Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Programa quebra barreira de medo

O governo americano vive reclamando da rede al-Jazira e de sua cobertura das intervenções dos EUA no mundo islâmico. Mas diversos governantes de países muçulmanos também não vêem com bom olhos pelo menos um dos programas da rede sediada no Qatar. Há oito anos no ar, os debates promovidos por Faisal al-Qassem na Al Jazira têm inflamado convidados e espectadores.

O formato da atração, que se chama A Direção Oposta, é simples: dois convidados de opiniões divergentes são colocados no estúdio para discutir um determinado tema, com mediação de al-Qassem e participação do público. Não raro, o programa acaba antes do previsto, porque os convidados se excedem no calor dos argumentos – ou, em alguns casos, dos xingamentos.

Recentemente, al-Qassem, um sírio que já apresentou programa semelhante no BBC World Service, colocou o seguinte tema: ‘Por que os regimes árabes não condenaram as imagens de abusos contra prisioneiros iraquianos? Seria por que a tortura nas prisões árabes é cem vezes pior?’. ‘Tenho certeza de que mais de 50 milhões de pessoas assistiram ao programa’, anima-se o apresentador. Os telespectadores puderam dar sua opinião online a respeito da questão e 86% consideram que os prisioneiros árabes são submetidos a tratamento ainda pior do que aquele dado pelos americanos aos iraquianos em Abu Ghraib.

Como reporta Andrew Hammond, da Reuters [29/6/04], o mundo árabe não ficou mais democrático desde que al-Qassem entrou no ar. Ainda assim, ele acredita que seu programa ajudou a quebrar uma barreira de medo. ‘Nós nascemos e fomos educados num ambiente de medo e opressão. Nossas crianças não serão tão facilmente aterrorizadas pelos governos como nós fomos’, afirma o apresentador, que já sofreu centenas de ameaças por causa de seu trabalho.