Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Isabelle Moreira Lima

‘Ainda que com menos ‘nobreza’ e poder que o horário das 21h, a faixa das 19h virou um campo de batalha de novelas na TV aberta. Depois de enfrentar uma nova concorrência -por parte da Record, que chegou a bater o SBT em seis pontos na última semana com o remake de ‘A Escrava Isaura’-, a Globo abandona o gênero açucarado que marcou o horário nas duas últimas produções e estréia amanhã a comédia ‘A Lua me Disse’.

Com texto assinado por Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa, ‘A Lua’, além de resgatar o gênero de humor como forma de vencer o desgaste da história romântica causada pela problemática ‘Começar de Novo’, inaugura novo formato, menor, com cerca de 120 capítulos. A antecessora, ‘Começar’, teve 196 capítulos, mas quase teve sua duração encurtada devido à audiência insatisfatória e a uma crise de estafa e de hipertensão arterial do autor, Antonio Calmon.

Na tentativa de fugir da fórmula do amor, os autores de ‘A Lua’, Falabella e Barbosa, definem a novela como uma ‘neochanchada pop’, com a justificativa de que segue, ao mesmo tempo, o formato de folhetim clássico e por estar inserida em um universo histericamente popular. Folhetim clássico, que fique claro, ao estilo de Miguel Falabella.

Assim como ‘Salsa e Merengue’ (Globo, 1996), também do autor, ator e diretor, ‘A Lua’ terá um caso de doença grave, uma família muito rica, um núcleo pobre extravagante e colorido (Travessa do Vintém, em ‘Salsa’, e Beco da Baiúca, em ‘A Lua’) e, inevitavelmente, um romance fatalmente complicado pela família de um dos pombinhos. Além disso, terá personagens caricatos e cores, no figurino e nos cenários, que chegam a lembrar um filme do diretor de cinema espanhol Pedro Almodóvar (‘Ata-Me’).

Todo esse pacote entrará amanhã às 19h com a tarefa de elevar uma média de audiência de cerca de 30 pontos que ‘Começar de Novo’ atingiu em sua penúltima semana de exibição e de derrubar a média de 14,4 pontos alcançada por ‘A Escrava Isaura’ na mesma época na Record. Como mais um fator de pressão, ‘A Lua’ tem ainda o exemplo de ‘Da Cor do Pecado’, que chegou a registrar 47 pontos de audiência com 72% das TVs ligadas em sua última fase.

Para ter sucesso, segundo Maria Carmem Barbosa, co-autora da trama, ‘é importante ter uma boa história que, de alguma forma, toque o público’. Dessa maneira, junto a Falabella, Barbosa criou a história de Heloísa (Adriana Esteves), moradora do Beco da Baiúca que se apaixona pelo herdeiro de Ester Bogari (Zezé Polessa), sócia do banco Benate Bogari, que não admite o romance.

Heloísa engravida, o pai da criança morre e o filho jamais é reconhecido como herdeiro, até dez anos mais tarde, quando a avó passa a brigar por sua guarda. Para complicar a trama um pouquinho mais -ou usar mais um clichê-, o outro filho da malvada Ester, Gustavo (Wagner Moura), também é apaixonado por Heloísa e, depois de um beijo roubado, deve lutar pelo amor da mocinha com um rival tão galã quanto ele (Marcos Pasquim).

Até aí, não há muita mudança em relação aos romances anteriores. O diferencial fica por conta de histórias como a das empregadas domésticas que ganham uma mansão de herança e passam a dividi-la com os antigos patrões, as lojas batizadas Frango com Tudo Dentro e Peru do Papo Gordo e uma série de outros devaneios que devem marcar o resgate do estilo no horário das 19h.’



ESSAS MULHERES
Folha de S. Paulo

‘Emissoras apostam em universo feminino e personagens caricatas’, copyright Folha de S. Paulo, 17/04/05

‘Enquanto a Globo muda de ares amanhã e investe em uma ‘neochanchada pop’ para o horário das sete, a Record repetirá em maio a fórmula ‘careta’ de época de ‘A Escrava Isaura’. A próxima concorrente da novela das sete da Globo ‘A Lua me Disse’, ‘Essas Mulheres’, foi escrita por Marcílio Moraes com inspiração em três histórias do escritor José de Alencar -’Senhora’, ‘Diva’ e ‘Lucíola’.

Em comum, as concorrentes têm apenas o que a grande maioria das novelas tem: o universo feminino. Segundo Maria Carmem Barbosa, a lua do título da novela representa a mulher. ‘A cada novo ano aumenta, nas grandes cidades, o número de mulheres descasadas, solteiras, chefes de família, abandonadas, solitárias, por opção ou não’, justifica.

Para conquistar esse número crescente, a carta na manga, segundo Barbosa, é a relação entre Heloísa e Gustavo. ‘Tudo o que existe em volta é para enfeitar essa relação. Todo o universo foi criado para revestir essa grande paixão’, explica Barbosa.

Fio condutor e principal cartão de visita da trama, o humor não fica em segundo plano e deve ser feito a partir do ‘politicamente incorreto’. ‘Vamos cortejar o politicamente incorreto ou o ‘impoliticamente’ correto através da piada. O humor existe a partir da crítica. Mas vamos fazer isso de uma forma que não magoe nem ofenda’, completa.

Entre as caricaturas criadas pelos autores, são facilmente pinçadas as personagens de Arlete Salles, que vive uma solteirona solitária viciada em bate-papo virtual; de Zezé Barbosa, que interpreta a filha da cozinheira, aculturada e cheia de mania de grandeza; e de Patrycia Travassos, que faz uma mulher rica e farrista, que assume o papel de filha dos filhos.

A Record atacará com a mesma fórmula, mas em outro formato: as personagens também são caricatas, porém mais contidas e ‘clássicas’. Christine Fernandes, por exemplo, viverá Aurélia, a protagonista sofredora, típica heroína romântica, e Carla Regina viverá uma personagem de vida dupla, a moça de família Glória que, por força do destino, assume a identidade da prostituta Lúcia.

Mais que as personagens, para Maria Carmem Barbosa, o que vale é uma boa história, independentemente do número de capítulos. ‘O importante é a estrutura e a construção das tramas da novela.’ E, sob a sombra da mal-aventurada ‘Começar de Novo’, a autora não declara confiança abertamente, apenas torce: ‘Esperamos que dê certo, claro. Estamos dando o melhor de nós’.’



7 X BOSSA NOVA
Luiz Fernando Vianna

‘Série dribla clichês e conta a história da bossa nova’, copyright Folha de S. Paulo, 17/04/05

‘Tanto já foi dito e escrito sobre o gênero -ou subgênero do samba- que assusta o título ‘7 x Bossa Nova’. Mas a série que estréia na próxima quinta, no canal 605 da DirecTV, procura ir além dos clichês e ser um produto realmente novo sobre essa senhora de 46 anos. ‘É uma visita guiada à bossa nova’, classifica o diretor Belisário Franca, um dos sócios da Giros, produtora da série. ‘Não é só para escutar, mas também para entender o processo, refletir sobre o que já foi dito e ver os desdobramentos dele’, ambiciona.

O roteiro, assinado por Bebeto Abrantes, dribla o óbvio. Em vez de apostar todas as fichas em Tom Jobim, Vinicius de Moraes e no inacessível João Gilberto, a série tem como fios condutores Johnny Alf, Roberto Menescal, Marcos Valle, Carlos Lyra, João Donato e, no sexto programa, os ‘netos’ da bossa Celso Fonseca e BossaCucaNova. O último capítulo, aí sim, é uma homenagem à ‘santíssima trindade’.

‘Nós invertemos a pirâmide e partimos dos outros para chegar até os três, que são realmente os grandes nomes. Todas os entrevistados exaltam João, Tom e Vinicius’, diz Franca, que colheu 46 depoimentos.

Primeiros passos

‘A Revolução Musical’, programa que estréia na próxima quinta-feira abrindo a série, remonta a 1952 para refazer os primeiros passos da bossa nova. Dá os devidos créditos a Dick Farney, Lúcio Alves, à influência do jazz, e mostra o pioneirismo de Johnny Alf, que ao piano da boate Plaza já fazia um som diferente e ainda sem nome.

‘Johnny Alf foi, sem dúvida, o primeiro no Brasil a usar a voz como instrumento. A voz dele não era só a mensagem, a letra, mas também a melodia’, afirma Ed Motta no programa.

Alf, 75, canta suas principais músicas (‘Céu e Mar’, ‘O que É Amar’, ‘Fim de Semana em Eldorado’, ‘Ilusão à Toa’, ‘Rapaz de Bem’ e ‘Eu e a Brisa’) e, atendendo a pedidos do roteiro, interpreta, lendo as letras, ‘Desafinado’, ‘Se Todos Fossem Iguais a Você’ e ‘Corcovado’.

Para ilustrar o que era o Rio daquela época (‘uma cidade paradisíaca’, segundo o narrador Nelson Motta), o programa exibe deliciosas imagens retiradas de filmes como ‘Bossa Nova 1964’ e ‘Copacabana Palace’. Ainda há referências à construção de Brasília e ao surto de otimismo dos anos JK para retratar em que contexto surgiu aquela música moderna e, em boa parte, hedonista.

As vinhetas e os cenários inspirados em Cesar G. Vilela, autor das principais capas da bossa nova, e Athos Bulcão, um dos artistas-símbolo de Brasília, embelezam o programa, que tem como ápice o impacto provocado em 1959 pelo disco ‘Chega de Saudade’, de João Gilberto.

Só não há depoimentos alternativos ao discurso predominante de que a bossa nova foi uma ruptura com a era dos grandes cantores e a chamada música de fossa. João Gilberto idolatrava Orlando Silva, e, para Caetano Veloso e Ruy Castro (consultor da série), entre outros, essa ruptura não existiu.

‘A história da bossa nova não pára nunca, está sempre em evolução. Com Marcos Valle, João Donato, BossaCucaNova e outros, mostramos essas transformações, em vez de ficarmos parados naquela época’, diz Franca, traçando uma das linhas principais de sua empreitada.

‘7 x Bossa Nova’

Quando: o episódio ‘A Revolução Musical’ estréia quinta-feira (dez sessões a partir das 12h) e tem reapresentações diárias até 8/5; os outros irão ao ar entre maio e novembro no canal 605 da DirecTV’



NOVELAS EM CRISE
Bia Abramo

‘Quem decide o sucesso de uma novela?’, copyright Folha de S. Paulo, 17/04/05

‘Não se pode dormir no ponto: meses atrás, os índices de audiência animadores da três novelas da Globo que estavam no ar fizeram produtores e observadores de TV acreditarem que havia um renascimento do gênero. Pode até ser, mas o que será que aconteceu em seguida, quando todas as novelas da Globo começaram a passar por crises?

Não é o caso aqui de levantar hipóteses pelos aspectos técnicos da questão, mas talvez tentar ouvir o que diz o público por meio de sua adesão hesitante, irregular ou mesmo da não-adesão a determinados projetos. Mesmo com todo o aparato de pesquisas quantitativas e qualitativas de que a Globo dispõe para construir as novelas, aparentemente há sinais do espectador que ficam sem decodificação.

Por que será, por exemplo, que o ‘O Clone’ deu ‘certo’ e ‘América’ nem bem começou e já está numa crise enorme, simultaneamente de audiência (anda perdendo pontos para a reprise de ‘Xica da Silva’, no SBT), de direção e de protagonista (a fraquíssima presença de Deborah Secco preocupou a emissora)?

A dupla de autoria e direção era a mesma, a atriz principal também era uma aposta mais ou menos no escuro e, bem, não se pode dizer que imigração ilegal seja um assunto tão menos palpitante que a clonagem. Em suma, por que, desta vez, o caldo entornou?

A novela das sete que terminou na semana que acaba de terminar é outro caso que suscita uma meia dúzia de indagações. À primeira vista, não havia por que dar errado uma novela ‘leve’, com núcleo infanto-juvenil esperto e bacana, uns veteranos em papel cômico para dar charme, muitos lindos e lindas com pouca roupa. Mas deu errado e bem errado, com crises várias ao longo da novela. A das seis vai na mesma linha.

Talvez tudo isso aponte para um dinamismo da relação do público com as novelas em particular e a ficção em geral, para o qual ninguém ainda está muito preparado ou não sabe traduzir de forma eficiente. O espectador responde de maneira mais anárquica, mais rápida e mais desconcertante do que se imagina. A previsibilidade é uma das pedras de toque do entretenimento, mas nem sempre a manipulação da previsibilidade produz resultados, com o perdão do jogo de palavras, previsíveis.

Se a dramaturgia não abrir os olhos e não desenvolver mecanismos eficientes para reagir a esse dinamismo, vai perder -e de longe- sua capacidade de falar com o público. Marcelo Tas, discutindo os ‘reality shows’ ainda em 2002 no site Trópico, disse: ‘Até na hora de escolher entre programas populares de TV, o telespectador brasileiro demonstra sua sabedoria. Ao contrário de muita gente bacana, penso que o telespectador brasileiro está entre os mais inteligentes, ousados e exigentes do mundo’. Parece que quem ouviu a advertência foi justamente o pessoal dos ‘reality shows’, não o da novela.’



TV GLOBO
Daniel Castro

‘Intel fará celular para sintonizar a Globo ‘, copyright Folha de S. Paulo, 18/04/05

‘Presidente das Organizações Globo, Roberto Irineu Marinho acredita que no máximo em três anos a programação de sua emissora já será sintonizada, ao vivo e com qualidade de imagem e som, por aparelhos de telefone celular.

Para tanto, na semana passada, a Globo assinou carta de intenções em que se torna ‘parceira ideal’ no Brasil da Intel, fabricante de processadores de computadores e chips de celulares.

Pelo acordo, a Intel irá desenvolver soluções para a Globo. A emissora quer que sejam desenvolvidos celulares que recebam televisão com boa definição de imagem. A Globo ainda não tem seu conteúdo em celular porque acha a qualidade atual precária.

A Globo também espera da Intel microcomputadores que tenham boa recepção de TV via internet sem fio. Aposta num futuro de curto prazo em que cada vez mais as pessoas assistirão televisão em aparelhos móveis e portáteis.

A idéia da Globo é vir a transmitir em tempo real na internet e no celular. Numa primeira etapa, o conteúdo via celular será distribuído por operadoras de telefonia, com custo ao assinante.

Mas, com a TV digital, a Globo quer um celular que seja receptor de TV sem que o sinal passe por uma operadora, que seja irradiado diretamente por ela. O departamento de engenharia da Globo já possui um protótipo de um celular receptor de TV digital. E a Intel deve trabalhar nisso.

OUTRO CANAL

Limpeza Voltou a circular com força na Record a defesa da extinção do policial ‘Cidade Alerta’. Se isso ocorrer, a emissora irá colocar no ar um telejornal ao meio-dia, o ‘Balanço Geral’. Em 2006, é possível que o ‘Cidade Alerta’ seja substituído por uma novela.

Na mesma Não surtiu efeito a tentativa da Band de colocar humor no ‘Esporte Total’, com a edição ‘Na Geral’, ao meio-dia. Na semana passada, o programa deu média de apenas 1,5 ponto.

Miss traço Na Band, são cada vez mais fortes os rumores de que Vivianne Romanelli deixará o ‘Dia Dia’. A Band nega mudanças.

Agenda O VMB (Video Music Brasil) deste ano será em 20 de outubro, data em que a MTV comemora 15 anos no país. Selton Mello deve ser o apresentador do evento, mas ainda não fechou com a MTV porque ele não sabe se estará contratado da Globo na época da principal premiação da música pop nacional.

Champanhe A Globo vai fazer uma festa no final deste mês para comemorar os dez anos de ‘Malhação’. O evento deverá reunir todos os atores que já passaram pela novelinha.

Debandada O SBT deve até o final de maio perder mais duas afiliadas, desta vez para a Record. No ano passado, o SBT viu afiliadas migrarem para Globo, Record e Rede TV!.’