‘Parece que J.K. Rowling está enfeitiçada: quanto mais livros vende, mais prolixa ela fica.
Com 652 páginas na versão americana, ‘Harry Potter and the Half-Blood Prince’ (que no Brasil sai no fim do ano como ‘Harry Potter e o Príncipe Mestiço’, segundo a Rocco), o sexto volume da série sobre o jovem bruxo, é menor do que os dois episódios anteriores. Mas, como diriam seus personagens, pelas barbas de Merlin!, nunca a autora britânica esteve tão disposta a tergiversar.
Não fosse por uma e outra incursão pela memória de Valdemort, o sinistro antagonista de Harry, pela apresentação de um crucial personagem, o professor Horace Slughorn, e pela sutil colocação de sinais do que está por vir, a primeira metade do livro seria um desperdício de papel.
Embora Rowling exerça o melhor do seu talento costurando e conduzindo a trama complexa, sua prosa nunca foi tão rebuscada, e o detalhismo nunca lhe foi tão daninho. Dado que os ambientes já são familiares aos que acompanham a série, parte das minúcias poderia ser descartada.
Mas os que perseveram são recompensados (sem muita chance para quem não leu os anteriores). A partir do 17º capítulo, a história ganha força, e a sucessão de revelações e explicações faz com que as páginas fluam com rapidez.
O caminho para o derradeiro volume da série, onde as últimas lacunas terão de ser preenchidas, está aberto. E, como se suspeitava, as revelações finais ocorrerão sem um dos principais personagens -a morte, como a traição, são temas correntes desde o primeiro livro, e a autora mostrou no episódio anterior que não se acanha em dizimar seu elenco central.
Resenhistas estrangeiros apontam para ‘Half-Blood Prince’ como o mais sombrio dos livros da série. Em termos. É fato que Harry nunca esteve tão sozinho. Mas o que há no sexto livro, na verdade, é mais do mundo adulto. Afinal, o protagonista está com 16 anos, e suas descobertas, como a de seus amigos Ron e Hermione, são naturalmente recebidas com mais cinismo do que antes.
Rowling acompanha essa evolução de dois jeitos. O primeiro, injetando na história uma maior dose de romance (os hormônios dos personagens estão fervendo, e a consolidação de alguns casaizinhos deve deixar boa parte dos fãs satisfeita). O segundo, mais sofisticado, permeando na trama uma dose de crítica para criar um paralelo entre a guerra no mundo bruxo e a guerra ao terrorismo protagonizada pelos EUA e por seu Reino Unido natal. Escrachada no livro, está a paranóia de segurança que toma conta dos personagens.
Embora o confronto entre o bem e o mal ainda seja o mote, em nenhum outro livro da série esses conceitos parecem tão flexíveis.
Harry mostra que também pode ser cruel. Dumbledore também pode ser frio. Draco Malfoy também pode chorar. E Voldemort, descrito como a personificação da maldade, também pode ser humanizado.
Não se trata, portanto, do livro mais sombrio. Trata-se (em sendo uma ficção protagonizada por bruxos, pede-se aqui uma dose de boa vontade) do mais realista.
Rowling conhece seus leitores. Ela sabe que eles cresceram. E parece tentar lhes dar um pouco mais do que a velha história do herói imaculado cuja missão é enfrentar um vilão 100% maligno.’
MERCADO EDITORIAL
Luiz Fernando Vianna
‘Harlequin estréia de olho em donas-de-casa’, copyright Folha de S. Paulo, 19/7/05
‘‘Paixão’, ‘Desejo’, ‘Destinos’, ‘Jessica’… Os títulos já dão uma idéia do que tratam essas séries que estão nas bancas desde abril. As capas, com casais enlaçados em clima quase sexual, confirmam. Os livros que marcam a entrada da gigante canadense Harlequin Books no Brasil são semelhantes a séries que já fizeram muito sucesso no país, como ‘Sabrina’, ‘Bianca’ e ‘Julia’.
‘Nós tratamos nossos produtos como bens de consumo de massa: identificamos a necessidade do consumidor e procuramos atender a esse público-alvo’, afirma Valéria Chalita, principal executiva da Harlequin no Brasil.
Segundo ela, os leitores das publicações são, principalmente, leitoras. Pertencem às classes B e C, têm mais de 30 anos e sonham muito. ‘São mulheres com vida dupla: donas-de-casa mas também donas da vida. E ainda aguardam viver um grande romance’, acredita.
Como qualquer empresa que lida com bens de consumo de massa, seu principal cartão de visitas são números gigantes. Criada há 55 anos, a Harlequin está em 95 países, publica em 25 idiomas, lança 110 novos títulos por mês, vende 144 milhões de exemplares por ano e conta com 1.300 autores. Nenhum brasileiro, por enquanto.
‘Queremos dar oportunidade para autores brasileiros, é claro. É um passo que daremos no futuro’, diz a CEO da Harlequin, a canadense Donna Hayes, que esteve no Rio na semana passada.
O primeiro passo é fazer as séries da editora, que são sucesso em vários países, caírem nos olhos e nos corações de leitoras brasileiras. Para isso, a Harlequin aposta na parceria com a Record, o maior grupo editorial brasileiro. As empresas fizeram uma sociedade, batizada de HR, na qual os canadenses entram com as histórias, e os brasileiros, com o processo industrial.
‘O mercado editorial brasileiro é uma pirâmide com base pequena, por isso nosso edifício não cresce’, diz Sérgio Machado, proprietário da Record, usando a metáfora para dizer que só as classes mais altas compram livro no Brasil. ‘As séries da Harlequin são literatura popular, de entretenimento, feita para distrair. São livros que precisam ser lidos, pois ninguém vai comprá-los para pôr na estante’, afirma.
As séries estão sendo vendidas nas bancas de Rio e São Paulo por preços a partir de R$ 3,90. São dez novos títulos por mês, sendo dois por série. Além de ‘Paixão’, ‘Desejo’, ‘Destinos’ e ‘Jessica’, há ainda ‘Grandes Autores’. Nenhum autor é realmente grande, mas são romances maiores, supostamente mais complexos e com um fim em si, sem deixar uma porta aberta para o número posterior da série.
‘Queremos trazer outras séries para o Brasil. Agora, por exemplo, estamos publicando com sucesso nos Estados Unidos histórias em formatos de mangás, para atrair um público mais jovem. É uma experiência que pode ser feita aqui também’, conta Hayes.
No estilo ‘de mulher para mulher’, a Harlequin praticamente não contrata homens como autores ou tradutores. Muitas das mulheres que escrevem livros para a editora são leitoras que foram treinadas para passar para o outro lado da banca.’
Débora Miranda
‘Brasileiras não mudam padrão internacional’, copyright Folha de S. Paulo, 19/7/05
‘As séries românticas ‘Julia’ e ‘Sabrina’ abriram suas páginas para escritoras brasileiras -acontecimento inédito até agora-, mas as histórias continuam sendo internacionais. Nada de Rio de Janeiro, Salvador nem das paisagens paradisíacas de Fernando de Noronha. As moçoilas apaixonadas da ficção ainda suspiram caminhando pelas ruas de Nova York, Chicago e Paris.
Desde 1978 no mercado nacional (tendo começado com a precursora inglesa Barbara Cartland), os romances de banca de jornal editados pela Nova Cultural são verdadeiros fenômenos, chegando a 4 milhões de exemplares vendidos anualmente no país.
Era a empresa canadense Harlequin que fornecia as histórias para a Nova Cultural até dezembro de 2003. Com o fim do negócio, entrou em cena a americana Kensington. E prevalece a premissa de que, em time que está ganhando, não se mexe. ‘O formato da história tem de ser sempre o mesmo. A protagonista é uma mulher moderna, independente. Há uma crise no relacionamento dela com o personagem masculino, mas, no fim, eles ficam juntos’, define Daniela Tucci, gerente de marketing da Nova Cultural.
O primeiro livro brasileiro a ser lançado foi ‘Magia do Coração’, que chegou às bancas em janeiro. Assinado por Lucy Jordan (pseudônimo de Lucia Pinto de Souza, 76), entrou na série ‘Sabrina’, a mais vendida -chega a vender 100 mil exemplares por mês, com livros lançados semanalmente.
‘Dizem que meus livros são divertidos [ela já publicou um anterior, mas fora da coleção]. Escrevo o que me dá na cabeça e, quando leio, acho uma porcaria. Depois releio e acho bom’, diverte-se Lucia.
A novidade é ‘Vencidos pelo Desejo’, distribuído no mês passado pela série ‘Julia’. ‘Pediram-me que seguisse a linha das autoras internacionais. Não posso romper de repente com o estilo que as leitoras já adoram’, afirma Gladys Posmik, 68, que, antes de virar escritora, deu aulas de ciências e de música e fez palestras de auto-ajuda.’
Ancelmo Gois
‘Namoro nos livros’, copyright O Globo, 19/7/05
‘A terra treme no mercado editorial. As mudanças não param desde que a espanhola Santillana comprou 75% da Objetiva.
A alemã Bertelsmann, como se sabe, namora a Record. Outro namoro na praça pode levar ao altar a Planeta, também grandona espanhola, com a Rocco.’
AMÉRICA
Ancelmo Gois
‘Rodeios na telinha’, copyright O Globo, 19/7/05
‘O MP do Rio arquivou a representação da Associação de Protetores de Animais contra a novela ‘América’.
Entendeu que, ao exibir cenas de rodeios, Glória Perez apenas exerce seu direito à liberdade de expressão.’