‘Conversas comerciais aborrecem, o vaivém não tem fim. Mas, pelo impacto, o acordo na Organização Mundial do Comércio é um marco.
No ‘Financial Times’, a manchete dizia ser ‘histórico’. No ‘Wall Street Journal’, a reportagem abria falando em ‘acordo agrícola histórico’. Foi primeira página do ‘Washington Post’ ao ‘Los Angeles Times’.
‘El País’ e ‘Le Monde’ destacaram, respectivamente, a ‘reativação do comércio global’ e o ‘bom acordo para a França’, no dizer do francês Pascal Lamy, enviado da União Européia.
Lamy, o americano Robert Zoellick e o brasileiro Celso Amorim eram citados como os três articuladores do acerto. O francês e o americano, segundo o ‘New York Times’, deixam seu ‘último legado’. Lamy sai em outubro. Zoellick torce pela vitória de George W. Bush.
Começam aí os problemas. Para o ‘FT’, ‘a saída vai deixar um grande buraco na rede de relações entre os grandes negociadores comerciais, que levou anos para se desenvolver’.
Pode sobrar só Amorim para levar adiante o acordo, que as várias análises concordam ser ‘vago’, ‘pouco claro’, um primeiro passo na ‘maratona’.
O episódio evidenciou que o democrata John Kerry, por quem tantos brasileiros torcem, é um perigo para o Brasil.
De um lado, Zoellick agradeceu Bush, no ‘NYT’, dizendo que recebeu dele ‘poder para fazer do êxito comercial uma prioridade, apesar do ano eleitoral’. E que Bush ‘acredita que a abertura constrói economias mais fortes e ajuda a criar empregos’.
Já os democratas disseram que, ‘diante de 2,5 milhões de empregos perdidos, podemos e temos que fazer mais pelos americanos que trabalham duro’.
A mulher de Kerry pode falar português, mas não se deve esperar dele mais que sorrisos.
Quem sai aliviado do episódio é Celso Amorim, ‘porta-voz do mundo em desenvolvimento’, para o ‘NYT’. Ele até obteve ganhos para o Brasil, diz o ‘WSJ’:
– As concessões atingiram mais os europeus. A queda nos subsídios pode fazer o açúcar, a carne e o leite europeus mais vulneráveis ao Brasil, ansioso por morder seu rico mercado.
AOS CHUTES
A manchete era a morte de um sem-terra. Mas a cena que chocou no JN foi a do ‘dono da fazenda’, no Paraná, chutando outro sem-terra, ‘mesmo com a presença de policiais’
Alckmin 2006
Surgiu ao mesmo tempo na ‘Veja’ e no blog de Jorge Bastos Moreno o anúncio de que Geraldo Alckmin é desde já candidato em 2006. Para a revista, o PFL ‘fechou o apoio’ a Alckmin, ‘o mais conservador’ dos tucanos. No blog, ele próprio ‘se traiu’.
A semana
Alckmin deve ser assunto na reunião dos governadores do PSDB, hoje, mas não o único.
Os tucanos anunciam que a semana é de cerco ao ex-tucano Henrique Meirelles, do Banco Central. Segundo a Agência Nordeste, o senador Antero Paes de Barros quer demissão ‘imediata de toda a diretoria’.
Algum lugar
Enquanto isso, Meirelles reclamava, no site de ‘O Estado de S.Paulo’, que as denúncias contínuas contra ele e o BC ‘vêm de algum lugar, não sei de onde’.
Bandeira
Semanas atrás, um secretário de George W. Bush surgiu para avisar do risco de ataque terrorista. Foi visto no ‘Washington Post’ com desconfiança sobre sua intenção -seria eleitoral.
Agora, dias após a convenção democrata, vem outro secretário e faz o mesmo, mudando até a cor do ‘alerta’, dizendo que um dos alvos é Wall Street.
A Fox News, pró-Bush, já está com a bandeira de volta na tela.
Grande coisa
Larry Rohter e o Departamento de Estado, ao que parece, já não desgostam tanto de Lula. O repórter do ‘New York Times’ escreveu uma longa reportagem simpática à presença militar brasileira no Haiti, pela ONU.
Mencionou ‘alto funcionário americano’, para quem ‘o Brasil realmente tomou um papel de liderança num momento crucial, e isso é uma grande coisa’.
CARTEL
O Brasil é capa da versão latino-americana da ‘Newsweek’, que diz que ‘todos amam o Brasil’, mas a notícia de impacto era outra. Uma lista do Pentágono diz que o presidente da Colômbia, que esteve outro dia com Lula, ‘trabalhou para o cartel de Medellin’’
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‘Na Vila Maria’, copyright Folha de S. Paulo, 30/07/04
‘A uma semana do debate na Band, com Marta Suplicy e José Serra, começou a campanha em São Paulo.
Foi ontem, ao que parece sob o estímulo das pesquisas Vox Populi e Ibope, que trouxeram os dois na ponta.
Anteontem, Serra já entrou mais forte, criticando o ‘loteamento’ das subprefeituras, o ‘desperdício’ nos piscinões etc. Do título do ‘Valor’:
– Serra volta ao ataque após crescimento da prefeita.
Era de esperar conflito crescente: ele veio ontem e foi físico. ‘Um incidente, um princípio de confusão’, minimizou o SPTV. Já na Jovem Pan, ‘cem militantes de cada lado trocaram tapas e empurrões’.
Serra teria sido ‘cercado por cabos eleitorais’, que o ‘agarravam’. Segundo a Folha Online, uma ‘militante petista’ denunciou um líder do PPS, que apóia o tucano, por ‘agressão’.
Serra saiu chamando os petistas de ‘fascistas’ e acusando os subprefeitos, falando em ‘remuneração’ aos cabos eleitorais, na Globo. Marta, segundo a Jovem Pan, teria reagido acusando ‘provocação dos desesperados’ tucanos.
Enfim, começou.
Quanto a Maluf, bem, mais manchete no JN:
– Procuradoria Geral da Suíça pede indiciamento do ex-prefeito Paulo Maluf por lavagem de dinheiro.
O PSDB pode estar certo ou não sobre o conflito na Vila Maria, bairro que sempre marcou as eleições na cidade.
Mas os tucanos precisam se conter, nas reações. Ontem, na própria home do partido, um texto destacava ‘Dona Marta e seus dois maridos’.
Dizia que ‘a participação de Eduardo Suplicy na campanha da ex-mulher é estratégia para enfrentar o desgaste sofrido por ela por conta da separação’. Daí, ‘conclui-se que dona Marta tem dois maridos’. E mais:
– Cá entre nós: a que papelzinho ridículo o senador se prestou ao sair para mitigar a imagem que sra. Marta construiu para si mesma.
Papelzinho ridículo é o de quem escreveu o texto.
NO PARQUE SANTO ANTÔNIO
Está aí por que Eduardo Suplicy é quase unanimidade, se impondo sobre adversários até em seu próprio partido. Em destaque nos jornais populares e no SPTV, lá aparece ele ao lado do rapper e ídolo maior da periferia de São Paulo, Mano Brown.
O senador saía da delegacia do parque Santo Antônio junto com o artista, que passou sete horas na cadeia por suposto ‘desacato’. Negro, ele dirigia um Golf com ‘atitude suspeita’, no dizer da polícia (de Geraldo Alckmin), segundo reportagem do ‘Agora São Paulo’. Para Suplicy, os policiais que o prenderam é que são suspeitos de ‘atitude abusiva’. Ao sair, Brown, que jamais havia sido preso, chorou.
Juros futuros
Da Folha Online à CBN e à Bloomberg, a ata do Banco Central corroeu a cobertura em tempo real, ontem. Aponta juros em alta, não queda.
Para piorar, o ‘Valor’ destacou que o recém-indicado diretor ‘reforça o perfil conservador do BC’. É sua marca, na manchete da ‘Gazeta Mercantil’: ‘Um conservador no BC’.
Fim do dia, no Valor On Line, a notícia já era ‘Taxas em alta no mercado de juros futuros’.
Nada de vender
Outra manchete do dia, no JN e Jornal da Record, dizia que ‘vendas da indústria paulista disparam’.
Mas não é bom, para a ata. Diz o BC que ‘os níveis de utilização da capacidade produtiva’ estão muito altos. Juros neles.
Dois em um
A conservadora revista ‘The Economist’ trata do BC e suas agruras, na nova edição. Sublinha no título que é história de ‘escândalo -e sucesso’.
Hipocrisia
Para Lula, o problema está em outra parte, jamais nos juros. Ele saiu discursando no JN contra a ‘minoria rica’ que, com ‘práticas comerciais hipócritas’, mantém ‘multidões em extrema pobreza’.
Camarão
Lula, no ataque aos ‘ricos’, reagia à nova barreira às exportações. Agora foram os EUA que impuseram tarifas ‘ao camarão brasileiro’. Foi manchete do JN, atento como nunca ao comércio internacional.
Medo
Em ano de eleição, o protecionismo avança nos EUA. Foi destaque no ‘Wisconsin State Journal’ uma reportagem, levada pela agência AP a todo o Meio-Oeste, com ‘as várias respostas à ameaça brasileira’.
No Brasil, ‘a terra está sendo tomada por fazendas que produzem a soja e outras sementes mais baratas no mundo’. De um entrevistado:
– Eles podem nos explodir se cultivarem sua massa de terras.’
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‘Pelo mercado’, copyright Folha de S. Paulo, 29/07/04
‘No UOL News, ‘mercado absorve bem a demissão de diretor do Banco Central’. Ou ainda, ‘mercado se acalma’. No ‘Valor’, ‘troca foi comprada como positiva no mercado’.
No ‘Financial Times’, ‘o episódio teve pouco impacto no mercado, com analistas avaliando que a política monetária seguirá nas mesmas linhas’.
Em suma, no registro da Folha Online, ‘o governo agiu rápido’ -apesar de o demissionário Luiz Augusto Candiota garantir que a decisão foi dele, só dele. A rigor, só a Globo acreditou na versão oficial, à tarde:
– Governo tentou demovê-lo e ele alegou motivos pessoais.
O Jornal Nacional deu a mesma versão pela voz do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. E citou Lula, para quem a demissão foi coisa de ‘rotina’.
O presidente, como quem não quer nada, aproveitou para ‘reiterar sua confiança’ em Henrique Meirelles.
Candiota saiu se dizendo ‘vítima’, como mostraram os canais de notícias, da ‘libertinagem de imprensa’.
De sua parte, o site do PSDB saiu em defesa das fontes da denúncia contra Candiota, vale dizer, da CPI do tucano onipresente Antero Paes de Barros e seu desafeto, o petista José Mentor.
Era o destaque da Agência Tucana ontem, ‘tucanos defendem atuação da CPI do Banestado’, enquanto os líderes da legenda no Congresso seguiam no ataque.
Agora desviando o alvo para Henrique Meirelles.
Nos telejornais, foi um dia de altos funcionários ao microfone, tensos e na defensiva, e do avanço da oposição tucano-pefelista. Mas não faltou fogo amigo, ao menos na Globo On Line, que destacou o vice:
– José Alencar se exime de defender Henrique Meirelles.
Na declaração do vice, ‘a primeira pessoa que deve saber se isso respinga ou não [em Meirelles] é ele próprio’.
O CHOQUE
Michael Moore, à esq., cumprimenta O’Reilly, à dir.
O cineasta Michael Moore, de ‘Fahrenheit 11 de Setembro’, foi a primeira voz liberal a surgir com poder midiático para enfrentar as vozes conservadoras nos EUA. E os conservadores sabem disso.
O embate entre Moore e o âncora Bill O’Reilly, da Fox News, anteontem, foi até aqui o momento de maior tensão na modorrenta convenção democrata. O’Reilly chegou a chamar Moore de ‘maior defensor [de Saddam Hussein] na mídia’. De sua parte, Moore disse que O’Reilly não teria coragem de ‘sacrificar seu filho’ no Iraque, como fez Bush com 900 jovens americanos. E repetiu à exaustão que ‘Bush mentiu’.
O âncora conseguiu a entrevista correndo pelas ruas: estava no carro, viu Moore e saiu aos gritos. No final do embate, após ouvir do cineasta que não deseja sua ‘morte’, O’Reilly disse: ‘Eu gosto desse Michael Moore’.
Soldado Kerry
Hollywood parece estar toda com John Kerry. A Fox News dizia ontem que o produtor Steve Jobs, do estúdio Pixar, está na equipe que escreve a plataforma democrata.
Mas ontem era Steven Spielberg, do estúdio DreamWorks, que repercutia mais. Segundo a ‘Variety’ e o ‘New York Observer’, ele escolheu o diretor e ‘influenciou’ o documentário sobre Kerry que será mostrado hoje na convenção.
Dizem que lembra ‘O Resgate do Soldado Ryan’.
‘Cidade 2’
A mesma ‘Variety’ noticiava ontem que o cinema brasileiro, afinal, abraçou as seqüências: como um ‘Homem-Aranha’ da vida, o sucesso ‘Cidade de Deus’, de Fernando Meirelles, terá sua parte 2.
O nome é outro, ‘Cidade dos Homens’, como na série que Meirelles produziu na Globo. O diretor também é outro.
Original
Quanto ao autor do livro que originou tudo, Paulo Lins, ele segue escrevendo ‘O Plano de Marlon’, o seu novo romance -e não uma seqüência- sobre a violência no Rio.
Desgaste
Na segurança do Rio, o secretário Garotinho surgiu no Jornal da Record para anunciar, com a fisionomia desgastada, mudanças na Polícia Militar.
Segundo o JN, ‘as mudanças foram motivadas por sucessivas denúncias de crimes envolvendo policiais’. Segundo o jornal Hoje, um em cada quatro é ‘investigado por crimes cometidos só neste ano’.
O maior avanço
Em contraponto, a mesma Globo deu reportagem, no Bom Dia Brasil, sobre a força federal que começa a ser treinada nas próximas semanas -e fez longa entrevista com o ministro Márcio Thomaz Bastos.
Destaque para a campanha do desarmamento, que segundo a emissora é ‘considerada o maior avanço’ do plano federal de segurança.
Chegou
Globo, rádios e sites acompanharam ontem o desembarque do novo embaixador americano. Da televisão:
– Em português, ele disse que está ansioso para conhecer o país, o povo, a cultura. E que fará o possível para estreitar as relações entre Brasil e EUA.’
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‘O grande bocejo’, copyright Folha de S. Paulo, 28/07/04
‘O show não deu audiência, nos EUA. O site Drudge Report, próximo aos republicanos, noticiou e comemorou:
– O grande bocejo. As redes em queda livre de audiência. A noite de abertura teve a menor de todos os tempos.
CBS, NBC e ABC só deram o discurso de Bill Clinton, nada de Jimmy Carter, mas nem ele animou os telespectadores.
Larry King, da CNN, disse ao ‘Washington Post’ que está animado, ele que cobre o evento desde 1952, mas lamentou:
– Eu sei como vai acabar.
O show é tão controlado que nem a escolha do vice, que até 1988 ainda era uma atração nas convenções, espera mais.
Sem muito o que noticiar, a mídia vai cobrindo a mídia.
Cobre, como faziam ontem CNN e ‘New York Times’, a central de antinotícias dos republicanos, a metros da convenção. Do presidente do partido de George W. Bush, ao ‘WP’:
– Nesta era da informação, não se pode deixar um ciclo de notícias passar sem responder.
Os democratas planejam o mesmo para a convenção republicana, em Nova York.
O ‘Guardian’, de sua parte, destacou que os democratas sumiram com o logo da Al Jazira no prédio da convenção. Estava atrás do lugar de onde John Kerry faz, amanhã, seu discurso de candidato.
Acharam FHC em Boston, na convenção. O jornal ‘O Estado de S.Paulo’ deu que ‘é uma das personalidades internacionais que estão [na cidade] para endossar John Kerry’.
Já o ‘Financial Times’ não citou FHC pelo nome, apenas fez um registro no meio de uma reportagem irônica sobre a palestra de Clinton num hotel:
– O público não era nem americano, na maioria. Clinton entrou, sentou-se perto de ex-mandatários da Bolívia, Brasil, Canadá, Irlanda e Portugal, e falou 15 minutos. A audiência não moveu um músculo enquanto falou. E então pegaram suas câmeras fotográficas e correram para tentar apertar sua mão.
PACIÊNCIA
O FMI passou e não foi desta vez, segundo o Jornal da Globo, que aceitou a exclusão dos gastos com infra-estrutura das contas do superávit primário. Segundo o ‘Financial Times’, um ‘funcionário do FMI’ disse que o Brasil é ‘um país piloto’, que ‘essa é uma questão enorme para muitos países’, mas que vai apenas ‘preparar um relatório para a diretoria do Fundo, que teria que aprovar qualquer mudança’.
Um acordo é importante para Lula, diz o ‘FT’, para ‘mostrar uma vitória na sua relação com o FMI’, ele que tem sido ‘ironizado por extremistas da esquerda’.
Os efeitos
Para o JN cobrir a campanha municipal, só com pesquisa. Ainda assim, só um registro.
O SPTV trouxe mais -até uma explicação do Ibope para os números controversos de seus primeiros levantamentos em São Paulo, há um mês:
– O Ibope informou que a primeira pesquisa [feita para a Rede Globo] refletiu os efeitos da propaganda política na TV. O resultado anunciado nesta terça não sofreu impacto de qualquer fato político relevante.
Ah, bom.
Lula e a Microsoft
A prioridade ao software livre no Brasil já levou a uma reação virulenta da Microsoft. Agora Lula compra a briga, segundo a Folha Online, discursando na África que o software livre é ‘uma resposta ao imperativo’ da inclusão digital.
Morde…
Foi destaque ontem nos sites dos jornais argentinos, inclusive no alto do ‘Ámbito Financiero’, a avaliação do ministro Roberto Rodrigues, da Agricultura, de que ‘a Argentina prejudicou as negociações’ entre Mercosul e União Européia. Os europeus agora estariam considerando o bloco muito ‘frágil’.
… e assopra
Por outro lado, nos mesmos sites se destacou que o Brasil fez ‘gestões’ junto ao FMI para não adiar outra vez um acordo com a Argentina.
‘Diários’
No último dia 16, esta coluna errou ao escrever que o filme ‘Diários de Motocicleta’ havia sido descrito na ‘Variety’ como ‘não-político’. Pelo contrário, foi descrito na publicação como ‘político sem ser didático’.
ARGENTINA, NÃO Na expectativa para o jogo da seleção no Haiti, o ‘El País’ noticiou que ‘milhares de haitianos festejaram nas ruas [acima] o triunfo do Brasil na Copa América’’