‘Cinebiografias, a vida nos remanescentes quilombos maranhenses e a imigração judaico-marroquina iniciada em 1810 na Amazônia são alguns dos temas que compõem o panorama da cultura e história brasileiras proposto pelos 26 documentários realizados através do I Programa de Fomento à Produção e Teledifusão do Documentário Brasileiro, o DOC TV. Eles começam a ser exibidos a partir de sábado, na série Brasil Imaginário, na Rede Pública de Televisão do país.
Produzidos em 19 estados brasileiros – Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins – e no Distrito Federal, os filmes irão ao ar sempre às 21h, até o dia 18 de dezembro.
– O programa ultrapassou nossas expectativas, em 2005 aumentaremos para 35 o número de filmes, e 26, o de estados, e já existe a proposta de, pelo menos, um DOC TV da América Latina e de países ibero-americanos – comemora Orlando Senna, secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, parceiro no projeto com a TV Cultura de São Paulo e a Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais. – São reflexos da importância do programa no enlace da TV com a produção cinematográfica.
Projeto ajudou a formar novos pólos de produção
Para Mário Borgneth, coordenador do projeto, a difusão televisiva terá boa receptividade do público, comprovando sua importância como ação cultural e de fomento à produção.
– A seleção de filmes traz uma pontuação da geografia cultural brasileira através de leituras que têm ao mesmo tempo um recorte regional e são interessantes e inusitadas na perspectiva autoral – avalia Borgneth. – E, do ponto de vista da produção, nossa avaliação é extremamente positiva, principalmente fora dos pólos hegemônicos. O objetivo de implantação de novos pólos foi atingido. Grande parte dos profissionais está em seu primeiro filme.
Diretor do título de abertura da série – ‘Eretz Amazônia’ – o paraense Alan Rodrigues, de 26 anos, já realizou um curta ficcional (‘Açaí com jabá’) e estréia na realização de documentários com seu registro da imigração judaico-marroquina na Amazônia, filme cuja base histórica é o livro homônimo do escritor Samuel Benchimol.
– Já fizemos algumas pré-estréias e a reação foi positiva – diz Rodrigues. – Agora a expectativa é maior, porque mostraremos uma realidade nossa, amazônica, para o Brasil inteiro.
Dos dois documentários produzidos no Rio, o primeiro a estrear na série é ‘Aldir Blanc: 2 pra lá, 2 pra cá’, de André Sampaio, Alexandre Ribeiro de Carvalho e José Roberto de Morais. O filme, que será exibido no dia 14 de agosto, retrata o imaginário carioca através da vida e obra de Blanc.
– Tentamos mostrar não só a figura de letrista ou cronista, mas realizar um filme para o Rio, através de um personagem da Zona Norte – conta André Sampaio, do trio de diretores, que pretende reunir Aldir Blanc e amigos, no dia da estréia, num bar na rua onde mora o compositor. – Queremos que o filme seja um presente para ele.
De Espírito Santo vem o documentário ‘Viagem capixaba: Um olhar de Rubem Braga e Carybé, hoje’. Dirigido por João Moraes, refaz o roteiro coberto pelo escritor Rubem Braga e o artista plástico Carybé no início dos anos 50, em terras capixabas. A viagem, que percorreu mais de seis mil quilômetros, tinha o objetivo de produzir um guia turístico e resultou em dois livros: ‘Uma viagem capixaba de Carybé e Rubem Braga’ e ‘Crônicas do Espírito Santo’.
– Eles viajaram num momento em que o Brasil mudava sua cara, de agrário para industrial. O filme faz um paralelo da época com o momento atual, que também é de virada no Espírito Santo – explica Moraes. – O país agora vai poder se olhar de uma maneira séria, através de seus produtos regionais.’
SBT
‘TV sem Jornalismo’, copyright Direto da Redação (www.diretodaredacao.com), 27/06/04
‘O SBT esteve nas páginas semana passada porque Silvio Santos recusou o tratamento de ‘patrão’ que lhe foi dado por Sonia Lima, tradicional jurada de seus programas de calouros. Silvio saiu-se com essa: ‘patrão não, sou apenas sócio-majoritário’. A declaração causou o maior rebuliço no mercado. Dias depois, Silvio Santos deu entrevista para dizer que tudo não passou de uma piada.
Até que se soubesse que era mais uma brincadeira de SS, o mercado televisivo especulou sobre a possibilidade do SBT realmente mudar de mãos, ou pelo menos dividir a gestão do negócio com um sócio estrangeiro. Silvio não esconde de ninguém o desejo de negociar parte ou a totalidade de sua rede de TV e é muito ligado ao poderoso grupo mexicano Televisa, do qual compra novelas e onde foi buscar seu atual vice-presidente, mais uma estratégia do homem do Baú que, a pretexto de uma reforma administrativa, coloca um testa de ferro para que ele faça o serviço antipático de demitir funcionários e executivos fiéis à empresa, alguns com mais de vinte anos de casa.
Silvio é assim, mistura as atribuições. Muitas vezes comanda seu império como se fosse um artista e como artista dá declarações que podem tirar a confiança do público em suas empresas, como aquela brincadeira de meses atrás quando deu entrevista afirmando que tinha uma grave doença e só lhe restavam alguns anos de vida.
Os profissionais de televisão assistem com tristeza o desmonte de uma emissora de TV que já teve importância junto ao público e ao mercado de trabalho com uma programação que sabia temperar o popular e o sofisticado de forma leve e interessante. Conviviam pacificamente programas de apelo popular, como os dominicais, liderados por Silvio e Gugu, e programas dirigidos a um público mais exigente e aos formadores de opinião, como o Programa Legal, de Sergio Groisman, e o Jô Onze e Meia, uma novidade que fez enorme sucesso durante anos. Hoje, Jô já não é o mesmo. Ficou chato assisti-lo depois que mudou de emissora e foi devidamente ‘enquadrado’ no padrão global de qualidade.
O SBT chegou a ter um jornalismo forte e vibrante. No início da década de 90, incomodava a líder de audiência com o sucesso do formato Aqui Agora, até hoje imitado mas nunca igualado. Bastante popular e com pouca edição em suas reportagens de rua, o AA conquistou fatias de audiência que chegavam a até 30 pontos no Ibope. E alavancava a audiência do TJ Brasil, que vinha logo em seguida na grade de programação. O TJ Brasil, uma novidade na época, privilegiava o noticiário político e econômico. Ficou chato também depois que mudou de emissora pois não se renovou e seu âncora cansou o telespectador pela repetição enfadonha de chavões e frases feitas. E no fim de noite, vinha o Jornal do SBT, antes e depois do Jô, um noticiário leve com um resumo do dia, matérias de comportamento e uma linguagem que se preocupava em traduzir o politiquês e o economês.
Hoje o SBT transmite noticiários pobres que estão no ar apenas para cumprir as determinações legais. Silvio sempre apostou nos programas da linha de show. E talvez seu grande erro tenha sido desprezar o jornalismo.. Ele esqueceu que um jornalismo sério e independente é que dá prestígio e credibilidade a uma emissora, mesmo que não dê lucros diretos ou dois dígitos de audiência. Mas para o ‘patrão’ o jornalismo foi sempre o patinho feio da programação. Assim que pôde acabou com o departamento e dispensou jornalistas competentes que foram brilhar em outras emissoras.
Enfim, é uma pena que o SBT tenha chegado a essa situação. Tendo trabalhado lá por cinco anos, sinto saudade do clima de vibração e até uma certa liberdade nos noticiários que não se encontrava em outras TVs. Sem querer ou não, Silvio deixava para fazer média com o governo nos programas da linha de show, levando políticos em seus programas de auditório e exibindo aquele terrível ‘Semana do Presidente’ nas tardes domincais. Com isso o jornalismo ficava livre e não sofria grandes intromissões da cúpula, o que é rotina nas demais emissoras.
Como profissional de TV, torço para que o SBT reencontre seu caminho e possa ajudar a desfazer o monopólio de fato que existe no mercado brasileiro de televisão.’
OBSERVATÓRIO
NA TVLaurindo Lalo Leal Filho
‘Por trás das câmeras’, copyright Revista Educação nº 86, junho de 2004
‘Quando caem em minhas mãos livros que ajudam a entender melhor a televisão brasileira não hesito em recomendá-los aos leitores. Gostaria de fazer o mesmo com programas da TV aberta que, por sua qualidade, pudessem complementar o trabalho dos professores em sala de aula. Confesso tratar-se de uma tarefa difícil. Quando eles surgem, são efêmeros. Uma ou outra minissérie, um especial de bom nível, um programa musical melhor elaborado de vez em quando, e só.
Se programas desse tipo são raros, o que falar daqueles que deveriam fazer a crítica da própria TV. São artigos de luxo que passam longe da televisão comercial. E mesmo nas emissoras públicas ou estatais eles são raros. Lembro de um ou outro debate sobre coberturas eleitorais realizados pela TV Cultura de São Paulo, também esporadicamente. A exceção fica por conta do Observatório da Imprensa, há seis anos no ar, completados agora em maio.
Embora voltado para a análise dos meios de comunicação em geral, muitas de suas edições têm como tema a televisão. Vale a pena assisti-lo e utilizá-lo em classe. De maneira equilibrada, mas sempre crítica, os convidados de diversos estados brasileiros manifestam-se sobre a mídia, trazendo ao público olhares que são raros nos jornais e jamais aparecem na televisão comercial.
Um exemplo apenas: o caso Gugu-PCC, de tanta repercussão no ano passado. O delito cometido pelo apresentador foi tratado hipocritamente em outros programas da mesma emissora, com lágrimas forçadas de falso arrependimento, e pelas concorrentes com uma selvageria furiosa expressa nos telejornais policialescos do final da tarde. Coube ao Observatório levar ao público as outras faces do problema, mostrando diferentes visões a respeito da suspensão do programa por decisão judicial, a transferência da responsabilidade do apresentador e do concessionário do canal para os produtores e as ações que seriam movidas pelas vítimas das ameaças.
Informações imprescindíveis para o professor que quisesse discutir seriamente o caso com seus alunos.
Claro que ainda estamos longe do que faz a BBC. A emissora britânica quando se vê envolvida numa situação conflitiva, não teme em dissecar o problema diante de suas próprias câmeras. Foi o que aconteceu com um caso recente, em meio à invasão do Iraque, quando um jornalista da empresa foi acusado de ‘esquentar’ informações comprometedoras para o governo. Nada foi escondido do público, com as críticas à própria emissora sendo transmitidas abertamente.
Por aqui um exemplo de transparência como esse ainda está distante, mas o Observatório da Imprensa – que aliás discutiu com competência o caso envolvendo a BBC – é a única janela que temos para ver o que se esconde por trás das câmeras. É preciso aproveitá-la.
Serviço
Observatório da Imprensa na TV
TV Cultura de São Paulo e TV-E do Rio de Janeiro, às terças-feiras, às 22h30
Em outros estados consulte emissoras e horários em (www.observatóriodaimprensa.com.br)’
GUGU PROCESSADO
‘Gugu Liberato responde por falsa entrevista com PCC’, copyright Consultor Jurídico (www.conjur.com.br), 29/06/04
‘A juíza da 2ª Vara Criminal da Comarca de Osasco, Izabel Irlanda Castro Correia Araújo, aceitou a denúncia proposta pelo Ministério Público contra Gugu Liberato e sua equipe – Wagner Maffezoli, Rogério Casa Grande, Antônio Rodrigues da Silva, Amilton Tadeu dos Santos, Vagner Faustino da Silva – e classificou como crime a farsa montada pelo programa Domingo Legal.
Os jornalistas foram denunciados pela simulação de entrevista com supostos membros do PCC, no dia 7 de setembro do ano passado, ameaçando Marcelo Rezende, Hélio Bicudo e José Luiz Datena.
Os acusados também irão responder por perturbação da ordem pública e crime de ameaça. A juíza já marcou audiência de qualificação dos réus para agosto deste ano.
Leia alguns trechos da decisão:
Processo nº 2.622/03
A priori, a farsa permite apenas afirmar que não havia vontade de concretizar o mal prometido, o que não exclui o dolo, ou seja, a vontade de intimidar. O dolo, ou seja, a vontade de intimidar, não é determinado pela intenção de realizar o mal prometido. São intenções autônomas, de modo que a intenção de intimidar pode existir, independentemente da intenção de realizar o mal.
Em tese, a farsa não é incompatível com a vontade de intimidar, eis que o farsante, na realização dos atos, assume o risco de intimidar e atemorizar, agindo assim com dolo.
Por outro lado, a intimidação da vítima guarda estreita relação com a seriedade de ameaça, na medida em que se considera séria a ameaça capaz de intimidar. Noutras palavras, a intimidação da vítima é um critério para qualificar a ameaça como séria e as representações das vítimas indicam que elas se sentiriam intimidadas. Nas representações de fls. 206/210 e 387/391, Marcelo Luiz Rezende Fernandes e José Luiz Datena consignam que a simulação, aterrorizando as pessoas nomeadas e seus familiares, causou prejuízos irreparáveis em decorrência do temor gerado pela fraude do programa. O Excelentíssimo Vice-Prefeito de São Paulo informa, a fls. 216/221, que obteve da Polícia Federal e da Guarda Civil Metropolitana o conforto da segurança. Ou seja, o conteúdo das representações das vítimas é indício claro de que a simulação atingiu a objetividade jurídica do crime de ameaça, que é a paz de espírito, a tranqüilidade espiritual.
Portanto, há elementos suficientes a respeito da existência de dolo, o que autoriza o recebimento da denúncia, quanto aos crimes de ameaça.’