Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Sindicato de Jornalistas vai processar jornalista por crime de opinião

Brasília acaba de acrescentar nova façanha ao seu extraordinário repertório de contorcionismos morais: o sindicato de jornalistas local, braço armado da Federação Nacional de Jornalistas, anunciou que vai processar este observador pelas opiniões aqui emitidas [ver remissões abaixo].


Todos os sindicatos de jornalistas de países democráticos fazem justamente o contrário: empenham-se em defender o inalienável direito dos profissionais de imprensa de manifestar livremente as suas opiniões. No Distrito Federal, de tanto lamber as botas do poder, o Sindicato dos Jornalistas, agora assumidamente um Sindicato Chapa Branca de Assessores de Imprensa, anunciou em nota oficial que vai processar um jornalista que ousou enfrentar o seu mandonismo e denunciou os seus graves desvios de conduta.


O stalinismo da diretoria da entidade não conseguiu manter-se enrustido. Desafiado por um jornalista que escreve o que pensa, sacou a pistola e soltou os cachorros do preconceito e da perfídia. Ressuscita a velha tradição totalitária dos sindicatos fascistas italianos no momento em que alguém ousa questionar o seu ‘centralismo democrático’ e revela suas escusas jogadas políticas.


A diretoria do Sindicato dos Jornalistas do DF tem horror ao debate. Esconde-se no anonimato, escuda-se atrás dos logotipos. O longo convívio com os manda-chuvas viciou-a no uso das notas oficiais, ordens-de-serviço e comunicações internas.


Não foi casual a aproximação do SJPDF com o deputado-sanguessuga Pastor Amarildo (PSC-TO), padrinho da vergonhosa tentativa de regulamentação da profissão de jornalista, felizmente engavetada. Os jornalistas brasilienses não podem continuar submetidos aos interesses de um sindicato mais preocupado com os assessores de imprensa dos 600 legisladores que fazem parte do pior Congresso de todos os tempos.


Acima das trincheiras


Os escândalos que desde maio de 2005 maculam as instituições nacionais reclamam em Brasília a presença de um Sindicato de Jornalistas efetivamente jornalístico – íntegro, intransigente, independente, incapaz de compactuar com os ilícitos e os prevaricadores aninhados nas diversas esferas do poder.


O gigantesco conflito de interesses a céu aberto que o SJPDF tenta disfarçar com as suas falsas ‘solidariedades’ é uma das mais graves deformações do processo jornalístico e midiático deste país. Parlamentares tornaram-se concessionários de emissoras de rádio e TV, controlam a mídia eletrônica, mas seus assessores filiados a um sindicato de jornalistas calam-se, cúmplices desta aberração.


A diretoria do SJPDF gosta de manifestações de rua, adora cartazes e palavras de ordem maniqueístas, mas tem erisipela quando se trata de encarar o contraditório. Escreve textos apócrifos porque jamais conviveu com o pluralismo. Seus nomes, conforme, afirma, ‘estão na página eletrônica’. O nome dessa modalidade autoral, é covardia digital, emasculação eletrônica.


Jornalista que é jornalista escreve e assina embaixo, opina e responsabiliza-se, combate como pessoa física, obrigado a um mínimo de dignidade e galhardia.


Polêmica não é com a diretoria do SJPDF, simplesmente porque esta transformou a agremiação de jornalistas da capital federal (teoricamente a vanguarda da elite pensante do país) num lobby político, mesquinho grupo de pressão para favorecer interesses e jogadas – do sistema chinês de TV digital aos interesses sírio-iranianos para disseminar o ódio aos judeus em todos os quadrantes do mundo.


Tacanhos na forma e no conteúdo, toscos no estilo e na humanidade, ousam proclamar que desconfiam ‘de quem fica em mais de uma trincheira ou supostamente acima de todas as trincheiras’. Pois o jornalista decente e íntegro deve lutar com todas as suas forças para manter-se acima de todas as trincheiras. Esta é a sua função, sua bandeira. É isso que a sociedade espera dos jornalistas.


Blefe stalinista


Este observador orgulha-se dos seus 54 anos de atividades jornalísticas ininterruptas que serão completados no próximo dia 25/8. Como repórter, fotógrafo, editor, diretor de redação de jornais e revistas nos dois lados do Atlântico, ativista sindical, militante do Terceiro Setor, professor aqui e no exterior, sempre defendeu os mesmos ideais. E nas atividades afins, seja como autor, biógrafo ou pesquisador, manteve o mesmo compromisso com a humanidade e o esclarecimento. Sua trincheira é longa, mas retilínea. Espinhosa, sofrida, necessariamente solitária. Mas rigorosamente coerente.


A verdadeira solidariedade com as vítimas desta guerra no Oriente Médio implica assumir o horror à guerra. Este observador assumiu esta posição desde o início do conflito. Vê as razões das partes e, horrorizado, percebe que a irracionalidade está prestes a dar um novo bote.


Inclusive no Brasil. Em todas as peças desta polêmica assimétrica, o poderoso SJPDF não conseguiu esconder a peçonha anti-judaica que o move ao tentar silenciar a consciência e a voz de um jornalista isolado.


A prova está na abjeta tentativa de comparar este jornalista a um comandante de um tanque Merkava. O integralista e racista Gustavo Barroso (candidato a gaulaiter brasileiro caso Hitler ganhasse a guerra) não conseguiria ser tão estúpido nas metáforas contra a conspiração judaica internacional. Quem é que perdeu a compostura?


A paz é um valor absoluto, não pode ser manipulada para atender o marketing político como foi o caso do ‘pacifismo’ soviético dos anos 1940 e 50, uma das maiores mistificações políticas da história moderna. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal ao ameaçar com processo um jornalista que ousa contestá-lo demonstra que está pronto para reativar o blefe stalinista.


Novos tempos, velhos cacoetes: o cala-boca das ditaduras recentes parece que deixou saudades em certos rincões da América Latina. Na melhor das hipóteses, o SJPDF imagina-se a reencarnação do DIP, o famigerado ‘Fala Sozinho’ do Estado Novo.