Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Maurício Marinho
(21/6/2005)


Polêmica sobre a fita


O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL – PI) – Sr. Relator, não estaria faltando a cópia da fita que gerou toda essa matéria, que, evidentemente, foi publicada?


O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL – GO) – Foi relacionada.


O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL – PI) – Qual é?


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Está aí. É a da revista Veja.


O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL – PI) – Não, não, esperem aí. A cópia da fita da Rede Globo não está na íntegra. Refiro-me à fita do Sr. Maurício Marinho, que, segundo declarações do próprio Deputado Roberto Jefferson, é uma fita bem mais longa. Seria o caso de requisitar também essa fita.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Um esclarecimento, eminente Senador: na verdade, nós estamos aqui ratificando uma conduta que já realizamos na convicção de que seria necessária para hoje. A Polícia Federal já disponibilizou, já está à disposição da Comissão.


O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL – PI) – Muito obrigado, Sr. Presidente.


(…)


O SR. PRESIDENTE (Delcídio Amaral. PT – MS) – Perfeitamente. Obrigado, Deputado Onyx Lorenzoni.


Fica, portanto, retirado o Requerimento nº 172, com esse compromisso, Deputado Onyx Lorenzoni, aqui assumido com V. Exª e com todos os Parlamentares.


Aprovados os requerimentos, solicito a presença do Sr. Maurício Marinho para a oitiva, conforme programado.


Concedo a palavra ao Deputado Maurício Rands.


O SR. MAURÍCIO RANDS (PT – PE) – Sr. Presidente, todo o procedimento desta CPMI iniciou-se com a fita citada na reportagem da revista Veja. Nesse sentido, para que possamos seguir a seqüência dos acontecimentos, queríamos sugerir que, já em presença do Sr. Maurício Marinho, que está se dirigindo a esta sala, seja apresentada a toda a Comissão a fita ou, pelo menos, as partes mais importantes da fita, para que possamos inquiri-lo a partir da primeira fita que suscitou a matéria da Veja e todo o procedimento da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito.


O relato de Marinho


O SR. PRESIDENTE (Delcídio Amaral. PT – MS) – Perfeitamente, Deputado Onyx Lorenzoni. Com a palavra o Sr. Maurício Marinho.


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Sr. Presidente, Sr. Relator, não sou advogado, não sou Parlamentar, sou um técnico dos Correios. Fiz o roteiro para falar. Pontuei. Achei melhor anotar todos esses pontos, uma vez que me disseram que eu teria vinte minutos no máximo. Em cima desse tempo, procurei descrever os pontos. Independente do roteiro ou do que está escrito como introdução, o que chamei de ‘Introdução CPMI – Maurício Marinho’, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Parlamentares, não vim aqui para falar mentira; vim aqui para falar a verdade. E trouxe todo o dossiê do meu trabalho. Sou um técnico. Sei onde errei e assumi os compromissos dos meus erros. Está por escrito. Sei que falei demais; sei que envolvi pessoas; sei que trabalhei dentro dos Correios mesmo fora do horário, envolvendo assuntos que não eram da empresa. Recebi um dinheiro que não pedi. Está aí registrado em uma hora e cinqüenta quatros minutos de fita gravada. Não estou me eximindo das minhas responsabilidades. Eu quis trazer aqui documentos que comprovem; tirei cópias para todos os senhores dessa introdução, num total de quarenta, cinqüenta peças. Do dossiê não foi possível, porque não ganho o suficiente para tirar 40 cópias desse montante, mas trouxe quatro cópias. Elas estão aqui à disposição dos senhores. E essa fita de 1h54min está dentro do dossiê, toda ela degravada, com a justificativa por minuto e segundo. Aquilo que não atender, eu estou à disposição para explicar. Está aqui dentro toda a fita degravada. É lógico que não fui eu quem fez. Foi a própria revista que passou aos Correios. Eu recebi a fita – 1h54min -, e nós, para cada minuto e segundo, apresentamos uma justificativa.


Agora, eu vim aqui para trabalhar e para me colocar à disposição dos senhores, para mostrar que eu não sou esse homem-chave, como saiu. Ontem, até foi dito que era de quinto escalão, correto? Boquirroto, não é? Peixe pequeno, bagrinho, correto? Cola-selo, boi-de-piranha, entendeu? Eu estou aqui para me defender como técnico, porque até agora não tive a oportunidade, em lugar algum, de me defender. O primeiro local em que eu estou tendo oportunidade de falar alguma coisa é aqui na CPMI. Nem dentro da minha empresa eu tive essa oportunidade. Eu fui chamado com script pronto, da mesma forma como eu fui, quarenta e cinco dias – se é da ABIN, se não é; se é coronel, se é almirante, eu não sei -, mas quarenta e cinco dias de lavagem e de trabalho para chegar nesse material. Quarenta e cinco dias! Em nenhum momento, eu trabalhei nem falei com nenhum empresário. Eu não falei, meus senhores, com nenhuma empresa que tenha CNPJ, que tenha um vínculo comercial com a ECT. Podem verificar na fita. Façam as investigações. A Polícia Federal está fazendo; o Ministério Público levantou a minha vida, desde 1975, e de toda a minha família. Está aqui o meu patrimônio. Não meu, da minha família. Está aqui dentro. Toda a fita decupada, todo o meu problema de saúde está aqui dentro. Correto? Eu estou colocando à disposição dos senhores.


Eu preciso falar a verdade. Sou um pai de família. Eu tenho parentes, eu tenho filhos, eu tenho netos. Eu nunca tive a oportunidade de falar em lugar nenhum. Esta CPMI é o único lugar em que estou tendo oportunidade de falar. A coisa que eu mais queria era chegar aqui, falar, discutir. Onde os senhores acharem que eu estou errado… Eu estou aqui; eu não vou fugir. Eu tenho endereço; sou funcionário público; não tenho mansão, como falaram; não tenho fazenda. Eu tenho um patrimônio de R$200 mil, adquirido em 32 anos de trabalho. A minha vida está sendo achacada desde o momento da divulgação dessa fita, gravada de forma criminosa, cujo motivo eu não sei até hoje. Se fosse a minha saída, eu já tinha pedido a minha saída desde o mês de março por problema de doença. Se fosse problema comercial, problema empresarial, aqui dentro, Sr. Presidente, Srs. Senadores, estão todas as providências que nós tomamos, desde setembro de 2004 até agora, para corrigir problemas no processo licitatório. Eu não preciso disso para falar.


E eu quero dizer para os senhores: eu tenho quase 30 anos de Correios e conheço o processo. Eu não sou do Departamento de Contratação, como estão falando e imputando-me responsabilidades sobre as compras dos cofres, dizendo que o Sr. Arthur Wascheck, o mandante da gravação, foi que ganhou a licitação em 2002. Eu não estava lá. Falaram de tênis – nem licitação foi feita. Falaram de um senhor de São Paulo com que eu mandei buscar dinheiro para PTB, que eu não sei nem quem é. Mandem buscar o processo da ECT! Vamos analisar! Vamos ver de quem é a responsabilidade dentro dessa organização, dentro de cada departamento. Cada Diretoria lá tem a sua responsabilidade e os seus objetos. Em nenhum momento eu estou correndo ou fugindo. Eu jamais fui chamado, até mesmo para identificar o segundo araponga que foi lá me gravar. Até hoje não fui chamado, não sei se aquele careca é o mesmo que foi lá me gravar. Uma hora não sei se é Molina, uma hora… Não sei nem quem é.


Então, a gente vive com medo de sair, porque nem funcionário da empresa olha para a sua cara, quando vê aquele problema e aquela divulgação.


Então, gostaria que os senhores entendessem que, na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, se tem esse antro de corrupção, tem que ser apurado. Agora, o que quero dizer aos senhores, dentro da empresa existem limites de competência, estão todas aqui dentro: quem assina, quem é responsável por cada objeto.


Eu estava na sala de fora, quando queriam que chamassem, não sei qual dos senhores, antes do Deputado ou depois o Marcos Valério. Eu soube, pela imprensa, que ele tem negócio com o Correio, que ele faz parte da parte de publicidade. Eu não sabia disso.


Na parte de publicidade, propaganda, patrocínio, participação de eventos, a fita é verdadeira. Vamos chegar nela. Só que essa fita, nobre Senador, foi trabalhada 45 dias. Isso aí não tem pergunta e resposta; isso tem uma lavagem cerebral pontual. Isso está explicado aqui dentro.


Agora quero dizer que os objetos da ECT são de responsabilidade de cada diretoria de área, que são sete. À Presidência compete a área de comunicação com o Governo Federal; não passa pela área administrativa. A área de tecnologia é específica e não é só hardware e software. É hardware, software, manutenção, engenharia, tudo é lá. Entendeu? É isso que tem que ser dito.


Na área de operações, nunca chegou para nós um contrato para contratar um carrinho de mão, que dirá uma aeronave. São específicas da Diretoria de Operações da Empresa as contratações de todas as linhas de transporte.


Compete à área de administração, onde eu estava no departamento, material de consumo. Levantem o orçamento dessas áreas, verifiquem quem tem o poder de assinar dentro da organização, quem está por trás de cada diretoria. Na minha diretoria, estava o Diretor Antônio Osório, do PTB, indicado por Roberto Jefferson. Não é novidade para ninguém.


Não sou filiado a Partido nenhum, mas ele e o assessor executivo são. O Presidente é vinculado ao PMDB. O Diretor Comercial é vinculado ao PMDB. O Diretor de Operações e Tecnologia, que são os únicos dois diretores de carreira da casa. Todos os outros são políticos. Os dois da casa estão na cota do PT, correto? Que é Tecnologia e Operações. Isso os senhores sabem. Está aí, todos os dias, sendo divulgado.


Agora, há uma semana, começaram a afunilar. Roberto Jefferson bateu de lá para cá, afunilaram no meu nome. Afunilaram de forma tal, que só hoje saíram seis matérias – seis matérias! – em jornais. Estou aqui com todas as respostas delas e à disposição dos senhores. Convoquem, seja quem for da empresa. Vamos verificar o processo. De quem é a responsabilidade de cada um, entendeu? Quem especifica, quem autoriza um processo licitatório nessa empresa, correto? Quem é o Cace, que os senhores comentaram antes, que é o Comitê de Análises de Comissões Estratégicas. Quem autoriza o processo de abertura licitatório, não é ninguém de terceiro, quarto, quinto escalão. Correto?


Os senhores têm que ter conhecimento do processo da organização. Vim aqui para falar a verdade e estou à disposição. Agora, sei que falei demais naquela fita. Falei, envolvi nomes, entendeu? Assumi o compromisso. Assinei embaixo. Registrei em cartório. Sei que falei, estava na situação totalmente difícil de saúde, correto? Foi na mesma semana em que fui hospitalizado.


Sabe como eu soube da fita, Srs. Deputados? Foi através do Sr. Policarpo, no dia 12 de maio, às 17 horas e 45 minutos, saindo do hospital, doente, esse senhor, esse jornalista me ligou e tinha 15 minutos para fechar a matéria. Ele não quer saber quem está do outro lado da linha, se é uma pessoa de bem ou de mal. Ninguém me perguntou se aquilo era verdadeiro. A única coisa que ele queria saber era de responsabilizar o Roberto Jefferson.


Não tenho ligação. Aqui disseram alguns que tenho ligação. Rastreiem as ligações; verifiquem quantas vezes em um ano estou lá desde o dia 04 de junho de 2004. Pedi para sair em março. Pedi para sair para tratar de saúde, mas fui liberado pelo Diretor Antônio Osório formalmente – está o documento – no dia 03 de maio. Se eu tivesse saído em março talvez aqui estaria sentado outro funcionário, porque o interesse é incriminar alguém, se é político eu não sei, se é só comercial, pelas mudanças que estávamos processando, eu também não sei. Agora, que as mudanças que estávamos processando dentro da organização não são de interesse de muitos empresários… Muitos empresários, inclusive, vão lá encaminhados por políticos, e não olho quem é o político que mandou. Eu não conheço os senhores! Chega lá o empresário e diz: ‘vim aqui, sou muito amigo do Senador Ney Suassuna’, atendo; ‘sou amigo do Lula’, atendo; ‘sou amigo do Aníbal’… Está lá na minha agenda. A minha agenda está aberta no Ministério Público. Ela não sumiu.


O SR. (Orador não identificado) – (Intervenção fora do microfone.)


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Estou dizendo um exemplo. Naquele dia falei tanto na minha situação que disseram que, se eu demorasse mais 15 minutos, o Bento XVI entraria na minha sala. Entendeu? Foi um jornalista.


Senhores, aqui na decupação da fita, num dos termos, falo num trecho seis assuntos diferentes sem concluir nenhum. Está escrito aqui dentro. O que estou querendo colocar aos senhores… Estou à disposição, podem perguntar, estou à disposição. Jurando, não jurando, como investigador, vim aqui para falar a verdade, e estou deixando todos os meus documentos aqui à disposição dos senhores. O que quero dizer é que não sou político; não tenho vinculação política a partido nenhum. Aquilo que falei que ligava para Roberto Jefferson e ele dizia, eu nunca liguei para ele e nem ele me ligou. Aquilo que disse na fita, que o meu presidente, que é o Sr. João Henrique, a toda semana descia na minha sala, verifiquem os senhores, nesses 11 meses de trabalho, ele nunca entrou no meu gabinete. O que estava havendo? Eu estava negociando com uma empresa que conhecia mais de correio do que nós que éramos dos Correios. Ela tinha informações dos Correios que nós não detínhamos, e estavam representando uma multinacional que entraria no Brasil, seria internalizada para produzir equipamentos que o Governo Federal estaria liberando. Foi esse o início da conversa. Somos maiores do que todos.


Quando falo em Novadata, que está escrito aí dentro, a Novadata ganhou algumas licitações. Ganhou, mas porque apresentou o menor preço. Não sou eu que faço licitação. Quem faz licitação na ECT é a pregoeiro e a CPL. O que compete a nós do Decam é uma única coisa: emitir um termo de referência e, depois de homologado o contrato pelas autoridades superiores… E quando eu fazia assim, a turma falou: ‘É acerto; é dinheiro que ele está recebendo. Vejam as contas bancárias e o patrimônio. Onde está esse dinheiro?’


Então, fico pensando: será que estamos no caminho certo? Se existe erro lá dentro, que seja apurado. Se de lá sai dinheiro para ‘mensalão’, como estão dizendo, que seja apurado. Agora, não dentro do Departamento de Contratação. Não temos poder sequer para autorizar o processo! Não homologamos o processo. Ele só cai na nossa mão depois de assinado pelo presidente e pelo diretor de área. E os senhores têm conhecimento de que a diretoria dos Correios, a diretoria colegiada, as sete pessoas são solidárias. Se um diretor fizer alguma coisa errada e todos concordarem, os sete são responsáveis? A diretoria do Correio é uma diretoria colegiada, ela é solidária. Correto? Então isso a gente precisa saber para discutir esse assunto. Há interesses comerciais, evidente. Qual a empresa que não tem? Qual empresa que não tem interesse comercial, que não quer vender o seu produto? Eu estou a dois anos da minha aposentadoria. Eu tenho interesse nesse negócio. Desde a primeira página que o Sr. Victor Dalcon fala, aos sete minutos e quarenta e quatro segundos, ele já começa a tratar do assunto. Só que aparece a quarta reunião. A primeira, a segunda, a terceira, segundo informações que eu tenho e que a Polícia Federal me passou, as três foram gravadas. E a segunda, a Folha de S.Paulo conseguiu reproduzir. Na segunda eu apareço. São dezoito minutos. É quando eu desconfio pela primeira vez do interlocutor. Aí eu queria saber: mas qual é a sua empresa? Qual é o seu produto? E aí ele desvia a conversa, porque eu sou muito parecido com um parente dele e tal. Aí eu ia sair de férias. Tá escrito. Tá na fita gravada. Na segunda. Eu falei: eu não entendo de tecnologia. Eu entendo do processo da ECT. E eu estou aqui pra atender a todo e qualquer fornecedor, seja ele indicado por parlamentar ou não, eu atendo a todos da mesma forma. Isso é processo. Manlic – Manual de Licitação, isso tá escrito. Correto? E isso acontece na nossa organização.


A empresa é uma empresa muito séria. Pode estar havendo alguma coisa? Talvez. Tem que ser investigado. Têm que ser comprovados os fatos. Eu não estou tirando a responsabilidade de ninguém, porque eu não conheço. Porque se eu soubesse, eu colocaria aqui dentro, correto? Agora eu assumo o compromisso dos meus onze meses.


Sr. Presidente, os doze meses de contrato, os doze meses – olha bem o que eu estou dizendo agora (tá na página 390 aqui desse tijolo). Aqui está a página dos Correios na Internet. Poucas empresas têm isso aqui. Poucas. Poucas empresas públicas fazem como nós fazemos. Todo o processo licitatório está na página dos Correios da Intranet, os doze meses de contrato, compras e licitação, processos em andamento e homologados – não é da minha responsabilidade, mas é da responsabilidade da CPL da pregoeira. A Controladoria-Geral da União… estão lá há quase trinta dias. Já passou, já repassou, vai repassar mais quantas vezes quiser e vai voltar no tempo. Vão descobrir coisas? Lógico que vão descobrir! Deve ter alguma coisa; agora eu não sei se tem no nível que a imprensa tem falado, tem divulgado.


Agora que o Decan eu vendi, eu me autovalorizei, eu fiz uma autopromoção do meu conhecimento porque eu tinha interesse, assim como eu ainda tenho interesse no futuro em ter a minha empresa de consultoria. O meu currículo está aqui. Eu trabalho com consultoria dentro e fora do Correio. Eu fiquei fora oito anos, mas depois que eu voltei para os Correios eu parei. Correto? Mas está tudo aqui escrito e foi tudo apurado pelo Ministério Público. A minha agenda está cem por cento à disposição dos senhores.


Falaram do – desculpem se eu estou falando demais… não sei – Roberto Jefferson. Já disse: não tenho ligação nenhuma com ele.


O SR. (Orador não identificado) – Pode falar à vontade porque está tudo sendo gravado, viu?


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Não tem problema. Excelente!


Outra coisa: falaram do Marcos Vinícius, que é o genro dele. E eu digo na fita. Atendi. Atendi e está na agenda. Quem ele mandou, pediu que eu atendesse. Ligava: ‘Marinho, pode atender fulano de tal?’ Quem é? ‘É da empresa X’. Tá lá escrito. Eu não omiti nenhuma palavra. Agora, eu respondi ao que me perguntaram. Hoje aqui, nesses vinte, trinta minutos, eu falei para os senhores muito mais do que eles perguntaram. Correto? Por isso eu resolvi fazer o dossiê e disponibilizar a quem quer que seja porque a gente precisa deixar claro. A ECT é uma empresa séria. Tem problemas? Tem, como toda empresa tem, mas, onde tiver, tem que ser apurado. Agora, cada diretoria tem a sua responsabilidade, tem os seus objetos, e elas têm que assumir os seus compromissos. Cada diretoria… Os objetos são claros. O Departamento de Contratação da área de administração, que é do PTB, cuida de material de consumo. A área de operações, transporte aéreo, fluvial, terrestre, compra de viatura é da área de operações, está aqui dentro. Publicidade, propaganda, patrocínio, outros custeios, eventos é da Presidência, que é vinculada aqui, ao Planalto, está certo? Área de recursos humanos cuida mais: pagamento de pessoal, encargos sociais, saúde.


Falaram do medicamento, que Sr. Policarpo queria que eu afirmasse, em quinze minutos, para ele fechar a matéria, sem eu conhecer a fita. Eu nem sabia que existia a fita. Ele falou: ‘Olha, eu tenho aqui uma bomba, que vai te arrasar.’ Está gravada. É só fazer… Quebra o sigilo telefônico. Vamos verificar o que é que ele perguntou? Quatro perguntas. Foco: Roberto Jefferson, fraude e licitação e aquisição de medicamentos, correto?


Todas as explicações estão aqui dentro, correto? Não tem nada que está aqui fora. Se faltar algum documento, nós vamos requisitar, junto à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e vamos chamar fornecedor, se for necessário. Nós estamos aqui para esclarecer, certo?


Se eu errei, como já assumi, falei demais, envolvi nome de pessoas que não deveria ter envolvido, eu me autovalorizei, tinha meus interesses, peguei os R$3 mil. Peguei. Eu não pedi dinheiro nenhum. Na fita lá, quando vocês olharem, escutarem bem a fita, ela está aqui decupada, segundo a segundo, com a justificativa do lado.


Quando ele diz: ‘Eu vou levar-lhe um negócio’, em nenhum momento se pediu um centavo, mas, na hora da gravação, ele precisava gravar. Ele já tinha feito três gravações, mas, em nenhum momento, ninguém pediu dinheiro. Em nenhum momento, tinha envolvido o nome de outras pessoas. Eles queriam incriminar a empresa, incriminar algum Partido político ou incriminar a mim pelas mudanças que estavam sendo feitas. Foi até entregue… Eu peguei o dinheiro, guardei. Sei que errei, tá? Mas eu tenho certeza que aquilo ali eu não pedi a ele. Está escrito, está gravado na fita, correto? Foi uma falha. Foi um ato impensado. Vocês precisam ver, depois de vocês verem um caso daquele na revista e no Jornal Nacional, na Globo, que explorou isso vastamente, correto? O próprio Partido do PL, aproveitando-se daquela imagem, o que foi feito, correto? E outras empresas, outras mídias, que fizeram o que fizeram, correto? Imagina a esposa, os filhos, o sogro, a sogra, o seu neto vendo aquilo, entendeu? Aquilo não resolve nada a ninguém.


Eles ofereceram R$15 mil de consultoria quando a empresa multinacional estivesse dentro do País. Eu pensei, inclusive, em tirar a minha aposentadoria proporcional, porque era um grande negócio. A única coisa que a gente aprendeu a fazer dentro do Correio é fazer planejamento, é trabalhar com organização, é trabalhar com projeto base.


Eles insistiram tanto em dar participação a Partido político, e eu disse a ele: ‘Eu tô dentro de uma diretoria, cujo capitão, cujo chefe é o Antônio Osório; Antônio Osório indicado pelo Roberto Jefferson’.


O SR. (Orador não identificado) – (Intervenção fora do microfone. Inaudível.)


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Não, senhor. Aquilo eu falei na fita, sim. Eu não estou dizendo que não falei. Verifique quantas reuniões foram feitas. Todos os senhores têm condição de ver isso, de apurar. Vejam quantas vezes eu liguei para ele. Vejam quantas vezes ele ligou para mim. Verifique quantas vezes o Presidente foi lá. Eu vendi uma imagem de competência, que eu queria passar, de oportunidade de negócio, correto? Eu assumi o compromisso com ele de levantar técnicos da própria empresa que estão aposentados ou em fase de aposentadoria, para desenvolvermos projetos para outras organizações. Falamos da parceria público-privada.


Hoje vi, no jornal de hoje ou de ontem, o Serpro, que, se não me falha a memória, está aqui – é um dos casos de que falo na fita – licitando aquisição de computadores com 48 meses. Quem entende da Lei nº 8.666 sabe muito bem que a aquisição é de doze meses. Correto? Mas por que ele chegou aos 48 meses? Este era o meu interesse nos Correios na melhoria do processo: incluir na aquisição a prestação do serviço, o fornecimento do material de consumo. Aqui dentro, há sugestões para a melhoria da Lei nº 8.666.


Eu não chamei o Sr. Wascheck nem outras empresas de ‘firminha’, como ele falou no jornal. O que eu disse na reunião é que Brasília era um ilha cercada de picaretas, não era de fornecedores. Olhe o que estou dizendo e assumindo aqui: ‘picaretas’, que não produzem nada e que atravessam todos os órgãos públicos.


Quando a gente exige que uma empresa venha trabalhar conosco, quando eu tenho que cadastrar o fornecedor, quero falar com quem fornece, com quem produz, mas não posso exigir que seja fabricante. Se eu pedir que seja fabricante, a CPL não aceita, nem o departamento jurídico: ‘Você está diminuindo o espaço de competitividade’.


Parti para um outro processo: criamos a Divisão de Gestão de Fornecedores. Quantos órgãos públicos têm um órgão como esse? Foi implantado em maio agora, aprovado pela diretoria da empresa. Para que uma divisão dessas? Quem é do Espírito Santo deve saber de um órgão lá chamado Prodefor, Programa de Desenvolvimento de Fornecedores, que trabalha com a Vale do Rio Doce, com o Banco do Brasil e com outros órgãos grandes. Por que não tem um Prodefor nacional, com empresas sérias cadastradas?


Não sou contra o representante. Eu gostaria que o representante, meus senhores, trouxesse os documentos da sua empresa. O que há hoje de representantes esquentando empresas que não pagam impostos! E vêm com documento no processo licitatório, dizendo ‘eu não uso mão-de-obra infantil’, ‘eu não uso mão-de-obra escrava’, ‘eu respeito o Código do Meio Ambiente, a ISO 14.000’. É verdade? Aí, você vai verificar a empresa, ela está em Ceilândia, em Samambaia, numa sala de vinte metros quadrados. É essa empresa que quer ganhar dois, três milhões de contrato nos Correios? E se ela não entregar? Quem está por trás dela paga os impostos? Então, temos muitos problemas para trabalhar e para resolver.


Quando se criou a Divisão de Gestão de Fornecedores, o objetivo claro – olhem bem, meus senhores – era pré-qualificar os fornecedores, era desenvolver fornecedores não para os Correios, para os órgãos públicos de Brasília. Era a identificação de desempenho de fornecedores, a avaliação de fornecedores. Correto?


O SR. PRESIDENTE (Delcídio Amaral. PT – MS) – Sr. Maurício Marinho, por favor, V. Sª podia completar o seu depoimento.


O SR. (Orador não identificado) – Deveríamos deixá-lo livre para falar, Sr. Presidente. Vamos dar tempo a ele.


O SR. NEY SUASSUNA (PMDB – PB) – Sr. Presidente, o Sr. Marinho, numa citação de um exemplo, eu sei, citou o meu nome.


A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL – AL) – Há inscrição, Sr. Presidente.


O SR. NEY SUASSUNA (PMDB – PB) – Mas fui citado e estou querendo saber: Sr. Marinho, o senhor já me conhecia antes? Alguma vez já tive algum relacionamento com o senhor? Alguém pediu ao senhor em meu nome alguma coisa, um dia?


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Não.


O SR. NEY SUASSUNA (PMDB – PB) – Obrigado.


O SR. PRESIDENTE (Delcídio Amaral. PT – MS) – Só de fotografia, Senador Ney Suassuna.


O SR. NEY SUASSUNA (PMDB – PB) – Senão, amanhã, a Oposição no meu Estado estará dizendo que fui citado.


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Não, não. Estou aqui para dizer a verdade.


O SR. PRESIDENTE (Delcídio Amaral. PT – MS) – Sr. Maurício Marinho, por favor, o senhor pode falar, porque todos os Parlamentares estão ansiosos pelas revelações.


O SR. (Orador não identificado) – Agora é hora do inquirimento.


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Quanto às revelações de que eu disse até agora, a responsabilidade é de cada diretoria de área. Onde é que há problema? Saiu, no jornal, o cofre. Quando foi comprado? Quem é o responsável? Saiu, no jornal, a Skymaster. Quem licita transporte? Quem está por trás da Skymaster? Correto? Existem problemas? Quem está por trás das empresas de tecnologia? Quem é todo mundo sabe.


O repórter Policarpo


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Há uma informação de que – não lembro bem quem afirmou – a fita foi inicialmente entregue a Antônio Osório.


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Antônio Osório?


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Acho que é esse o nome, Diretor…


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Não. Diretor meu é Antônio Osório.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Antônio Osório. E isso se deu lá pelo dia 2 ou 3, muito antes da divulgação pela Veja.


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Eu não sei.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – V. Sª, através do Antônio Osório, não teve acesso a essa fita naquela oportunidade?


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Não. Eu… A informação…


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Ninguém o abordou pelo menos sobre essa existência?


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Não. A informação que eu tenho, eu não sei da data se foi… eu creio que foi no final da semana do dia três, na quinta-feira, se não me falha a memória, um boy chegou ao décimo sétimo andar com envelope e entregou. Esse envelope foi para a mesa dele. Nesse envelope, estavam as fitas. Ele viajou a São Paulo, porque ele tinha um trabalho na sexta-feira – a informação que eu tenho. Ele retornou no domingo. E a informação que eu tenho é de que ele assistiu à fita na casa do Dr. Salmerón em conjunto com o Deputado Roberto Jefferson. Eu fui saber da fita no dia 12 de maio, pelo Sr. Policarpo, quando ele me ligou quando eu estava saindo do hospital.


Eu não creio – posso quase lhe afirmar com cem por cento de certeza – que essa fita não foi entregue ao Antônio Osório nessa data. Entendeu? Porque no dia 12 de maio eu fiquei sabendo, e no dia 12 de maio também, o Sr. Policarpo ligou para o Diretor Antônio Osório, e ele estava em São Paulo. A fita foi entregue na semana seguinte, eu acho. Não na semana anterior.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Quando houve a descoberta desse fato, por acaso V. Sª deletou a memória do seu computador? Pediu que alguém o fizesse?


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Não. O computador de casa, que aparece também no jornal, nós fizemos uma mudança. É o computador da minha esposa. A própria Polícia Federal que lá esteve, inclusive o delegado, se não me falha a memória, Rodrigo, o nome dele, eu nem estava em casa… Fiquei desesperado quando eu soube que a Polícia Federal chegou lá em casa 9 ou 10 horas, porque a idéia é que sairiam quebrando, batendo, prendendo. Era essa a idéia que passava. Graças a Deus, a equipe lá chegou, atendeu muito bem, só estava minha esposa, depois chegou um filho, que é advogado, tá? Eles foram usar o nosso computador em casa. Nem a impressora estava funcionando. Ele estava quebrado. É um computador da minha esposa, de casa. Correto? E desse computador, houve a troca do winchester, sim, mas ele estava sem funcionar. Eu não tinha nada lá dentro. Os meus compromissos estão todos dentro dos Correios. E dentro dos Correios, tanto a agenda quanto os contatos estão lá. Agora, eu usava pouco o computador. O que eu tinha, e eu não tenho medo de dizer aqui… Eu tinha algumas coisas gravadas no pindrive, PenDrive. E, no dia em que eu cheguei em casa, o próprio menino pegou e me quebrou PenDrive. E avisamos inclusive a polícia. Mas não tinha nada que comprometesse porque tudo que está nos Correios está gravado lá dentro. Inclusive, o computador que eu havia usado dois, três meses antes foi para outro funcionário, e a memória não tinha sido limpa. Está no jornal de hoje, sendo explicado esse fato. Eu nem sabia com quem estava o meu computador. Eu recebi um computador novo – novo – e o meu foi destinado a um outro funcionário. A minha pasta, meus documentos foram para lá. Não me preocupei em limpar o equipamento.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – V. Sª conhece o Sr. Cristiano Brandão?


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Cristiano Brandão?


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Ouviu falar em Assurê Seguradora?


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Não. Cristiano Brandão, se não me falha a memória, esteve no ano passado – outubro ou novembro – com o Sr. Marcus Vinícius, lá nos Correios. Isso está na minha agenda no Ministério Público.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Marcus Vinícius é o genro….


O SR. MAURÍCIO MARINHO – É o genro de Roberto Jefferson.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – V. Sª manteve um contato com eles fora dos Correios? Houve um encontro em um bar na Asa Norte?


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Bar, não. Fizemos um almoço aqui no…


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – No Bar do Ferreira?


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Não, não. No Bar do Ferreira, eu estive uma vez com o Fortuna.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Com o Fortuna?


O SR. MAURÍCIO MARINHO – É. Estive uma vez lá com o Fortuna. Com Marcos Vinícius foi no Don Durica. No restaurante Don Durica, almoçamos os três no ano passado.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – O senhor não tem nada que passou por sua mão da Assurê?


O SR. MAURÍCIO MARINHO – A Assurê não sei nem o que é.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – É uma seguradora.


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Não, não. Foi feito um contrato recente. Isso é coordenado pela Presidência da empresa. Tem a comissão especial de licitação que trata de seguros lá.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – E da Atrium?


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Como?


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Atrium.


O SR. MAURÍCIO MARINHO – A Atrium é uma empresa do Fortuna, do filho dele. Não tem nenhum contrato conosco.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – O senhor conhece Marcelo Campos Neves?


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Marcelo?


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Marcelo Campos Neves. Filho do Fortuna.


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Olha, assim não me lembro. De nome não.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Lembra-se de algum filho do Fortuna que o tenha, alguma vez, procurado nos Correios?


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Já. Ele participava de vários processos licitatórios.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – O Marcelo?


O SR. MAURÍCIO MARINHO – Não sei o nome dele. Se tiver, estará na agenda.


O SR. RELATOR (Osmar Serraglio. PMDB – PR) – Alguma vez o Coronel Fortuna o ameaçou de – não diria de demiti-lo – influenciar para que o senhor perdesse o cargo?


O SR. MAURÍCIO MARINHO – O próprio diretor Antônio Osório me procurou. Alguém havia falado sobre isso com ele. Com as mudanças que estávamos fazendo, eu estava recebendo algumas pressões. Isso é verdade. Mas seria leviandade da minha parte dizer que – vou chamá-lo até de coronel – o coronel Fortuna tenha me ameaçado.