Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O Tio Sam não está querendo conhecer a nossa batucada

A febre do momento na internet é o Orkut, uma comunidade virtual onde é possível encontrar pessoas conhecidas na vida real, fazer novos amigos, ver fotos e participar de grupos de discussão sobre qualquer assunto possível e imaginável. Fundado em janeiro deste ano pelo engenheiro de software turco Orkut Buyukkokten, o sítio pertence ao popular sítio de buscas Google.

O mais inusitado sobre o Orkut é que ele foi praticamente dominado pelos usuários brasileiros. Nos EUA, pelo menos 153 milhões de pessoas têm acesso à internet; já no Brasil, este número cai para apenas 20 milhões. Mesmo assim, o país ultrapassou o número de internautas americanos no Orkut em junho. Hoje, 41,2% dos usuários do serviço são brasileiros, e apenas 23,5% são americanos. O terceiro lugar na lista de ‘orkutianos’ fica com os iranianos, com somente 6% de participação.

Que língua é essa?

A ultrapassagem virtual tem irritado muita gente e provocado verdadeiras revoltas. O problema? Os brasileiros escrevem em… português. Fazem seus perfis, fundam suas comunidades, postam mensagens e debatem assuntos em sua própria língua. O resto dos usuários sente-se excluído. Algumas pessoas chegaram até a fundar comunidades no próprio Orkut para debater a questão.

A canadense Tammy Soldaat é uma das usuárias indignadas com a proliferação da língua portuguesa no sítio. Ela sentiu o tamanho da ameaça quando postou uma mensagem perguntando se deveria fazer sua comunidade sobre body piercing exclusiva para pessoas que falassem inglês. Logo foi taxada de ‘nazista’ e ‘xenófoba’ pelos brasileiros. ‘Depois disso, entendi por que está todo mundo reclamando destas pessoas, por que elas são chamadas de ‘praga do Orkut’’, diz ela numa comunidade intitulada ‘Crazy Brazilian Invasion’ (louca invasão brasileira).

O americano John Gibbs, da Califórnia, fundou a comunidade ‘So many Brazilians on Orkut’ (tantos brasileiros no Orkut). ‘Quando qualquer usuário dá uma olhada nas listas de comunidades para encontrar algo que o interesse percebe que a grande maioria está escrita em português’, reclama ele. ‘É bem frustrante, já que o Orkut não é um serviço brasileiro.’

Liberdade de expressão

Os brasileiros se defendem dizendo que são livres para escrever o que quiserem, na língua em que escolherem. Uma das particularidades do Orkut é que só entra quem for convidado por algum usuário. ‘Desde que podemos convidar qualquer pessoa para entrar no Orkut, e todos os meus amigos são brasileiros, não faz sentido que eu fale com eles em inglês’, diz Mateus Reis, publicitário de São Paulo.

Segundo a agência de notícias Reuters [19/7/04], mesmo que 1/4 dos brasileiros viva na pobreza, aqueles que podem se dar ao luxo de ter internet tornam-se ávidos usuários da rede. De acordo com pesquisas do Ibope/NetRatings, os brasileiros ultrapassaram por pouco os americanos no tempo de acesso à internet em maio pelo segundo mês consecutivo. Enquanto no Brasil o tempo de uso estimado chegou a uma média de 13 horas e 51 minutos por mês, nos EUA este número foi 8 minutos menor.

Por tanta participação na rede, o Brasil está atraindo a atenção de empresários e investidores do mercado online. No Fotolog, sítio onde os usuários criam seus diários com fotos, os brasileiros são cerca de 211 mil de um total de 453 mil usuários. Segundo Adam Seifer, fundador do sítio, já estão sendo feitas negociações com provedores de internet brasileiros para lançar o serviço em uma versão em português.