Como qualquer empresa de comunicação, a britânica BBC conta com algumas diretrizes que devem ser seguidas por seus funcionários. No campo editorial, uma delas é o cuidado com o uso de qualquer expressão ligada a terror, terrorismo ou terroristas. As três palavrinhas aí da frente devem ser evitadas pelos jornalistas que trabalham nas emissoras, estações de rádio ou sítios de internet da BBC. A justificativa é que, dependendo do contexto, elas mais atrapalham do que ajudam o público na compreensão das notícias.
Mas, há pouco menos de duas semanas, quando ataques a bomba atingiram Londres, sede da rede, a tal diretriz foi, temporariamente, esquecida. Como foi amplamente noticiado pela imprensa mundial, foram quatro explosões em dois dos maiores símbolos do Reino Unido: o mais antigo sistema de metrô do mundo e o ônibus vermelho de dois andares. O resultado: mais de 50 mortos e 700 feridos, muitos em estado grave.
Dois pesos, duas medidas
Quando reporta sobre ataques suicidas no transporte público em Israel – onde muitas vezes são usadas bombas incrementadas com pregos e pedaços de vidro e direcionadas a crianças – , a cautela da BBC pode ser notada no uso de termos como ‘militantes’ ou ‘ativistas’. No caso do atentado a Londres, a rede chamou as explosões de ‘ataques do terror’. Tom Gross, do Jerusalem Post [11/7/05], chamou atenção para a diferença na abordagem dos dois casos em artigo intitulado ‘A BBC descobre o ‘terrorismo’, brevemente’.
Gross afirma que em nenhum momento, como é feito nas coberturas sobre ataques no Oriente Médio, foi explicado ao público que é preciso ‘compreender’ as razões dos atacantes. ‘Ao contrário, eles fizeram o que uma organização de mídia objetiva deveria fazer: apenas noticiaram os ataques, sua natureza cruel e o sofrimento das vítimas’, diz ele. No dias do atentado, os boletins online da BBC contavam com manchetes como ‘Londres abalada por ataques do terror’.
Mas, segundo Gross, os textos iniciais foram sutilmente modificados, pouco tempo depois, nos sítios da rede britânica. Na noite de quinta-feira, em artigo intitulado ‘Homem no ônibus pode ter visto terrorista’, dizia-se que ‘Um passageiro do ônibus diz que pode ter visto um dos responsáveis pelos ataques terroristas a bomba em Londres’. Na manhã do dia seguinte, o mesmo texto trazia o título ‘Homem no ônibus pode ter visto bombardeador’. O conteúdo original foi substituído por ‘Um passageiro do ônibus diz que pode ter visto um dos responsáveis pelos ataques a bomba em Londres’. Com informações de Brit Hume [Fox News, 8/7/05].
Ficção encontra realidade em triste coincidência
No mesmo dia em que Londres foi abalada pela explosão de bombas em seu sistema de transporte, foi lançado no Reino Unido o livro Incendiary, que conta a história de uma mulher que escreve uma carta a Osama bin Laden depois de perder o marido e o filho em um atentado fictício em Londres. A infeliz coincidência fez com que a Random House, editora responsável pelo romance do escritor Chris Cleave, retirasse pôsteres com anúncios publicitários das estações de metrô. Um porta-voz da editora afirmou que seria insensível deixá-los expostos depois do atentado. A rede de livrarias Waterstone’s também tentou fazer o mesmo, pedindo que fosse retirado um anúncio do livro da edição de sábado do jornal The Guardian. Mas ele já havia sido impresso. O autor afirma que tem orgulho de sua obra mas que não sabe como ela será recebida pelo público. Informações da Reuters [11/7/05].