Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Renato Cruz

‘Para alguns, parece que foi ontem. Para outros, que foi sempre assim. A internet comercial brasileira faz 10 anos e começa a engolir outros meios, como o telefone e a televisão. O chamado protocolo de internet (IP, na sigla em inglês) passa a servir de base para praticamente todo o tipo de serviço de comunicação.

Operadoras como a Telefônica e a Brasil Telecom preparam ofertas de TV via internet, para ser assistida não no computador, mas no próprio aparelho de TV. O provedor de internet iG lança esta semana telefonia pela internet. A TVA já oferece o serviço e a Net prepara-se para fazê-lo.

‘Aqui analisamos a viabilidade técnica’, afirma o diretor de Desenvolvimento de Negócios Residenciais da Telefônica, Maurício Fabbris, sobre a televisão via internet. ‘Na Espanha, as vendas já estão bem agressivas, em 10 cidades.’ Chamado Imagenio, o serviço espanhol oferece, entre outras coisas, o vídeo sob demanda. O cliente escolhe o filme, a qualquer hora, e recebe o sinal via linha telefônica. Ele pode paralisá-lo, ir e voltar como num DVD. Ou seja: adeus videolocadora.

Para Francisco Pinto, presidente no Brasil da Riverstone Networks, fabricante de equipamentos, as grandes operadoras brasileiras devem fornecer TV via internet já no ano que vem.

Há 10 anos, a internet era uma rede que usava a infra-estrutura de outros serviços, como a telefonia, para existir. Atualmente, torna-se mais e mais a principal infra-estrutura de comunicação, engolindo outras redes e permitindo que prestadoras de diferentes setores ofereçam todos os serviços, competindo entre si.

EXCLUSÃO

Em 1.º de maio de 1995, a Embratel lançou um projeto-piloto para oferecer acesso nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. No dia 31 daquele mês, uma nota conjunta dos ex-ministros Sérgio Motta (Comunicações) e José Vargas (Ciência e Tecnologia) tirou o acesso à internet das mãos das estatais de telefonia, criou o Comitê Gestor da Internet e abriu o mercado à iniciativa privada, o que permitiu um crescimento explosivo da rede mundial no País em seu início. Ela chegou até à aldeia indígena em Parelheiros.

Hoje, a internet brasileira enfrenta o desafio de crescer, atendendo à população de baixa renda. De acordo com o Ibope NetRatings, o acesso residencial diminuiu no último ano. Em março de 2004 eram 20,5 milhões de brasileiros com internet em casa. No mês passado, o número ficou em 17,9 milhões. O governo federal tem uma série de programas para ampliar o acesso mas, até agora, a maioria não saiu do papel.

‘As políticas públicas de tecnologia estão desarticuladas’, afirma o diretor-executivo da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Câmara-e.net), Cid Torquato. ‘O discurso do poder público acaba confundindo o mercado.’

O PC Conectado, que promete colocar no mercado computadores de baixo custo, financiados a juros baixos, era para ter saído em dezembro. Ficou para maio. O Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), que deve chegar ao fim do ano com R$ 4 bilhões, recolhendo parte do faturamento das operadoras, nunca foi usado. ‘Existe uma burocracia terrível que não deixa os projetos deslancharem’, diz o ex-ministro das Comunicações Juarez Quadros.

O projeto Casas Brasil, para a criação de telecentros gordos, com teatro, rádio comunitária e produção de vídeo, além dos computadores com internet, previa a instalação de mil pontos este ano. Por restrição do orçamento, a previsão caiu para 90. ‘Os telecentros são caros de implementar e manter’, afirma o diretor-executivo da Câmara-e.net. ‘No lugar de gastar uma fortuna, o governo poderia incentivar pequenos empresários para operar os centros públicos de internet como negócio, e não benemerência.’

Independentemente do modelo de negócios, a evolução da internet brasileira até agora mostra que os centros públicos, também chamados telecentros ou infocentros, são essenciais para ampliar o acesso dos brasileiros à tecnologia. Os sem internet no País estão próximos de 148 milhões. A queda no número de brasileiros com acesso residencial no último ano mostra que o mercado, por si só, não resolve.

CONHECIMENTO

Como perguntou certa vez o poeta americano T.S. Eliot: ‘Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento? Onde está o conhecimento que perdemos na informação?’. A inclusão digital – esta expressão de gosto duvidoso, que permite leitura de duplo sentido – não depende somente de máquinas para acessar a internet. Cada pessoa precisa estar preparada para fazer um bom uso do que está disponível na rede. E não se trata somente de conhecimento técnico.

‘Algumas pessoas são analfabetas digitais’, afirma Edson Luis dos Santos, de 22 anos, coordenador do Telecentro Jardim Copacabana, da Prefeitura de São Paulo, numa das regiões mais pobres da cidade. ‘Sabem mexer no computador, mas não conseguem achar as coisas na internet. Não conseguem baixar um livro, encontrar uma revista ou mandar um currículo. Não sabem que podem resolver coisas com um governo via internet, sem ter de ir a uma repartição.’

Santos é responsável por um centro com 18 computadores que recebe de 150 a 180 pessoas por dia e tem 2,5 mil cadastrados. A maioria sem condição de comprar computador.

Para os mais jovens, porém, não é preciso nenhum curso. Os irmãos Jonathan Lopes Bentes, de 12 anos, e Matheus, de 10 anos, vão todo dia ao telecentro, onde passam uma hora na frente do computador. Nunca estudaram informática. ‘Não foi difícil’, explica Jonathan. Os dois gostam de sites de bate-papo e jogos. Pode parecer fútil mas, quando precisaram fazer um trabalho escolar, não sentiram nenhuma dificuldade em usar o amigo eletrônico de todo dia.

Rafael Luiz de Souza, de 11 anos, também gosta de bate-papo e jogos. Mas não só. ‘Gosto muito de ler’, diz Rafael. E como isto se manifesta na hora de navegar? ‘Sites de Harry Potter’, apressa-se em dizer.’

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‘Todas as empresas tornaram-se pontocom ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 17/04/05

‘Além dos 10 anos da internet comercial no Brasil, existe outra data importante a ser lembrada: o estouro da bolha de tecnologia fez cinco anos este mês. Em 14 de abril de 2000, a bolsa eletrônica Nasdaq caiu 9,67%.

O mercado continuou para baixo e, até o fim daquele ano, 370 empresas americanas de internet, de capital aberto, perderam 75% do valor, o que representou mais de US$ 1 trilhão em capitalização que sumiram em um só ano.

Como muito do dinheiro que veio para as empresas de internet brasileiras era estrangeiro, o estouro também teve efeitos devastadores por aqui. Cinco anos depois, passadas a euforia e a depressão, os negócios da internet vivem um momento de normalidade, onde riscos e chances de sucesso são quase iguais às do mundo físico.

‘Hoje, a empresa que não faz negócios pela internet deixa de ser competitiva’, afirma Eduardo Nader, presidente do Mercado Eletrônico, especializado no comércio eletrônico entre empresas.

O Mercado Eletrônico – que tem como sócio o Citibank, GP Investimento e Opportunity, além dos fundadores – foi criado antes da internet comercial no Brasil, em junho de 1994. Apesar das dificuldades enfrentadas no período de 2000 e 2001, a empresa conseguiu manter-se no mercado e, de acordo com Nader, ficar no azul desde o começo do ano passado.

O que era chamado e-business tornou-se somente business. Aleksandar Mandic – pioneiro da internet brasileira e dono de uma empresa especializada em correio eletrônico que leva o seu sobrenome – concorda com esta visão: ‘Quando abre uma empresa, ninguém pergunta se vai ou não usar água ou eletricidade. O mesmo acontece com a internet. Se não tiver e-mail, não tem jogo.’ Para Mandic, a internet é uma das invenções que tiveram mais impacto no mundo. ‘Dividiu claramente uma era’, afirma. ‘Quase como o nascimento de Cristo.’

Em 31 de março, o Submarino, segundo maior varejista da internet, abriu seu capital, levantando R$ 472,9 milhões. Apesar de as ações não terem apresentado performance muito boa, acumulando 10% de queda desde a oferta pública, o fato de a empresa ter conseguido colocar papéis na Bolsa de Valores de São Paulo já pode ser tomado como um sinal de maturidade do mercado.

Para José Eduardo Ferreira, vice-presidente da WebMotors, especializada no mercado automotivo, o Submarino é exceção no panorama atual da internet brasileira. ‘Hoje não consigo ver espaço para empresas puramente pontocom, sem uma base de sucesso no mundo real’, afirma Ferreira.

Com 10 anos de existência, a WebMotors pertence há três anos ao Banco Real ABN Amro. A financeira da instituição tem uma força de vendas de 700 pessoas em todo o Brasil, que também vendem os serviços da WebMotors, como anúncios online.

O iG, pioneiro da internet gratuita no País, viu concorrentes como Super11, NetGratuita e Gratis1 saírem do mercado. Para sobreviver, teve de se adaptar. Começou a investir em serviços pagos, como o acesso rápido à internet e, em 2004, tirou a palavra grátis do nome, passando a chamar Internet Generation, apesar de continuar oferecendo acesso gratuito.

‘O iG conseguiu criar um modelo diferente, com uma estrutura pequena e bem flexível’, afirma Flávia Hecksher, gerente de Marketing do iG. ‘Enquanto outros provedores têm pacotes fechados de serviço, o iG oferece vários serviços.’ Como ocorreu com a WebMotors, o iG aliou-se a uma grande operação do mundo real: a empresa pertence à operadora Brasil Telecom.’

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‘‘A rede mundial vai se tornar onipresente’’, copyright O Estado de S. Paulo, 17/04/05

‘A internet deve desaparecer no futuro, prevê Demi Getschko, conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil e diretor de Tecnologia da Agência Estado. Alguma catástrofe à vista? Não. ‘Da mesma forma que não discutimos o que acontece com a energia elétrica, a internet vai se tornar onipresente e não precisará ser chamada com esse nome’, explicou Getschko. Ele sabe do que está falando. O engenheiro fez parte do grupo de especialistas que trouxe a rede mundial para o Brasil, com a primeira conexão da Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em janeiro de 1991. A velocidade, para todo o País, era de 4.800 bits por segundo (bps). Uma conexão discada hoje é 11 vezes mais rápida.

A seguir, trechos da entrevista.

COMEÇO

A gente sistematicamente fazia esforços para convencer o pessoal da Embratel a dar acesso a empresas e ao usuário. Em 1994, a Embratel adotou a idéia, e com ajuda do pessoal da Rede Nacional de Pesquisas (RNP), no Rio, eles montaram um servidor. Na verdade, sugerimos que fosse criada uma estrutura hierárquica, onde a Embratel seria o provedor que atenderia no atacado os provedores, que dariam acesso ao usuário final. Mas a Embratel começou dando acesso direto ao usuário final, queria virar uma espécie de America Online brasileira. Mas era muito limitado, a fila tinha 6 mil pessoas. Falamos, então, com o Sérgio Motta (ministro das Comunicações à época), que esse esquema iria matar iniciativas nascentes e congelar a internet brasileira em uma única empresa. E saiu daí uma resolução, que vedava ao Sistema Telebrás oferecer o acesso ao usuário final.

SITUAÇÃO

Eu me espantei de ver o Brasil mal colocado em um ranking de tecnologia da informação. O País tem uma posição bastante confortável em internet, temos o Imposto de Renda, o e-Ping, Intragov, várias iniciativas que permitem ao cidadão usar a rede para resolver suas necessidades. Temos muito conteúdo em português. Passou aquela fase em que o pessoal da rede tinha que falar inglês. O domínio brasileiro .br é muito bem sucedido. No Brasil nós temos 90% dos registros em .br e 10% em .com.

DESAFIOS

Os problemas da rede não são exclusivos do Brasil, que talvez tenha alguma característica específica por ser muito criativo e ter um pessoal muito bom em software. Os problemas principais são fraudes, ataques e spam, que estão ficando muito criativos. Como o ataque à Receita Federal. O sujeito acabou de enviar a declaração e recebe um e-mail dizendo que ela tem problema. São pontos ruins. Mas quem não quiser se expor tem de ficar em casa, trancado, desligado do mundo.

CRESCIMENTO

Teremos problemas com o crescimento adicional, porque não existe estrutura para levar o ADSL (tecnologia usada em serviços como o Speedy, da Telefônica) para regiões mais amplas que as áreas metropolitanas. E também porque vai esbarrar no problema do equipamento. Tem essa história do PC Conectado e outros programas para trazer computador para o usuário. Na verdade, uma hora vamos bater no teto não pelo número de brasileiros ligados à rede, mas pelo número de brasileiros que têm computador. Mesmo usando em escolas, telecentros e infocentros, o ponto básico é que, enquanto não tiver o computador em casa, a interação com a rede é totalmente diferente. Quando se usa o equipamento ligado o tempo todo, como é o caso de um ADSL, é diferente de quando é preciso fazer a conta dos pulsos, para saber se a conta não vai estourar no fim do mês.

FUTURO

A internet deve desaparecer no futuro. Digo isso no sentido que não vamos usar a palavra internet. As pessoas vão se conectar de alguma forma como parte do dia-a-dia. Da mesma forma como não discutimos o que acontece com a energia elétrica, a internet se tornará onipresente e não precisará ser chamada pelo nome. Vamos ficar preocupados com vídeo sob demanda, telefonia. Há tecnologias, como o Bluetooth (rede local sem fio), que permitem integrar tudo sem ver a infra-estrutura.

Vamos nos livrar um pouco de fios, vamos aumentar o poder de cada periférico. Não acredito em uma grande aglutinação de serviços. Ao invés de tudo vir pelo meu celular, o celular passa a se comunicar com a agenda, com o micro. Provavelmente haverá uma rede pessoal.’



Daniel Hessel Teich

‘A geração que nasceu para navegar’, copyright O Estado de S. Paulo, 17/04/05

‘Até pouco tempo atrás, pedagogos, educadores e mesmo especialistas em marketing discutiam os impactos da televisão na formação de jovens e adolescentes. Com a popularização da internet, esse tipo de polêmica virou um assunto irremediavelmente velho. Hoje, os adultos que a duras penas aprenderam a dominar um mouse tentam entender como funciona a cabeça de uma geração que nunca viu o mundo sem computador. É uma multidão de crianças e jovens com idade entre 2 e 20 anos, que nasceu cercada pela mídia digital e foi batizada pelo consultor americano Don Tapscott como Geração Net.

‘Para eles, a tecnologia digital é tão simples quanto uma torradeira elétrica’, escreveu Tapscott em seu livro Geração Digital. ‘Pela primeira vez na história, as crianças estão mais confortáveis e são mais instruídas que os pais numa inovação tão importante para a sociedade.’

Segundo estudos da Microsoft, maior fabricante de software do mundo, uma criança que nasceu junto com a internet no Brasil, há 10 anos, já é capaz de fazer downloads de música, usar e-mail, brincar com jogos online, montar páginas pessoais (blogs) e passear por sites de fãs-clubes de celebridades. Nesta idade já dominam também programas que lhes permitem ‘conversar’ e trocar todo tipo de informação com amigos, nas chamadas mensagens instantâneas.

‘Meu pai às vezes me pergunta como é que eu consigo ficar ligada no computador e ao mesmo tempo ouvir música, ver televisão e até dar uma olhada num livro ou revista. Mas isso é uma coisa normal para mim’, conta Bruna Simas Pedreiro, 10 anos. Ela não só usa a internet para pesquisar, fazer tarefa escolar e brincar como também aproveita as horas diante do computador para ensinar os primeiros macetes para o irmão caçula, de 4 anos. ‘Ele fica ao meu lado e a gente navega junto’, conta.

Segundo um levantamento do Instituto Ipsos Brasil, especializado em pesquisas de opinião, 53% das crianças com idade entre 10 e 12 anos das classes A e B acessaram pelo menos uma vez a internet nos últimos 30 dias. Na classes C, D e E esse número é inferior, de 14%, o que revela o caráter elitista que a rede ainda tem no País. De qualquer forma, a média de uso da internet para esta faixa etária, de 26%, já é superior à da população como um todo, que fica em 25%.

Crianças de 10 anos que usam internet são particularmente fascinadas por duas coisas: mensagens instantâneas e jogos online. Em ambos os casos comprova-se que o computador de fato está a anos-luz da velha televisão. ‘É muito mais legal. A gente não fica só ali, parado. Dá para conversar e brincar com os outros’, diz Lucas Pereira, colega de classe de Bruna. Fã do MSN Messenger, sistema de mensagens instantâneas da Microsoft, Lucas fica de duas a três horas por dia em frente à máquina.

Entre os jogos online, em que brinca com outros garotos, gosta do Mu e do Diablo, que simulam batalhas medievais. São violentos? ‘Não. Não tem sangue. Meu pai não deixa eu jogar Counter Strike, por exemplo, que tem muito tiro e morte’, diz ele, a respeito do game recheado de terroristas perseguidos por forças de combate inimigas.

Os programas de mensagens instantâneas tornaram-se populares por seus emoticons (figurinhas que expressam emoções), winks (figuras animadas) e abreviações – que transformam os textos em mensagens cifradas para os não iniciados. ‘ Pl é pega leve, blz é beleza, msm é mesmo, pf é por favor, e por aí vai’, explica Carolina Adas Haddad, que é apaixonada pelo MSN Messenger e também ‘cria’ três bichinhos virtuais num site de internet, os chamados neopets. ‘Tenho de entrar no site todo dia senão eles choram ou ficam zangados’, diz ela.

Com tamanha diversidade de informação, as escolas têm de correr atrás do prejuízo. ‘Mudamos as aulas de informática baseadas em programas educativos prontos e partimos diretamente para pesquisas na internet, onde as crianças buscam elas mesmas o material que precisam para as tarefas’, diz Veronice Leal Rocha, professora da 4.ª série do Colégio Santa Maria, zona sul de São Paulo, onde estudam Bruna, Lucas e Carolina. ‘Só tomamos um certo cuidado para manter o foco e fazer com que eles consultem sites confiáveis.’

Na sexta-feira passada, durante a aula de informática, os alunos de Veronice pesquisaram na internet um assunto com o nome enigmático de bullying, que pode ser traduzido como aquela brincadeira de mau gosto em que um grupo de crianças se junta para fazer chacotas e ridicularizar um colega. Aparentemente inocente, a brincadeira pode ter conseqüências dramáticas como suicídios ou tragédias como a de Columbine, nos Estados Unidos, em que estudantes marginalizados pelo grupo executaram um massacre numa escola.

A internet, com o anonimato e a velocidade de propagação de informações, é o ambiente perfeito para esse tipo de gozação, chamado de cyberbullying. Também oferece chance para outros tipos de atitudes nefastas, como visitas a sites pornôs, racistas e de violência explícita. Se as crianças de hoje são privilegiadas por terem um volume de informação e diversão nunca antes imaginado, pais e professores ganharam uma preocupação a mais. Da mesma forma que a internet é democrática e rica, é uma porta aberta para riscos. ‘Precisamos estar cada vez mais atentos’, diz a professora Veronice.’



Pedro Dias Leite

‘Americanos já alugam DVDs pela internet’, copyright Folha de S. Paulo, 17/04/05

‘Talvez os norte-americanos tenham cansado do ‘boa noite’ automatizado do atendente da locadora. Talvez seja só mais uma bolha ‘pontocom’. Mas o fato é que o aluguel de DVDs pelo correio, em que o cliente escolhe o filme pelo site na internet, ganhou tanto espaço nos EUA que levou até a gigante Blockbuster a entrar na disputa, para não ficar para trás no mercado.

No aluguel de DVDs pela internet, os filmes sempre estão disponíveis, não há filas e o cliente pode ficar quanto tempo quiser com o disco, sem multas por atraso na devolução. Ir à locadora na chuva no domingo à noite é coisa do passado.

No final do mês passado, o maior serviço de entrega de DVDs pelo correio dos EUA, o Netflix, atingiu a marca de 3 milhões de assinantes. O plano, segundo informou a empresa à Folha, é chegar a 4 milhões até o final deste ano.

A Blockbuster, que lançou o serviço de entrega pela internet há apenas oito meses, já tem 750 mil assinantes e vai investir US$ 120 milhões neste ano só na expansão do aluguel on-line de DVDs, conforme informou aos investidores.

‘Com base no sucesso nessa área, estamos acelerando nossos investimentos na Blockbuster on-line, com o objetivo de chegar a mais de 2 milhões de assinantes até o primeiro quadrimestre de 2006’, disse o CEO da empresa, John Antioco.

Outra competidora de peso -a Wal-Mart- também lançou o serviço há pouco tempo.

Funcionamento

O esquema é simples: o cliente faz na internet uma lista dos filmes que quer assistir e começa a receber pelo correio, na ordem em que colocou. Depois de assistir ao DVD, devolve pelo correio (o envelope vem junto com o filme). Um ou dois dias depois, chegam os próximos da lista. Não há limite de filmes por mês nem prazo de entrega, e o preço é fixo.

No Netflix, o plano em que o cliente pode ficar com três DVDs ao mesmo tempo custa US$ 18 por mês (cerca de R$ 50). Depois de assistir aos filmes, vai devolvendo pelo correio e recebe os próximos da lista. Não é preciso devolver os três ao mesmo tempo. A cada um que é devolvido, outro é recebido em seguida.

Na Blockbuster, o mesmo plano sai por US$ 15 (em torno de R$ 40). Mas há outros planos. Para quem deixa o sofá com o formato do próprio corpo de tanto ver filmes, o Netflix tem um plano de US$ 48 mensais (R$ 130) para oito DVDs ao mesmo tempo. O menor plano é de dois discos. Normalmente, demora de um a dois dias, no máximo três, para que o novo disco chegue.

A oferta é maior que a de qualquer locadora de vídeo. O Netflix tem 40 mil títulos, e a Blockbuster, 30 mil. Um repórter do ‘The New York Times’ disse que recebeu, pelo Netflix, ‘Os Incríveis’ pelo correio no mesmo dia do lançamento.

Logística

A logística do negócio é complicada. Para fazer esse serviço, o Netflix tem mais de 30 centros de distribuição. A Blockbuster tem 23, planeja abrir mais sete até junho e tem um plano audacioso até o final do ano: quer transformar as suas mais de 4.500 lojas nos EUA em centros de distribuição. O Wal-Mart conta com 14.

Um dos temas que devem intrigar os consumidores brasileiros é quase banal nos EUA. DVDs extraviados no correio ou riscados não são um problema. O cliente simplesmente comunica a loja, que manda um disco novo. Só há investigações, obviamente, se o ‘extravio’ se tornar freqüente.

Competição

A crescente competição está levando as empresas a inovar nesse mercado. O Netflix lançou um plano familiar, em que cada um tem sua própria lista de filmes em uma única conta, por exemplo.

‘Nosso serviço é melhor e isso aparece no grau de satisfação de nossos clientes, em que 95% recomendariam a um amigo’, cutucou a empresa em resposta à Folha, sobre a competição com a nova e poderosa rival.

A Blockbuster planeja usar todo o seu peso -é a maior empresa do mundo nessa área e tem mais de 8.900 lojas espalhadas pelo mundo- para conseguir lançamentos exclusivos em breve, um trunfo poderoso.

Como disse a revisa inglesa ‘The Economist’ na semana passada, ‘graças à internet, o consumidor está finalmente conquistando o poder’.

Apesar de ter anunciado lucro no último ano, a Blockbuster já teve dias melhores em anos anteriores. No final do mês passado, a companhia foi condenada devido a uma propaganda pouco clara sobre multas de pagamentos atrasados.

O comercial dizia ‘No late fee’ (sem extras por atrasos), mas isso valia só para uma semana. Depois, o cliente ‘comprava’ compulsoriamente a fita. As ações da empresa na Bolsa de Nova York, que custavam perto de US$ 30 há três anos, hoje estão a US$ 10.

Os aluguéis representam 67% dos lucros da empresa norte-americana. No quarto trimestre do ano passado, os valores chegaram a US$ 1,15 bilhão -idêntico faturamento registrado no mesmo período de 2003. Já as vendas de fitas, jogos e outros produtos cresceram 23% e chegaram a US$ 545,5 milhões.

Brasil fora da rota

O Netflix informou que ainda não tem planos para o Brasil, porque planeja consolidar sua liderança nos Estados Unidos. A Blockbuster não respondeu a um pedido de entrevista.’



INCLUSÃO DIGITAL
Sandra Hahn

‘Inclusão digital já começou no varejo, diz Intel’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/04/05

‘A fabricante de processadores Intel acredita no êxito do programa do governo que pretende facilitar o acesso a computadores pessoais, batizado de PC Conectado, e já vê movimentos no varejo para tentar acompanhar a expectativa de preço dos equipamentos que serão vendidos com incentivo. ‘Por antecipação, estamos vivendo um processo de inclusão digital’, disse ontem o diretor-geral da Intel no Brasil, Oscar Clarke, numa referência às ofertas que redes de varejo estão realizando com preços próximos aos R$ 1,4 mil esperados para os computadores que farão parte do programa.

O anúncio da Intel nesta semana de que irá instalar um centro de desenvolvimento de produtos no Brasil incorpora as expectativas da empresa de popularização do computador no País. O vice-presidente mundial da companhia, Willy Agastein, afirmou que o centro trabalhará para atender a todas as classes sociais, mas o primeiro foco de produto será nos consumidores das faixas C, D e E. ‘O principal é entender o mercado local e desenhar produtos que são únicos para o Brasil e a América Latina’, disse. A Intel não divulgou o investimento no centro, que começará a operar com dez funcionários.

‘Depois do Brasil, vamos olhar o México e outros países da América Central’, comentou o executivo, que participou em Porto Alegre (RS) do lançamento do computador Focus Digital Home. O equipamento, fabricado pela empresa gaúcha Compujob, é equipado com processador Intel 4 HT de 3.2 GHz.

Clarke disse que a Intel não desenvolveu um processador específico para o programa PC Conectado. Questionado sobre as estratégias de outros fabricantes de oferecer produtos mais acessíveis, Agastein disse que a companhia não faz comentários sobre os concorrentes, mas olha muitos produtos ao redor do mundo. ‘E o que percebemos é que as pessoas querem computadores com funcionalidade total.’

Clarke lembrou que o governo está definindo uma especificação técnica mínima dos computadores do programa, que terão 27 aplicativos em software livre. Ao comentar os entraves para a queda de preços dos equipamentos, Clarke disse que o esforço da indústria e dos segmentos envolvidos já produziu o resultado esperado pelo governo. Ele sugeriu, no entanto, a oferta de microcrédito para facilitar o acesso dos usuários à tecnologia.’