‘Sem os três candidatos mais bem colocados nas pesquisas (José Serra, Paulo Maluf e Marta Suplicy), o debate realizado ontem pela Globo deu média de 7 pontos na Grande São Paulo, segundo dados preliminares do Ibope, e perdeu para os desenhos animados exibidos pelo SBT.
Durante o debate, das 11h às 12h10, o SBT foi líder. Fechou com média preliminar de 9 pontos. Cada ponto no Ibope da Grande São Paulo equivale a cerca de 49,5 mil domicílios.
Em seu pior momento, o debate chegou a perder para o SBT por 11 pontos a 5. O placar de 9 a 7 para o SBT é comum no horário. A disputa pela audiência nessa faixa é equilibrada.
A Globo fez debates ontem em 32 cidades. Além de São Paulo, só teve problemas em Rio Grande (RS), onde um candidato faltou. Foi a primeira vez que realizou debate às 11h -normalmente é à noite.
‘É um horário novo. A audiência é composta por donas-de-casa e jovens, mas também por trabalhadores autônomos ou que têm horário flexível de trabalho. Em sua maioria, gente que tem peso eleitoral grande. Decidimos fazer nesse horário para atingir esse público’, disse, por e-mail, Carlos Henrique Schroder, diretor da Central Globo de Jornalismo.
A Globo avalia que teria mais audiência se Serra, Marta e Maluf tivessem ido ao debate. A emissora negociava com todos os partidos desde 30 de março. PSDB, PT e PP já tinham concordado com as regras a e data de ontem, mas, em acordo comum, desistiram no último final de semana.’
Claudia Antunes
‘Que rótulo cola?’, copyright Folha de S. Paulo, 2/07/04
‘Favorito nas pesquisas para a eleição de outubro no Rio, o prefeito Cesar Maia tem telhado de vidro, atacaram seus adversários no debate de ontem da TV Globo: é ‘omisso’ na segurança pública, ‘desumano’ na gestão da saúde e ‘empurra’ problemas graves da cidade para outras esferas de governo.
Mas os oponentes de Maia também não são palatáveis a todos os eleitores, vê-se pelas críticas e definições mútuas. Marcelo Crivella é ‘bispo’ da Igreja Universal e, do mesmo partido do vice-presidente da República, integra o governo do mínimo de R$ 260. O petista Jorge Bittar idem, e votou pela ‘taxação’ dos inativos. Luiz Paulo Conde é ‘vice-governador’ de Rosinha Garotinho. Jandira Feghali é do ‘Partido Comunista’.
Os candidatos dão o troco quando se autodefinem. Maia prestigia o servidor público, impôs ‘ordem’ na cidade, teme a volta ‘aos tempos da bagunça e da anarquia’. Crivella é ‘engenheiro’, já foi ‘surfista’, quer tratar ‘da alma e do coração’ dos cariocas. Bittar, ‘amigo de Lula’, vai ‘construir parcerias’, trabalhar com a União para o desenvolvimento do Rio. Jandira é ‘médica’, sabe ‘cuidar de gente’. Conde vê os eleitores com ‘saudades’ da administração dele como prefeito.
São 30 segundos para a pergunta do candidato, um minuto para a resposta do adversário, 45 segundos para réplica, o mesmo para a tréplica. Há um esforço para que os debates eleitorais na televisão sejam dinâmicos, rápidos. Não dá para discutir em profundidade os problemas da cidade. Se o espectador já boceja com o formato de agora, ele suportaria se fosse diferente?
Ganham pontos, no ataque e na defesa, os que encontram as palavras certas para tocar o ânimo momentâneo do eleitor. É um exercício de emplacar a definição mais eficiente de si e do outro, de encontrar os rótulos certos que marquem, de maneira positiva ou negativa (o que é sempre subjetivo), a própria candidatura e as dos adversários.’
Carlos Alberto Di Franco
‘Cobertura eleitoral, todo o cuidado é pouco’, copyright O Estado de S. Paulo, 5/07/04
‘Recentemente, o jornalista Marcelo Beraba, ombudsman da Folha de S.Paulo, pôs o dedo na chaga de algumas distorções da cobertura de política dos nossos diários. Segundo Beraba, algumas fórmulas estão esgotadas. São repetitivas e nada acrescentam à compreensão dos fatos. ‘Um exemplo é a cobertura da política partidária. Ela é, em geral, chata porque dá muito destaque às fofocas de gabinetes e manobras palacianas, valoriza as aspas e segue a agenda do mundinho político, que raramente coincide com os interesses dos leitores’, concluiu o ombudsman.
Concordo com Beraba. Além disso, é preciso ter especial cuidado com a interpretação de curiosas oscilações das pesquisas eleitorais. Pesquisa é um instrumento válido, mas não pode ser transformada em dogma de fé. Quando nos limitamos a repercutir o resultado das pesquisas e não somos capazes de analisá-las, com objetividade e distanciamento, a coisa complica. Temos um exemplo recente. Pesquisa Ibope (28/6), encomendada pela TV Globo, sobre a sucessão paulista, confirmou a liderança isolada do candidato do PSDB, José Serra, que apareceu com os mesmos 30% atribuídos a ele pelo Datafolha, no domingo (27/6). Em segundo lugar está Paulo Maluf (PP), com 21%, e em terceiro aparece a prefeita Marta Suplicy (PT), com 16%. O resultado não deixou de surpreender, já que, na semana anterior, uma pesquisa do mesmo Ibope, encomendada e paga pelo PT, atribuiu 22% para Serra, 21% para Marta e 18% para Maluf. É surpreendente, caro leitor, a disparidade. Por isso, tratemos de ir devagar com o andor que o santo é de barro.
Uma cobertura de qualidade é, antes de mais nada, um problema de foco. É preciso acabar com o jornalismo puramente declaratório e assumir, efetivamente, a agenda do cidadão. Não basta fazer um painel dos leitores, mas é preciso cobrir a fundo as questões que influenciam o dia-a-dia das pessoas. É importante fixar a atenção não mais nos políticos e em suas milionárias estratégias de imagem, mas nos problemas de que os cidadãos estão reclamando. O marketing político, freqüentemente, vende uma bela embalagem. Nós, jornalistas, precisamos desembrulhar o pacote e mostrar o produto como ele efetivamente é.
Alguns candidatos, dominados pela obsessão de um bom desempenho na mídia, só pensam no efeito imediato de suas declarações, no gesto que traz dividendos, no slogan que produz impacto eleitoreiro. Preocupam-se pouco, muito pouco, com o conteúdo e com os resultados práticos que decorrerão de determinadas estratégias. A prioridade ao instantâneo, a opção pelo show midiático, relega a segundo plano da reflexão a perspectiva de médio prazo. Ao encantamento da imagem se acrescentam outras tendências que compõem o perfil médio do político brasileiro: a transferência de responsabilidades, o descaso com a coerência e o descompromisso com a verdade. Certo candidato, por exemplo, costuma dizer que, se eleito, porá a Rota – as Rondas
Ostensivas Tobias de Aguiar, da PM de São Paulo – na rua. Não podemos registrar tamanha demagogia sem indicar o óbvio num box: a Polícia Militar de São Paulo e, conseqüentemente, a Rota dependem do governo do Estado. O prefeito pode, apenas, cuidar da Guarda Civil Metropolitana. A declaração do candidato, portanto, é descabida e mentirosa. Ponto final. É um exemplo, sem dúvida, simples, mas que somado a outras providências editoriais acaba resultando numa cobertura de qualidade.
Um jornalismo previsível faz o jogo dos políticos. Chegou a hora de assumirmos, de fato, o nosso papel de informadores e defensores da sociedade. Só assim conseguiremos que os leitores percebam que o jornal continua sendo útil, importante, um parceiro insubstituível no exercício da cidadania. (Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo para Editores e professor de Ética Jornalística, é diretor para o Brasil de Mediacción – Consultores em Direção Estratégica de Mídia (Universidade de Navarra) E-mail: difranco@ceu.org.br)’