Não tenho nenhuma ligação política com o PDT, mas fiquei surpreso ao ver que nem o Estado nem a Folha de S.Paulo noticiaram o falecimento de Leonel Brizola. Seria por motivo de prazo no fechamento da edição?
Décio Junior Ribeiro, estudante de Jornalismo, São Carlos, SP
Grande hiato
Como pode Leonel Brizola ser um seguidor de Getúlio Vargas e ao mesmo tempo ser lembrado como um coerente defensor da legalidade e democracia? Será que as ditaduras civis são melhores do que as militares? Se for verificado que num período determinado de tempo um governo despótico exerça funções apreciadas por todos, isto o torna legítimo? E se assim for, ainda não poderá ser considerado ilegal e antidemocrático? Há um grande hiato entre legitimidade carismática e sufrágio universal, inerente aos Estados democráticos, e confundi-las – como fez a imprensa na morte do mítico homem público Leonel Brizola – é um grande desserviço à nação.
Alex Pires de Camargo, São Paulo
Erro no Terra
Erro na matéria veiculada no Terra sobre perfil de Leonel Brizola. Lá é dito que Ivete Vargas é filha de Getúlio Vargas, quando todos (será ?) sabem que ela era sobrinha-neta de Getúlio.
‘Segunda, 21 de junho de 2004, 21h46 Atualizada às 22h25 Leonel Brizola morre no Rio.
(…) Voltou ao Brasil em 1979 com a Anistia e retornou à política, mas perdeu o direito pela legenda do PTB para Ivete Vargas, filha de Getúlio. (…)
Marco Aurélio Marcondes, distribuidor cinematográfico, São Paulo
Globo paradoxal
Não deixa de ser paradoxal a cobertura jornalística da TV Globo ao passamento do ex-governador Leonel Brizola. Se não for falha da minha memória, o político gaúcho passou boa parte de seus dois mandatos de governador do Rio sem voz, quase sempre sem imagem na TV de Roberto Marinho. Este, segundo aparece na clássica obra de Daniel Hertz, em algum momento ‘estava convencido de que Brizola é um mau governador’, por isso, literalmente sumiu da tela global. A cobertura das eleições de 1982 que deu a vitória a Brizola rendeu até demissão de chefes de redação da Globo, graças ao humor do ‘doutor’ Roberto, segundo a obra citada de Daniel Hertz. Será que para os senhores da Rede Globo, Leonel Brizola, bem como outrora Luiz Carlos Prestes, passou a ser bom, já que está morto?
Moacir Teles Maracci, professor, Presidente Prudente, SP
Mídia hipócrita
A hipocrisia ronda os meios jornalísticos e políticos brasileiros. Por ocasião de sua morte, Leonel Brizola – político que sempre foi retratado pejorativamente pelo conjunto da grande mídia (‘caudilho’, ‘populista’ e ‘jurássico’) – foi redimido, quase beatificado, pelas extensas reportagens a ele dedicadas. O Jornal Nacional da Rede Globo, que sempre o hostilizou em vida, transformou-o post mortem em político coerente e honrado…
O mesmo aconteceu com o Estadão e o Globo que apoiaram o golpe de 1964: para estes jornais, Brizola era ainda visto como ‘herdeiro do nacionalismo varguista’ e o maior responsável pela ‘subversão’ imperante no país durante o governo Goulart. A Folha de S. Paulo deu espaço a bons artigos (particularmente os de Jânio de Freitas e Clóvis Rossi) sobre o velho Briza. Mas, o jornal se apequenou ao se omitir editorialmente: nenhuma linha foi dedicada em seus editoriais para avaliar (para o bem ou para o mal) a trajetória desta personalidade que marcou, durante 50 anos, a história política do país. Por fim, políticos de direita derramaram lágrimas diante dos microfones das rádios e TVs: por exemplo, Delfim Netto – signatário do AI-5 e atuante colaborador da Oban (cf. E. Gaspari) – e o probo Paulo Maluf – a quem Brizola nunca enganou, pois deste sempre recebeu o tratamento adequado: ‘Filhote da ditadura’.
Em tempo: a Folha se apequenou novamente. Deixou de publicar carta minha sobre este assunto. Nem mesmo uma resposta burocrática do ‘independente’ ombudsman – a quem escrevi relatando a censura do Painel de Leitor – recebi. Também não é revelador que a coluna do ombudsman nenhuma linha dedicou ao tema mídia/morte de Brizola? Parece que o velho Briza, mesmo morto, ainda assusta a família Frias (ex-colaboradora da Oban, como Mino Carta nos lembrou recentemente). Enfim, é a tal de ‘liberdade de impressão’…
Caio Navarro de Toledo, professor da Unicamp