Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Sotero


‘Colocado na defensiva pela confirmação de que seu principal assessor político foi a fonte do vazamento do nome de uma agente da CIA à imprensa, o presidente George W. Bush afirmou ontem que, ‘se alguém cometeu um crime, não trabalhará mais em minha administração’ – antes, ele prometera, de modo genérico, demitir ‘quem tivesse vazado’ a informação. Bush evitou responder diretamente uma pergunta sobre a responsabilidade do estrategista político Karl Rove na divulgação do nome de Valerie Plame à imprensa, em julho de 2003, num óbvio acerto de contas contra o marido da agente, o ex-embaixador Joseph Wilson.


Dias antes, Wilson impugnara publicamente, como ‘provavelmente falso’, um dos argumentos usados por Bush para justificar a invasão do Iraque – o de que Saddam Hussein comprara urânio no Níger.


‘É melhor que as pessoas esperem até que as investigações terminem, antes de tirar conclusões’, disse Bush à imprensa, referindo-se ao inquérito federal instaurado para apurar se o vazamento violou uma lei que proíbe altos funcionários de revelar a identidade de agentes da inteligência. ‘Quero conhecer os fatos, quero que isso termine o mais rápido possível.’


A história dos grandes escândalos nos EUA sugere que o acobertamento do crime é geralmente pior que o delito cometido e é o que leva as pessoas à cadeia. Pelo que já se sabe sobre o caso, está claro que Rove e o chefe do gabinete do vice-presidente Dick Cheney, Lewis Libby, foram as duas fontes anônimas citadas pelo jornalista conservador Robert Novak, o primeiro a publicar o vazamento. A dupla foi também fonte da Time (cujo artigo saiu depois do de Novak), confirmou domingo o autor da reportagem da revista, Matthew Cooper.


O senador democrata Charles Schummer disse ontem que Bush não deveria esperar para ‘demitir Rove e qualquer outro que tenha encorajado o vazamento’.’


 


José Meirelles Passos


‘Bush muda discurso e evita demitir assessor’, copyright O Globo, 19/7/05


‘WASHINGTON. Um ano atrás, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, prometeu que, assim que a Justiça descobrisse qual tinha sido o funcionário da Casa Branca que revelara à imprensa a identidade de uma espiã da CIA (Agência Central de Inteligência) especializada em armas de destruição em massa, ele o demitiria imediatamente.


Ontem, porém, quando lhe perguntaram novamente a respeito do mesmo assunto, o presidente fez uma sutil mas significativa alteração em sua promessa:


— Se alguém aqui cometeu um crime, não vai mais trabalhar em meu governo — afirmou Bush.


Detalhes de testemunho agora revelados


Havia uma claro motivo para a mudança no discurso: sabe-se, agora, que uma das pessoas que fizeram aquela revelação a vários jornalistas é Karl Rove, o principal estrategista político da Casa Branca, conselheiro de Bush desde a época em que ele era governador do Texas e também seu subchefe de Gabinete. A outra é Lewis Libby, chefe de Gabinete do vice-presidente Dick Cheney.


Rove e Libby foram denunciados pelo repórter Matthew Cooper, da revista ‘Time’, em depoimento ao procurador federal Patrick Fitzgerald, que está investigando o caso relacionado à divulgação do nome da agente da CIA, e que o intimara a depor. O jornalista descreveu vários detalhes de seu testemunho na edição da revista desta semana, que chegou ontem às bancas, alimentando ainda mais o escândalo. E isso, aparentemente, obrigou o presidente a alterar sua promessa.


A questão parece se concentrar, agora, num exercício de interpretação que caberá ao procurador federal definir. Uma lei de 1982 determina que é crime um funcionário do governo revelar a identidade de um agente secreto. No entanto, os advogados de Rove e Libby, assim como o Partido Republicano, vêm alegando que eles não cometeram crime algum porque não mencionaram o nome da espiã.


Segundo Cooper, os dois funcionários de fato não pronunciaram o nome da espiã — Valerie Plame Wilson — mas foram muito claros a respeito: disseram a ele que ‘a esposa do embaixador Wilson’ era da CIA, era especializada em armas de destruição em massa e tinha sido responsável por uma viagem dele à África. Não foi difícil para o repórter descobrir o nome dela.


Uma forma de o governo americano se vingar


O motivo de tal revelação — que, ao ser publicada, foi atribuída a ‘altas fontes do governo’ — também parecia claro: uma forma de o governo se vingar do embaixador Joseph Wilson, pelo fato de ele ter publicado, poucos dias antes, um artigo no jornal ‘The New York Times’ em que dizia ter sido enviado pela CIA ao Níger, numa missão especial para investigar se Saddam Hussein havia adquirido urânio naquele país para produzir armas nucleares.


No Níger, Wilson constatou que tal negócio jamais fora feito, mas o presidente Bush — num discurso à nação — usou a informação mentirosa para reforçar sua justificativa para invadir o Iraque.’


 


GEORGE ORWELL


Folha de S. Paulo


‘Britânicos espionaram o pai do Big Brother’, copyright Folha de S. Paulo, 19/7/05


‘O jornalista e escritor britânico Eric Arthur Blair (1903-1950), conhecido pelo pseudônimo de George Orwell, foi por 12 anos espionado pela polícia política do Reino Unido em razão de suas simpatias pelo marxismo.


A informação, publicada ontem pelo jornal ‘The Guardian’, é insólita, já que Orwell, como ficcionista, é o autor de ‘1984’, romance que narra uma sociedade governada pelo Big Brother, ditador capaz de vigiar até os pensamentos das pessoas. Orwell criou, assim, a expressão Big Brother (grande irmão).


A espionagem veio à luz com a revelação de documentos dos serviços de inteligência britânicos. Há relatos detalhados de sua viagem, em 1936, ao norte do Reino Unido para pesquisar as condições dos desempregados e da classe operária. Ele foi, então, acolhido pelos dirigentes locais do Partido Comunista.


Outro relatório policial, de 1942, relata suas condições materiais precárias, como jornalista do serviço indiano da BBC.


Orwell acreditava que o comunismo era um projeto social generoso, que pouco tinha a ver com o Estado policial e opressivo criado na União Soviética por Joseph Stálin (1879-1953).


A pureza e o desinteresse do pensamento político de Orwell foram postos em xeque há dois anos, quando, em meio a documentos sigilosos do Ministério das Relações Exteriores britânico, foi achada uma lista -que o escritor elaborou- com 37 nomes de intelectuais que não deveriam ser convidados para atuar em defesa de valores anticomunistas e pró-Ocidente.


Entre os ‘delatados’ estavam o jornalista Kingsley Martin, o ator Michael Redgrave e o cineasta Charlie Chaplin.


Defensores de Orwell afirmam que ele apenas ajudou uma amiga a definir os nomes, e que as pessoas listadas já haviam se posicionado publicamente, ao menos uma vez, em favor do regime soviético.’


 


GARCIA MARQUEZ


Daniela Birman e Mànya Millen


‘Livrarias quase boicotaram obra de García Márquez por causa do título’, copyright O Globo, 19/7/05


‘Ao lançar há poucos dias o novo romance do colombiano Gabriel García Márquez, prêmio Nobel de Literatura de 1982, a diretora editorial da Record, Luciana Villas-Boas, não imaginava que fosse ter algum tipo de problema na hora de mandar os exemplares para as livrarias. Mas ‘Memória de minhas putas tristes’, tradução fiel do original ‘Memoria de mis putas tristes’, lançado no ano passado na Colômbia e outros países de língua espanhola, enfrentou resistência e reclamações de algumas cadeias de livrarias e de uma rede varejista, todas fora do Rio (a maioria com sede em São Paulo e no Paraná), que tiveram dúvidas sobre se venderiam ou não o livro, e como o exibiriam em suas lojas.


— É um puritanismo absurdo. É não compreender a literatura de um nome tão conhecido e o público que compra livro — diz Luciana, que prefere não citar nomes, enquanto lembra também que o problema foi superado e que o livro está sendo vendido normalmente nas livrarias que apresentaram resistência. — Curioso é que as livrarias católicas não tiveram essa reação.


Editora nunca pensou em mudar título da obra


Luciana frisa que mesmo que a editora pudesse prever a reação dos livreiros o título da obra não seria mudado de forma alguma.


— Acho que é um belo título e é uma triste suposição achar que o leitor vai ficar chocado e que não perceberá a ironia contida nele. A hipótese de imaginar que García Márquez escreveu um livro pornográfico é lamentável.


O escritor Eric Nepomuceno, tradutor do romance, também afirma jamais ter pensado em outro título:


— Afinal, o autor do livro é o autor do título… Ofensivo? De jeito nenhum. Ao contrário, é um título insólito, como todos os de García Márquez. Não querer vender o livro por causa do título é de uma hipocrisia risível.


Problemas como o enfrentado pela obra de García Márquez — o romance conta a história melancólica de um nonagenário solitário, desiludido, que se apaixona por uma menina de 14 anos, a quem conhece num prostíbulo — não são isolados. ‘Eu, a puta de Rembrandt’, de Sylvie Matton, recém-lançado pela José Olympio (editora que faz parte do grupo Record), teve seu nome considerado ‘forte’ por algumas livrarias que, de acordo com a assessoria da editora, preferiram não comprar os exemplares, como normalmente acontece, recebendo-os apenas em consignação (os que não venderem são devolvidos).


O livreiro Rui Campos, da carioca Travessa, confessa ter ficado ‘chocado’ com a resistência à obra de García Márquez.


— Não acredito que nessa altura do campeonato isso ainda aconteça. Nas lojas da Travessa, vendemos centenas de exemplares em espanhol desde o fim do ano passado e a edição em português já é nosso livro mais vendido.


A editora Objetiva também teve alguns problemas com o livro ‘Amestrando orgasmos’, de Ruy Castro, lançado em março de 2004. Segundo a casa, o gerente de compras de uma das maiores redes de livrarias do país já havia encomendado displays do livro, com 30 exemplares cada, para distribuir pelas lojas quando veio uma ordem da diretoria vetando a divulgação por causa do título.’