‘Você vai se sentir como se estivesse no programa da Xuxa, mas algo está mudado. Olhará ao redor e não encontrará nem rainha nem paquitas louras. Em seu lugar está a roliça Preta Gil, 29, rodeada de quatro ‘pretetes’ negras vestidas em estilo hip hop.
O programa, ‘Caixa Preta’, é supervisionado pela mesma Marlene Mattos de 20 anos atrás. Estréia neste sábado, às 23h, sem patrocínio público ou privado, segundo a TV Bandeirantes. Na gravação a que a Folha assistiu, quinta, estiveram no palco a cantora Luciana Mello com quatro bailarinos e a funkeira Tati Quebra-Barraco (do bordão ‘sou feia, mas estou na moda’) -todos negros.
Logo na introdução, a apresentadora-cantora-atriz-darlene-filha do ministro da Cultura já provocava: ‘Todo o poder para o povo preto!’. Na trilha sonora de frente e de fundo, iam se misturando Beyoncé, Preta, funks cariocas, axé, Luciana Mello (com blusa verde-amarela com a inscrição ‘Jamaica’) -todos negros.
Preta explica a opção, oscilando entre o não e o sim: ‘Isso não é proposital. As ‘pretetes’, sim, são. Tive vontade de chamar meninas negras para que a gente pudesse colorir a TV brasileira. É uma conquista, que veio desde meu pai e eu herdei. Sou a primeira preta a ter um programa na TV, seja aberta, fechada, quadrada. Vou tirar onda, sim, não vou?’.
Marlene Mattos, gordinha e mulata como sua nova pupila, despista o que mudou do Brasil de Xuxa ao Brasil de Preta: ‘Eu nunca fui loira. Sempre dei, no programa de uma loira, oportunidades para todas as cores’.
Para demarcar diferenças, ressalta que Xuxa era do dia e Preta é da noite. Sua vigilância é pesada, e já foi assimilada por Preta, notória personagem irônica e auto-irônica: ‘Tento não me censurar tanto para não me travar, mas também não me liberar muito para não escrachar e a Band ter que tirar meu programa do ar. Estou numa emissora familiar.’
Marlene aprofunda definições: ‘Preta entrará na casa das pessoas. É preciso respeitar as pessoas. Preciso administrar seu sucesso, que é coisa difícil, perigosa. Potencial e talento ela tem, mas tem que chegar a hora em que não precise ter babá’. Babá? Marlene gosta de ser babá? ‘De gente talentosa eu adoro. Eu odeio ser babá de burro, aliás não sou.’
Bebê? Preta gosta de ser bebê? Ainda é caso de ver para crer. No palco, usa boa dose de espontaneidade e auto-ironia (‘Preta burra!’, repete quando erra), mas soma-a a certo deslumbre e a um ego em compasso de inflação.
Ao topar com Tati, não consegue estabelecer um diálogo real. Traz sempre a conversa de volta para si própria, não consegue afetar curiosidade por seu duplo fermentado na Cidade de Deus. Como entrevistadora, fica mais Jô Soares, menos João Gordo.
Ficará insuportável, se ‘Caixa Preta’ fizer sucesso? ‘Já sou, né, meu bem? Já tenho uma popularidade bastante grande. Acho que sou uma pessoa interessante.’
Mas Preta é bebê, é? No programa gravado na quinta (que será exibido dia 7, quando completa 30 anos), ganha bolo de aniversário, recebe visitas do filho Francisco, 9, e dos irmãos José, 12, e Isabela, 16. O programa vira sala de casa, a molecada estoura balões.
‘Minha vida é uma festa’, diz nos bastidores. Brincando por perto, o filho intervém: ‘Essa é a frase da vida dela’. Isso cansa Francisco? ‘É claro. Não tem tempo para mim.’ ‘Ah, eu me esforço bastante, vai’, ela devolve. Adiante, brinca de repreender o filho: ‘Dá um tempo que estou dando entrevista. Ainda não chegou sua hora, Darlene’.
E pai Gilberto Gil, deve comparecer ao programa? Ela quer, já convidou. Lembra que ele recentemente voltou a tocar no assunto do peso da filha e de ela ter posado nua em capa de CD. ‘Sei que o padrão de estética do meu pai é um padrão de magreza. Ele fala para José, que já foi mais cheinho: ‘Você está comendo muita gordura!’. Não é comigo só, é com a família toda. Ele é a balança da gente, acho que é um trauma dele.’
Também gordinho, Francisco faz novo atalho. ‘A família toda é assim. Ben (outro filho de Gil) era gordo, virou magro. Nosso avô era gordo. Será que eu fique magro?’, pergunta, apontando seu popozão. ‘Aí, eu fiquei um pouco mais magra, você pode ficar’, responde mama Preta, apertada na calça justa de rainha dos altinhos.
De volta ao pai: ‘Ele disse à ‘Veja’ que eu não deveria usar de atividades extra-curriculares para divulgar meu trabalho como cantora. Mas até aí, como falei para o Caetano, ele também está usando de atividades extracurriculares para ser ministro da Cultura’.
Por falar em tio Caetano, ele e o apresentador Otávio Mesquita são os únicos não-negros a aparecer no programa desse dia. A Caetano, que surge gravado num telão, Preta pergunta se diz sempre a verdade. ‘Não costumo mentir’, ele responde, para depois completar: ‘Às vezes tem que mentir’. Fica denso o programa.
Com a presença de Mesquita, instala-se o caos. Preta pergunta se ele é ‘metrossexual’, insinua que isso pode ser apelido moderno para ‘bicha’. Luciana Mello explica que resolveu cultivar o visual black power, ‘meu cabelo’. Preta pergunta à Tati do que ela sentirá falta quando não estiver mais na moda. Alisada como a anfitriã, ela diz, às gargalhadas: ‘Do meu cabelo’. Mesquita opina que homem tem que se cuidar, que não pode ficar ‘gordo’. Transformado em tiroteio de preconceitos, fica fútil o programa.
Denso-fútil, termina o programa. Você se lembra de novo de Xuxa. E aquelas manhãs aguadas dos anos 80 pertencem mesmo a um passado distante.’
TELEFÔNICA vs. TVs
‘Telefônica barra ligações a números interativos da TV’, copyright O Globo, 29/07/04
‘A Telefônica está barrando ligações feitas por telespectadores de aparelhos fixos para números de celular utilizados por emissoras de TV na programação interativa.
A decisão provocou polêmica nas redes, e a Bandeirantes já cogita uma reação jurídica.
O Alô Band e o Portal de Voz do SBT foram lançados há um mês, e permitem que o usuário deixe recado para apresentadores, fale ao vivo no ar, participe de jogos ou de ‘chats’ (bate-papos) com outros espectadores. Na Gazeta, vai ao ar o ‘Swing com Syang’, e o ‘Happy Lyne’, produzidos pela One World Interactive (responsável pela tecnologia do Alô Band).
No início, houve ‘boom’ de participações. O número teve queda expressiva a partir do veto da Telefônica, já que telefones fixos de São Paulo, o principal mercado, não completam a ligação.
Essa prometia ser uma mina de ouro para as TVs, que podem fazer pesquisa com a audiência e agregar conteúdo aos programas às custas do telespectador. O custo é de ligação local para celular na Band e nas atrações da Gazeta. No SBT, de chamada de longa distância para celular mais impostos.
A Band enviou carta à Telefônica e deverá ter uma reunião na operadora nesta semana. A emissora planeja entrar na Justiça se não houver acordo. Acredita que a Telefônica tema a concorrência, já que a maior parte do lucro das ligações vai para as operadoras de celular, empresas criadoras do sistema de interatividade e TVs.
A Telefônica nega. Afirma que o veto segue sentença judicial e determinação da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Em 2003, segundo a companhia, uma sentença da 4º Vara da Justiça Federal proibiu a Telefônica de cobrar por chamadas do 0900 (que ia de sorteios a tele-sexo). A decisão, diz a Telefônica, inclui serviços semelhantes independentemente do número utilizado.
A operadora afirma ter recebido da Anatel um ofício, em março, determinando a não realização dessas conexões. Para o programa ‘Fama’, da Globo, a Telefônica fornece o 0300, em que o telespectador paga para escolher um candidato. Sobre isso, declara que há uma ação judicial específica para o 0300, ainda não concluída.
OUTRO CANAL
Geladas
Não é à toa que o ‘NãNãNãNã’ grudou. Segundo o Controle da Concorrência (que monitora a publicidade na TV), a campanha da Brahma teve 341 exibições desde a estréia, em 18/6. Já a da Schin Praia foi veiculada 178 vezes desde 23/6. Do ‘NãNãNãNã’, foram 39 ações de merchandising contra 24 da Schin.
Fanático
O Multishow coloca hoje em seu site (www.multishow.com.br) um ‘quiz’ (perguntas e respostas) e um fórum de discussões para fãs de ‘Sex and the City’. Antes do último capítulo, em 23 de agosto, o canal exibirá um especial com bastidores do seriado.’