Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Verdade ou versinho?

‘Já nas últimas páginas, quase ao fim do volume, aparece a crônica de Lourenço Diaféria, a reação do regime, a resposta da Folha. A crônica era uma bobagem. Cláudio Abramo morreu convicto de que era uma provocação. A reação do regime foi prender o jornalista e censurar a coluna. A resposta da Folha (contra a opinião de Abramo, que sabia como as coisas funcionavam) foi publicar o espaço da crônica em branco com a informação de que o cronista estava preso. A crise agravou-se a ponto de o jornal deixar de publicar editoriais, demitir Cláudio Abramo, suspender coluna diária de Alberto Dines e encerrar a coluna semanal ‘Jornal dos Jornais’, pioneira na crítica de mídia. A crônica de Diaféria fora publicada no dia 1º de setembro de 1977.’

Sem querer defender a Folha de S.Paulo, o que era melhor, a verdade ou um versinho de Camões? A mídia na época era risível como o é ainda hoje! A verdade estampada na panfletagem feita nos postes (aqueles que um dia pertenceram à Light) era muitas vezes mais exata e real do que as rotativas anunciavam! Como independência, muitas vezes era melhor ler o extinto Diário Popular (não dependia da verba da publicidade oficial) do que o que O Estado de S.Paulo e Folha estampavam em suas manchetes (ser do quadro de colaboradores do ‘Rei dos Classificados’ não conferia o mesmo status dado aos dos outros). No fundo, existia (ops, será que acabou?) uma grande fogueira de vaidades, e raras foram as ocasiões em que a cena da época foi visível em seu todo. Quanto ao movimento universitário, sua história ainda está para ser escrita, ainda que não interesse a muitos.

P. Caldeira, analista, São Paulo



Vale um erramos

Estou reproduzindo abaixo o e-mail que encaminhei ao ombudsman da Folha de S. Paulo.

Prezado ombudsman, a Folha de S.Paulo manchetou na edição de 30 de junho o seguinte: ‘Pais terá 8.528 vereadores a menos no ano que vem’. Trata-se de uma noticia velha, caduca, de 3 de abril deste ano. Foi nesta data que o TSE determinou o corte em todas as câmaras do país. No dia 29, como não houve aprovação no Senado da PEC que amenizava o corte de vereadores dos 8.528 para 5.062, continua em vigor a decisão do TSE que, repito, não é nova. Em nenhum momento de abril até hoje houve alteração do número de vereadores, e sim apenas uma ameaça de mudança que tramitava no Senado. Tanto é verdade que a manchete interna é correta: ‘Senado derruba proposta de diminuir corte de vereadores’. Para confirmar o que estou falando basta ver a manchete da FSP de 3 de abril: ‘TSE reduz vereadores de 43% dos municípios’, ou seja, a mesma informação que está na manchete do dia 30 de junho. Isso não foi um ‘privilégio’ da FSP. A maioria dos jornais abordou erroneamente o assunto nos títulos (basta ver as capas de alguns jornais do interior no site da APJ).

Claudio Gioria, jornalista, Americana, SP



Candidato estudioso, sim

Na Folha de quinta-feira, 1º de julho de 2004, a jornalista Eliane Cantanhêde assim descreveu o candidato a prefeito de São Paulo, José Serra:

‘O favorito José Serra (PSDB) é homem público e economista respeitado, intelectual disciplinado o suficiente para passar a noite estudando como votar no Senado numa questão sobre uma área que não é a sua, o Judiciário. É arrogante, dissimulado, que não altera a voz e faz cara de humilde. Acha que sabe tudo. Pior: que só ele sabe tudo’.

A primeira premissa é verdadeira, Serra é de fato um estudioso. A conclusão é falsa. Os estudiosos são estudiosos porque querem aprender. Quem age dessa forma não é arrogante. Já o julgamento da jornalista, esse sim, foi um ato a ser estudado. Ao afirmar que ele se arvora em saber tudo fica configurado um veredicto de sabichã. Há nele insolência, soberba e atrevimento.

Sidney Borges, jornalista, Ubatuba, SP



Colunista por acaso, não

O fato de o Sr. José Serra ter escrito semanalmente na Folha, vamos fingir que tudo bem! Até então ele não era candidato e o jornal já o tirou de lado (vamos fingir que ele não se beneficiou disso). O que me assusta é que, além disso, a Folha continua favorecendo-o com manchetes, eu diria, superpositivas, em detrimento das quase sempre negativas dos outros candidatos. É só observarmos como foram concebidas as matérias sobre as últimas pesquisas eleitorais. Então, não dá para acreditar que o Serra colunista foi apenas um lamentável acaso.

Dênis da Silva Medeiros, jornalista, São Paulo