Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Eduardo Ribeiro

‘Abri a coluna da última quarta-feira (14/7) com a seguinte informação: ‘corre no mercado fortes rumores de que um grande jornal paulista prepara novo corte de pessoal para os próximos dias, notícia que de certo modo não parece ter sintonia com o momento de recuperação vivido pelo mercado editorial brasileiro, marcado por lançamentos, investimentos e, em alguns casos, por novas contratações. De todo o modo, convém ficar atento pois onde há fumaça há fogo e é até possível que uma demissão, nessa altura do campeonato e diante desse cenário, tenha outras motivações que não a crise (renegociação de dívida, por exemplo)’.

A informação, na sua gênese, estava corretíssima, como pudemos constatar neste mesmo Comunique-se que, já na sexta-feira (16/7), noticiou as primeiras demissões efetivadas pelo jornal Folha de S. Paulo. Elas prosseguiram nos dias que se seguiram, como veremos à frente. No entanto, continuam pairando no ar as dúvidas sobre as reais motivações que levaram o maior jornal do País a tomar decisão tão drástica e dramática, num momento de razoável recuperação do mercado. Sem um pronunciamento oficial da empresa, tivemos todos de nos contentarmos com as versões e rumores, sem saber com exatidão o que estaria se passando por lá. Em algum momento, no entanto, vamos saber, ainda que extra-oficialmente, o que levou a Folha a promover um dos maiores cortes de pessoal de sua história recente, superior, em gênero, número e grau a qualquer outro feito nos últimos dez anos.

Crise? Se for este o motivo seria até compreensível. O problema é que tudo faz crer que o jornal fez o que fez por alguma outra misteriosa razão. Cerca de um mês atrás, numa das tradicionais reuniões com os editores, a direção da empresa reafirmou que o jornal continuava firme na liderança de circulação (assinaturas e bancas) e de publicidade, nada, portanto, fazendo crer que uma crise estivesse se avizinhando. Considerando-se que outros jornais, como Estadão, O Globo, Diário de S.Paulo, Jornal da Tarde e companhia estão estabilizados, investindo ou com investimentos em curso, por que só a Folha vai na contramão?

Poderiam os investimentos em outros negócios ter levado o Grupo a uma situação difícil? Há um ou dois anos isso poderia ser verdade, mas hoje não mais. Seus dois principais investimentos – UOL e Valor Econômico – saíram há algum tempo do vermelho e hoje caminham com suas próprias pernas, embora também tenham comido o pão que o diabo amassou, em termos de ajustes e demissões.

Poderiam ser as dívidas? Aí vamos ver que, ao menos em tese, estamos mais quentes. Em maio do ano passado, por exemplo, poucas semanas após a garantia de que não haveria novas demissões na casa, os colegas do jornal foram surpreendidos com o anúncio de um corte, corte esse que acabou custando pelo menos doze vagas na redação. Do mesmo modo que agora, não havia na época qualquer sintoma de crise (e naquele ano a situação era até pior do que neste). A motivação, como se soube então, foi a renegociação das dívidas do Grupo. Os credores, com a chave do cofre na mão, acenavam com juros menores, mas exigiam como contrapartida números mais exuberantes de rentabilidade. Resultado: a empresa, para fechar a negociação, fez o que fez, deixando para trás um rastro de inconformismo particularmente entre aqueles que perderam o emprego, não porque o jornal estivesse mal das pernas, como se diz popularmente, mas sim porque o lucro estava muito pequeno para as necessidades de caixa. Coisas da perversa lógica do capitalismo em curso.

Estaria agora acontecendo uma repetição do mesmo fenômeno? Não é de todo improvável. Há no mercado rumores de que o Grupo Folhas estaria efetivamente em nova rodada de renegociação de suas dívidas e que, dos acordos fechados no segmento de comunicação, o dela seria o melhor de todos dentro.

Alguma outra hipótese? Sim, o eventual interesse do capital internacional pelo maior jornal do País. Não podemos esquecer que o tabu foi quebrado há apenas alguns dias pela Editora Abril que já tem o seu sócio estrangeiro, como se noticiou fartamente. Acontece que a Abril fez a chamada lição de casa, promovendo uma grande reestruturação nos seus negócios e um significativo ajuste de pessoal. Mas fez isso lá atrás. Poderia o mesmo estar acontecendo com a Folha? A empresa não confirma nem desmente, possivelmente porque o benefício da dúvida lhe é benéfico.

Hipóteses e rumores de lado, o fato é que a decisão do jornal deixa um saldo de pelo menos 50 demissões, em todas as áreas da Redação, incluindo Agência e Folha Online. Nove desses profissionais eram editores e no grupo estava também um dos repórteres especiais, o que demonstra que nem o médio clero foi poupado dessa vez. São eles Marcelo Leite (ex-ombudsman da Folha), de Ciências, Adriano Schwartz (Mais), Nílson de Oliveira (Cotidiano), Mônica Rodrigues da Costa (Folhinha), Éder Chiodetto (Fotografia), Bel Kranz (Folha Equilíbrio), Rubens Linhares (Regionais), Luiz Henrique Rivoiro (Revista da Folha), Lúcia Boldrini (1ª Página) e o repórter especial Luiz Caversan, colega que tinha 21 anos de jornal.

O corte atingiu ainda os editores assistentes/repórteres Maristela do Valle (Turismo), Armando Pereira, Édson Franco e Lia Regina Abbud (todos de Suplementos), Aureliano Biancarelli e Edney Dias (Cotidiano), Denise Mota (Ilustrada), Fábio Soares e Maércio Santamaria (Regionais), Luiz Fernando Bovo e Murilo Fiúza (Política), Marijô Zilvetti (Informática), Liliana Frazão (Folha Equilíbrio), Neusa Tasca e Luciana Vaz Guimarães (diagramação).

Em Brasília, Wilson Silveira, que passou em concurso para a Câmara e aguarda chamado, fez acordo para entrar na lista, mas além dele estão de saída Sílvia Mugnatti do jornal e Ricardo Mignone da agência.

Também o Rio de Janeiro entrou com sua cota de sacrifício, com a despedida do repórter Chico Santos.

Na Folha Online, dez, das 42 vagas, foram cortadas, mas a área de RH da empresa tenta recolocar alguns dos colegas. Estão de saída do núcleo Marcelo Bartolomei e Carla Nascimento (Ilustrada), Leonardo Medeiros (Ciências), Carlos Ferreira (Cotidiano) e Ana Paula Grabois, da sucursal Rio.

Da Agência saem também Fausto Siqueira (Regional Santos) e Renato Franzin (SP).

Outra área atingida pelo corte é a Gerência Administrativa (ligada à Redação), que perdeu nove das 14 vagas, embora haja a expectativa de reaproveitamento de parte da equipe em outros setores.

O jornal também congelou vagas de colegas que saíram por razões pessoais, o que evitou algumas demissões a mais. Este foi o caso de Érica Fraga, da Economia, que está de partida para Londres para temporada de estudos, e de João Carlos Assumpção, do Esportes.

A Regional Campinas foi fechada e toda a equipe (10 pessoas) dispensada.

Em relação à terceirização de alguns profissionais, entre eles Mônica Bergamo, Josias de Souza e Eliane Cantânhede, o assunto está efetivamente em pauta, mas não há ainda definição sobre ele. Também não se confirmaram, ao menos por enquanto, os boatos de que o jornal fecharia alguns dos suplementos (Mais e Folha Equilíbrio, entre eles) e de que procederia um corte drástico no controle de erros.

Em tempo

Embora uma má notícia como essa tenha a força de ofuscar quaisquer outras, por melhores que sejam, cumpre registrar que nem tudo são espinhos, no nosso mercado. A Abril, por exemplo, lança na próxima sexta-feira (21/7) a revista Flashback, com rico material sobre os anos 70 e 80 (serão três edições em 2004 e se as vendas forem boas a publicação poderá transformar-se em mensal no próximo ano). Fora isso, temos ainda a Editora Escala anunciando investimentos de R$ 8 milhões na sua mais nova empresa, a Escala Educacional, que promete colocar 120 novos títulos no mercado de educação (de cunho didático e paradidático), o primeiro deles já nas bancas – Discutindo a Geografia – e um segundo – Desvendando a História – a caminho. Sem contar a possível transformação da revista Foco – Economia & Negócios de mensal em quinzenal.’



José Monserrat Filho

‘A demissão de Marcelo Leite’, copyright Jornal da Ciência e-mail nº 2569 (http://www.jornaldaciencia.org.br), 22/7/04

‘São numerosas e até assustadoras as demissões ora registradas na grande imprensa do país por motivos de deficiências, desequilíbrios e insegurança na economia de suas empresas.

Profissionais experientes e competentes estão sendo afastados, o que com certeza irá comprometer seriamente a qualidade dos serviços públicos de informação prestados pelos jornais. Não há senão a lamentar essas perdas e alertar para suas possíveis conseqüências.

Nosso pesar e nossa preocupação crescem mais ainda ao constatarmos que, entre os recém-dispensados está um respeitável grupo de editores da ‘Folha de SP’, entre os quais destacamos o editor de Ciência, Marcelo Leite, um bom e talentoso colega na batalha pela divulgação científica, cada vez mais necessária neste país.

Marcelo Leite, sem favor algum, é um profissional admirável. Pela seriedade, pelo cuidado de suas apurações, pelo senso crítico de seus textos e pelo senso de responsabilidade social que sempre expressa, ele tem contribuído, em grande escala, para elevar os padrões, o prestígio e a respeitabilidade da divulgação científica em nossa imprensa.

Não bastassem seus artigos e os frutos de sua já conhecida forma de trabalhar como editor de Ciência, é justo salientar sua recente e consistente contribuição ao simpósio sobre ‘Divulgação Científica e Cidadania’, nesta Reunião Anual da SBPC, aqui em Cuiabá, ao lado de Mônica Teixeira e Ildeu de Castro Moreira, onde ele deixou cristalinas suas idéias éticas e criteriosas sobre a missão do jornalismo científico.

Pobre do jornal que procura resolver suas dificuldades financeiras demitindo um jornalista da estatura de Marcelo Leite – alguém que está na vanguarda da informação científica e tecnológica, essencial para ampliar os horizontes culturais do nosso povo e impulsionar o desenvolvimento nacional em áreas absolutamente estratégicas no mundo contemporâneo.’



ISTOÉ
Milton Coelho da Graça

‘ISTOÉ um triste drama da nossa imprensa’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 26/07/2004

‘A revista ISTOÉ publica uma excelente matéria de Weiler Diniz, revelando que o presidente e o diretor de política monetária do Banco Central estão sendo investigados sob suspeita de sonegação fiscal. Normalmente seria a capa de qualquer revista semanal de informações.

Mas a direção de ISTOÉ já tinha cometido um pecado que nenhuma revista séria ousa cometer: vendera a capa para uma ‘marreta’ de 21 páginas corridas, em que o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro é louvado em 11 matérias, não-assinadas mas evidentemente muito bem pagas com dinheiro público e privado.

A ‘marreta’ em momento nenhum esclarece ao leitor que se trata de publicidade. Apenas um antetítulo geral – ‘Rio – Especial Desenvolvimento’ – e a mesma linha de diagramação sugerem que as 11 matérias se referem ao mesmo tema.

Afora essas 22 páginas (incluindo a capa), a revista tem mais 22 1/3 páginas de anúncios comerciais e três ou quatro de permutas. O que levanta uma primeira questão: ISTOÉ, que tem uma equipe de jornalistas de primeira linha, precisa fazer essa baixaria? E há também uma segunda pergunta: como uma revista pode ter credibilidade em suas reportagens investigativas enfiando no meio delas matérias pagas desse tipo?

Há uma pessoa que circula em Brasília, Rio, São Paulo e outras capitais exibindo um cartão de visitas apresentando-se como ‘Diretor de Desenvolvimento’ de ISTOÉ. É um personagem conhecido desde os tempos da ditadura, quando circulava por gabinetes, dizendo-se ligado ao Serviço Nacional de Informações e pedindo anúncios para a fase final e melancólica da revista Cruzeiro (Cláudio Humberto, na época Secretário de Comunicação do governo alagoano, expulsou-o da sala). Depois reapareceu em Última Hora (no Rio), passando cheques sem fundo e dando o beiço em jornalistas e operários, até Ary de Carvalho recobrar o título na Justiça. O curioso é que o nome desse cavalheiro não aparece no expediente de ISTOÉ, mas várias pessoas (inclusive ligadas ao governo estadual e empresas do Rio) confirmam terem sido visitadas e recebido propostas de ‘anúncios institucionais sem marca de matéria paga’.

A direção da revista poderia esclarecer: existe ou não um ‘Diretor de Desenvolvimento’, encarregado de ‘desenvolver’ qualquer coisa, inclusive capas?

O Globo lança, Estadão e Folha vem aí

Os assinantes de O GLOBO receberam ontem (25/7) o número zero da nova revista dominical, que vai substituir o ‘Jornal da Família’. São 104 páginas, oito em papel couché e 96 em offset comum. O lançamento é ótima notícia, a má notícia é que aparentemente ninguém foi contratado para produzi-las, nenhum

emprego foi criado.

Vamos torcer para que a revista do Estadão – em preparação – tenha um projeto editorial mais ambicioso.’