Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Por dentro do octógono

É verdade: gosto não se discute. Mas é preciso deixar claro que a transmissão, cada vez mais crescente, de lutas de MMA (Mixed Martial Arts, em português, Artes Marciais Mistas) na programação da TV aberta não pode ser justificada pelo desejo do público. A exibição tem um só motivo: receita publicitária, que gera lucros e dividendos com comerciais, cotas de patrocínio e licenciamentos. Não foi por acaso que as emissoras – Band, Rede TV! e Globo – disputaram, no fim do ano passado, o direito de transmitir as lutas do Ultimate Fighting Championship (UFC), torneio de MMA. Só para se ter uma ideia: a primeira edição do UFC disputada no Rio movimentou R$ 66,8 milhões. Para assistir à luta, da primeira fila, foi preciso desembolsar R$ 1,6 mil. Mais de 400 objetos de licenciamento passaram a integrar o rol da marca UFC. Acredite: o Brasil já é o segundo maior vendedor de produtos originais de MMA, atrás apenas dos Estados Unidos.

Uma mina de ouro que traz grande polêmica: até que ponto as lutas incitam a violência e podem influenciar comportamentos agressivos em crianças e adolescentes? Reconheço que não podemos culpar a mídia por todas as questões positivas e negativas que acontecem no dia a dia, mas concordo que as cenas de lutas na TV, associadas ao glamour midiático das transmissões e sem nenhuma contextualização, ratificam a banalização da violência. A resolução de conflitos passa pela violência, esse talvez seja o principal recado que chega às crianças. Quem vence é o mais forte. É o que tem mais força física. É o campeão.

Com a exposição excessiva na TV e em todas as outras mídias – jornal, revista, rádio, outdoor –, os lutadores de MMA tornam-se, da noite para o dia, celebridades. No Brasil, ídolos, principalmente para a garotada, que veem neles a possibilidade alcançar sucesso. Você já percebeu como surgiram, no seu bairro, várias academias voltadas para a luta? Lutar dá prestígio, reconhecimento e poder. Diante do encantamento das transmissões, quem é que vai dizer o contrário para os jovens? Mais duas perguntas para refletir: como os pais estão lidando com a moda? As emissoras de TV, que são concessões públicas, não deveriam ter responsabilidade no que exibem e como exibem?

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[Marcus Tavares é professor e jornalista especializado em Educação e Mídia]