunes, que representou a equipe do GLOBO responsável pela série de reportagens ‘Os homens de bens da Alerj’, publicada a partir de junho do ano passado, mostrando o crescimento patrimonial dos deputados estaduais. Também participou da cerimônia na Casa das Américas, em Madri, o repórter Alan Gripp, que faz parte da equipe premiada formada por Carla Rocha, Dimmi Amora, Flávio Pessoa, Luís Ernesto Magalhães e Maiá Menezes. A mesma série mereceu ainda o Prêmio Esso de Jornalismo 2004.


A série, que consumiu quatro meses de trabalho e concorreu com reportagens de 27 países, mostrou a evolução patrimonial de 113 políticos do Rio, revelando que 27 deles aumentaram em mais de 100% seu patrimônio entre 1996 e 2001. A apuração foi feita com base nas declarações de renda entregues pelos políticos ao TRE e comprovou que, em alguns casos, o aumento patrimonial chegou a 1.500% em cinco anos. Com base nas reportagens, o Ministério Público Estadual e a Receita Federal abriram investigações. A Receita já encontrou irregularidades em 40 de 55 declarações de políticos que têm domicílio tributário na cidade do Rio de Janeiro.


A cerimônia de premiação, em Madri, foi presidida pelo rei e pela rainha da Espanha, Sofia, acompanhados pelo presidente da agência de notícias EFE, Alex Grijelmo, e pela secretária de estado de Cooperação da Espanha, Leire Pajín, responsáveis pelas entidades que patrocinam o prêmio, um dos mais importantes no âmbito ibero-americano. A fotógrafa Wania Corredo, do jornal ‘Extra’, também esteve na cerimônia para receber o prêmio de fotografia pela foto ‘Os invasores’. A imagem retrata o desespero de invasores para pegar restos de comida durante um incêndio na Ceasa.


Ainda na modalidade fotografia, o mexicano Daniel Aguilar Rodríguez ganhou menção honrosa, por uma foto da série ‘Haiti, viver a morte’. Os cubanos Ernesto Daranas Serrano e Natalia Ruiz receberam o prêmio ibero-americano pelo programa ‘Os últimos gaiteiros de Havana’, exibido pelo Canal Educativo 2, de Cuba. O argentino Carlos Antonio de Elia ganhou na categoria televisão, pelo programa ‘Os anjos do general’, transmitido pelo canal 13 de Buenos Aires. E o espanhol Gonzalo Estefanía González, que levou na categoria rádio com ‘Espanha-América, América-Espanha: a viagem continua’, veiculado pela Rádio Cultura, de Buenos Aires.


Esta foi a primeira vez – nas 22 edições do Rey de España – que a premiação ocorreu fora do Palácio da Zarzuela, residência oficial do rei e da rainha. Quem deu o tom da cerimônia, que reuniu cerca de 300 convidados na Casa das Américas, foi o gaitista espanhol Carlos Nuñez. Além de um prêmio em dinheiro, os escolhidos deste ano receberam como troféu uma obra do escultor espanhol Joaquín Vaquero Turcios.


Esta é a quarta vez que jornalistas do GLOBO vão à Madri receber o prêmio Rey de España. A primeira foi em 1999, com a reportagem ‘O deputado assassino’, de Vanildo Mendes e Mônica Torres Maia. Em 2001, o fotógrafo Marcelo Sayão foi premiado pela foto de um policial acuado, ao lado de um orelhão, no Morro da Providência, enquanto tentava argumentar com três mulheres que participavam de um protesto de moradores contra a morte de um rapaz num tiroteio com a polícia. No ano passado, o fotógrafo Domingos Peixoto levou o prêmio, pela foto ‘Retrato do desemprego’, que mostra o drama de candidatos às vagas para gari da Comlurb.’