Pesquisando a cobertura dos canais árabes de notícias sobre a decapitação do soldado americano Keith Maupin por um grupo armado no Iraque, após ficar quase dois meses seqüestrado, o analista de mídia árabe Mamoun Fandy notou que quase não houve condenação a esta ação na imprensa dos países da região.
‘Mostrar pessoas sendo decapitadas é um novo fenômeno para a mídia árabe’, escreve o especialista, em artigo para o Houston Chronicle [7/7/04]. ‘Assisti a, talvez, uma dúzia de canais árabes e li incontáveis jornais nas últimas semanas, e cheguei à conclusão de que poucos comentaristas notaram essa grande mudança ou seu significado’. De modo geral – claro que há exceções –, o assassinato de Maupin e outros casos semelhantes foram reportados como fatos ordinários.
Em conversas com profissionais de imprensa árabes, Fandy soube que vários deles tiveram medo de reagir negativamente às decapitações de reféns americanos ou de outros países. Outros, por sua vez, confundem o público passando a impressão de que os terroristas e a resistência iraquiana à ocupação americana são a mesma coisa. Quando mostrou as cenas da decapitação do sul-coreano Kim Sun-il no Iraque, por exemplo, o canal al Jazira e o libanês LBC não informaram que os algozes eram sauditas – algo claramente notável pelo dialeto em que leram o ‘veredicto’ com que justificaram a degola.
‘O mundo árabe hoje nada em um mar de violência lingüística que justifica o terrorismo e o torna aceitável, especialmente para os jovens’, observa o analista. A ministra da Imigração síria, Buthaina Shaban, do partido Baath, por exemplo, tem seus textos publicados em diversos jornais árabes. Em setembro, ela escreveu um artigo intitulado ‘Sangue de Mártires’, no qual afirma que os ‘mártires’ estão ‘prontos para dar a maior das oferendas, de modo que as gotas de sangue espalhadas se juntam para formar um curso, depois um rio e, então, uma torrente transbordante’.
Na opinião de Fandy, essa tendência da mídia árabe faz com que os jovens deixem de considerar extremistas as idéias dos terroristas. Na verdade, acham legal participar desse tipo de movimento. ‘A cultura árabe está sendo corrompida pelos meios que glorificam a violência’, conclui.