Muito interessante o histórico feito [‘Mídia ignora o contexto histórico’, de Celio Levyman, ver remissão abaixo], e acrescentaria o fato de que nos EUA os grandes investimentos em pesquisa e saúde são essencialmente públicos, federais, estaduais ou dos condados. Assim, os Institutos Nacionais de Saúde (NIH), além dos VA (Hospitais para Veteranos), instituídos para atender aos vitimados em guerras formalmente declaradas, são grandes formuladores de políticas e pesquisas na área da saúde. Esses fatos não impedem a concessão dos famosos ‘grant’ para pesquisa oriundos da iniciativa privada colocando, por vezes, o médico como dependente das indústrias farmacêuticas e de equipamentos médicos, bem como da ‘indústria’ das publicações científicas (‘publish or perish’).
Em nosso país o serviço público já teve o protagonismo das ações e ainda o tem em algumas ilhas de excelência; essa excelência era ditada pelo singelo fato de que a classe média usava os serviços públicos, quer para que seus filhos estudassem, quer como pacientes tratados no serviço público de saúde. Esse fato servia ao mesmo tempo como fiscalizador do funcionamento do sistema e estimulava que novas demandas tecnológicas fossem incorporadas ao público e não, como hoje em dia, ao setor de serviços privados.
A sociedade deve exigir dos governos o cumprimento dos preceitos constitucionais de investimentos contínuos e maciços na requalificação da escola e do sistema público de saúde. E aí deixemos ao sistema privado, tanto o de saúde quanto o de educação, claro, sob estrita vigilância do Estado, ‘brigar pelo mercado’ que tanto incensam como o grande ‘avanço da modernidade’, pois só o fazem por contarem com a explícita garantia do Estado para que seus lucros sejam sempre pornográficos e incessantemente crescentes.
Maximus Santiago, médico, Niterói
Nem cobrados nem devolvidos
Muito bom o exame da matéria com os aspectos históricos revestidos da tendência capitalista de fazer de cada fato mero aspecto do grande jogo do mercado. Também lamento a violência com que se destruíram os Institutos de Previdência para criação do INSS, entidade que passou a ter o segundo maior orçamento da nação e, por isso mesmo, constantemente saqueado toda vez que o governo preferisse aplicar recursos em outros processos, considerados por seus prepostos ‘de grande importância social’. Esses saques, feitos sem consulta aos interessados e contribuintes, jamais devolvidos, somados aos valores dos grandes devedores de prestígio, jamais cobrados, é que causaram o lamentável estado de penúria da instituição.
Pequeno reparo deve ser feito na afirmação de que o médico, porque empregado, perde sua condição de profissional liberal, pois o que determina essa condição não é a forma de pagamento pelos serviços, e sim o fato de o exercício ser livre de qualquer tutela, comando ou imposição, sendo o profissional responsável pelas decisões que toma ‘soberanamente’. O dono da empresa jamais poderá dizer ao médico como deve atender e medicar o seu cliente!
Que se analise o valor das dívidas oficiais e privadas e outras serão as conclusões, em favor do hoje aposentado, ontem contribuinte.
João Jesus de Salles Pupo, professor aposentado, Rio de Janeiro
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Mídia ignora o contexto histórico – Celio Levyman
Puxão de orelhas
Interessante a abordagem do Antônio Carlos [‘Mais um desserviço ao leitor’]. Um belo puxão de orelhas. E olha que ele é geógrafo, e não médico.
Luiz Carlos Santana, jornalista, Brasília