‘‘São iguais’, dizia a esquerda americana há quatro anos a respeito dos candidatos à presidência, George W.Bush e Al Gore. Não eram. Mas a esquerda votou em Ralph Nader, candidato verde. Elegeu Bush.
As esquerdas brasileiras, ainda mais sectárias e com o agravante da histórica cegueira antiianque, desta vez terão de apurar seu senso de observação para não serem surpreendidas pela realidade. O discurso de John Kerry, quinta à noite, em Boston, ao aceitar a indicação do seu nome como candidato democrata à Casa Branca, foi um primoroso exercício para estimular a capacidade de perceber diferenças.
Nos 45 minutos de uma retórica tipicamente kennediana (dois dos seus redatores trabalharam para o primeiro JK), o candidato democrata escancarou as gritantes divergências que o separam de Bush. Não foi uma exibição de sutilezas, ao contrário, foi um eloqüente enunciado de afirmações destinadas a desmontar o pétreo sistema de dogmas da administração republicana.
Inclusive na questão de segurança. Kerry usou 17 vezes, a palavra ‘força’ ou alguma de suas variações. Não para ameaçar ou desafiar, mas para estabelecer o imperioso contraste com a arrogância e a estupidez que caracterizaram a resposta do governo do seu país aos ataques de 11 de Setembro: ‘Nestes dias perigosos, existe uma maneira correta e uma maneira errada de ser forte…
Força vai além das palavras… Conheço o alcance do nosso poder, mas também conheço o poder de nossos ideais.’
Amparado pelo arsenal de compromissos do Partido Democrata que marcou a recente história política americana, Kerry trouxe de volta as figuras carismáticas de Kennedy, Carter e Clinton e algumas de suas afirmações mais contundentes. Mas no campo das evocações quem dominou a cena foi Franklin Delano Roosevelt, o presidente que tirou o país da recessão dos anos 30 e levou o país à véspera da vitória na 2.ª Guerra Mundial.
‘O futuro não pertence ao medo, pertence à liberdade.’ Roosevelt não foi apenas a fonte de uma linda tirada, mas o inspirador do arcabouço ideológico de um programa de governo radicalmente oposto ao de hoje. Seu New Deal, novo contrato, cerca de 150 anos depois, deu um sentido social à revolução americana e permeia as propostas enunciadas por Kerry.
São promessas eleitorais, mas indicam intenções, estão sujeitas aos trâmites administrativos e legislativos, mas no cenário crescentemente reacionário dos EUA há muito não se ouviam acusações tão sonoras às corporações, especialmente nos setores farmacêutico e petrolífero (este mencionado em associação com a família real saudita), os preferidos nos investimentos do clã presidencial. A ‘compaixão conservadora’ preconizada por Bush expulsou da agenda americana as discussões sobre programas de pensões e planos de saúde pública, condicionadas ao artifício do corte dos impostos como recurso único para ativar a economia.
Os ecologistas saíram de alma lavada ao ouvir a denúncia de Kerry contra a hegemonia dos combustíveis fósseis, assim também aqueles que gostariam de ver o engenho científico americano desatrelado dos dogmas religiosos que impedem as pesquisas na área genética. Sobretudo as vítimas de diabetes, Parkinson ou Alzheimer.
Aos fundamentalistas evangélicos que empurram os EUA para uma nova Idade Média, Kerry ofereceu a paráfrase de Abraham Lincoln: ‘Não pretendo proclamar que Deus está do nosso lado, rezo humildemente certo de que estamos do seu lado.’
Até agora, o candidato democrata vinha sendo empurrado pelo sentimento anti-Bush, pelo doloroso noticiário vindo do Iraque, pelos vexames das investigações sobre armas de destruição em massa e pelas revelações sobre os clamorosos erros de inteligência antes do 11/9.
Kerry já não é um ex-combatente do Vietnã, agora fala como futuro comandante-chefe. O senador que desmascarava a impostura agora se apresenta como pretendente à chefia de uma nação que respeita a Constituição. Isto faz uma enorme diferença. Até a convenção era uma intenção, agora é uma voz e uma determinação para tornar os EUA novamente respeitados no mundo. Diante do brutal primarismo que converteu os EUA no império da estultice, afinal aparece alguém suficientemente sofisticado para pedir atenção para as complexidades. Não fossem os outros antagonismos no plano pessoal, moral e político, só isso já converte John Kerry no perfeito antípoda de George W. Bush.’
Tim Rutten
‘Interesse público ou interesse do público?’, copyright O Estado de S. Paulo / Los Angeles Times, 1/08/04
‘O problema mais sério que a imprensa americana enfrenta hoje não é a terrível tendência política nem as tensões entre as novas e velhas tecnologias. Esses temas podem obcecar os analistas da mídia, mas sua importância perde força quando postos ao lado de uma questão maior:
a crescente incapacidade dos administradores das corporações de distinguir entre o interesse público – a fascinação com o entretenimento e a celebridade – e o interesse público – a deferência ao senso comum.
A situação na Convenção Nacional Democrata da semana passada em Boston é um exemplo do que esta falta de discernimento pode implicar para o futuro da grande imprensa. Claro que é difícil argumentar que qualquer evento em que 15 mil jornalistas compareceram tenha sido mal coberto. Mas um número cada vez maior desses jornalistas são empregados por jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão que estão nas mãos de um número cada vez menor de proprietários que esperam que elas funcionem antes de tudo como ‘unidades de negócios’.
Esse processo de aculturação está mais avançado nas três principais redes – ABC, de propriedade da Disney; CBS, que pertence à Viacom; e a NBC, da General Electric. Com quase 30 milhões de telespectadores, a audiência de todas elas é amplamente maior do que a de qualquer outro veículo e, ao contrário dos assinantes de emissoras a cabo, eles recebem a transmissão da programação gratuitamente.
Quanta cobertura da convenção elas forneceram?
Uma hora por noite – três das quatro noites.
Jim Lehrer, âncora da emissora pública, colocou a situação formalmente em um painel antes da convenção, em Harvard, no domingo passado. ‘Estamos prestes a eleger o presidente dos Estados Unidos no momento em que temos jovens morrendo em nosso nome no exterior’, disse ele. ‘Nós acabamos de receber um relatório da Comissão que investiga os ataques de 11 de Setembro dizendo que não estamos seguros, e um daqueles dois grupos de pessoas (democratas e republicanos) vai dirigir nosso país. O fato de que vocês, as três redes de televisão, decidem que não é suficientemente importante levar a cobertura ao ar no horário nobre, a mensagem que passam aos americanos é enorme.’
Esse também era o sentimento expresso pelos três âncoras das redes em uma série extraordinária de entrevistas para o jornal The New York Times.
Peter Jennings, da ABC, falou sobre a frustração com a transmissão truncada de sua emissora. ‘Isso está claro para o meu chefe, está claro para os meus colegas; penso que você encontrará a mesma coisa em todas as redações.
Poderíamos, deveríamos transmitir a convenção por mais de uma hora por noite no horário nobre? A resposta é sim.’
Dan Rather, da CBS, lembrou como começou a se opor aos cortes da rede há uma década, quando a administração começou a reduzir a cobertura das convenções.
‘Argumentei que as convenções eram parte de uma dança da democracia e que os rituais são importantes e elas permaneciam como um importante ritual’, disse ele. ‘Eu me vi cada vez mais como os moicanos (índios), forçado a recuar cada vez mais para dentro da selva e, eventualmente, ser eliminado.’
Tom Brokaw, da NBC, pediu mais tempo para seus supervisores e ouviu um não.
‘Para isso, Deus inventou a televisão a cabo’, disse ele. ‘As pessoas que quiserem ver uma cobertura mais completa da convenção têm onde ir.’
Esse tipo de consideração nem chegou a ser feita pelo chefe de Jennings na ABC News, o presidente David Westin, que não se preocupou em pedir mais tempo à sede em Burbank, Califórnia. ‘O que nós temos para apresentar (das convenções) não é algo que eu possa levar à Costa Oeste conscientemente e dizer: isso é algo que precisamos cobrir na rede de televisão.’
Nem quando há séries e, desculpem pela expressão, reality shows, para levar ao ar. Por que dar tudo quando você pode ter o pão para o seu circo?
O que nos leva de volta à enfadonha noção de interesse público. Ao contrário dos jornais, revistas e canais a cabo, as redes – e todas as estações locais de televisão – transmitem seus sinais através de ondas de propriedade do povo americano. Suas licenças, na verdade, exigem que elas operem em benefício do interesse público. Nos últimos anos, tímidos regulamentadores federais têm mais ou menos interpretado essa exigência como uma formalidade entediante. Mas ela permanece nos livros e desprezá-la por um flagrante modismo é, no mínimo, de mau gosto. Gosto, como nós sabemos, está muito presente na mente das redes hoje em dia, embora a consciência corporativa à qual Westin aludiu claramente não se estenda a questões de responsabilidade.
Tudo isso seria apenas triste se as forças que transformaram em ruínas fumegantes o que antes era um admirável trabalho jornalístico das redes não estivessem agora penetrando em toda a mídia de uma forma sutil – ou nem tanto.
Veja, por exemplo, a polêmica sobre a dispensa da colunista de direita Ann Coulter, do jornal USA Today, o maior do país, para cobertura da convenção democrata. Os editores pensaram que seria interessante pedir a Coulter que escrevesse sobre os democratas, e ao diretor Michael Moore para analisar a Convenção Nacional Republicana em Nova York.
Isso é selecionar o elenco, não editar. É uma extensão do pernicioso ethos dos talk shows das rádios, que confundem provocação com idéias e abuso com entretenimento. É uma ofensa aos padrões jornalísticos de equilíbrio porque pegar dois escritores previsíveis com desrespeito evidente pela verdade não é um debate, é uma luta de lama.
Os editores do USA Today poderiam realmente ter ficado surpresos quando a primeira coluna de Coulter começou assim: ‘Aqui na convenção dos herdeiros de Satã em Boston, os conservadores estão apresentando uma série de sinais encobertos para identificar um ao outro, como os homossexuais fazem. Meus aliados são aqueles usando cruzes ou bandeiras americanas. As pessoas de camisetas estampadas com a palavra ‘F…’ são minhas oponentes. Também, como sempre, as garotas bonitas e os policiais estão do meu lado, a maioria deles praticamente incapaz de esconder as olheiras.’
O editor da página de editoriais do USA Today disse aos leitores que a coluna de Coulter continha ‘falhas básicas de clareza e compreensão que achamos inaceitáveis’.
Na verdade, Coulter parecia bem clara, o que provavelmente a levou dizer que a decisão do jornal, ‘gera a intrigante pergunta do por que eles me contrataram para escrever para eles’.
No final, não é uma pergunta muito intrigante porque a resposta é a mesma quando se pergunta por que três redes de televisão trocaram a verdadeira cobertura da política nacional pelos reality shows. Isso é o que acontece quando jornalistas de todo tipo esquecem sua obrigação para com o interesse público e permitem tornarem-se meros agentes da cobiça.
Helena Celestino
‘‘Não acho que a eleição será justa’’, copyright O Globo, 1/08/04
‘O escritor e jornalista americano Greg Palast é tão iconoclasta quanto Michael Moore. Não é à toa que na capa do seu livro ‘A melhor democracia que o dinheiro pode comprar’ está impresso também um elogio do documentarista. ‘Corajoso documento’, comentou Moore, referindo-se às espantosas denúncias de fraudes nas eleições presidenciais de 2000 dos Estados Unidos. No livro, um best-seller nos Estados Unidos e recentemente lançado no Brasil pela editora W11 (sob o selo Francis), Palast afirma que um milhão de votos não foram computados, a maioria deles de negros que teriam votado de forma maciça no candidato democrata Al Gore – o presidente George W. Bush ganhou por 537 votos de diferença. Segundo ele, não se trata de uma história congelada no passado. ‘George e Jeb Bush estão inquestionavelmente planejando fraudar a votação outra vez’, diz. Maldito na imprensa do seu país, Palast trabalha para a mídia do Reino Unido, a BBC e o jornal ‘The Guardian’. Mora em Long Island, viaja o país todo e tem agenda de estrela cada vez que está em seu escritório em Manhattan: gravação de programas de televisão, palestras em seminários, entrevistas. No mesmo estilo de Moore, o seu companheiro de viagem mais famoso, ele divide opiniões: é amado ou odiado, colocado no time dos três melhores repórteres dos Estados Unidos ou considerado um grande mentiroso. Esta semana estará na Flórida para comprovar os indícios de que poderá haver fraudes nas eleições presidenciais de novembro.
O senhor denunciou fraudes ocorridas na Flórida durante as eleições presidenciais de 2000. Acha que este ano a eleição será mais correta?
GREG PALAST: Não. Vou à Flórida esta semana para investigar denúncias de fraude e semana passada depus na Comissão de Direitos Civis sobre este assunto. A eleição de 2000 foi um treino da família Bush, que passou incólume, e agora controla a máquina toda: dos juízes até as pessoas que fazem as listas de votação e a máquina que conta os votos. George e Jeb Bush estão inquestionavelmente planejando fraudar a votação outra vez. É esta a informação que temos e já conseguimos encontrar alguns indícios. De novo, estão tentando remover milhares de americanos das listas eleitorais, quase todos democratas.
Que indícios o senhor já tem de que eles estão se preparando para fraudar a eleição?
PALAST: Se a eleição ficar apertada vai ser roubada, não tenho dúvidas. Estou procurando as provas agora. Estão, mais uma vez, tentando remover 46 mil eleitores das listas da Flórida. Sabemos que esta lista é falsa. Sabemos que estão usando computadores com problemas nas áreas com grande concentração de negros. Já conhecemos alguns truques, são muito sérios. Não sabemos tudo ainda, mas não acho que vamos ter uma eleição justa. O candidato a vice John Edwards anunciou que vai montar uma rede de advogados para controlar a eleição. Isso não pode ajudar a acabar com as fraudes?
PALAST: Muito pouco. Conversei com Edwards, alertei-o. Por isso, Kerry está declarando que um milhão de votos de negros sumiram nos EUA. A questão racial é importante, os negros representam 13% dos votos e votam de forma maciça nos democratas. Por isso, ao não contarem os votos dos negros, estão dando uma grande ajuda à eleição de republicanos. Um documento do governo mostrou que um milhão de negros perderam seus votos na última eleição. Isto é um número enorme numa eleição apertada. Acho que a mesma quantidade de votos será perdida nesta eleição. Mesmo Kerry tentando se defender, haverá um roubo de votos nunca visto.
Quer dizer que não tem jeito, haverá fraudes…
PALAST: Sim. A questão é saber quão apertada será a eleição e se a fraude mudará o resultado. Acho que vai ser apertada no colégio eleitoral. No voto popular, Kerry vai ganhar com uma margem grande. Mas ele tem uma grande chance de perder por causa da fraude e por causa do nosso estranho sistema de colégio eleitoral, de voto por estado em oposição ao voto popular. Kerry vai ganhar os grandes estados como Califórnia, Nova York, Massachusetts, mas mesmo assim pode perder a eleição.
No livro, o senhor cita o caso de Willie Steen, um negro que foi arbitrariamente impedido de votar, provou que tinha sido retirado da lista de votação erroneamente, mas mesmo assim ainda não recuperou o direito de votar. Isso aconteceu com muita gente?
PALAST: Aconteceu o mesmo com 50 mil negros na Flórida. Não estou chutando, conheço os números. A Flórida é um problema dos mais sérios, a eleição vai depender de novo dela.
Quem vai fazer as listas dos eleitores desta vez? A Choice Point, a mesma empresa que o senhor acusa de fraude na eleição passada?
PALAST: Não, a Choice Point agora está na guerra contra o terror. Eles estão usando seus computadores para espionar os americanos, foram contratados pelo governo para fazer isso. Agora é a Arthur Andersen que está envolvida na exclusão de eleitores. Os brasileiros conhecem a Arthur Andersen porque eles defendem as falcatruas das companhias de eletricidade americanas. Têm uma atuação internacional, foram também os consultores da Enron. Nenhuma pessoa razoável confiaria nossa democracia a eles.
Por que ninguém foi preso por fraudar a votação?
PALAST: A Comissão de Direitos Civis dos EUA recomendou dia 16 de julho que uma ação fosse tomada depois que lhes mostrei as evidências de fraudes. Trata-se de uma agência governamental que mandou o governo fazer uma investigação. O problema é que o pedido de investigação foi para o secretário de Justiça, John Ashcroft, a pessoa que dirigiu o carro no roubo das eleições. Ele é parte do clube, ele mesmo precisaria ser investigado. Acho que muitas pessoas ficariam horrorizadas com este círculo que impede qualquer investigação. Bush teria de investigar seu próprio irmão, não acho que isso vai acontecer.
Por que os democratas não fazem um escândalo?
PALAST: Kerry está começando a acordar para isso, para a perda de votos. Mas é muito difícil fazer o partido agir, existem muitas resistências.
Diante disso, o senhor acha que Bush vai vencer?
PALAST: Não, tenho dúvidas porque os americanos estão cansados. Apesar da propaganda de Bush nas TVs e rádios, as pessoas estão se sentindo desconfortáveis com este governo. O povo está preocupado porque Bush está destruindo a economia e, apesar do que dizem as pesquisas, não acreditam que ele vai evitar as ações terroristas contra os EUA. As pessoas estão desconfortáveis com a guerra no Iraque, que não nos fez mais seguros. Acho que Bush está com sérios problemas. Vão manipular as listas de votos, as máquinas de contar, a lei e os tribunais, como fizeram da última vez. Vão estar em melhor posição para fazer isso, mas mesmo assim talvez não ganhem as eleições. A questão é saber a reação das pessoas, se até novembro eles estarão irritados o suficiente para mandá-lo embora. Existe uma grande chance de isso acontecer.
O senhor tem uma visão muito crítica da imprensa americana. Qual a sua opinião sobre a cobertura que estão fazendo das eleições?
PALAST: Está um pouquinho melhor do que da última vez, o que quer dizer que continua muito ruim. Pela primeira vez, a imprensa citou, semana passada, a exclusão dos negros da lista de eleitores. O ‘New York Times’, na última semana, disse que a Flórida parou com este ato ilegal. Não é verdade, não checaram a informação, os repórteres americanos não são mais investigativos, aceitam as versões oficiais. O melhor momento da imprensa americana foi no fim da Guerra do Vietnã e nas investigações sobre Nixon, mas foi há 30 anos que essas coisas ocorreram. Vivemos um longo período em que os grandes conglomerados comerciais passaram a tomar conta das redes de jornal e televisão. O ‘New York Times’, por exemplo, tem um papel importante nos EUA, mas é um papel negativo, o de dar apoio ao oficialismo. É um jornal mais favorável aos democratas do que os republicanos, mas é um jornal oficialista.’
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‘As denúncias de Greg Palast’, copyright O Globo, 1/08/04
‘EX-PRESIDIÁRIOS NÃO VOTAM: A lei da Flórida proíbe ex-presidiários de votarem. São cerca de 600 mil, na grande maioria negros. Mas a Flórida impediu de votar também os que cometerem apenas delitos e os que cometeram crimes em outros estados, medidas consideradas ilegais pela Justiça dos Estados Unidos.
ERROS NAS LISTAS: O governador Jeb Bush entregou à empresa Check Point a tarefa de refazer as listas eleitorais – retirando delas os criminosos, os mortos, os que se mudaram etc. O trabalho seria feito por computador e depois checado manualmente, mas a segunda checagem não foi feita e, com isso, milhares não puderam votar por terem sido erroneamente excluídos da lista. A própria empresa diz que os erros chegaram a 20% e a maioria dos impedidos de votar também era composta por negros.
DISPOSITIVO COM FALHAS: A votação na Flórida era feita em máquinas com um dispositivo que alertava o eleitor em caso de erros. Em bairros de maioria negra, esses dispositivos não foram ativados e milhares de votos não foram contados.’
O Estado de S. Paulo
‘O perigo da foto do ‘astronauta’ Kerry’, copyright O Estado de S. Paulo, 29/07/04
‘Há uma norma em política, quase tão antiga quanto essa própria profissão, que adverte: um candidato a cargo eletivo jamais se deve deixar fotografar vestindo roupas ou chapéus extravagantes.
Aparentemente, o senador John Kerry, candidato democrata às eleições presidenciais de novembro, esqueceu-se dessa regra na segunda-feira num giro que fez ao Centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral, na Flórida.
Kerry estava acompanhado nessa visita por ex-astronautas – os senadores Bill Nelson, democrata pela Flórida, e o ex-senador John Glenn, também um democrata, de Ohio.
O senador Kerry vestiu um macacão aquático de segurança completo, incluindo um capuz, para entrar num ônibus espacial da Nasa. Várias fotos foram feitas por fotógrafos da agência espacial para documentar a visita ilustre. E algumas delas acabaram sendo divulgadas pela Nasa.
A reação da mídia foi instantânea. O New York Post referiu-se em manchete ao que classificou de ‘estragos de uma foto ridícula de Kerry como homem espacial’, na qual ele parece o espermatozóide do filme de Woody Allen Tudo que você sempre quis saber sobre sexo (mas tinha vergonha de perguntar).
Já o Boston Herald referiu-se ao episódio com o título: ‘Boston, temos um problema…’ – numa referência ao famoso bordão do drama sofrido pelos astronautas da nave lunar Apollo 13.
Na terça-feira, fotos do senador Kerry foram postas ao lado de uma de Michael Dukakis, tirada em 1988 no interior de tanque de guerra, com o seguinte título: ‘Da Terra, para Kerry’. Essa montagem fotográfica circulou pela Internet.
Na época da foto, Dukakis era o candidato democrata à presidência e foi comparado a um garoto brincando de soldado. A foto infeliz o teria feito despencar 17 pontos nas pesquisas eleitorais.
Fontes democratas responsabilizaram ontem os republicanos pela exploração do episódio em Cabo Canaveral, acusando-os de ‘truque sujo’.
Quando solicitado a dar uma opinião sobre as fotos do candidato democrata, Ed Gillespie, chefe do comitê nacional do Partido Republicano, exclamou: ‘Eu estava pensando exatamente nisso, foi uma foto magnífica!’ (Newsday)’