Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Carlos Eduardo Lins da Silva

‘A indústria editorial, como outras mais antigas da área de comunicação social, tem feito nos últimos anos grandes esforços para adaptar-se ao novo ambiente da mídia criado com a chegada dos canais de notícias internacionais e, especialmente, da internet. Uma das novidades, possível graças aos avanços de tecnologia e logística, é a colocação à venda de livros sobre fatos e eventos que aconteceram ou foram revelados muito pouco antes da edição desses volumes.


A idéia mercadológica é explorar a curiosidade do público pelo acontecimento enquanto ela ainda está fresca em sua memória. Todos sabemos como, no ambiente cultural contemporâneo, esquecem-se velozmente os ‘15 minutos de fama’ de pessoas e assuntos. É nessa lógica que aparece no Brasil, apenas dois meses após a revelação da identidade de ‘Garganta Profunda’, a principal e misteriosa fonte dos jornalistas do ‘Washington Post’ que investigaram o caso Watergate, o livro ‘O Homem Secreto’, de autoria de Bob Woodward com um artigo de Carl Bernstein, os dois repórteres do jornal americano que ajudaram a derrubar Richard Nixon da Presidência dos EUA.


As vantagens desse tipo de estratégia brevemente descrita acima são óbvias. Quem procurou alugar o filme ‘Todos os Homens do Presidente’ (sobre a saga de Woodward e Bernstein) em junho e julho nas locadoras paulistanas sabe como foi grande a quantidade de interessados pelo assunto. Mas as desvantagens do estratagema também são claras. Em tão pouco tempo, é difícil produzir um texto que adicione reflexão ou mesmo dados antes desconhecidos que proporcionem alargar o conhecimento de um tema. Em ‘O Homem Secreto’, isso fica muito claro.


Depois que a revista ‘Vanity Fair’ publicou a reportagem na qual Mark Felt admitia ter sido a fonte de Woodward, todos os veículos de comunicação de massa do mundo foram inundados com depoimentos, análises e testemunhos sobre o caso.


O próprio Woodward escreveu um longo artigo para o ‘Washington Post’, do qual basicamente deriva o livro ‘O Homem Secreto’, o qual adiciona ainda relatos muito próximos ao de seu predecessor dos anos 1970, ‘Todos os Homens do Presidente’. No fundo, esse volume é uma fusão de melhores momentos de ‘Todos os Homens do Presidente’ com o artigo de Woodward para o ‘Post’ de dois meses atrás.


Woodward é, inegavelmente, um ótimo jornalista. Mas nunca primou pela profundidade da análise e sempre deixou muitas dúvidas sobre até que ponto suas informações correspondiam inteiramente aos fatos. Não é em ‘O Homem Secreto’ que ele se diferencia.


Nada ou muito pouco além das especulações de senso comum se fica sabendo sobre os motivos que levaram Felt a trair o presidente Nixon, nem sobre como ele teve acesso a tantos detalhes tão rapidamente do que ocorria no Salão Oval da Casa Branca.


Talvez a principal razão da importância desse livro seja demonstrar como a prática bem realizada da entrevista ‘off the record’ (sem atribuição da fonte) é fundamental para a instituição jornalística num período histórico em que ela está sob risco, principalmente nos EUA. Mas Woodward não se dá ao trabalho de refletir sobre esse aspecto vital para a sua profissão em ‘O Homem Secreto’.


Carlos Eduardo Lins da Silva é jornalista e diretor de relações institucionais da Patri Relações Governamentais & Políticas Públicas


O Homem Secreto


Autor: Bob Woodward


Editora: Rocco


Quanto: R$ 25 (224 págs.)’


 


BRASIL NO CINEMA


Luiz Carlos Merten


‘O Rio que passa em Hollywood’, copyright O Estado de S. Paulo, 23/7/05


‘Bacharel em Ciências Sociais, pós-graduada em Sociologia Urbana, mestra em Sociologia – o currículo da professora Bianca Freire-Medeiros exibe uma sucessão de títulos, aos quais se acrescenta o Ph.D em História e Teoria da Arte e Arquitetura, que ela alcançou na Binghantom University, de Nova York, com a dissertação The Travelling City: Representations of Rio de Janeiro in U.S. Films, Travel Accounts and Scholary Writings, no período dos anos 1930 aos 90. Aos 35 anos, Bianca virou especialista na representação brasileira pelo cinema americano, mas agora desenvolve outra experiência que considera bem interessante.


Ela faz a pesquisa para a novela das 8 da Globo, América. Seu campo de trabalho é o núcleo de Miami. Bianca tem conhecimento de causa. Viveu vários anos nos EUA, primeiro em Nova York e, depois, na Flórida. Ela seleciona e documenta todos os conteúdos que poderão interessar à autora da novela, mas cabe a Glória Perez, segundo suas necessidades ficcionais, decidir como repassar as informações ao público.


Para a professora, é estimulante contrapor, mesmo que em diferentes mídias, a abordagem crítica da maneira como Hollywood, ao longo de quase um século, vem construindo a visão do Rio no imaginário ocidental e, na contramão, a forma como os brasileiros encaram o Império, em América. Miami não é só um cenário de sonho e expectativa na novela. Abriga também os imigrantes ilegais. Hollywood e a Globo têm tudo a ver como usinas de sonho e de produção audiovisual. A novela você acompanha todas as noites, após o Jornal Nacional. A pesquisa de Bianca sobre o Rio filtrado pelas lentes do cinema americano encontra-se num pequeno volume da Jorge Zahar Editor, que faz a síntese (em 74 páginas) do trabalho dela. Chama-se O Rio de Janeiro Que Hollywood Inventou, integra a coleção Descobrindo o Brasil e oferece leitura prazerosa sobre o assunto. Mesmo quando querem oferecer imagens autênticas do Rio, os diretores caem na visão mítica da cidade. ‘Alegria e sensualidade são os dois grandes ingredientes da leitura que o olhar estrangeiro faz do Brasil’, Bianca diz. Pode ser estereótipo e até preconceito, mas Bianca adverte – ‘Nós (os brasileiros) consentimos.’’


 


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‘Brasil liberado é coisa de cinema’, copyright O Estado de S. Paulo, 23/7/05


‘Há representações que tendem ao exagero, como a de Stanley Donen em Feitiço do Rio, na qual belas mulheres seminuas (esta parte é real) vão à praia carregando coloridos tucanos no ombro. E há outras que são mais grotescas e até nocivas, como a de Boca, de Walter Avancini (e Zalman King, não creditado), na qual o Rio vira um lixão habitado por personagens cujas deformidades físicas são o retrato da sua deformação moral.


Feitiço do Rio e Boca são apenas dois dos filmes que a professora Bianca Freire-Medeiros analisa em sua dissertação The Travelling City: Representations of Rio de Janeiro in U.S. Films, Travel Accounts and Scholarly Writings, que lhe valeu o título de Ph.D em História da Arte e Arquitetura pela Binghamton University, de Nova York.


A versão sucinta da dissertação foi editada pela Jorge Zahar na sua coleção Descobrindo o Brasil. É um livro de bolso, fartamente ilustrado, que você lê de um fôlego. A coleção, informa a própria editora, trata de temas da história e da cultura brasileiras, escritos por especialistas, em linguagem acessível.


Está aí uma boa definição para O Rio de Janeiro Que Hollywood Inventou. Esse ‘inventou’ é fundamental. Pois o Rio de Hollywood, mesmo quando aparentemente preocupado em oferecer uma imagem autêntica da cidade que é chamada de maravilhosa, termina sempre por celebrar os estereótipos a ela associados – alegria, carnaval, sensualidade.


Para os norte-americanos puritanos, o Brasil, e o Rio, especificamente, ocupa sempre esse espaço do imaginário reservado à liberação dos sentidos. O problema é que o paraíso pode se revelar também um inferno. São os dois extremos de Feitiço no Rio e Boca.


Embora carregada de títulos que a tornam respeitabilíssima pela academia, Bianca Freire-Medeiros não tem medo de trabalhar com signos tão ostensivos da cultura pop quanto a novela ou os filmes que selecionou para sua pesquisa.


Eles são basicamente oito, mesmo que a autora cite outros. E não são aqueles títulos que mais interessam aos críticos. Bianca garimpou seus títulos preferenciais para análise entre as obras que costumam ser despachadas como sem interesse ou meramente escapistas. É um dos aspectos interessantes de sua pesquisa. Às vezes, são os filmes mais tolos que fornecem as melhores possibilidades de análises subliminares.


Afinal, o próprio Jean-Luc Godard disse, certa vez, que toda ficção, por pior que seja, termina sendo um documentário valioso sobre a época em que foi realizada.


Pela ordem alfabética, os filmes que fornecem o material de análise para O Rio de Janeiro Que Hollywood Inventou são – Boca; Feitiço do Rio; Kickboxer 3, de Rick King; Meu Amor Brasileiro, de Mervyn LeRoy; Orquídea Selvagem, de Zalman King; Os Reis do Riso, de Norman Z. McLeod; Uma Noite no Rio, de Irving Cummings; e Voando para o Rio, de Thornton Freeland. Apenas um deles, o de Irving Cummings, de 1941, é interpretado pela atriz que estabeleceu o estereótipo da mulher brasileira para o público norte-americano – Carmem Miranda, a lady do tutti-frutti hat.


Bianca ignora deliberadamente outros filmes nos quais o Rio fornece o quadro sem se integrar à ação – casos do hitchcockiano Interlúdio (Notorious), com Cary Grant e Ingrid Bergman; ou de 007 contra o Foguete da Morte, de Lewis Gilbert, com Roger Moore e Lois Chiles.


Este último é exemplar de uma certa representação do Brasil – James Bond, depois de lutar com o vilão no bondinho do Pão de Açúcar, pega um cavalo na Glória, atravessa as cataratas do Iguaçu e vai parar na Amazônia, numa salada geográfica que desconcerta até os gringos que fazem uma idéia, mínima que seja, do Rio.


Um filme inócuo como Voando para o Rio é, na verdade, uma celebração do desenvolvimento tecnológico que torna possível a missão imperalista norte-americana no Brasil.


A política da boa vizinhança é tema de observações pertinentes em vários capítulos, o que permite à autora falar de figuras como Zé Carioca. Mas é um musical como Uma Noite no Rio, com a embaixatriz Carmen Miranda, que adquire uma riqueza insuspeitada.


Segundo Bianca, ‘o filme sustenta fantasias racistas e sexistas sobre os latino-americanos e as mulheres em geral, mas graças à performance exagerada e à paródia que Carmen realizava de sua persona, vira crítico dos próprios clichês’.


É sempre assim. Buscando imagens mais contemporâneas do Rio no cinema comercial dos EUA, Bianca estabelece três espaços. Feitiço do Rio é o paraíso; Orquídea Selvagem é o purgatório; e Kickboxer 3 e Boca, o inferno.


Nesses três estágios, o Rio no qual os americanos vêm liberar sua sensualidade reprimida termina por envolvê-los na espiral do tráfico, da violência e da exploração infantil.


Nos oito filmes, Bianca discute o que chama de ‘paisagem da imaginação’ e acrescenta que neles ‘são encenados dramas e conflitos cujo alcance simbólico não se restringe apenas à trama que os anima’.


O Rio dos gringos, ela diz, é filtrado constantemente por ‘um olhar ingênuo e paternalista, temeroso e seduzido’. As imagens, de tão repetidas, alcançam status mítico.


Outro pesquisador talvez preferisse se voltar para um filme como o inacabado It’s all True, de Orson Welles, que Bianca cita, claro. Ela prefere debater o Rio dos musicais, uma cidade moderna e civilizada, na qual os cariocas têm acesso aos benefícios da tecnologia ocidental em boa medida graças à ajuda (ou ao impulso) dos norte-americanos.


Mesmo quando rodados em locações, como Feitiço do Rio, Orquídea Selvagem e Boca, os filmes carnavalizam a miséria e a pobreza e erotizam a mulher brasileira como produto de exportação – e, por isso, o turismo sexual é tão atraente para os estrangeiros que visitam o Brasil. Bianca analisa, discute, chega a conclusões.


A mais polêmica talvez diga respeito ao que ela chama de ‘visão consentida’ – os norte-americanos, via Hollywood, são preconceituosos em relação ao Brasil, sexistas e tudo mais, mas essa visão, em boa medida, é sustentada pela própria produção audiovisual brasileira. A TV projeta muito essa imagem estereotipada do Brasil. A TV agora devolve o olhar. Bianca não entra nos méritos da novela de Glória Perez, para quem trabalha como pesquisadora do núcleo de Miami, mas acha importante que América também mostre, carregada de estereótipos, a visão sobre como os brasileiros vêem os EUA, hoje (após a débâcle do comunismo) estabilizados como a grande potência mundial, o Império.’


 


O GRANDE PERDEDOR


Keila Jimenez


‘Quem é ‘O Grande Perdedor’?’, copyright O Estado de S. Paulo, 23/7/05


‘Chega ao fim amanhã O Grande Perdedor, reality show do SBT estrelado por gordinhos. Sobraram na luta pelo grande prêmio – R$ 300 mil para o gordinho mais resistente e que caiu no gosto do público – Andréia, Jefferson, Luiz Otávio e Serginho.


Mas, o que poderia ser uma ceia farta de audiência para o SBT, virou uma verdadeira dor de estômago para Silvio Santos.


A audiência do programa, que estreou na casa dos 23 pontos, foi caindo e chegou a registrar em alguns dias média de 10 pontos, menos que o enlatado Chaves.


O desinteresse de SS pelo produto é tanto que a final será praticamente toda gravada antes de ir ao ar. Ontem e hoje havia gravações agendadas da atração, que não terá gran finale com pompa como as edições de Casa dos Artistas.


Mesmo com o fim gravado antecipadamente, os participantes ficarão confinados até amanhã, para o resultado não vazar. Além do prêmio em dinheiro, o vencedor levará um ano de academia e acompanhamento nutricional grátis para tentar manter o peso. Há participantes que chegaram a perder mais de 30 quilos.


Mas, mesmo com tanto esforço, o público não se interessou pelo programa. E olha que não faltaram brigas entre os confinados – como em qualquer reality show – e mudanças das regras por parte de Silvio Santos.


Mas não foi só em audiência e repercussão que o Grande Perdedor deixou a desejar. O programa sai do ar com poucos anunciantes em seus breaks comerciais e apenas um forte patrocinador. E olha que Silvio Santos foi avisado. O mercado publicitário deixou claro ao dono do SBT que dificilmente uma marca se associaria a um reality com a palavra ‘perdedor’ em seu título. Ao que tudo indica, quem perdeu nessa história foi o SBT.’


 


TRÁFICO NO ORKUT


Mario Hugo Monken


‘‘Venda’ de ecstasy é freqüente no Orkut’, copyright Folha de S. Paulo, 23/7/05


‘O site de relacionamentos Orkut reúne várias comunidades em que jovens oferecem drogas pela internet. Uma delas é a ‘Ecstasy-BR’. Em uma mensagem postada anteontem, um jovem fornece um e-mail para que interessados entrem em contato com ele para comprar ecstasy.


O rapaz, que se identifica, fala até sobre o preço das pastilhas -uma caixa com 12 comprimidos sairia a R$ 250 e cada unidade custaria R$ 25. Ele prometia encaminhar a droga por Sedex.


Na mesma comunidade, dois usuários postaram mensagens dizendo que vendem ecstasy e oferecem seus e-mails para os interessados entrarem em contato.


Ainda na ‘Ecstasy-BR’, um usuário não identificado disse em um tópico que tem aS pastilhas Euro e Love para vender em todo o Estado de Minas e pede que os interessados deixem e-mails.


Outras drogas


Não só ecstasy é oferecido no Orkut. Há também comunidades sobre LSD, nas quais se sugere a venda do alucinógeno.


Em um tópico, um usuário pede informações sobre como adquirir a droga. Um outro responde e fornece um endereço na avenida Paulista e ainda dá o nome da pessoa com quem deve falar.


Há também comunidades que fazem apologia ao uso da maconha. Há páginas com títulos como ‘Todo mundo fuma maconha’ e ‘A maconha do Brasil, por um mundo melhor’ e ‘Legalize Marijuana’, em que os usuários trocam informações sobre o uso do entorpecente e experiências.


A Folha descobriu no Orkut a página com o nome de ‘John Cocaine’. Ela exibe várias fotos de uma substância branca sendo preparada para o consumo.


Em uma das fotografias, o pó branco está sobre um livro, e uma pessoa, que não tem o rosto mostrado, está com um canudo parecendo que iria ingerir a substância. O criador da página afirmou que o pó branco mostrado nas fotos foi comprado na favela de Heliópolis, na capital paulista.


Na comunidade ‘Amigos do Crack’, usuários trocam informações sobre a venda em Brasília. Um deles disse que o crack pode ser adquirido nas imediações da rodoviária da cidade.


Alvo de uma investigação que será iniciada pela Polícia Civil do Rio, a apologia ao crime organizado também tem várias comunidades no Orkut. Cinco delas são sobre o CV (Comando Vermelho), facção criminosa que controla o tráfico em várias favelas do Rio de Janeiro. Uma das fotos que ilustra uma das páginas é um fuzil.’