Michael Moore criou confusão no primeiro dia de Convenção Democrata. Após ser entrevistado pelo programa American Morning, da CNN, o aclamado diretor de Fahrenheit 9/11 se recusou a devolver à equipe da emissora a disputada credencial que dava acesso à pista principal do evento.
Segundo Lloyd Groves [The New York Daily News, 27/7/04], fontes confiáveis contaram que, com o fim da entrevista concedida ao âncora Bill Hemmer, Moore teria tido um ataque de grosseria quando um produtor da CNN solicitou a credencial emprestada a ele, e não a devolveu. Em vez disso, circulou pelo auditório dando entrevistas a outras emissoras de TV.
Uma organizadora da Convenção foi tentar resolver o problema e ouviu uma chuva de palavrões. Depois de meia hora de confusão, Moore voltou a falar com Hemmer e o confrontou, afirmando que o âncora teria sugerido que, enquanto algumas pessoas gostariam de ver o cineasta na Casa Branca, outras gostariam de vê-lo morto. Depois de muito barulho, ele finalmente devolveu a credencial. ‘Talvez tenha sido o seu fervor em salvar a democracia americana do sinistro controle das grandes corporações. Ou talvez, se você acredita na equipe da CNN, Michael Moore estava simplesmente sendo um imbecil’, diz Groves em seu artigo.
Moore x O’Reilly
Neste mesmo dia, Moore foi entrevistado pelo ultra-conservador apresentador do Fox News Bill O’Reilly. A entrevista gravada foi exibida sem cortes na terça-feira, 27/7. Segundo O’Reilly, o diretor só concordou em ir ao programa The O’Reilly Factor se a entrevista não fosse editada e se ele também pudesse fazer perguntas ao apresentador. Com tantas imposições, o clima prometia ser pesado, mas o debate, de acordo com Mark Memmott [USA Today, 28/7/04], foi ‘espirituoso’.
Por 12 minutos, cada um defendeu sua posição apaixonadamente, mas sem grosserias. O’Reilly disse a Moore que ele é o ‘maior defensor de Saddam Hussein na mídia’, e pressionou o cineasta a se desculpar com o presidente Bush por afirmar que ele teria mentido à nação. Já Moore questionou insistentemente se O’Reilly sacrificaria seu filho para ir lutar no Iraque. Na terceira tentativa, o apresentador disse que não poderia falar pelos outros, mas que se sacrificaria. Moore não perdeu a chance e começou a gritar, em tom de brincadeira, que O’Reilly deveria ser recrutado naquele momento.
‘Você adoraria se livrar de mim’, disse, sorrindo, o apresentador que, desde a estréia de Fahrenheit 9/11, tenta entrevistar Moore em seu programa. O cineasta já havia participado duas vezes do O’Reilly Factor, mas se recusava a comparecer novamente desde que O’Reilly começou a criticá-lo por causa de seu último filme – sobre a reação de Bush aos ataques terroristas de 2001 e as razões que teriam levado à guerra do Iraque.
Também na terça-feira, o Comitê Nacional Republicano distribuiu releases com o título ‘As questões de Moore sobre o coração e a alma da campanha do senador Kerry’. O objetivo era envergonhar a campanha democrata ao expor algumas das opiniões supostamente radicais e controversas de Moore. Em uma das questões, aparecia uma frase atribuída ao diretor sobre a guerra do Iraque: ‘Os iraquianos que se levantaram contra a ocupação não são ‘insurgentes’ ou ‘terroristas’ ou ‘O Inimigo’. Eles são a revolução. Seus números irão crescer – e eles irão vencer’.
Falem mal, mas falem de mim
Seja por suas aparições polêmicas ou por seus filmes e livros, Moore sempre consegue destaque quando o assunto é contra Bush. Em uma semana dedicada à campanha democrata e recheada de críticas ao presidente, lá estava ele. O cineasta foi lembrado nos programas de TV e na imprensa em geral. Seus críticos estavam prontos a atacar. Foi o caso de Scott Simon, que aborda Fahrenheit 9/11 e toda a obra de Moore em artigo no Wall Street Journal [27/7/04].
‘Um documentário não tem que ser necessariamente justo e equilibrado. Mas deve fazer um esforço para ser correto. Pode certamente ser opinativo. Mas não deveria nunca deturpar a verdade. Muitos dos filmes e livros de Michael Moore, que tanto entretêm seus fãs e tanto irrita seus críticos, parecem considerar os fatos apenas como estorvos para as histórias que ele quer contar’, dispara Simon, que diz que desde 1991, com o filme Roger e Eu, Moore utiliza os mesmos métodos – que de éticos não têm nada.
Segundo Simon, o documentarista ignora ou deturpa a verdade, prefere insinuações a fatos comprovados, edita seus trabalhos com licença poética em vez de exatidão, e retira notícias e entrevistas de seu contexto para fazer com que as pessoas digam o que ele quer.