A versão de Jefferson
O SR. ROBERTO JEFFERSON (PTB-RJ) – Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, Srs. Deputados, Srªs Deputadas, cidadão do Brasil que me ouve, cidadã do Brasil que me ouve, inicialmente, peço licença para dizer a V. Exªs que, apesar de estarmos num teatro de lutas, num teatro de idéias, num teatro político, não vim aqui desempenhar nenhum papel de artista. E, se me julgam assim, queria pedir desculpas por tentar fazer as colocações que faço na condição de pessoa física, de homem, deixando de lado qualquer pendor, qualquer veia vocacional, profissional ou artística que eu possa ter ou que tenham cada um dos senhores e das senhoras.
Participei no passado de uma CPI, a CPI do PC, como advogado. Exerci um papel de advogado naquele momento. Tentei fazer naquela CPI o que vi ontem aqui por parte de alguns membros de partidos políticos: impedir que as investigações avançassem. Também procurei evitar que os fantasmas do PC Farias pudessem viver à luz do dia. E, nessa inversão de papéis que vivo hoje, vejo que muitos que ontem exorcizavam aqueles fantasmas agora se abraçam com eles. Só que eles não são mais os fantasmas do PC, são os fantasmas do Delúbio e do Marcos Valério.
O curioso é como a vida nos prega lições. O curioso é como as peças e os atores se modificam. É uma espécie de roda da vida, Sr. Presidente, uma espécie de roda da fortuna, de Carmina Burana, que Carl Orff escreveu. Ora nós estamos em cima, com a fortuna; ora, embaixo, com ‘desinfortúnio’; ora com alegria, em cima; ora a tristeza. E é isso que vim colocar aos senhores aqui. Aqueles que já viveram a glória em momentos passados vivem, no presente, o opróbrio que vivi naquela hora. Não é fácil tentarmos impedir que as contas dos fantasmas sejam vasculhadas. Aqueles que foram exorcistas ontem se abraçam com os fantasmas hoje.
Sr. Presidente, assisti ontem a uma queda de braços de quase nove horas na Comissão para se quebrarem ou não as contas do Sr. Marcos Valério, de Belo Horizonte, aquele moço carequinha, e percebi que um partido queria impedir, de toda maneira, que ele fosse investigado, um partido que até ontem fazia da acusação a sua afirmação de luta, do libelo pessoal contra pessoas a escada para subir, do cadáver de homens troféus a ostentar à opinião pública. Duro é quando esses cadáveres começam a repousar no nosso colo e os fantasmas que eles representam, a assombrar nossas bandeiras, nossas lutas e assustar os nossos discursos.
A CPI que ora empalmamos, Srs. Congressistas, tem origem numa fita que agentes, a mando da Abin, porque o braço sujo da Abin é aquela gente tipo Molina, que não é comandante. Aquilo é uma falsidade ideológica dele. Ele não é da Marinha. Já recebi da Marinha vários documentos mostrando que ele não é comandante. E aquela súcia de asseclas dele desempenha o papel sujo daquela que é filhote do SNI, a polícia de Estado, a agência política que age em favor do Governo e não em favor da sociedade.
Há seis meses, e a imprensa dá notícia disso, o Estadão e O Globo já noticiaram: a Abin infiltrar agentes lá, nos Correios, para descobrir irregularidades licitatórias em contratos. A competência é tão grande que a Abin conseguiu que os seus agentes filmassem um ‘petequeiro’, um leviano apanhando R$3mil num movimento de contratos de bilhões, mas a Abin foi incapaz de dizer ao Governo, à Casa Civil, ao Presidente da República, ao chefe da segurança institucional do Brasil que o Sr. Marcos Valério, versão moderna embacaqueada do Sr. PC Farias, sacava um milhão por dia nas contas do Banco Rural, ou sacava em Minas Gerais, ou aqui no prédio do Brasília Shopping, no nono andar, onde muitos assessores dos que recebem ‘mensalão’ e que estão registrados na portaria subiam até o escritório do banco para receber lá 30, 40, às vezes 20, e até R$60 mil. O Brasil gasta uma fortuna com a Abin. Ela descobriu, através dos seus agentes, liderados pelo falso comandante que um ‘petequeiro’ leviano usava nome de gente séria para pegar R$3 mil, R$2 mil. Só a TV Globo não sabe que ele é chefe de departamento. Até hoje eu vejo a TV Globo colocar no ar: ex-diretor dos Correios… Porque a coisa é tão pequena que, se dermos a dimensão da pequenez dela, apequenamos os nossos trabalhos: uma CPI de Srs. Senadores, de Srªs Senadoras, de Srs. Deputados, de Srªs Deputadas, para apurar R$3 mil que a Abin conseguiu descobrir do Sr. Maurício Marinho. Até foi bom para dar pompa e circunstância o ‘ex-diretor dos…’. Vejo aquele moço de cabecinha assim, com um cabelinho assim meio branco, o Sr. Boner, dizendo ‘o ex-Diretor….’. Não é, não. É chefe de departamento; é quarto escalão dos Correios.
Eu vi ontem que a Receita Federal multou em R$63 milhões as empresas do Sr. Marcos Valério, porque a movimentação financeira é incompatível com o dinheiro declarado. A Receita já começou a agir com toda a firmeza.
Mas volto à fita, à fita de DVD que dá origem a este encontro fraterno que estamos vivendo aqui; uma fita que a revista Veja recebeu, editou e deu parte, tentando proteger gente que realmente aparecia de maneira assim muito clara naquelas gravações que fizeram aqueles moços, a mando da nossa grande agência de inteligência do Brasil. A fita é ilegal.
Como diz a legislação americana, a prova é envenenada, podre, porque fruto de árvore envenenada e podre. Quatro homens foram presos pelo crime de violação de sigilo do Sr. Marinho, o que anula completamente aquela prova, mas isso prova legal. A CPI não caminha sempre na vertente da legalidade. Ela busca fazê-lo. Ela tem como motor, como móvel, como objetivo a discussão e o debate político das práticas de crime diante do qual a sociedade se assusta e fica perplexa. E é esse motor que tem levado adiante esta nossa CPI. Apesar de sabermos que legalmente a prova é injurídica, é ilegal, temos uma sociedade toda que nos cobra, ali atrás, nas costas dos Senadores, das Senadoras, dos Deputados e das Deputadas, o esclarecimento dessas coisas.
Se PC ‘faria’ – e fez -, hoje, Delúbio e Marcos Valério fazem e outros que virão continuarão a fazer se não mudarmos essas práticas de financiamento eleitoral.
O povo cansou dos políticos. No processo do Presidente Collor – vejo ali atrás velhos jornalistas que estão ficando de cabeça branca, como eu, que me acompanharam naquela fase, há treze anos, no passado -, eu não brilhei como político. Como político, fui um fracasso, porque fiquei contra a onda de opinião. Eu tive rútilo como advogado. Político estou; advogado eu sou. Amanhã posso deixar de ser, até por vontade dos senhores, Deputado Federal aqui nesta Casa, no Congresso Nacional. Mas advogado serei até o momento em que nosso Deus me chamar a seu convívio – se Ele achar que eu mereço, Sr. Presidente; se Ele achar que eu mereço. Sou advogado. Lá eu não brilhei como político, porque esposei o que eu entendia ser a razão contra toda a onda de opinião. Cento e três processos cuja defesa ajudei a escrever, cento e três absolvições.
Hoje, aqui, o meu papel também não é de político, mas também não é de advogado, porque advogado em causa própria é péssimo e eu não saberia fazer esse exercício. Tem aqui os dois advogados ao meu lado, o Dr. Luiz Francisco Barbosa e o Dr. Itapuã Prestes de Messias, que farão isso por mim. Mas eu também não sou o político Roberto Jefferson. E não sou o político porque não vim aqui pedir aos senhores que me absolvam. Não vim aqui mendigar em favor do meu mandato. Já passei dele. Não vim aqui perorar pelo Deputado. Absolutamente. Absolutamente!
Enfrento uma luta aqui como cidadão, como homem, como chefe de família, como pai, como avô, que sai daqui do Congresso Nacional da maneira que entrou: pela porta da frente. Ninguém vai me botar de joelhos e de rabo entre as pernas. Ninguém. Ninguém vai me acanalhar. Ninguém.
Não sou ator. Não faço aqui o papel do herói, porque não sou. Não sou melhor do que nenhum dos senhores; não sou melhor do que nenhuma das senhoras. Sou igual. Não faço o papel de vilão, porque não sou. E os senhores e as senhoras não são melhores do que eu.
Sou um homem, com erros e acertos; defeitos e virtudes. E vou sair daqui de cabeça erguida. Lendo Mateus eu vi lá escrito: ‘Não temais aquele que pode matar o corpo, temei o que pode matar a sua alma e o seu espírito’. Um homem que não tem honra não tem alma. O homem desonrado é um zumbi, não tem espírito.
O mandato eu sublimei, mas não faço concessões à honra. Perfeito? Não sou. Passei, como Presidente do PTB, na construção do meu Partido, aliás de braços dados e esposado com outros presidentes, pelo afrouxamento das regras da eleição e do financiamento das campanhas.
Eu trouxe aqui, Srs. Senadores e Srs. Deputados, porque peguei na Justiça Eleitoral, todas as prestações de contas, a minha e a dos senhores; na Justiça Eleitoral. Aí é o princípio da mentira que a gente vive aqui. Não há, povo do Brasil, cidadã do Brasil, cidadão do Brasil, eleição de deputado federal que custe menos de um milhão, ou de um milhão e meio de reais. Mas a média, aqui na CPI e da Câmara dos Deputados, a prestação de contas é de R$100 mil.
Não há eleição de Senador da República que custe menos de dois milhões, R$3 milhões, mas a prestação de contas que exibo…
O SR. (Orador não identificado) – Por favor. Por favor, Senador Saturnino?
O SR. ROBERTO JEFFERSON (PTB-RJ) – Eu vou exibir a V. Exª em seguida. V. Exª terá tempo de protestar. Aliás, todo tempo do mundo.
O SR. PRESIDENTE (Delcídio Amaral – PT-MS) – Com a palavra o Deputado Roberto Jefferson.
O SR. ROBERTO JEFFERSON (PTB-RJ) – Não há eleição de Senador que custe menos de dois milhões, R$3 milhões. Eu quero mostrar a V. Exªs e ao povo do Brasil. Porque esse julgamento aqui do Plenário não me preocupa, Senador. Não é pra vocês que eu tou falando. Nenhuma preocupação. É com o povo que me vê lá fora.
Não há uma eleição de Senador com menos de dois milhões, R$3 milhões e a prestação de contas, a média é duzentos e cinqüenta mil. Esse processo começa na mentira e deságua no PC Farias, deságua nos outros tesoureiros de campanha, agora no Sr. Delúbio, agora no Sr. Marcos Valério. Esse afrouxamento é que tem levado ao enfraquecimento da Câmara dos Deputados, do Governo Federal e dos Governos dos Estados.
Fui ao Rio de Janeiro ver a prestação de contas do meu candidato a prefeito e comparei a prestação de contas da candidatura dele com a do ex-candidato José Genoíno para governador de São Paulo. É de deixar a gente perplexo. Ou alguém tem dúvida de que a campanha mais rica de 2002 foi a campanha do PT? A mais milionária, a mais poderosa em todo o Brasil, do Oiapoque ao Chuí, de Leste a Oeste.
E as declarações à Justiça Eleitoral não traduzem a realidade; nem a minha, porque a minha é igual à dos senhores, não é diferente. E onde enfrentamos esse problema, Deputado Onyx? Eu assistia sábado ao Jornal Nacional e, de repente, entrou uma matéria mostrando que o Coaf, por meio do Ministério Público Federal e a revista IstoÉ, desvendou as contas do Sr. Marcos Valério. Aí revestiu a realidade a prova que tanto foi cobrada. No início me cobravam: ‘Provas, provas, provas’! A realidade foi vestida, vestiu o discurso que fiz, as informações que dei.
Agora me colocam com a pecha de artista. Tenho ouvido: ‘Vamos desqualificar o Roberto porque ele é um artista’. Mas, a verdade, contra ela ninguém se ergue. De repente o carequinha deixou de fora o que o PC Farias fez no passado, o rabo. E a Coaf mostrou os saques dele. Tem que procurar o Banco do Brasil também, tem que procurar o Banco do Brasil porque me recordo que dos recursos que recebi do PT, encaminhados pelo Presidente José Genoíno e Delúbio, que vieram do Banco Rural, cerca de 60% das notas tinham a etiqueta do Banco do Brasil. Até agora só Banco Rural, de Minas, e esse escritório aqui em Brasília. Vocês vão descobrir quem foi lá para buscar recursos.
A realidade vestiu as minhas palavras. Hoje, tenho informações que passo a esta CPI, de novo, uma decisão de Governo desmonta uma estrutura de financiamento de Partidos na empresa Furnas. Os três diretores, a jornalista Renata Lo Prete em entrevista comigo divulgada hoje na Folha de S.Paulo publica que já foram exonerados agora à tarde.
Eu vim dizer aos meus iguais, às minhas iguais, que quero contribuir para que esse assunto possa ser discutido e debatido. Estamos às vésperas de reformas. Tenho ouvido falar em financiamento público de campanha. Digo ao meu Partido, de que me afastei como Presidente: é um escândalo o financiamento público, é um escândalo. Hoje, um bilhão, pelos R$2,00 por voto que estamos vendo serem colocados a partir de agora no Orçamento da União. Mas, lembrem-se, o senhor e a senhora que estão em casa, que quem faz o Orçamento é o Congresso Nacional. Um bilhão hoje com o voto a R$2,00. Amanhã, dois bilhões com o voto a R$4,00. Depois de amanhã, 3 bilhões vai custar a eleição com o voto a R$6,00, porque quem faz o Orçamento somos nós, os que vamos nos beneficiar do financiamento público.
Aí volto lá ao William Bonner, no sábado; ele fez, vestiu o fato, falou longamente com o Sr. Marcos Valério – para não fechar dando razão ao Roberto Jefferson, aquele velho troglodita, o general da tropa de choque do Collor, que não pode virar, está amarrado a um passado, não consegue avançar – entendo esse preconceito. Aí diz assim: ‘O Henrique Brandão, que mantém relações com o IRB, negócios com o IRB, é amigo de Roberto Jefferson – graças a Deus -, há trinta anos, deu R$ 90 mil à campanha de Cristiane Brasil, vereadora no Rio, filha do Deputado Roberto Jefferson. Sou empresário, estou em casa vendo televisão, não dou um centavo por dentro para candidato nenhum na próxima eleição. Quem se arrisca a dar é escrachado pela imprensa ou teme a vingança do partido adversário’.
A democracia do mundo precisa de dinheiro para ser feita. A democracia precisa de dinheiro para financiar a política. Nós não podemos é inverter, é permitir que a política financie dinheiro ou faça dinheiro. Na América, quem dá o cheque maior para candidatura presidencial assenta ao lado do presidente e tira uma foto com ele. É uma honra. Não é que aquele moço esteja comprando o governante. Não, ele está apostando no regime democrático. Aqui, no Brasil, há um preconceito da mídia, porque toda a doação de empresário a partido político é criminosa. Virgem aqui só o Pisol, até a próxima eleição, que se não sucumbirá ante o caixa dois, porque senão não vai fazer campanha. E nós tínhamos que permitir que isso fosse aberto, que o empresário que desse fosse respeitado, não fosse escrachado na mídia, como se doar a um partido fosse comprar consciência parlamentar e não um gesto grandioso de se apostar num regime democrático, na democracia política. Isso nós precisamos conversar de verdade aqui, na Câmara dos Deputados.
A mim, Roberto Jefferson, não alegra, não gera felicidade, não dá alegria olhar o Partido, que, durante 25 anos – esse ano é ano de seu aniversário, de suas bodas de prata -, que empunhou essa bandeira da ética, da moralidade, rasgou a bandeira. A mim, isso não traz felicidade, porque chafurdou no mesmo esquema de financiamento político e partidário, se sujou, se sujou como os outros do passado, nos quais atirou pedra. E para que isso não se repita, para que nós não fiquemos com a frustração de ver o partido obreiro macular o seu ideal de luta, o seu passado de lutas, temos de enfrentar essa corrupção que está na raiz do financiamento eleitoral. Esses fantasmas que ficam rondando o poder sempre são os fantasmas do financiamento eleitoral: Delúbio, PC Farias, Marcos Valério. É sempre a mesma gente. É sempre a mesma prática, porque a legislação eleitoral que nós temos ainda é a de Castelo Branco. Ela não é clara, ela não permite o financiamento político que proteja o doador para que ele não seja escrachado como se tivesse querendo comprar os Deputados. Vi todos os partidos aqui representados, até com doações de banco, de grandes empresas nacionais. E não vejo na luta até dos obreiros, que têm um grande financiamento de banco em suas contas, nenhum comprometimento com esse sistema financeiro traindo a luta dos sem-terra ou dos trabalhadores. Os formadores de opinião na mídia geram essa suspeição contra o financiamento privado das campanhas políticas particulares, mas esse é o único caminho.
Eu não quero vestir amanhã uma camiseta ‘Roberto Jefferson, Deputado Federal’, sabendo que a camiseta que coloco no meu corpo tira do velho no hospital o remédio de que ele precisa. Eu não quero botar uma corneta de som no meu carro, Sr. Presidente, Sr. Relator, sabendo que vou tomar de uma criança a vaga na escola. Eu não quero estender uma faixa,um outdoor, sabendo que o dinheiro público que vai para a minha campanha vai tomar o prato de comida do pobre que não tem. Se fôssemos um país rico, tudo bem. Se viesse o financiamento público para impedir o caixa dois, tudo bem. Ele não vem. Ele vai somar crimes. O crime do dinheiro do imposto. Roubar do pobre em favor do Governador, do Senador, do Deputado, do Vereador e do Prefeito e o crime do caixa dois, que vai continuar a existir.
Sr. Presidente, Srs. Congressistas, o PTB quer enfrentar a reforma política. O que espera de nós o povo que nos vê ao vivo aqui? Na raiz do ‘mensalão’, tenho certeza, está o troca-troca de legenda, de partido. Até de ‘luvas’ de R$1 milhão e financiamento de R$30 mil de taxa de manutenção nós já temos denúncia aqui na Casa. Uma Deputada vem e diz: ‘A proposta a mim é R$1 milhão e R$30 mil por mês’. Por quê? Para que ela deixasse a legenda original dela e fosse para outro partido.
O que sonha o povo de nós? Primeiro, fidelidade partidária. Eu tenho seis mandatos consecutivos como Deputado Federal, pelo meu Estado do Rio, no PTB, pelo PTB. Tive dois Partidos na vida: o MDB, quando era menino, militante, e, depois, o PTB, que ajudei a fundar com Ivete Vargas lá no meu Estado, na minha cidade de Petrópolis, e depois na cidade de Três Rios, na cidade de Sapucaia, de Teresópolis, na minha região serrana. Fui eleito em 1982, pelo PTB, Deputado Federal e depois, cinco vezes consecutivas, reeleito pelo PTB.
O que espera o povo de nós? Que nós estabeleçamos regras rígidas para acabar com os Deputados que trocam de partido como se trocassem de camisa. Isso é uma vergonha!
O que espera o povo de nós? Que nós acabemos com as legendas nanicas e os partidos de aluguel. Essa cláusula de barreira que está posta hoje, na legislação atual, de 5% dos eleitores nacionais em nove Estados, reduz, na próxima eleição, o quadro partidário para, no máximo, cinco partidos aqui na Casa: um de esquerda, um de centro-esquerda, um de centro, um de centro-direita e um de direita.
Mas a proposta que o Governo manda para cá – e estou vendo, na relatoria, que vai a plenário – reduz de 5% para 2% a cláusula de barreira. Ou seja, hoje, de trinta partidos, vamos pular para 60, para atrapalhar a novela da senhora, o jornal que a senhora gosta de ver na televisão. Nós, com o discurso da moralidade, estamos rasgando a moralidade. Nós, com o discurso da reforma salvadora da classe política, estamos agravando a relação partidária aqui no Congresso Nacional, porque a lei já estabelece 5%; se reduzirmos para 2%, vamos piorar, e muito, a situação político-partidária do Brasil.
O PTB tem outras propostas, como, por exemplo, o vice – vice-Prefeito, vice-Governador, vice-Presidente – é o coisa nenhuma na expectativa de ser alguma coisa algum dia. É o conspirador do dia-a-dia, que quer sempre o lugar daquele que ocupa o cargo de Prefeito, de Governador ou de Presidente. Para que vice? Com aquela estrutura de mordomia, de palácio, de segurança… Para que vice? Hoje, tudo se faz pelo computador. Isso se justificava na época do Império, em que o Imperador saia daqui para Portugal de navio e levava vinte dias no mar. Não tinha um telégrafo, não tinha um fax. Hoje vai de avião. Fala no avião o tempo todo com o chefe da Casa Civil ou com a chefe da Casa Civil. Para que vice?
Nós temos que reduzir, na Câmara dos Deputados, pelo menos três deputados federais por bancada. Tirar um Senado de lá – um Senado com as despesas que o Senado tem. Se nós reduzíssemos três senadores por Estado, nós tiraríamos um Senado… três deputados por Estado, nós tiraríamos um Senado de dentro da Câmara dos Deputados. Ou seja, 81 deputados federais a menos. Nós precisamos acabar com três senadores aqui, no Senado da República, por Estado.
Só no Brasil! Não existe isso em lugar nenhum do mundo. Isso foi uma cria da ditadura para tentar manter no Colégio Eleitoral a vitória dos militares. Eu me lembro daquele Deputado gaúcho, gordo, o Uequed, Jorge Uequed. Ele começava uma sessão do Congresso dizendo assim: ‘Srs. Senadores, Srs. Deputados, Srªs Deputadas, Srs. Senadores eleitos pelo voto do povo, demais funcionários desta Casa’, se referindo aos Senadores do voto indireto, os da nomeação. Eu me recordo disso, eu era Deputado.
E, por fim, Srªs e Srs. Senadores, para me colocar à disposição de V. Exªs. O meu Partido também esposa a tese de despartidarização da máquina do Estado, a redução desses cargos de confiança. Hoje são 25 mil. Vamos reduzir para prestigiar e fortalecer o servidor público na sua carreira. A ascensão será por mérito, será meritória, e não partidária. O PTB esposa a tese. E, para fechar, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, Srs. Deputados, acabar com a suplência de senador, que é outra coisa que o Brasil não compreende. Uma coisa antiga, superada. Normalmente, o suplente é o financiador e gera sempre tensões ruins. Quer ocupar o lugar, fica suscitando conversas, sempre arruma uma encrenca o suplente. E nós queríamos ver se, superando essa conversa de suplente de senador, poderíamos fazer o seguinte: o senador se retira para governar o Estado, se licencia para ser ministro do Governo, assume o segundo mais votado do Estado. Assim, a expressão do voto do povo.
Então, são propostas que o PTB traz ao debate, porque esta Comissão não vai ficar – eu tenho certeza disso – apenas no debate pequeno dos três mil reais, que um ‘petequero’ leviano que usa o nome alheio, e que foi gravado pela Abin, que não viu Marcos Valério, que não soube do Banco Rural, que não soube das movimentações do Banco do Brasil, que não sabia das atividades do Sr. Silvinho Pereira nem do Sr. Delúbio; sabia que tinha lá um cara que pegava três mil reais, chefe de departamento do quarto escalão – grande descoberta da Abin! Grande descoberta! No próximo Orçamento, quero votar contra recursos para a Abin, porque já vi que é apenas uma polícia política usada para constranger os que se opõem, em certo momento, a certas figuras do Governo. Não é o Governo em si.
Agradecer a paciência que os senhores tiveram comigo, a gentileza de me ouvir e eu me coloco, Sr. Presidente, Sr. Relator, à disposição de V. Exªs para os questionamentos que poderei escutar de cada um dos senhores.
Muito obrigado.
A fita da Veja
O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB-PR) –
Ilustre Deputado Roberto Jefferson, V. Exª insiste em dizer que se trata de uma orquestração da Abin. Dessa forma, gostaríamos que V. Exª nos desse mais elementos para que pudéssemos aferir e avaliar, avançando, enfim, nessa nossa investigação.
O SR. ROBERTO JEFFERSON (PTB-RJ) – Sr. Relator, a matéria publicada na revista Veja foi publicada no site no dia 14 de maio de 2005. Nós acessamos o site da revista, e lá só aparecia o Marinho. A fita tem 1 hora e 54 minutos. Só o Marinho, petequeiro, pegando lá R$3 mil. Volto a advertir a Rede Globo, para que ela não erre mais: ele é chefe de departamento; não é diretor. Não errem mais nisso, porque é ruim. Pegando R$3 mil, de peteca.
Passei a fita, olhei, vim embora para Brasília. Liguei para o Antônio Osório, diretor dos Correios, que esteve hoje aqui pela manhã, meu amigo, que honra o Partido, homem digno, correto. Eu assinei sua indicação e o faria novamente. E, pelo meu companheiro, Roberto Salmeron, ex-Presidente da Eletronorte, há 20 anos filiado ao PTB, um dos melhores quadros que temos no Partido. Perguntei-lhes: vocês viram a fita? ‘Não.’ Então, eu vou para Brasília… Disse-me o Salmeron: ‘eu recebi aqui através de um motoboy’. Falei: então, vou para sua casa, vou almoçar com você. Quero ver. Antônio Osório, vamos nos encontrar lá.
Passei no meu apartamento, tinha chegado, em um envelope amarelo, a fita, que mandei reproduzir em 600 cópias e dei a toda a imprensa e a todo o Congresso Nacional. Assisti durante 1 hora e 54 minutos àquela fita. Comparei com o que havia no site da Veja e com a matéria da Veja. A Veja chegou ao cúmulo de tentar conspurcar a imagem virtual do diretor que ocuparia o cargo do Sr. Eduardo na diretoria de informática. Coloca lá: o Sr. Ezequiel, indicado do Senador Fernando Bezerra… Os outros estão certinhos. Roberto Jefferson indicou Antônio Osório; Michel Temer indicou o Sr. João Bezerra – vem assim, na seqüência. Aí, vem assim: o Senador Fernando Bezerra indicou Ezequiel… Falei: espera aí. Não é isso. É o Silvinho Pereira, com quem se negociava no PTB, para substituir o Sr. Eduardo, diretor de informática. Eles esconderam o real e puseram o virtual, que nunca foi nomeado. Eu falei: tem dedo do Governo nessa matéria. Aí, lendo depois o jornal O Estado de S.Paulo… No dia 21 de maio, o Estadão diz que a Abin já possuía a fita há 20 dias, antes de ela ser publicada. O jornal O Globo do dia 11 de junho diz que a Abin já estava com agentes infiltrados há muitos meses nos Correios: ‘Abin infiltrara agentes na ECT’ – sábado, 11/6.
Qual foi a minha leitura? Depois que eu disse ao Presidente Lula sobre o mensalão, caí na desgraça. Tentei tirar o meu PTB do mensalão desde agosto de 2003. Ficava este jogo: ‘Vai ser nomeado diretor da empresa, não vai ser nomeado diretor da empresa’. Passavam-se os dias e nunca o PTB tinha acesso ao poder, nunca o poder era repartido conosco.
O mensalão funcionava para dois outros partidos que compõem a base governista. E não são todos os deputados, quero deixar isso claro, não estou generalizando: nem todos os deputados desses partidos recebem o mensalão. Muitos recebem, mas nem todos recebem.
Percebi que a tentativa era sempre nos levar para o mensalão – a conversa que tive com o Martinez, que ele recebeu do Delúbio; a conversa do Delúbio comigo; a conversa do Pedro Henry; a conversa do Bispo Rodrigues, que agora não é mais bispo, é simplesmente Carlos Rodrigues; com o José Múcio, ele o Pedro Henry e o Valdemar Costa Neto.
Vocês vão dizer: ‘Roberto, o Múcio não está afirmando isso’. Ele não é obrigado a comprar minhas lutas, não é obrigado. Ele quer preservar relações que eu já rompi, mas essa conversa vem lá de trás – que nós aderíssemos ao mensalão. Eu não aderi; o PTB não aderiu. Levei isso ao Ministro Walfrido, disse-lhe: ‘Walfrido, tem essa proposta de desencravar unha todo mês. Você quer essa proposta?’ ‘Eu não tenho como olhar nos olhos do Presidente se isso acontecer’.
Numa conversa informal com a minha Bancada, no princípio da legislatura passada, disse: ‘Gente, vocês estão falando desse mensalão…’ Isso era voz corrente, desconfie de quem não ouviu falar no mensalão: ou se omite por medo de enfrentar o que estou enfrentando aqui, ou recebe. Não tem saída. Isso é conversa comezinha na Casa; o mensalão é comezinho. Até quando daquela sindicância que o João Paulo mandou fazer, que abriu às 10 horas e fechou às 10 horas e 40 minutos, uma sindicância de brincadeira só para constranger o Jornal do Brasil, já se sabia que havia o mensalão. Aliás, o Governador de Goiás já vinha dizendo isso desde maio do ano passado.
Como eu não aderi ao mensalão e choquei o Presidente Lula quando ele soube, percebi nitidamente que o meu Partido caiu em desgraça. O meu Partido caiu em desgraça: fomos colocados, aos olhos da opinião pública, como responsáveis por uma corrupção que o PTB não praticou. Então, essa é a convicção que eu tenho, é intuitiva.
No dia 17 de maio, Sr. Relator, o Presidente da Câmara, o Deputado Severino Cavalcanti, me permitiu usar a tribuna da Casa para que pudesse me defender das acusações que a revista fazia. No sábado, a revista traz acusações em relação ao IRB, que não são verdadeiras, e elenca um outro grupo de informações que caminham na verossimilhança, que é pior que a mentira. Pessoas de alguma relação comigo, mas que jamais participaram de qualquer ação em favor do PTB ou pelo PTB, são alinhadas e colocadas num grande esquema do Presidente do PTB, Roberto Jefferson, desconstruindo a minha imagem. No sábado, dia 21 de maio, O Estado de S. Paulo diz: ‘A Abin já sabia há mais de quinze dias e possuía a fita’.
Na terça-feira, dia 24 de maio, convoquei a Executiva Nacional do meu Partido. Cheguei a Brasília no domingo, dia 22. Na noite do dia 23, na minha casa, eu estava sentado na sala, eu, o Deputado Fleury, que se recupera de uma cirurgia de três hérnias – saúde, Fleury, Deus o abençoe; está em casa, fez três hérnias grandes esta semana -, e o Deputado José Múcio. Estávamos conversando sobre essa crise que se abatia sobre o PTB – na segunda-feira à noite.
Foi convocada uma reunião para a terça-feira para que todos os companheiros do PTB assinassem a CPI, como eu assinara no dia 17, quando saí da tribuna. De repente, me vira o Fleury e diz assim: ‘Robertão, aqui embaixo estão cinco Ministros – Paulo Bernardo, Ciro Gomes, José Dirceu, Aldo Rebelo – e querem subir para falar com você’. Eu disse: eu não vou falar não, porque o Governo está jogando contra nós. Não vamos fazer isso. Não vou retirar assinatura. Vamos, amanhã, fazer uma reunião da Executiva com as assinaturas. E estou sentindo a tensão porque metade do meu Partido é governista e a outra metade quer sair. O PTB está assim como o PMDB: metade dentro, metade fora. E metade quer sair.
No dia seguinte, me liga o Múcio às 10 horas da manhã. Eu tinha sentado, lido a mídia e me preparado para a reunião, quando o Múcio me diz: ‘Eu preciso falar com você’. Eu disse: eu vou tomar banho e em meia hora você chega aqui. Quando chego na sala, às 10h30, 11 horas, estão sentados: os Ministros José Dirceu e Aldo Rebelo, que falam: ‘Roberto, você não vai assinar essa CPI, você não pode fazer isso com a gente. Essa CPI é contra o Governo. Essa CPI é para paralisar o Governo. Essa CPI é para atingir o Governo do Presidente Lula e vai-nos atingir’. Eu falei: não tenho dúvida, Zé, porque eu sou escada, sou ponte. O alvo é você, o alvo é o Delúbio, o alvo é o Silvinho Pereira. A CPI vai atingir vocês, mas não posso sair disso sem alma, não vou virar zumbi. Está atingindo a minha honra pessoal.
Nesse ínterim, chega o Dr. Itapuã a minha casa, levando já um boletim da Polícia Federal, onde o Marinho, Maurício Marinho, dissera que não conhece o Roberto Jefferson a não ser de contatos superficiais; que não foi o Deputado Roberto Jefferson que o nomeou para os Correios, foi outro Deputado; que é homem e assumiu de público isso. Foi para a tribuna e disse que foi ele e que ele usou levianamente o meu nome para receber aqueles R$3 mil que o flagrante ilegal, feitos por agentes ligados à Abin, mostrou por meio da revista Veja.
De posse disso, eu, o Deputado Múcio, o Ministro Aldo e o Ministro José Dirceu, àquela época, começamos a conversar e eu disse: não tenho problema de recuar. Não tenho nenhum problema em recuar. Tiro a assinatura, mas você tem que me dar uma saída honrosa. Estou sendo linchado nisso. Quero que você me ajude na Veja. Ele disse: ‘Na Veja, eu não posso’. No Globo? Ele falou: ‘Vou tentar’. Não quero usar expressões aqui, pois a minha assessoria de imprensa fica toda hora me chamando a atenção, dizendo que não devo usar aquelas expressões que usei… Mas aquela história que vocês já conhecem e que repito, mas não quero mais colocar de público aqui.
Você tem como me ajudar? ‘Vou tentar te ajudar, Roberto’. Falei: então, tá bem. Vou atravessar a rua e digo à imprensa que tiro a assinatura. Foi o meu maior erro, Senador César Borges. Cheguei no Partido, reuni e falei: tiro a assinatura e peço aos companheiros que retirem. Estava toda a imprensa lá.
A partir daí, foi um linchamento que não parou mais. Retirei a assinatura no dia 25 de maio. Na sexta-feira, dia 3 de junho, começo a ver os saques, começo a acompanhar… começo a ver o meio eletrônico, e estou vendo em todas as agências – Estado, Folha, O Globo – S. Exª o Ministro da Justiça dizendo que faria um comunicado à Nação na segunda-feira, 6 de junho, desmontando o esquema da corrupção, que estava na Eletronorte, nos Correios e no IRB.
Falei: é no colo do PTB. Eu cometi um erro: tirei a assinatura, a mídia já está envenenada, já envenenou o PTB e a mim, tem que ter sangue para chacal, e vai o PTB. E o que vamos fazer? Enterrar a CPI e vamos ser destruídos no Partido, e eu, pessoalmente. Aí liguei para o Walfrido e falei: Walfrido – ele estava na cidade de Ouro Preto, estava rouco -, o Ministro da Justiça vai atirar no PTB na segunda-feira. Ele, rouco, falou: ‘Vou falar com ele; ele não pode fazer isso…’ Eu falei: mas é o que está claramente para mim, Walfrido. O Walfrido não me deu mais retorno.
No dia 4, sábado, a mãe dos meus filhos e avó dos meus netos, a Ecila, me liga do Rio, às 2 horas da tarde. Ela tinha comprado O Globo, porque O Globo de domingo sai no sábado às 2 horas da tarde. Ela falou: ‘Você já leu? Você já sabe de O Globo?’ Eu falei: ‘Eu não’. Ela disse: ‘Está destruindo você’. Estavam mentindo e mentindo gravemente, atribuindo a mim coisas que jamais fiz: Buião, Saião, do INSS, gente que nunca vi na minha vida. Compareci a eventos da Anfip – Associação Nacional de Fiscais da Previdência, porque presidi, por duas vezes, a Comissão de Seguridade e Família, da Câmara dos Deputados. E, num jantar, onde essas pessoas estavam presentes, O Globo disse que eu tinha relação com Buião, Saião, João, os caras que tinham fraudado a Previdência Social. Uma matéria desconstrutiva em cima de mim, violenta.
Mais tarde, acesso o site da revista Época, e a desconstrução é familiar. Colocam a mãe de meus filhos e avó de meus netos de baby-doll na revista, abrem a porta do banheiro e colocam-me sentado na privada, e um amigo meu, meu irmão preto, o Durval, como laranja de uma rádio que arranjei para um cara, há vinte anos, no Governo do Presidente Sarney, à época Ministro das Telecomunicações, Antonio Carlos Magalhães, para umas pessoas. Isso porque antigamente era assim: você influía. Hoje, os critérios são diferentes. Mas antigamente você influía para que essas rádios fossem liberadas, e eu influí em favor de grupos do interior do Estado do Rio de Janeiro. E, para proteger o Durval, que era pobrezinho, coloquei ele no contrato social de duas rádios, que devem dar R$500,00 a R$600,00 reais por mês de renda. E a revista diz que ele é o laranja do Roberto Jefferson. A Época, O Globo, desconstrutiva dessa maneira, e esta semana a Comissão de Justiça vai votar o fim da CPI, é nítido que vão colocar isso no colo do PTB.
Então, percebi, pelas informações que vazavam, por exemplo, Roberto Maia, que é um homem de bem, sei que é, um homem sério, numa interpretação de decisão que tomou, ele é colocado como sendo indicação minha sem ser. Ele foi indicado por um Deputado que saiu do PTB, o Luís Piauhylino. Eu, como Presidente, tinha a célula. Essas indicações são assim: o Deputado manda ao Presidente, que chancela e manda para a Casa Civil. Assinam o Líder e o Presidente e vai para a Casa Civil.
Complô governista
O SR. ROBERTO JEFFERSON (PTB-RJ) – Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, Srs. Deputados, Srªs Deputadas, cidadão do Brasil que me ouve, cidadã do Brasil que me ouve, inicialmente, peço licença para dizer a V. Exªs que, apesar de estarmos num teatro de lutas, num teatro de idéias, num teatro político, não vim aqui desempenhar nenhum papel de artista. E, se me julgam assim, queria pedir desculpas por tentar fazer as colocações que faço na condição de pessoa física, de homem, deixando de lado qualquer pendor, qualquer veia vocacional, profissional ou artística que eu possa ter ou que tenham cada um dos senhores e das senhoras.
Participei no passado de uma CPI, a CPI do PC, como advogado. Exerci um papel de advogado naquele momento. Tentei fazer naquela CPI o que vi ontem aqui por parte de alguns membros de partidos políticos: impedir que as investigações avançassem. Também procurei evitar que os fantasmas do PC Farias pudessem viver à luz do dia. E, nessa inversão de papéis que vivo hoje, vejo que muitos que ontem exorcizavam aqueles fantasmas agora se abraçam com eles. Só que eles não são mais os fantasmas do PC, são os fantasmas do Delúbio e do Marcos Valério.
O curioso é como a vida nos prega lições. O curioso é como as peças e os atores se modificam. É uma espécie de roda da vida, Sr. Presidente, uma espécie de roda da fortuna, de Carmina Burana, que Carl Orff escreveu. Ora nós estamos em cima, com a fortuna; ora, embaixo, com ‘desinfortúnio’; ora com alegria, em cima; ora a tristeza. E é isso que vim colocar aos senhores aqui. Aqueles que já viveram a glória em momentos passados vivem, no presente, o opróbrio que vivi naquela hora. Não é fácil tentarmos impedir que as contas dos fantasmas sejam vasculhadas. Aqueles que foram exorcistas ontem se abraçam com os fantasmas hoje.
Sr. Presidente, assisti ontem a uma queda de braços de quase nove horas na Comissão para se quebrarem ou não as contas do Sr. Marcos Valério, de Belo Horizonte, aquele moço carequinha, e percebi que um partido queria impedir, de toda maneira, que ele fosse investigado, um partido que até ontem fazia da acusação a sua afirmação de luta, do libelo pessoal contra pessoas a escada para subir, do cadáver de homens troféus a ostentar à opinião pública. Duro é quando esses cadáveres começam a repousar no nosso colo e os fantasmas que eles representam, a assombrar nossas bandeiras, nossas lutas e assustar os nossos discursos.
A CPI que ora empalmamos, Srs. Congressistas, tem origem numa fita que agentes, a mando da Abin, porque o braço sujo da Abin é aquela gente tipo Molina, que não é comandante. Aquilo é uma falsidade ideológica dele. Ele não é da Marinha. Já recebi da Marinha vários documentos mostrando que ele não é comandante. E aquela súcia de asseclas dele desempenha o papel sujo daquela que é filhote do SNI, a polícia de Estado, a agência política que age em favor do Governo e não em favor da sociedade.
Há seis meses, e a imprensa dá notícia disso, o Estadão e O Globo já noticiaram: a Abin infiltrar agentes lá, nos Correios, para descobrir irregularidades licitatórias em contratos. A competência é tão grande que a Abin conseguiu que os seus agentes filmassem um ‘petequeiro’, um leviano apanhando R$3mil num movimento de contratos de bilhões, mas a Abin foi incapaz de dizer ao Governo, à Casa Civil, ao Presidente da República, ao chefe da segurança institucional do Brasil que o Sr. Marcos Valério, versão moderna embacaqueada do Sr. PC Farias, sacava um milhão por dia nas contas do Banco Rural, ou sacava em Minas Gerais, ou aqui no prédio do Brasília Shopping, no nono andar, onde muitos assessores dos que recebem ‘mensalão’ e que estão registrados na portaria subiam até o escritório do banco para receber lá 30, 40, às vezes 20, e até R$60 mil. O Brasil gasta uma fortuna com a Abin. Ela descobriu, através dos seus agentes, liderados pelo falso comandante que um ‘petequeiro’ leviano usava nome de gente séria para pegar R$3 mil, R$2 mil. Só a TV Globo não sabe que ele é chefe de departamento. Até hoje eu vejo a TV Globo colocar no ar: ex-diretor dos Correios… Porque a coisa é tão pequena que, se dermos a dimensão da pequenez dela, apequenamos os nossos trabalhos: uma CPI de Srs. Senadores, de Srªs Senadoras, de Srs. Deputados, de Srªs Deputadas, para apurar R$3 mil que a Abin conseguiu descobrir do Sr. Maurício Marinho. Até foi bom para dar pompa e circunstância o ‘ex-diretor dos…’. Vejo aquele moço de cabecinha assim, com um cabelinho assim meio branco, o Sr. Boner, dizendo ‘o ex-Diretor….’. Não é, não. É chefe de departamento; é quarto escalão dos Correios.
Eu vi ontem que a Receita Federal multou em R$63 milhões as empresas do Sr. Marcos Valério, porque a movimentação financeira é incompatível com o dinheiro declarado. A Receita já começou a agir com toda a firmeza.
Mas volto à fita, à fita de DVD que dá origem a este encontro fraterno que estamos vivendo aqui; uma fita que a revista Veja recebeu, editou e deu parte, tentando proteger gente que realmente aparecia de maneira assim muito clara naquelas gravações que fizeram aqueles moços, a mando da nossa grande agência de inteligência do Brasil. A fita é ilegal.
Como diz a legislação americana, a prova é envenenada, podre, porque fruto de árvore envenenada e podre. Quatro homens foram presos pelo crime de violação de sigilo do Sr. Marinho, o que anula completamente aquela prova, mas isso prova legal. A CPI não caminha sempre na vertente da legalidade. Ela busca fazê-lo. Ela tem como motor, como móvel, como objetivo a discussão e o debate político das práticas de crime diante do qual a sociedade se assusta e fica perplexa. E é esse motor que tem levado adiante esta nossa CPI. Apesar de sabermos que legalmente a prova é injurídica, é ilegal, temos uma sociedade toda que nos cobra, ali atrás, nas costas dos Senadores, das Senadoras, dos Deputados e das Deputadas, o esclarecimento dessas coisas.
Se PC ‘faria’ – e fez -, hoje, Delúbio e Marcos Valério fazem e outros que virão continuarão a fazer se não mudarmos essas práticas de financiamento eleitoral.
O povo cansou dos políticos. No processo do Presidente Collor – vejo ali atrás velhos jornalistas que estão ficando de cabeça branca, como eu, que me acompanharam naquela fase, há treze anos, no passado -, eu não brilhei como político. Como político, fui um fracasso, porque fiquei contra a onda de opinião. Eu tive rútilo como advogado. Político estou; advogado eu sou. Amanhã posso deixar de ser, até por vontade dos senhores, Deputado Federal aqui nesta Casa, no Congresso Nacional. Mas advogado serei até o momento em que nosso Deus me chamar a seu convívio – se Ele achar que eu mereço, Sr. Presidente; se Ele achar que eu mereço. Sou advogado. Lá eu não brilhei como político, porque esposei o que eu entendia ser a razão contra toda a onda de opinião. Cento e três processos cuja defesa ajudei a escrever, cento e três absolvições.
Hoje, aqui, o meu papel também não é de político, mas também não é de advogado, porque advogado em causa própria é péssimo e eu não saberia fazer esse exercício. Tem aqui os dois advogados ao meu lado, o Dr. Luiz Francisco Barbosa e o Dr. Itapuã Prestes de Messias, que farão isso por mim. Mas eu também não sou o político Roberto Jefferson. E não sou o político porque não vim aqui pedir aos senhores que me absolvam. Não vim aqui mendigar em favor do meu mandato. Já passei dele. Não vim aqui perorar pelo Deputado. Absolutamente. Absolutamente!
Enfrento uma luta aqui como cidadão, como homem, como chefe de família, como pai, como avô, que sai daqui do Congresso Nacional da maneira que entrou: pela porta da frente. Ninguém vai me botar de joelhos e de rabo entre as pernas. Ninguém. Ninguém vai me acanalhar. Ninguém.
Não sou ator. Não faço aqui o papel do herói, porque não sou. Não sou melhor do que nenhum dos senhores; não sou melhor do que nenhuma das senhoras. Sou igual. Não faço o papel de vilão, porque não sou. E os senhores e as senhoras não são melhores do que eu.
Sou um homem, com erros e acertos; defeitos e virtudes. E vou sair daqui de cabeça erguida. Lendo Mateus eu vi lá escrito: ‘Não temais aquele que pode matar o corpo, temei o que pode matar a sua alma e o seu espírito’. Um homem que não tem honra não tem alma. O homem desonrado é um zumbi, não tem espírito.
O mandato eu sublimei, mas não faço concessões à honra. Perfeito? Não sou. Passei, como Presidente do PTB, na construção do meu Partido, aliás de braços dados e esposado com outros presidentes, pelo afrouxamento das regras da eleição e do financiamento das campanhas.
Eu trouxe aqui, Srs. Senadores e Srs. Deputados, porque peguei na Justiça Eleitoral, todas as prestações de contas, a minha e a dos senhores; na Justiça Eleitoral. Aí é o princípio da mentira que a gente vive aqui. Não há, povo do Brasil, cidadã do Brasil, cidadão do Brasil, eleição de deputado federal que custe menos de um milhão, ou de um milhão e meio de reais. Mas a média, aqui na CPI e da Câmara dos Deputados, a prestação de contas é de R$100 mil.
Não há eleição de Senador da República que custe menos de dois milhões, R$3 milhões, mas a prestação de contas que exibo…