Felicito o autor por este primoroso artigo. Nele vemos com clareza a denúncia de uma sociedade que quer que as crianças sejam anões adultos, comportando-se como tais e, de preferência, não dando muito trabalho. E tome Ritalin, colônia de férias, balé, inglês, natação, fim de semana na vizinha etc e tal. A menina da Telemar no Jô me fez lembrar O garoto do tambor, filme de Schloendorff. Diante da tirania adulta, a criança tocou o tambor de seu choro e quebrou vidraças da compostura conveniente, com seu grito agudo.
Condenável a atitude dos pais submetendo a criança ao ordálio hipercalórico. Deveriam retirar a criança do estúdio no ato. Acaso não perceberam que a criança sofria? Mas deve ser a tal da praga da celebridade. Cadê os defensores de estatutos da criança e do adolescente? E os pedagogos da USP? Devem estar esperando sua vez de aparecer no programa para falar do grave problema dos meninos de rua.
Claudio Cordovil, jornalista, Rio de Janeiro
A entrevista foi paga?
Concordo com todos os argumentos de Rafael Fabro no artigo ‘O narciso e a menina de olhos azuis’. Entretanto, gostaria de acrescentar uma pequena especulação. No decorrer do programa, tive a nítida impressão de que a entrevista havia sido paga pela empresa de telefonia. Isso explicaria algumas das questões propostas por Rafael: ‘Poderiam… não aceitar a entrevista com Jô Soares? E por último: sabendo que a entrevista havia transcorrido da maneira que transcorreu (o programa é gravado à tarde para ser transmitido à noite), poderiam negar a veiculação? Poderiam? Jô e sua produção deixariam?’
Isso explicaria também a insistência do entrevistador em manter a menina por mais tempo no ar, e a exibição do comercial no meio do programa. Trata-se apenas de especulação, mas se for verdadeira, não só acentua o desconforto da situação a que foi submetida a menina, mas também levanta dúvidas sobre a freqüência com que tais entrevistas pagas acontecem.
Vinicius Nunes, estudante de Economia
Onde estava o Siro?
Onde estava Siro Darlan ou outro juiz de menores que não viu isso? Por que, além do constrangimento que a menina sofreu, se ela tem menos de 6 anos não poderia participar de programa de auditório, pelo que eu saiba que ordena a lei (a apresentadora Xuxa sempre mencionava isso quando explicava por que crianças abaixo dessa idade não podiam participar do seu programa).
Teresa da Silva, bibliotecária, Nova Friburgo, RJ
Maldade gratuita
Desde que vim para a Itália (1996) não assisto mais ao programa de Jô Soares, mas ainda no Brasil havia percebido a forma cruel com que maltratava alguns dos entrevistados, especialmente se estes não lhe eram simpáticos, por motivos que somente ele sabia. Vi com grande desconforto o tratamento que ele dispensou a Marina Montini, a musa inspiradora de Di Cavalcanti. Colocou-a no ar totalmente embriagada e fez questão de mostrar aos espectadores sua degradação. Uma maldade gratuita, pois Marina jamais fez mal a quem quer que seja. Portanto é muito oportuno o artigo ‘O narciso e a menina dos olhos azuis’, muito bem-escrito, em que desnuda o lado cruel desse entrevistador que quer parecer boa gente com seu sorriso falso.
Giulio Sanmartini, Belluno, Italia
Mudo o canal
Muito bom este artigo! Tenho filha na idade de Rafaela e fiquei igualmente escandalizado com a falta quase autista de habilidade do senhor Jô Soares para se relacionar com uma criança de 4 anos. Em vez de trocar imediatamente a entrevista com Rafaela por uma entrevista com a mãe (e o pai e a avó), Jô ficou torturando a menina, e de quebra sua mãe e os telespectadores, de uma forma que eu só conseguiria definir como mimadinha. ‘Buu, ela não quer falar comigo…’ Segundo a Folha, ele encerrou a entrevista com a frase: ‘É melhor mudar o número’, referindo-se ao 21. Opa, desta vez concordamos: de agora em diante, à meia-noite, digo não ao canal 5. Assisto até a Syang ou o que for, mas não mais esse invasor de criancinhas.
Alceu Castilho, jornalista, São Paulo