Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Etienne Jacintho

‘Friends chega ao fim no Brasil nesta terça-feira, às 20 horas, no Warner Channel, após dez bem-sucedidas temporadas e 236 capítulos. O cenário final do seriado é o Central Perk, café onde toda a história teve início, com a chegada brusca de Rachel vestida de noiva e fugida do altar. Mas, diferentemente do encontro tumultuado do primeiro capítulo, no grand finale os seis amigos estão mais tranqüilos. Rachel finalmente acertou o seu romance com Ross, Phoebe está casada com Mike, Chandler e Monica começaram uma família e Joey está a caminho de Hollywood. Porém, o caminho para esse desfecho foi longo. O último episódio tem 1 hora de duração, com encontros e desencontros.

O encontro de Ross e Rachel, no último momento do capítulo final, não poderia ser diferente, uma vez que, durante toda a série, os dois namoraram, se separaram, se casaram, se divorciaram e tiveram até uma filha (veja na linha do tempo, abaixo). Mas, voltando ao final: Rachel decide ir para Paris. Na véspera da viagem, ela passa a noite com Ross. Quando Rachel está de partida, Ross decide se declarar e, com ajuda da atrapalhada Phoebe, corre para o aeroporto. Só que um pequeno problema atrasa seus planos. Ross está no aeroporto errado. Mais correria e ele finalmente consegue falar com Rachel e pede que ela fique em Nova York. Irredutível, ela entra no avião.

Drama!

No momento em que o telespectador já desistiu de ver Ross e Rachel juntos, a secretária eletrônica salva os heróis. Como? Só assistindo para saber… O episódio traz também o parto do filho adotivo de Chandler e Monica, com uma surpresinha extra, quer dizer, um bebê a mais. A mãe dá à luz gêmeos, que são adotados pelo casal. A família vai morar em uma casa no subúrbio e abandona o apartamento que foi palco de momentos importantes da série. Tanto que os amigos se reúnem lá pela última vez e vêem, no apê vazio, uma etapa concluída de suas vidas. Joey percebe que tudo mudou quando precisa quebrar a mesa de pebolim – símbolo de sua despreocupada jornada – para salvar um pintinho e um patinho.

O capítulo final de Friends nos Estados Unidos, exibido no último dia 6 de maio, foi visto por 51 milhões de pessoas – a expectativa era alcançar 85 milhões. O recorde de audiência em final de temporada ainda é da série Mash, de 1993, que teve 105 milhões de telespectadores. Mais recentemente, Seinfeld atingiu público de 76,2 milhões, em 1998. Desde sua estréia, em 1994, Friends recebeu mais de 50 indicações para o Emmy e venceu 6 delas, além de um Globo de Ouro, 5 People’s Choice Awards, entre outras.

No Brasil, Friends rendeu ao Warner um notável aumento de audiência. O canal passou do 8.º ao 1.º lugar entre os canais pagos depois da aquisição do seriado. Segundo o Ibope, a audiência média da sitcom entre o público de classes A, B e C, de 18 a 34 anos, com TV paga, foi de 2,12 pontos durante a 9ª temporada (de nov/02 a jul/03). Ficou à frente de emissoras abertas e pagas e só perdeu da Globo, que teve 8,7 pontos no horário. O último ano (nov/03 a mai/04) teve média de 1,22 pontos, novamente atrás apenas da Globo (11,78 pontos).

Em faturamento, Friends também impressiona. Nos intervalos comerciais durante a exibição do último episódio na rede americana NBC, cada inserção de 30 segundos custou US $ 2 milhões. No Brasil, o Warner cobrou R$ 12.950 – o preço habitual é R$ 5.175. Ford, Danone, Skol, Nestlé, Telefónica e Natura já garantiram presença nos intervalos. E Friends tem mais de 50 produtos licenciados à venda no site da NBC, desde os básicos bonés e camisetas, até exóticas bolas natalinas com o logotipo da série e livros com a história da turma. Os DVDs (leia ao lado) são os itens mais procurados. Uma coleção com as seis primeiras temporadas custa US$ 195,95.

Fãs – O segredo do sucesso de Friends é a identificação com o público. Ross (David Schwimmer), Rachel (Jennifer Aniston), Monica (Courtney Cox Arquette), Chandler (Matthew Perry), Phoebe (Lisa Kudrow) e Joey (Matt Le Blanc) são personagens reais – um pouco estereotipados, mas verdadeiros. E são amigos. Muitos outros ‘amigos’ fazem sucesso na TV. Vide Seinfeld, Sex and the City e Coupling, a versão britânica do show da NBC, porém mais apimentado, entre outros.

‘Adoro a Phoebe, me identifico com o lado esotérico dela’, conta a estudante Helene Coutinho Coelho Pereira Fernandes, de 18 anos, que incentivou a família toda a assistir ao seriado. Sua irmã, Ísis, gosta mais do jeito ‘desligado e meio burrinho’ de Joey. ‘E a Rachel, às vezes, me mata de vergonha’, fala a estudante de 20 anos.

Na família de Helene, até a mãe, Glória, entrou na onda de Friends. ‘Ela chora e ri junto com a gente’, conta Ísis, que já se emocionou com algumas cenas da série. ‘Chorei quando a Monica pediu o Chandler em casamento e quando a Phoebe teve os trigêmeos’, confessa. A expectativa para o final na casa dos Fernandes é grande e Ísis preferia outro fim para Rachel. ‘Ela podia ficar com o Joey’, diz. Já Helene não gostou do par romântico de Phoebe, o Mike. ‘Ele é muito normal para ela. Preferia que ela se casasse com o ex-namorado cientista.’

Ísis conta que teve uma época em que ela, seus irmãos, Helene e Cícero, e mais dois amigos eram os próprios Friends. Cada um vivia um personagem e ela até mandava carta para uma das amigas assinando seu nome e o de sua personagem, a Monica. Na família Fernandes, a relação real entre os irmãos de idades próximas é semelhante à de Monica e Ross na ficção. ‘A gente se dá bem e também briga. É igualzinho ao seriado’, fala Helene. Os irmãos provavelmente assistirão ao último episódio no restaurante TGI Friday’s. Lá haverá uma reunião para fãs da série, promovida pela escola de idiomas Manhattan Trade.

Os fãs brasileiros de Friends criaram grupos de discussão na internet, em portais como o MSN e o Yahoo, além de dezenas de homepages. No Orkut, a nova sensação da internet, há diferentes comunidades sobre a série. Uma delas, a Friends Brasil, tem mais de 2.500 membros – número alto no universo do Orkut.

O Warner Channel já colocou no ar vinhetas feitas para a América Latina com presença dos personagens Gunther (James Michael Tyler) e Janice (Maggie Wheeler) no cenário do Central Perk. Fabiana Saba e Bruno Werneck são os representantes do Brasil nesses programetes. No A&E Mundo, um Biography especial Friends é a atração amanhã, às 21 horas, com curiosidades sobre a série e seus astros. Na TV aberta brasileira, o SBT transmite o 1.º ano da série, às quartas-feiras, depois de Meu Cunhado. A emissora, por enquanto garantiu apenas as duas primeiras temporadas.’

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‘Concorrência dilui a audiência’, copyright O Estado de S. Paulo, 4/07/04

‘Com dez temporadas e 236 capítulos de vida, Friends viu seu auge em sua 2.ª temporada nos Estados Unidos, em 1995, quando atingiu uma média de 31,7 milhões de domicílios por capítulo. Sua última parte alcançou 26,9 milhões de audiência média. A queda, na verdade, não se deve a uma queda na qualidade do show, mas ao aumento da concorrência. Seriados de sucesso como os policiais CSI e Law & Order – e todas as suas variações – conquistaram uma boa fatia da audiência. Segundo o Instituto Nielsen, o Ibope americano, CSI foi o campeão de audiência da última estação de séries, de 22 de setembro de 2003 a 27 de junho deste ano. O programa também liderou o último ranking americano dos programas mais vistos, na semana de 21 a 27 de junho, seguido de Without a Trace, do especial American Film Institute’s 100 Years and 100 Songs, de Law & Order e de CSI: Miami.

Além das atrações transmitidas em canais abertos – Friends é da NBC e CSI, da CBS -, os programas em TVs por assinatura também estão em alta e competem diretamente com a programação livre. É o caso de Queer Eye for the Straight Guy, do canal Bravo!, que entra na categoria dos reality shows, outro concorrente forte de sitcoms como Friends. Com formatos cada vez mais mirabolantes, os realities, de alguns anos para cá, caíram no gosto do público. Na última temporada (22/9/2003 – 27/6/2004), atrás de CSI, ficaram as duas edições principais de American Idol – da votação e da eliminação – em 2.º e 3.º lugar. Na 4.ª colocação ficou outro reality: The Aprenttice, de Donald Trump. Friends ganhou o 5.º lugar, seguido por duas edições do Survivor, o No Limite americano. Com o final de Friends, a sitcom mais vista nos Estados Unidos passou a ser Everybody Loves Raymond.’



Bruno Yutaka Saito

‘Fim da sitcom ‘Friends’ provoca alívio e lágrimas’, copyright Folha de S. Paulo, 4/07/04

‘Muita gente vai chorar nesta terça, dia em que o episódio final de ‘Friends’ (Warner) finalmente será exibido no Brasil. Entre os choros de tristeza de fãs, estarão as lágrimas de satisfação e alívio daqueles que não suportam a vida alegre e colorida do seriado americano. Afinal, para cada grupo de ‘amigos’, há vários ‘inimigos’.

Criado em 1994, ‘Friends’ logo se transformou em um dos maiores sucessos da TV americana, ao retratar um grupo de amigos que se reúnem num pequeno café para falar sobre…. nada.

‘É um tipo de comédia de péssima qualidade, com piadas que não fazem sentido nenhum, pelo menos aqui no Brasil’, resume a administradora de vendas pela internet Bruna Barlach, 18.

A música de abertura de ‘Friends’, ‘I’ll Be There for You’ (Rembrants), que traz versos como ‘Seu emprego é uma piada, você não tem dinheiro/(…)/Pode contar comigo quando a chuva começar’, resume, para seus críticos, uma ode a um estilo de vida conformista e alienante.

‘Acho ridícula a idéia de ‘ria da sua própria vida’ e a identificação que os fãs têm com os personagens. São pessoas vazias, que baseiam suas vidas em torno de um grupo seleto e estático de amizades.’ Para aqueles que odeiam ‘Friends’, só uma coisa é mais irritante que as peripécias de Joey e Monica: os fãs brasileiros.

‘O que mais me incomoda é a forma como os fãs te olham se você não gosta de ‘Friends’, como te consideram louco e sem humor, além das tentativas de nos convencer de que essa é a melhor série do mundo’, diz o webdesigner Luiz Magalhães, 19.

O fim, no entanto, não garantirá alívio imediato para não-fãs. ‘Essa praga continuará com os DVDs e as reprises. Isso sem falar que essa mania pode passar de geração em geração. Credo!’, diz Bruna.

Já as ‘viúvas’ estão inconsoláveis. ‘Friends’ é um programa insubstituível. Estou triste por ter chegado ao fim. Com certeza é o fim de uma era, vai demorar muito para aparecer uma outra série cômica tão popular’, diz o estudante Caio Pereira, 18.

Para muitos, o programa era um amigo, companheiro para as horas difíceis. ‘Minhas terças ficarão vazias, e terei de fazer algo longe da TV’, diz Pedro Curi, 21. ‘É o fim de uma rotina e o momento de seguir em frente.’

Alguns fãs já planejam como levar a vida. ‘Vou me dedicar mais a ‘Will and Grace’ e ‘Scrubs’, além, é claro, de ‘Joey’ -estou ansiosa pela estréia’, diz a estudante Louise Duarte, 29.

Previsto para o segundo semestre nos EUA, ‘Joey’ é um ‘spin-off’ (série que tem origem em personagem de uma outra série) com Matt LeBlanc e tem recebido elogios de sites que estiveram presentes nas gravações. Na nova sitcom, Joey vai a Hollywood para tentar emplacar sua carreira de ator. Ou seja, ainda há um ‘amigo’ para amar -ou odiar.

FRIENDS. Quando: terça, às 20h, na Warner.’



Bia Abramo

‘Caretinha, ‘Friends’ encerra os anos 90’, copyright Folha de S. Paulo, 4/07/04

‘Com o capítulo final de ‘Friends’, na semana que vem, a década de 90 fica definitivamente enterrada, não sem um grave atraso. Desde que começaram os anos 2000, a série soava cada vez mais anacrônica e nostálgica. Isso não significa que roteiro e direção tenham piorado vertiginosamente de qualidade, como tem acontecido em ‘E.R.’, para falar de outra série longeva. Não, ‘Friends’ continuou tão encantador, engraçado e caretinha quanto sempre foi.

Mas o negócio é que a série falava de um modo de vida que já não existe mais. ‘Friends’, de certa forma, era um dos programas mais ideologizados que já saíram da TV norte-americana. Simpáticos, os jovens de 20 e poucos anos (no início da série) retratados ali estavam fazendo mais ou menos a mesma coisa que os temíveis soldados americanos em território iraquiano, embora com métodos, estratégias e ferramentas diferentes.

Tratava-se de exibir o triunfo inequívoco de uma vida balizada pelo dissolução de valores do capitalismo avançado, de um universo do consumo de mercadorias reais e simbólicas, de relações pessoais marcadas pelo individualismo extremado, tudo com o charme de personagens aparentemente desajustados.

Aí estava o maior acerto da série, fazer personagens parecendo ambíguos, mas que no fundo só eram disfarçados: ‘losers’ na medida certa para soarem próximos e humanos para uma audiência global, mas ao mesmo tempo bem-sucedidos o suficiente para serem tomados com modelos.

Havia ali uma idéia de conquistar os corações e as mentes com humor e diversão -e, por um certo período, de fato conseguiram. Para além -ou talvez, aquém- da forte intenção ideológica, ‘Friends’ era um achado em termos de timing, agilidade nos diálogos, criatividade na criação das tramas que alimentaram os dez anos de episódios.

Na era Bush, marcada pela truculência, esse jeito mais suave de globalizar a cultura tem um sabor démodé, quase nostálgico.

Não está muito claro ainda qual será o sucessor de ‘Friends’ nesse sentido. O que parecem sugerir os números da audiência norte-americana é que, nos anos 2000, sai o humor e entra a violência. Quem ocupa agora os primeiros postos entre os mais vistos nos EUA são as séries policiais ‘C.S.I’, ‘Without a Trace’, ‘Law and Order’, em que os heróis vestem uniforme, têm distintivos e prendem assassinos.

Quem ligou a TV um pouco mais cedo para assistir ao penúltimo episódio de ‘Friends’, na madrugada da última quarta, pode ter tido a sorte de ver a excelente sátira de ‘Friends’ do ‘Saturday Night Live’. Na animação, os seis conversam no Central Perk sobre o nada, enquanto lá fora chegam os cavaleiros do Apocalipse, volta o anticristo, a humanidade se transforma em zumbis etc. Nada mais apropriado.’



TV / ESPIONAGEM COMERCIAL
Keila Jimenez

‘TV ganha serviço de espionagem’, copyright O Estado de S. Paulo, 4/07/04

‘Há uma espiã solta na TV brasileira e, pior, sustentada pelo próprio meio. Batizada como Controle da Concorrência, a empresa de Fábio Wajngarten e seu sócio, Marcos Fiori, é paga por emissoras, agências de publicidade e anunciantes para xeretar a concorrência. O objetivo é monitorar a programação e inserções publicitárias.

A ferramenta tecnológica usada pela empresa- que tem como parceira a Vertice Tecnologia – é um software que identifica, quantifica e audita os comerciais e os merchandisings na mídia televisiva. Os assinantes do serviço, que custa em média R$ 8 mil por mês, podem ver via internet como estão os comerciais na concorrência, quem e quantas vezes anunciou e quanto pagou por isso. ‘Com esses dados, o pessoal do comercial das emissoras pode pressionar anunciantes, descobrir problemas com determinados programas e adotar uma tática de guerrilha para fisgar mais investimento’, explica o diretor da empresa, Fábio Wajngarten, um advogado com especialização em Marketing que começou fazendo essa ‘espionagem’ em casa, a pedido do SBT.

‘Comecei há três anos, gravava a programação da Globo em casa e depois apresentava um relatório para o SBT de quantos anunciantes e merchandisings cada programa tinha, quais produtos anunciaram, quanto durou cada anúncio e quais comerciais eram. Era uma loucura’, conta ele. ‘Hoje temos uma equipe de dez pessoas, uma aparelhagem bem maior e uma captação de dados mais rápida e precisa.’

Trabalho braçal – Apesar da existência do software, que armazena e separa as informações, o serviço de decupagem dos dados é humano mesmo. A equipe da Controle da Concorrência se reveza na captação dos dados. Para isso, conta com 30 videocassetes e seis plataformas digitais que gravam a programação das emissoras 24 horas ao dia. Os ‘espiões’ assistem às fitas e colocam no software todos os dados.

‘As planilhas estão disponíveis no site para os clientes duas horas depois de a programação ir ao ar’, diz o diretor. Além do SBT, primeiro assinante do serviço, a firma conta com clientes como Record, DPZ e anunciantes grandes. ‘Funcionamos também como ‘espiões’ para o mercado publicitário, pois as agências e os anunciantes podem ver as estratégias de seus concorrentes na TV’, diz ele. ‘Além do mapeamento dos anúncios, também fazemos balanços de quanto cada marca está investindo nos programas e nas emissoras, a estréia de novos comerciais e o levantamento de marcas que estão há tempos sem anunciar ou nunca anunciaram.’

Wajngarten conta que os anunciantes ainda utilizam o serviço para checar se os espaços pelos quais pagaram realmente foram preenchidos por suas propagandas, se a concorrência está no mesmo break e como está a audiência de seu anúncio.

Tamanha vigília acaba flagrando fatos inusitados. Dias atrás, a empresa avisou ao SBT que a emissora tinha exibido uma chamada de uma novela que saíra do ar havia seis meses. ‘Essa não é nossa função, mas, quando vemos algo estranho, avisamos’, diz ele. ‘Em breve vamos implantar um serviço que monitora o conteúdo dos programas. Exemplo: Note & Anote de ontem teve 13 % de assuntos ligados à saúde, 12% higiene, 20% de economia. Vamos classificar também em porcentual as cenas de apelo sexual ou violência’, conta. Dessa espionagem, muita gente pode não gostar.’