Circulam em boletins dirigidos a investidores, desde o início desta semana, comentários sobre um anúncio a ser supostamente feito pela Apple a respeito de uma inovação capaz de mexer com o mercado de comunicação.
Os especuladores que se dedicam a garimpar novidades para se antecipar ao mercado costumam rastrear os sistemas de logística das grandes empresas para acompanhar a movimentação de grandes volumes de aparelhos, ou mudanças nos padrões de transportes, para detectar a estocagem de produtos para lançamento.
Para rastrear o desenvolvimento de aplicativos, muitos consultores de investimento no agressivo mercado norte-americano chegam a apelar para a espionagem. No caso presente, o que se especula é a possibilidade de a Apple antecipar o lançamento da TV inteligente, produto que ocupa há cerca de um ano a imaginação de tecnólogos e pesquisadores interessados nos novos meios digitais.
Mudança de hábito
O novo aparelho da Apple, esperado para 2014, é tido como uma novidade capaz de alterar definitivamente a maneira como as pessoas se informam, se comunicam e administram suas rotinas.
Basicamente, seria um monitor de tela plana de grandes dimensões, com todas as funcionalidades da televisão digital e com acesso à internet, dotada de câmara com reconhecimento de rostos e versões avançadas de aplicativos que permitem videoconversação, transmissão de sons sem fios e comando de voz.
Seria esse o anunciado processador central de informações para famílias e pequenas empresas, capaz de agregar todas as mídias mais o controle de outros aparatos, como condicionadores de ar, estoques de alimentos e outros produtos, refrigeradores, fogões e sistemas de detecção de vazamentos, além de proporcionar a comunicação plena – de voz e imagens – com todos os tipos de aparelhos móveis.
O aparelho pode ser lançado um ano antes, segundo os especuladores. Para alguns, ele deve marcar também uma mudança na estratégia da Apple, que se tornaria mais permeável a compartilhar seu patrimônio tecnológico com outras empresas, rompendo o modelo de exclusividade e permitindo a universalização de parte de suas patentes.
Um dos argumentos que circulam sobre a possibilidade de antecipação no lançamento da TV inteligente é o fato de que todas as aplicações imaginadas para o aparelho já estão disponíveis e seguem em processo de aperfeiçoamento acelerado.
Embora tudo isso não passe de especulação, pode-se contar como prováveis todas essas mudanças, ainda que num prazo mais longo. O que resulta imediatamente dessas conjecturas é a intensificação de debates sobre os impactos possíveis de certos avanços tecnológicos sobre o mundo que conhecemos. No nosso caso, especificamente, trata-se de imaginar o que poderá acontecer com as práticas tradicionais do jornalismo.
Embora algumas empresas demonstrem alguma agilidade – como a versão vespertina do Globo criada exclusivamente para o tablet iPad, chamada O Globo a Mais, que, segundo se informa, vem obtendo um resultado surpreendente –, a rotina é a de continuar andando atrás das novidades.
Entre os temas que ocupam os pesquisadores de comunicação ganham destaque as lucubrações sobre uma possível aceleração das mudanças de hábitos e seu impacto na cultura, de modo geral.
O futuro do jornalismo
Sabe-se há mais de uma década que os indivíduos alfabetizados nos períodos normais de suas vidas – entre os seis e os dez anos de idade – processam informações com mais rapidez do que as pessoas que foram alfabetizadas na idade adulta.
Ainda não há estudos conclusivos sobre o impacto das novas tecnologias digitais sobre os jovens que nasceram imersos no ambiente hipermediado da internet, mas pode-se concluir, pela observação de comportamentos, que eles serão mais capazes, por exemplo, de manter a atenção em múltiplos objetos ao mesmo tempo.
O conhecimento do século passado sobre os processos culturais, como a criação de vínculos sociais, padrões e permanência de escolhas e inter-relações entre indivíduos e grupos de pessoas já não serve na era das redes sociais digitais. No entanto, muitas empresas de jornalismo e de publicidade ainda trabalham com velhos paradigmas como o das tribos urbanas segregadas.
Apenas andar ou correr atrás da tecnologia não garante a sobrevivência dessas empresas. Elas precisam entender como pensa o cidadão imerso nas nuvens de informação.