A imprensa em geral perdeu uma bela oportunidade de demonstrar sua missão de informar aos leitores e ouvintes sobre a descarada roubalheira dos planos de saúde. A grande maioria deles não cumpre aquilo a que se propõe e todos ‘choram’ sobre as grandes despesas que têm, tentando justificar reajustes abusivos de planos de saúde que custam uma fortuna. Culpa desta triste situação é exclusiva do governo, que privatizou a saúde pública e implantou o SUS (síndrome universal do susto), deixando nas mãos da iniciativa privada, que visa lucros, a responsabilidade de cuidar da saúde dos cidadãos. A saúde não pode ser feita visando lucros, tal qual segurança e educação. Afinal das contas, colocamos lá em cima homens públicos para quê? Para trabalhar em prol da sociedade ou vender, doar ou desbaratar tudo que lhes dê trabalho? Ganham só para se autopromover?
Marcos Pinto Basto, São Vicente, SP
Alô, pauteiros
Muito procedente a pesquisa mídia x planos de saúde. Já votei. Mas, vai aí uma observação profissional e sugestão de pesquisa. ‘Algum político saiu em defesa de quem paga os planos de saúde?’ Aliás, eu a colocaria também como sugestão de pauta para qualquer noticioso. De graça. Impressionante! Só os Procons e o Idec vieram a campo defender a nós, coitados. O que acontece com os políticos? Nós desconfiamos. O que acontece com os pauteiros? Nós não sabemos.
Enéas Macedo Filho, jornalista, São Paulo
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Transgênicos e letargia
Na qualidade de leigo, mas também como um dos principais interessados, tenho acompanhado a questão dos transgênicos; afinal, está em jogo, à revelia de minha vontade, a qualidade do alimento que será posto em minha mesa. Tenho observado o desinteresse da opinião pública sobre o assunto, e a letargia da mídia, que tem se resumido a breves e superficiais notícias sobre um tema que mobiliza a comunidade cientifica, os parlamentares, os juristas e envolve os interesses econômicos de grandes multinacionais. E principalmente o interesse nacional, dos países de Primeiro Mundo aos demais, incluindo o Brasil. Dentre as questões pertinentes aos transgênicos, com justa razão enfatiza-se a biossegurança: até que ponto podemos garantir que o consumo de produtos geneticamente modificados não oferece riscos ao consumidor e ao meio ambiente, em curto, médio e longo-prazo?
Embora os especialistas divirjam, à parte os detalhes técnicos e o cientificismo, há um ponto em comum entre eles: não há como garantir em 100% que o consumo de transgênicos não venha a produzir a longo prazo efeitos colaterais nos consumidores ou que ocorra contaminação do meio ambiente. Por isso, parte da comunidade cientifica, cautelosamente, se opõe à ampla e imediata utilização dos transgênicos, no que antagonizam diretamente os interesses comerciais dos detentores da tecnologia dos transgênicos, que objetivam sua imediata utilização em larga escala. Alegam em seu favor que somente um grande aumento da produção mundial de alimentos daria conta da crescente demanda por alimentos, em virtude do aumento populacional do planeta, o que seria viabilizado pelo uso dos transgênicos.
Todavia não ficou comprovado até o momento que o uso dos transgênicos eleve a produtividade na proporção apregoada. Quanto ao controle de pragas, o controle natural sem o uso de agrotóxicos tem se revelado economicamente viável e extremamente benéfico para o meio ambiente, muito embora não desperte o interesse dos latifundiários. Os consumidores, desinformados em virtude da superficialidade e apatia dos meios de comunicação, não têm tido representatividade e peso nas decisões parlamentares sobre a legislação que regerá os transgênicos, o que deixa o caminho livre para o lobby das multinacionais detentoras da tecnologia dos transgênicos, que pressionam os parlamentares a aprovar os projetos a favor dos transgênicos.
Dentre os principais pontos que pleiteiam destacam-se a caracterização como pirataria da presença de exemplares transgênicos não-adquiridos legalmente, o que dá margem a responsabilizar o incauto agricultor que tenha sua lavoura, mesmo que à revelia, contaminada por transgênicos. Estranhamente, hoje faz-se vista grossa ao contrabando de sementes transgênicas para o Brasil. Como já vimos, o aumento da população tem aumentado a demanda por alimentos, o que diminui a grande e tradicional vantagem na balança comercial dos paises de Primeiro Mundo, fornecedores de produtos manufaturados e de tecnologia de ponta.
Aliando-se a isso a modernização do campo e o desenvolvimento dos países emergentes, vislumbra-se um novo equilíbrio no panorama econômico mundial, em que a agropecuária passa a ter novo e importante papel. Estrategicamente é vantajoso para os países detentores da tecnologia dos transgênicos buscarem importante participação nesse mercado, não somente na produção interna, mas principalmente na produção externa, através da tecnologia dos transgênicos, objetivando receitas pelos royalties. Esta seria uma forma de manter o atual panorama econômico, em que os produtores de bens e serviços e detentores das tecnologias de ponta garantiriam a sua supremacia econômica sobre os países produtores e exportadores de alimentos. Uma vez implantada em larga escala a cultura dos transgênicos, seja pela aquisição legal motivada pela maciça propaganda sobre as ‘vantagens’ dos transgênicos ou pela aquisição ilegal por longo tempo tolerada, tal como vimos ocorrer com os softwares de computador, seria praticamente impossível separar o joio do trigo.
O passo natural seria então a produção de sementes transgênicas para produzirem exemplares estéreis. Dessa forma, os recursos naturais tornam-se definitivamente um produto, e os capitalistas apropriam-se. Constatamos que os interesses econômicos envolvidos têm ditado as regras sobre os transgênicos, que esse enfoque econômico tem passado ao largo das discussões, que a mídia está entorpecida e a opinião pública, alienada sobre um tema que deveria estar sendo tratado como questão de segurança nacional, a nível de planejamento econômico.
Adolfo Mendes de Lima, analista de sistemas, Rio de Janeiro