Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Alessandro Soler


‘Uma reportagem do jornal inglês ‘The Independent’ publicada ontem, sobre um escândalo numa indústria automobilística européia cujos diretores foram acusados de usar dinheiro da empresa para pagar orgias com prostitutas brasileiras, acabou atingindo a ex-modelo e ex-atriz Luma de Oliveira. Uma foto de Luma, quando desfilou como rainha de bateria da Caprichosos de Pilares no carnaval deste ano, ilustrava o texto em quase meia página. Na montagem do ‘Independent’, atrás de Luma havia muitos carros da indústria onde ocorreu o escândalo. Sob a foto, a seguinte legenda: ‘A maior montadora de carros da Europa, a VW (Volkswagen), é sacudida por um escândalo envolvendo sexo, suborno e passistas’.


Advogado vai a Londres para abrir processo


Luma não foi citada, mas a simples aparição da foto na reportagem sobre prostituição ‘foi bastante para destruir sua imagem’, segundo o advogado dela, Michel Assef. Ele vai pedir uma indenização na Justiça inglesa.


— Não posso acreditar que a puseram na reportagem sem conhecê-la. Estou em Nova York e vou direto para Londres, onde entrarei com uma ação contra o ‘Independent’ — disse Assef. — Luma está totalmente deprimida, ela é mãe de dois filhos, um de 16 e um de 10 anos. A publicação causou profundos danos morais a ela e à família. Vou pedir uma indenização alta. Ela já vive uma separação complicada, não precisava de mais essa.


Luma não quis falar sobre o assunto. Em nota, disse que sua revolta vai além do constrangimento pessoal. Para ela, a associação entre prostituição e carnaval é uma ofensa à mulher e ao povo brasileiros.


‘Nenhum jornal do mundo tem direito de relacionar a prostituição com o carnaval do Brasil, o momento de maior alegria do brasileiro. Maior do que o meu constrangimento é minha indignação’, escreveu na nota.


‘A história do caso VW’ é o título da reportagem, que sustenta que altos executivos da montadora européia vinham pagando orgias com dinheiro da empresa, oferecidas a políticos de destaque na Alemanha. O ‘Independent’ afirma que Peter Hartz, diretor do Departamento de Pessoal da empresa, teve como amante uma prostituta brasileira, chamada na reportagem de Josélia R. Outro diretor teria comprado uma casa para uma prostituta em São Paulo. E cartões de crédito da empresa teriam sido usados para pagar viagens de executivos ao Rio para o carnaval.


O ‘Independent’ não retornou os contatos do GLOBO pelo telefone e por e-mail. Segundo o site ‘BBC Brasil’, um repórter do do jornal, não identificado, alegou que a foto foi escolhida aleatoriamente, depois de uma pesquisa nos arquivos com a palavra-chave ‘samba’.


Em janeiro passado, o também respeitado jornal americano ‘New York Times’ publicou o que em jargão jornalístico é chamado de ‘barriga’. Numa reportagem do correspondente Larry Rother sobre obesidade no Brasil, estampou uma foto de três ‘cariocas’ acima do peso, feita pelo fotógrafo John Maier. Na verdade, elas eram turistas tchecas. O jornal reconheceu o erro e publicou uma retratação.’


 


MICHAEL JACKSON


Thiago Ney


‘Biografia investiga ‘lado B’ de Jackson’, copyright Folha de S. Paulo, 22/7/05


‘Depois da tempestade, vem a biografia. Recém-absolvido de um longo processo de molestamento sexual, Michael Jackson tem sua vida dissecada em ‘A Magia e a Loucura’.


O extenso livro é mais um produto do norte-americano J. Randy Taraborrelli, jornalista especializado em investigar celebridades como Madonna, Frank Sinatra e Grace Kelly -todos estes já foram temas de biografias suas.


Com a ajuda de detalhes -como quando o cantor pechinchou para pagar US$ 100 por uma pintura numa galeria de arte de Los Olivos, na Califórnia-, a obra faz saltar principalmente facetas não muito abonadoras da personalidade de Jackson, como os vários golpes publicitários e a sua obstinação em criar um mundo irreal e especial para si.


‘Ele é um produto de sua própria imaginação e de suas más escolhas’, afirma Taraborrelli, em entrevista à Folha, por telefone. ‘Michael Jackson não é um gênio de relações públicas, teve péssimas idéias nessa área, como da câmera hiperbárica e os ossos do Homem-Elefante, são coisas de ficção científica que contribuíram para aumentar a imagem surreal que existe dele.’


(Jackson plantou na imprensa, nos anos 80, que havia comprado uma câmera de oxigênio que usaria para dormir e que o ajudaria a viver até os 150 anos; depois, para ganhar mais publicidade, fez uma falsa proposta pelos ossos do Homem-Elefante, que estão guardados num hospital londrino.)


‘Ele critica a mídia por divulgar essas histórias, mas foi ele quem as criou… Acho que Michael nem se lembra disso. As celebridades, muitas vezes, não se dão conta da dimensão e da responsabilidade que têm’, continua o escritor. ‘Ele começou a acreditar em suas mentiras. Em toda a vida de Jackson, nunca o ouvi dizendo: ‘Foi minha culpa, não queria ter feito isso’. Você ouve esse tipo de coisa de Madonna todo o tempo, de gente que se tornou madura. Mas Michael não é desse tipo, fica culpando e culpando a todos.’


A edição que chega ao Brasil é a versão mais atualizada da biografia, que saiu pela primeira vez nos EUA em 1991. Taraborrelli passou mais de 30 anos em pesquisas e entrevistou, além do cantor, centenas de fontes. ‘Não levei 30 anos para escrever o livro, levei 30 anos vivendo-o. A última vez que o atualizei foi no final de 2004, pouco antes do início das sessões do último julgamento.’


A primeira entrevista que ele fez com Jackson ocorreu em junho de 1972. A última, em 1998. ‘Claro que ele é uma pessoa diferente, mas todos mudamos. A questão é que Jackson cresceu triste. Acho que a última vez em que Michael foi feliz foi na adolescência.’


Antes deste último julgamento, Jackson havia sido acusado, em 1993, de ter abusado sexualmente de um garoto de 13 anos. O cantor fez com a família um acordo de mais de US$ 20 milhões.


‘Michael tem muito dinheiro, então criou um outro mundo para ele, onde ele decidiria como viver. Neverland é isso: é uma utopia de Michael em que ele não precisaria ter responsabilidades ou fazer coisas de acordo com os padrões normais’, analisa o escritor. ‘Não dá para afirmar que ele seja pedófilo. Baseado no que pesquisei sobre os dois casos em que ele se envolveu seriamente, acho que ele não é culpado. Nesses dois casos…’


Michael Jackson – A Magia e a Loucura


Autor: J. Randy Taraborrelli


Editora: Globo


Quanto: R$ 62 (688 págs.)’


 


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‘Escritor virou especialista em retratar famosos’, copyright Folha de S. Paulo, 22/7/05


‘J. Randy Taraborrelli já escreveu as biografias de Madonna, Frank Sinatra e Grace Kelly. Mas considera Michael Jackson o personagem mais estranho e particular do showbizz americano.


‘É com certeza a figura mais singular. Mas uma coisa que aprendi escrevendo biografias é que todos têm uma história que merece consideração. Uma coisa que essas celebridades têm em comum é que eles realmente tentaram viver o melhor que podiam, mesmo que idiossincraticamente. Mesmo sendo crítico de algumas atitudes de Michael, reconheço que ele tenta fazer o melhor que pode.’


Jackson não autorizou a biografia (‘Se uma pessoa deseja uma biografia autorizada, ela deveria escrever sua autobiografia…’, diz Taraborrelli, que planeja publicar livro sobre Elizabeth Taylor no ano que vem). O escritor não concorda com a idéia de que o documentário ‘Vivendo com Michael Jackson’, de Martin Bashir, exibido na TV em 2003, teria causado a abertura do processo que ocasionou o julgamento do cantor.


‘É fácil apontar o dedo para Martin Bashir, mas a verdade é que ninguém obrigou Michael Jackson a dividir cama com crianças ou fazer qualquer outra coisa.’’


 


ORLANDO SILVA


Márvio dos Anjos


‘Especial inédito relembra Orlando Silva’, copyright Folha de S. Paulo, 22/7/05


‘Príncipe do Disco e Rei do Rádio foram alguns dos títulos que Orlando Silva (1915-1978), carioca do Engenho de Dentro, recebeu em sua carreira. Mas tente ouvir algo dele no rádio hoje em dia.


Não vai rolar. Por isso, o documentário da STV ‘Orlando Silva -O Cantor das Multidões’ surge como uma bela maneira de conhecer uma de tantas vozes que o Brasil, o mercado, os programadores e os ouvintes esqueceram.


Alto lá: nem todos. Ainda há senhores e senhoras que se dedicam a relembrar a trajetória do primeiro artista a entoar ‘Carinhoso’ e ‘A Rosa’, ambas de Pixinguinha. Imagine um artista que, 27 anos depois de morrer em relativa decadência, ainda inspira adoração de tantos fãs.


O segredo do rapaz magro era a voz firme, mas bem menos empostada que a de seus antecessores como Francisco Alves. A coloquialidade da dicção de Silva (embora nem tão coloquial para ouvidos de hoje) o transformou num marco que influenciou carreiras díspares como Caetano, Cauby e Agnaldo Timóteo.


O documentário relê, ainda que sem muito detalhismo, os principais motivos que o levaram a uma forte queda na carreira, entre as décadas de 40 e 50. Envolvimentos com drogas e uma paixão atormentada pela atriz de rádio Zezé Fonseca -com direito a um depoimento da viúva do cantor, Lourdes Silva, já morta.


Mas o depoimento que mais ancora o documentário é justamente de um dos principais responsáveis pelo revival de Orlando -e provavelmente uma das inspirações para a realização desta produção: o ator Tuca Andrada, que levou aos palcos um musical sobre a vida do cantor.


O ator, que teve atuação elogiada, conta frutos de sua pesquisa em torno do personagem. Isso dá mais sabor a um documentário que, por suas limitações de tempo, não consegue saciar a curiosidade do ouvinte em relação à música do Cantor das Multidões.


Orlando Silva: O Cantor das Multidões


Quando: hoje, às 21h30, na STV’


 


ADA ROGATTO


Paula Chagas


‘Jornalista refaz trajetória da aviadora Ada Rogatto’, copyright O Estado de S. Paulo, 22/7/05


‘Quais são as heroínas da história brasileiras? Com essa pergunta na cabeça, a jornalista Lucita Briza, de 65 anos, começou uma pesquisa rumo à realização de um livro que retratasse uma mulher brasileira, corajosa, que tivesse marcado sua época e sua geração. ‘Pensei em escrever algo sobre mulheres que lutaram no Golpe de 1964, mas percebi que o distanciamento histórico ainda é muito pequeno’, explica. Ao tentar pesquisar os anos anteriores ao golpe, surpreendeu-se com o fato de que há pouquíssimas personagens no imaginário popular e que essas já foram retratadas nas mais diversas mídias. ‘Personagens como Chiquinha Gonzaga, Anésia Pinheiro Machado ou Anita Garibaldi, por exemplo, já foram muito exploradas.’


Por conta disso, debruçou-se em suas lembranças e remeteu-se à heroína de sua mãe. ‘Ela sempre falava da aviadora Ada Rogatto, uma mulher à frente de seu tempo. Fui pesquisar sua história e me surpreendi com a escassez de informações.’ A partir daí, Lucita começou a sua viagem em direção à pioneira aviadora brasileira. Figura ímpar em sua época, Ada, nascida em 1920, em São Paulo, onde morreu em 1986, é mais uma da extensa galeria de personagens históricos brasileiros à espera de uma pesquisa que os revele. ‘Ela foi a primeira mulher a atravessar os Andes, sozinha, em um paulistinha, avião sem a menor infra-estrutura. Fez essa travessia 11 vezes’, lembra Lucita. ‘Além disso, foi a primeira mulher a sobrevoar a Amazônia, o que a fez ser uma das pioneiras no contato com os índios da região’, assegura.


As peripécias da Ada são incontáveis e aos poucos a jornalista vai desenhando a figura de uma mulher singular, que rompeu barreiras e abriu muitos campos para as suas sucessoras. ‘Ela veio de uma família humilde, mesmo assim tirou seu brevê de pára-quedista aos 15 anos, em 1935.’


Como em toda história prodigiosa, Ada passou por momentos difíceis e nunca se casou ou teve filhos, o que dificulta a apreensão do material sobre a sua vida, espalhado por diversas casas e museus. ‘Em 1948, ela foi a primeira mulher a jogar inseticida, do avião, contra a broca do café, uma praga perigosa’, conta Lucita. ‘Por conta do ineditismo do seu feito, não se sabia como usar o inseticida, que foi colocado na parte frontal do avião. O veneno espalhou-se no seu rosto, o que ocasionou uma queda e deixou em Ada seqüelas para sempre.’


Mas Ada continuou voando e chegou a adquirir seu próprio avião Cessna, o qual no fim da sua vida doou para o Aeroclube Paulista, do qual foi membro atuante. Também fez parte da Fundação Santos Dumont e do Instituto de Genealogia, outra de suas paixões. ‘Apesar de ser pouco conhecida hoje, os feitos aéreos de Ada foram tão importantes que os astronautas americanos, quando vinham ao Brasil, faziam questão de conhecê-la’, assegura a jornalista. Fotos desses encontros, entre outras raridades históricas, estão em poder de Lucita, que promete muitas surpresas com o livro. ‘Há cruzamentos da vida dela com a história social e política da época. Ela era próxima de Vargas, Ademar de Barros e conhecia Assis Chateaubriand.’


Essas histórias todas, colhidas em mais de 20 entrevistas, viagens ao Aeroclube Paulista e ao Museu da Aeronáutica, já preenchem muitas páginas escritas pela jornalista. ‘A trajetória de Ada é incrível, mas não há como contar essa história sem entrar nas questões que ela abarca, como a história da aviação brasileira, a difícil situação atual desse acervo tão rico e a importância dos Aeroclubes.’ Toda a pesquisa tem sido feita por dedicação da jornalista. ‘Após uma vida no jornalismo, achei que já era hora de eu me pautar e partir para um projeto que me satisfizesse’, comenta. ‘Mas não sabia que, além de prazeroso, seria tão difícil.’


Lucita está em conversação com editoras, que se mostram interessadas no projeto, mas necessita de uma parceria que a permita empreender mais entrevistas e viagens, além do período para redigir o livro. ‘O projeto sai de qualquer jeito, mas sinto a cada entrevista que há algo novo para pesquisar. Essa figura histórica tem muito a nos contar sobre nós mesmos’, assegura. ‘Somente trazendo à tona mulheres como Ada Rogatto é que as gerações futuras, de mulheres e homens brasileiros, vão dar o devido valor ao seu país e à sua história.’ Quem tiver interesse em auxiliar o projeto do livro, pode entrar em contato com a jornalista pelo (011) 9154-8312.’