Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Carlos Heitor Cony


‘Não foi por gosto pessoal nem por curiosidade natural quando se trata de saber quem é o homem que será papa, sucessor de uma linhagem que marcou a história, líder religioso de milhões de pessoas no mundo inteiro.


Foi uma tarefa profissional. Era editor de uma revista, havia feito a cobertura de alguns episódios da política internacional. Para melhor deslocamento no território europeu, levado pela mão amiga de Araújo Neto, credenciei-me junto à Associazione della Stampa Estera, ali quase na praça São Silvestre, em Roma. Era tempo das brigadas vermelhas, do seqüestro e assassinato de Aldo Moro, da eleição e morte de João Paulo 1º, entre outros episódios menores.


Para quem não sabe, cobrir acontecimentos dessa natureza é relativamente fácil. Na maioria das vezes, basta ficar na mesa de um bar, como Hemingway durante a Segunda Guerra, ou dormindo numa barraca da retaguarda, como Rubem Braga, segundo atesta Joel Silveira, outro correspondente da mesma guerra, que, aliás, fazia coisa igual.


Seguindo a regra, fiz a maior parte das coberturas no quarto de um hotel, vendo TV, lendo jornais, eventualmente entrevistando um personagem que desse sopa. A rotina mudou quando foi anunciada a primeira vinda de João Paulo 2º ao Brasil, em 1980. Pediram-me uma edição especial, antecipada à visita.


Cheguei a Roma levando exemplares daquela edição. Dom Eugênio Salles me recomendara ao monsenhor Romeo Pancirolli, então primeiro-secretário de imprensa e porta-voz de João Paulo 2º. O monsenhor gostou do número especial, mostrou-o ao papa e me incluiu entre os jornalistas que viajariam com ele.


Fiz uma coisa raríssima em minha vida: por recomendação de Arturo Mari, fotógrafo oficial do Vaticano, filho e neto de fotógrafos que trabalharam com os últimos papas, usei terno escuro e colete, parecendo um clone do próprio Mari, que entusiasticamente aprovou meu visual.


Ao entrar no avião, dei de cara com monsenhor Pancirolli, que distribuía a revista entre os cardeais e os jornalistas que integravam a comitiva. Mal me sentei na classe econômica do DC 10 da Allitalia, reservada à imprensa, o porta-voz avisou que me apresentaria ao papa. Não acreditei muito.


O vôo começou no horário previsto, nem um minuto a mais ou a menos. E -por Júpiter!- nunca viajei em céu melhor do que céu de brigadeiro.


Ao meio-dia, a voz do papa foi ouvida na cabina: ‘Invito a tutti a pregare il Angelus’ (Convido todos a rezar o Ângelus). Desde os tempos de seminário que não ouvia rezarem a saudação que os religiosos fazem diariamente, ao meio-dia e às seis da tarde: ‘O Anjo do Senhor anunciou à Maria, e ela concebeu do Espírito Santo’. Afastado das preces havia muitos anos, não rezei, mas fiquei comovido. Pensava que ninguém mais rezava aquela oração nem mesmo os papas.


O vôo era longo e, depois do almoço servido a bordo, decidi dormir um pouco. Tirei o paletó e ainda estava cochilando quando Pancirolli me cutucou. Abri os olhos e vi, ao meu lado, nada menos do que o papa, que estava cumprimentando os jornalistas. Com a cara amarrotada, fiz um gesto para me compor, botar o paletó. O papa travou meu braço, dispensando-me do esforço. ‘Stà bene.’ E, depois, como a todos os demais colegas de vôo: ‘Aquele abraço!’.


Pancirolli mostrou-lhe mais uma vez o número especial, o papa agradeceu o trabalho, perguntou onde eu havia arranjado tanto material, disse que gostara muito. Não sei o que me deu. Por timidez, costumo ser sóbrio quando falo com pessoas importantes e com desconhecidos, embora o papa não fosse exatamente um desconhecido. Mas era importante pra burro.


Disse esta coisa espantosa: ‘Como seria bom se fosse verdade!’. João Paulo 2º ainda segurava meu braço e me repreendeu: ‘O papa sempre diz a verdade’. Para aliviar a tensão, perguntei se ele não me daria ‘aquele abraço’. Textualmente, ele disse que, além do abraço, me daria sua bênção, uma bênção especial, textualmente, como a revista que eu editara.


Abençoado pelo papa, fui fotografado pelo Arturo Mari, que me repreendeu por estar só de colete. Onze anos depois, em 1991, estava outra vez no avião do papa que vinha pela segunda vez ao Brasil. Fisicamente, era outro homem: fora baleado, tivera a vida em perigo. O porta-voz não era mais Romeo Pancirolli, mas o médico espanhol Joaquim Navarro-Valls, ligado à Opus Dei.


Durante a viagem, veio apenas uma vez falar aos jornalistas. Uma entrevista coletiva, impessoal. Navarro-Valls encaminhava as perguntas, o papa respondia. Notei que sua batina branca tinha, pequenina, amarelada, a mancha do omelete que ele comera na ‘prima colazione’. Eu comera o mesmo omelete, que parece obrigatório no café da manhã das viagens internacionais. Não sujara a camisa porque sujara o colete que o Arturo Mari mais uma vez me obrigara a usar.


As duas manchas amareladas, na batina branca do papa e no meu colete escuro, valeram por uma bênção que, sem saber, ele novamente me dava.’





 


Márcio Senne de Moraes


‘Telefilme sobre o papa estréia na Itália ‘, copyright Folha de S. Paulo, 15/04/05


‘Críticos cinematográficos italianos tiveram ontem a primeira oportunidade de assistir a um telefilme sobre a vida do papa João Paulo 2º dos anos 30, em Wadowice, na Polônia, quando o pequeno Karol Wojtyla tinha dez anos, até o dia 16 de outubro de 1978, quando se tornou papa.


Em entrevista concedida à Folha, por telefone, o ator polonês Piotr Adamczyk disse ter sido ‘uma honra’ interpretar Wojtyla. ‘Trata-se do maior papel de minha carreira artística. Para nós, os poloneses, Karol Wojtyla é um herói e um exemplo. Para mim, foi uma honra, visto que, entre outras coisas, ele foi um dos pivôs da queda do comunismo europeu, sobretudo na Polônia.’


‘Karol, o Homem que se Tornou Papa’, dirigido pelo italiano Giacomo Battiato e rodado majoritariamente em território polonês, retrata longamente a Polônia ocupada pelos nazistas, na qual Wojtyla estudou clandestinamente para tornar-se religioso e, em 1944, apareceu numa lista negra nazista por suas atividades no ‘submundo democrata-cristão’.


‘A morte do papa constituiu uma enorme perda para a Polônia. Mas, ao mesmo tempo, temos orgulho de seu legado e de suas realizações. No filme, não tentei imitá-lo, mas busquei passar ao público um pouco do fantástico personagem que ele era. É impossível imitar um gênio’, admitiu Adamczyk. Este já interpretara outro ‘herói polonês’, o compositor Frédéric Chopin.


O filme, que é baseado no livro ‘A História de Karol’, do vaticanista Gianfranco Svidercoschi, terá sua primeira parte exibida pela na TV italiana na próxima segunda-feira, 18 de abril, o dia do início do conclave -que escolherá o sucessor de João Paulo 2º. A exibição, que será feita pelo Canale 5, já estava programada para o mês de abril e não foi adiantada por causa da morte de Wojtyla, de acordo com os produtores do filme.


O projeto, que será distribuído para outros países e sairá em vídeo e em DVD ‘em boa parte do mundo’, ainda segundo seus produtores, teve um orçamento de 11 milhões, 70% financiados pelo grupo Mediaset. Este pertence ao megaempresário e premiê da Itália, Silvio Berlusconi. Ademais, ele foi aprovado pelo próprio Karol Wojtyla, que chamou o diretor e o ator polonês de ‘loucos’ por quererem levar às telas sua vida.’



Jaime Biaggio


‘Na telas, papas costumam ficar em segundo plano’, copyright O Globo, 15/04/05


‘Antes de seu papado completar dez anos, João Paulo II já havia sido personagem de cinema três vezes. Em todas elas em filmes obscuros, um deles feito diretamente para a TV (ironicamente, o único dos três em que é interpretado por um ator de renome, Albert Finney). Morto, com sua história de peregrinações pelo mundo ao custo de grande sacrifício físico, é material perfeito para uma superprodução, daquelas que costumeiramente concorrem ao Oscar.


Caso isso aconteça, será uma rara ocasião em que um Papa ocupará o centro da trama de uma produção de grande porte. Charles Durning, F. Murray Abraham, Tom Conti, John Gielgud, Vittorio De Sica, Burt Lancaster já encarnaram papas. Mas ou se tratava de um papel central num filme modesto ou de uma rápida aparição num filme de maior porte. As duas exceções são Rex Harrison, como o Papa Júlio II, sustentando uma batalha de egos com Michelangelo (Charlton Heston) em ‘Agonia e êxtase’, de 1965, e Anthony Quinn como o fictício arcebispo Kiril Lakota, que se torna Papa depois de passar 20 anos num campo de trabalhos forçados na Rússia, em ‘As sandálias do pescador’, adaptação do livro de Morris L. West lançada em 1968.


A instituição do Vaticano, sim, já teve um papel preponderante na trama de filmes e livros de sucesso e/ou prestígio, ainda que geralmente sob uma ótica crítica. ‘O nome da rosa’, de Umberto Eco (e, no cinema, de Jean-Jacques Annaud), é o caso mais famoso. Na sua trama de mistério, cujo ponto de partida é uma série de mortes numa abadia no século XIV, dois frades franciscanos de mentalidade progressista, vividos por Sean Connery e Christian Slater, entram em choque com o ideário dos tempos da Inquisição. Neste livro/filme, a Igreja impede o acesso dos fiéis à cultura e à informação e semeia o medo do castigo divino.


O recente ‘Lutero’, cinebiografia do reformista Martinho Lutero, vivido por Joseph Fiennes, dá seqüência ao assunto, num registro mais tradicional. Não é muito diferente de outros filmes famosos em que o Vaticano aparece. ‘O poderoso chefão – parte 3’ leva o clã mafioso dos Corleone à Praça de São Pedro e o envolve nos acontecimentos misteriosos que cercaram a eleição e a morte, após um mês de pontificado, do Papa João Paulo I. No filme, o Vaticano opera sob a lógica de uma empresa, negociando com Michael Corleone (Al Pacino) em torno de interesses comuns.


A imagem da Santa Sé também sai comprometida no recente ‘Amém’, de Costa-Gavras, no qual um oficial piedoso da SS nazista e um jovem jesuíta tentam alertar o Papa Pio XII para a existência do Holocausto. Os heróis não têm um final feliz, e a última cena antes dos créditos é particularmente cínica, envolvendo o Vaticano no esquema de encobrimento da fuga de oficiais nazistas para a América do Sul após o fim da Segunda Guerra.


Perto desses exemplos, a versão para o cinema de ‘O código Da Vinci’, de Dan Brown, que Ron Howard começará a rodar em breve, é até branda com o Vaticano. Ainda assim, o best-seller e o filme, que terá Tom Hanks no papel principal, apresentam o Vaticano como guardião de segredos ancestrais que, se revelados, poderiam abalar profundamente o cristianismo.’





 


John L. Allen Jr.


‘O som e a fúria ‘, copyright Folha de S. Paulo, 15/04/05


‘Os jornais italianos abominam o vácuo, por natureza, e por isso, em reação ao silêncio imposto esta semana pelo Colégio dos Cardeais, toda forma de especulação e de boato vem encontrando espaço na imprensa local. Num dia, o cardeal Angelo Sodano, secretário de Estado de João Paulo 2º, é apontado como favorito ao papado; no dia seguinte, a ‘Grande Esperança Branca’ da ala liberal, o cardeal Carlo Maria Martini, passa a ser visto como o mais quente.


Boa parte disso se baseia em pouco mais que palpites. Os jornalistas que cobrem o Vaticano regularmente talvez obtenham ocasional sucesso em contatar cardeais que conhecem bem, mas, mesmo nesses casos, os comentários dos prelados podem ter por objetivo lançar balões de ensaio ou bloquear determinados candidatos. Além disso, muitas vezes é difícil definir se estão falando em nome de alguém além deles mesmos, de modo que os jornalistas podem se sentir tentados a apontar ‘tendências’ com base em dois ou três encontros casuais.


Tendo isso tudo em mente, eis o que se pode dizer com algum grau de certeza sobre a situação política nos bastidores do conclave que se inicia na segunda-feira.


Primeiro, a campanha a favor do cardeal Joseph Ratzinger, durante 24 anos o czar da doutrina no Vaticano, é uma realidade. Há forte base de apoio a Ratzinger no colégio, e seu desempenho no período que se seguiu à morte do papa, especialmente sua eloqüente homilia durante a missa fúnebre, parece ter cimentado ainda mais esse apoio. Um funcionário do Vaticano que tem anos de experiência de trabalho com Ratzinger declarou em 13 de abril que estava ‘absolutamente certo de que Ratzinger será o próximo papa’.


Por outro lado, diversos cardeais já deram a entender que se sentem desconfortáveis com a perspectiva de uma candidatura como a do conservador Ratzinger. Não é apenas porque há cardeais que não acreditam que a proteção da identidade cristã no mundo laico deva ser o farol a orientar o próximo papado. Há aqueles que se preocupam, em termos práticos, com a eleição de uma figura com tamanha ‘bagagem’. Justa ou injustamente, Ratzinger de certa forma serviu de pára-raios para a opinião católica. Numa igreja que já está profundamente dividida, alguns cardeais se preocupam com a possibilidade de exacerbar as cisões. Um deles disse, em 12 de abril: ‘Não estou certo sobre como explicar uma escolha assim em meu país’.


Se a candidatura de Ratzinger for bloqueada sem que obtenha maioria de dois terços -77 dos 115 votos-, a questão passa a ser quem surgiria como alternativa.


Quanto a essa questão, não parece haver consenso nenhum. Diversos nomes foram mencionados. Entre as forças pró-Ratzinger, alternativas aceitáveis incluiriam Jorge Mario Bergoglio, da Argentina, Christoph Schönborn, da Áustria, Angelo Scola, de Veneza, ou mesmo Ivan Dias, da Índia. Entre os cardeais mais interessados em reforma da igreja ou numa agenda que favoreça a justiça social, figuras como Cláudio Hummes ou Geraldo Majella Agnelo, ambos do Brasil, parecem plausíveis. Já se um italiano de vocação pastoral e inclinações moderadas for necessário como candidato de compromisso, Severino Poletto, arcebispo de Turim, e Ennio Antonelli, de Florença, parecem fortes candidatos.


Até o momento, no entanto, os cardeais não parecem se ter decidido por nenhuma dessas figuras como candidato de consenso.


Outro ponto a enfatizar é o de que os cardeais não parecem interessados num conclave longo e arrastado. Houve quem especulasse sobre essa possibilidade, já que é plausível presumir que Ratzinger seja capaz de obter maioria simples (58 votos), mas não dois terços, o que poderia levar seus partidários a tentar prolongar o conclave além de 30 votações, quando, segundo as novas regras, o novo papa pode ser escolhido por maioria simples, caso uma maioria simples dos cardeais decida colocar essa norma em vigor.


Além disso, argumentam os que cogitam de um prolongamento do conclave, os cardeais desfrutarão de conforto físico muito maior, com aposentos na Casa de Santa Marta e a chance de fazer caminhadas nos jardins do Vaticano. Isso, acreditam alguns, pode atenuar seu senso de urgência.


Porém a maior parte dos cardeais que conversam discretamente com a imprensa nos últimos dias diz que o cenário é improvável. Um deles, em 10 de abril, analisou a situação: ‘O conclave não deve ser curto demais nem longo demais. Curto demais, e a decisão parecerá apressada; longo demais, surge a aparência de divisão e de que o papa está sendo eleito por uma facção, e não pelo consenso genuíno inspirado pelo Espírito Santo’. Portanto, disse, uma duração de dois a quatro dias seria ideal.


O que torna a situação fascinante é que o jogo começa quando os times entram em campo, não antes. A maior parte das previsões até agora são simplesmente som e fúria. Não querem dizer nada.


John L. Allen Jr. é correspondente no Vaticano da revista ‘National Catholic Reporter’ (www.ncronline.org). É autor do livro ‘Conclave’ (Record)’





O Globo


‘Produção italiana conta vida de João Paulo II’, copyright O Globo, 15/04/05


‘Menos de um mês após a morte do Papa João Paulo II, milhões de italianos, ainda de luto, poderão ver um extenso perfil do Pontífice, em um filme dedicado à sua juventude que será exibido na televisão na próxima semana. ‘Karol, o homem que se tornou Papa’ retrata Karol Wojtyla desde seus dias como estudante universitário em Cracóvia , durante a invasão da Polônia pelos nazistas, em 1939, passando pela descoberta da vocação religiosa, até a sua ascensão a Papa em 1978.


Os produtores já estão trabalhando na continuação, centrada no pontificado. As filmagens devem começar em setembro. O filme será exibido num canal privado, controlado pelo primeiro-ministro italiano, o empresário Silvio Berlusconi.


O jovem Wojtyla, que inicialmente pretendia seguir a carreira teatral, é interpretado pelo ator polonês Piotr Adamczyc.


– Foi uma mistura de alegria, felicidade e um sentimento pesado de responsabilidade – disse ontem Adamczyc, em entrevista após a exibição do filme no Vaticano. – Para entender o significado do Papa para nós, poloneses, a pessoa tem que saber o quando o país mudou durante seu pontificado. Seria difícil para qualquer ator, principalmente polonês, reproduzir sua espiritualidade, seu misticismo e seu carisma.


Filme será exibido em outros países


O produtor Pietro Valsecchi descreveu a reação de João Paulo II ao ser informado numa audiência sobre o filme.


– Ele me olhou de forma muito irônica, o que interpretei como ‘não faça besteiras’ – disse Valsecchi.


O filme, que está sendo licenciado para exibição em outros países, será mostrado em duas partes, a partir da próxima segunda-feira, quando começa o conclave que escolherá o sucessor de João Paulo II.


Entre os países interessados em exibir o filme estão os Estados Unidos. Anteontem estreou, na rede NBC, a série ‘Revelações’, na qual um cientista e uma freira se dedicam a investigar se um fim do mundo, como está previsto no Apocalipse, está próximo.


– Na indústria do entretenimento temos a obrigação de encontrar assuntos que interessem ao público. A religião é hoje um dos mais procurados e menos explorados – diz Kevin Reilly, presidente da Divisão de Entretenimento da NBC.’





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‘Álbum de figurinhas já foi lançado’, copyright O Globo, 15/04/05


‘Um álbum de figurinhas sobre a história de João Paulo II promete ser a sensação entre os vários suvenires que surgiram depois da morte do Papa. Os primeiros exemplares começaram a ser vendidos ontem em bancas de jornal do norte da Itália, mas há previsão de lançamento em todo o país.


O álbum é composto por 400 figurinhas, com 300 desenhos e 100 textos que narram a vida de João Paulo II, incluindo infância, juventude, seminário e carreira eclesiástica. Apenas quatro figurinhas estão relacionadas à sua morte. O álbum se encerra com a última frase pública de João Paulo, aquela a que se dirigiu aos jovens.


– No imaginário coletivo, as figurinhas são coisas de crianças. Para mim, são um meio de comunicação capaz de tratar de temas complexos – afirmou o presidente da editora responsável pelo lançamento do álbum, Franco Galantini.’





VENEZUELA


Janaína Figueiredo


‘Venezuela: ação preocupa jornalistas’, copyright O Globo, 15/04/05


‘A decisão da Justiça venezuelana de condenar a seis meses de prisão a jornalista Patricia Poleo, editora do jornal opositor ‘El Nuevo País’, por ter difamado o ministro do Interior, Jesse Chacón, foi duramente criticada pelo Sindicato de Trabalhadores da Imprensa (SNTP, na sigla em espanhol), o mais importante da Venezuela. Segundo o secretário-geral do sindicato, o jornalista Gregorio Salazar, a liberdade de expressão está em xeque no país.


– Criticamos todas as decisões judiciais que atentam contra a liberdade de expressão, e também as iniciativas do governo do presidente Hugo Chávez que buscam limitar a ação da imprensa. Não podemos esquecer que o presidente da República disse, há vários anos, que o principal inimigo da revolução bolivariana são os meios de comunicação – afirmou Salazar ao GLOBO, por telefone, de Caracas.


Entidade também admite erros de jornalistas no país


O secretário-geral do sindicato admitiu que os meios de comunicação cometeram graves erros nos últimos anos, sobretudo durante o golpe de Estado ocorrido em 11 de abril de 2002. Na época, os jornais, canais de TV e rádios apoiaram o governo do ex-presidente Pedro Carmona, um dos líderes do golpe que durante 48 horas manteve Chávez afastado do poder. No dia posterior ao golpe, os meios de comunicação locais transmitiram filmes, programas de cozinha e desenhos animados, enquanto Carmona dissolvia o Congresso e Chávez era preso por seus opositores.


– Condenamos os abusos e excessos cometidos pela imprensa venezuelana nos últimos anos. O pior erro cometido pelos meios de comunicação foi o silêncio durante o golpe ocorrido em abril de 2002. Mas a maioria de nossos erros foi corrigida e hoje o governo acha que, em nome da revolução, pode atacar os meios de comunicação – disse Salazar.


Segundo o sindicalista, o objetivo de iniciativas como a reforma do Código Penal e a Lei de Responsabilidade Social dos Meios de Comunicação ‘é blindar legalmente os funcionários públicos e limitar o acesso às fontes de informação’.


– As restrições aos jornalistas são cada vez maiores. Ao mesmo tempo, Chávez tem cada vez mais poder. O presidente controla o canal de TV estatal, duas estações de rádio e agora está lançando um novo canal de TV continental (o Telesur, conhecido como a CNN Bolivariana) – disse Salazar.


Jornalista condenada mantém coluna semanal


Em sua coluna de ontem, publicado no ‘El Nuevo País’, Poleo afirmou que ‘me sinto mais venezuelana, mais comprometida com meu trabalho’ e confirmou que a partir da semana que vem publicará todos os detalhes do julgamento.


Em outubro de 2004, a jornalista divulgou uma foto de um militar ao lado de um cadáver, durante a violenta revolta ocorrida em 27 de novembro de 1992. Ano passado, o jornal assegurou que o militar em questão era o atual ministro do Interior. Poleo se retificou durante o julgamento mas negou-se a pedir desculpas e foi condenada.’