Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jacinto e irregularidades
de Alckmin nas manchetes

Os três maiores jornais brasileiros destacaram em suas edições da última quinta-feira de 2005 a morte do jornalista Jacinto Figueira Jr., o ‘Homem do Sapato Branco’, pioneiro na televisão dos programas populares que exploram o ‘mundo-cão’, mostrando dramas e tragédias pessoais, desavenças entre vizinhos, muitas vezes ao vivo.


Precussor de uma fórmula até hoje bastante copiada, sem dúvida a morte de Jacinto mereceria registro, mas o destaque dado nos três jornais talvez se deva também à falta de notícias típica deste período do ano, tema, aliás, de um divertido artigo de Luís Fernando Verissimo, reproduzido no Globo e no Estado de S. Paulo.


Já a Folha de S. Paulo segue acusando o governo de Geraldo Alckmin de ter praticado irregularidades na contratação de empresas de publicidade pela Nossa Caixa, banco público estadual. O governador já negou a denúncia, mas o jornal mantém destaque para o tema e prossegue na investigação.


Leia abaixo os textos desta quinta-feira, 29/12, selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 29 de dezembro de 2005


ALCKMIN SOB SUSPEITA
Lilian Christofoletti


Nossa Caixa gastou R$ 27 mi sem contrato


‘Sem amparo legal, o banco Nossa Caixa pagou quase o dobro dos valores estipulados a duas agências de publicidade que operaram durante um ano e nove meses com os contratos vencidos.


Dos R$ 28 milhões acordados entre a Nossa Caixa e as agências Colucci & Associados Propaganda Ltda. e a Full Jazz Comunicação e Propaganda Ltda., o banco do governo de SP pagou R$ 54,92 milhões, diferença de 96,15%.


O valor fere o estipulado pela Lei de Licitações, que prevê, em caso de reajuste contratual, um acréscimo de no máximo 25%. Nesse caso, não houve aditamento nem prorrogação.


Os contratos publicitários da Nossa Caixa venceram em setembro de 2003. No entanto, até junho deste ano, o banco promoveu seus produtos com a Full Jazz e sua imagem institucional com a Colucci. Do valor total pago pelo banco às agências, 86,6% foram transferidos quando o contrato já havia acabado, o que corresponde a R$ 26,9 milhões.


A situação é investigada pelo promotor de Justiça da Cidadania Sérgio Turra Sobrane, que pediu à direção do banco estadual cópia de sindicância interna aberta há seis meses (ainda sem conclusão), cópia dos contratos com as agências de publicidade e o detalhamento de todo o serviço prestado.


‘Ainda preciso analisar o caso, mas os números apresentados [pela reportagem] são preocupantes’, afirmou Sobrane.


Deputados


Segundo denúncia anônima encaminhada à Promotoria, deputados estaduais alinhados ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) foram supostamente favorecidos por meio de veiculação de publicidade da Nossa Caixa.


Os parlamentares cujos nomes foram citados na denúncia são ligados a revistas e a emissoras de rádio e de televisão. Eles também receberam da Promotoria pedido de explicações sobre eventuais contratos com o banco estatal.


Ainda segundo a denúncia recebida pelo Ministério Público, as agências sacariam dinheiro adiantado da verba de publicidade do Estado. Tal procedimento é irregular. O pagamento só pode ser efetuado mediante a comprovação do serviço prestado.


A informação anônima aos promotores relata que o gerente de Marketing da Nossa Caixa, Jaime de Castro Jr., afastado do cargo pelo presidente da Nossa Caixa, Carlos Eduardo Monteiro, teria avisado várias vezes o atual presidente e seu antecessor, Valderi Frota de Albuquerque, de que os contratos estavam vencidos.’


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Presidente de banco diz que mandou parar pagamentos


‘O presidente da Nossa Caixa, Carlos Eduardo Monteiro, afirmou que tomou conhecimento da irregularidade em junho deste ano, quando determinou a suspensão dos serviços e dos pagamentos às agências. Ele informou que comunicou o caso ao TCE no dia 4 de agosto.


Monteiro disse que o período sem contrato foi um ‘desarranjo administrativo’ e que todas as despesas com as agências foram comprovadas. Ele disse que determinou a instauração de uma sindicância interna, afastou funcionários e determinou publicação de edital para contratar novas agências.


O governador Geraldo Alckmin afirmou que a acusação ‘não tem procedência’. Disse que a direção da Nossa Caixa, assim que tomou conhecimento da situação, informou ao TCE (Tribunal de Contas do Estado).’


GRAMPO NOS EUA
Iuri Dantas


Advogados contestam espionagem de Bush


‘Ao admitir ter autorizado a espionagem de moradores dos EUA a pretexto de combater terroristas, o presidente George W. Bush deu munição a uma nova onda de contestação interna. Agora, são os advogados de defesa de diversos acusados de terrorismo condenados em tribunais por todo o país que prometem uma avalanche de questionamentos judiciais para saber se a espionagem foi usada pelo governo contra seus clientes.


Os advogados de defesa compõem o terceiro flanco de crítica e investigação sobre o programa conduzido de forma sigilosa pela ASN (Agência de Segurança Nacional) desde 2002, com interceptações telefônicas e eletrônicas sem autorização judicial. A Casa Branca precisará se explicar também ao Congresso e à Corte de Vigilância de Inteligência Estrangeira, um tribunal secreto criado especialmente para investigações relativas à segurança nacional.


Ao questionarem as cortes onde seus clientes foram condenados, os advogados difundirão por todo o país um debate que até ontem parecia restrito a uma abordagem política exclusivamente em Washington.


Até hoje não está claro se Bush violou as leis ao autorizar a espionagem de moradores e cidadãos dos EUA. A Casa Branca insiste que não, com base na Constituição e em poderes de exceção concedidos pelo Congresso após os ataques terroristas de 2001. Defensores de direitos civis e acadêmicos pensam o contrário, citando as mesmas referências.


Absolvição ou condenação


Segundo diversos advogados de condenados por terrorismo ouvidos pelo ‘New York Times’, eles devem indagar à Justiça se as investigações contra seus clientes tiveram início em espionagem praticada pela ASN, o que tornaria os processos e as condenações questionáveis. Muitos dos condenados admitiram culpa para obter penas mais leves.


A atitude dos advogados também incute na opinião pública mais um fator de desconfiança sobre a Casa Branca. Se até então havia o temor de que o governo pudesse ter vigiado seu comportamento, surge agora a impressão de que ele também pode ter operado para condenar inocentes e obter ganhos políticos.


Jose Padilla


O governo dos EUA pediu ontem à Suprema Corte a transferência da custódia do prisioneiro Jose Padilla das Forças Armadas para a Justiça Federal. O objetivo do pedido é que Padilla seja julgado por prover apoio material a terroristas, além de conspirar para seqüestrar, assassinar e mutilar pessoas no exterior.


Cidadão americano, Jose Padilla converteu-se ao islamismo e foi preso em 2002, acusado de estar planejando um ataque terrorista nos EUA. Desde então até o mês passado ele foi mantido preso sem acusação formal.’


TELEVISÃO
Esther Hamburger


Começa a era das enciclopédias da TV


‘A possibilidade de adquirir séries televisivas que até há poucos anos eram acessíveis somente no momento em que iam ao ar, ou em precárias gravações caseiras, aumenta o controle -e a exigência- do espectador.


De certa forma, coleções de programas editados em discos e comercializados em caixas com inúmeros episódios prefiguram arquivos de imagem em movimento, abertos à consulta universal, que a internet, em doses limitadas, já oferece. E que a TV digital interativa poderá potencializar.


A venda de seriados de TV em caixas de DVDs, por temporada, já está programada de antemão no momento da produção, o que implica uma longevidade que o programa de TV, no máximo transportado para uma frágil fita de vídeo por fãs aplicados, não costumava ter.


Além de atender o gosto de aficionados, a possibilidade de possuir coleções na estante, que podem ser consultadas pontualmente e em profundidade, a qualquer momento, valoriza também a produção de outros tipos de conteúdos televisivos: aqueles que se aproximam dos educativos e, com uma boa dose de saudável pretensão, poderão, quem sabe um dia, chegar a algo próximo das enciclopédias.


Nessa categoria se situa a recém-lançada caixa de ‘Um Pé de Quê?’, série bem-humorada de programas apresentados por Regina Casé para a TV Futura. Os três discos, com cinco episódios cada um, trazem uma pequena mostra do inventário botânico-histórico-cultural que a Pindorama Filmes produz desde 2001.


Cada episódio de cerca de meia hora é dedicado a uma espécie característica da flora brasileira. O primeiro, e dos melhores, fala da sapucaia, árvore escolhida por D. Pedro 2º, a partir do relato quinhentista do viajante Fernão Cardim, para ornar o eixo monumental da Quinta da Boa Vista.


Ficamos conhecendo a espécie nativa, que produz flores cor-de-rosa, além de um tipo de castanha de que os macacos e os morcegos muito gostam. Apreciamos alguma semelhança e muitas diferenças entre a corte brasileira e a corte francesa, já que o imperador do Brasil, botânico amador, buscou, com sua escolha, um equivalente à altura das árvores plantadas em Versalhes, cujo modelo adaptou.


A primeira edição em DVD não contemplou o episódio sobre o pé de favela, a árvore característica do sertão do nordeste brasileiro, abundante na região de Canudos e que deu nome ao morro carioca onde os soldados remanescentes da última investida contra Antonio Conselheiro se instalaram após a ‘vitória’. Esperamos para uma próxima esse programa, que recupera a origem da palavra que passou a designar os locais de moradia precária, de autoconstrução nas periferias das principais cidades brasileiras.


‘Toda afirmação categórica e absoluta tem um fundo de inverdade’, afirma Marta Vanucci, oceanógrafa, especialista em mangues, no episódio do disco 2 dedicado ao tema. A doutora, nascida na Itália, naturalizada brasileira e que atualmente vive na Índia, esclarece que o mangue é ‘um dos’ e não ‘o’ ecossistema mais produtivo do mundo.


A diferença é sutil, mas sintetiza o desafio que a TV deve enfrentar para se inserir nas redes de produção e circulação de conhecimento. ‘Um Pé de Quê?’ explora essas fronteiras. O projeto é poderoso. A equipe dirigida por Estevão Ciavatta também.


O baixo padrão de produção prejudica a realização. Um visual mais caprichado valorizaria a criação, permitindo mais luzes e tonalidades.


Hoje cada um pode ter sua própria filmoteca. Algum incremento de produção aumentaria a força de intervenção em um ambiente saturado de habitats poluídos, rios transfigurados, esgotos que tomam conta das mais diferentes paisagens. E árvores que sobrevivem.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP


Um Pé de Quê Lançamento: Som Livre (R$ 68,90, em média)’


TV PAGA
Luciana Coelho


Repórter flagra e explica Londres pós-ataque


‘O repórter britânico Peter Taylor estava investigando a ameaça terrorista sobre Londres havia um ano quando, na manhã de 7 de julho de 2005, sua hipótese tenebrosa tornou-se real: quatro homens-bomba detonaram seus explosivos em três estações de metrô e num ônibus, matando 52 pessoas.


No calor da tragédia, Taylor somou ao material que já tinha os depoimentos de três sobreviventes dos ataques (dois dos quais acompanhou no próprio dia da tragédia) e entrevistou líderes islâmicos locais e seus seguidores ainda chocados com o ocorrido (os quatro terroristas -três britânicos e um jamaicano radicado no país- eram muçulmanos).


A mistura de emoções flagradas logo após os ataques à extensa apuração prévia rendeu uma edição especial do Panorama, programa premiado da rede britânica BBC, que o GNT exibe hoje como ‘Londres na Mira do Terror’.


O ‘timing’ tem seus contras: por ter sido exibido pela BBC apenas três dias após o atentado, o programa acaba desatualizado para o telespectador brasileiro. Por exemplo: Taylor não podia afirmar naquele momento que os ataques foram executados por suicidas, algo atestado depois.


Mesmo assim, merece atenção. Além dos testemunhos dos sobreviventes ainda com sangue nas roupas, a reportagem reúne de entrevistas com responsáveis por caçar terroristas nos EUA e na Espanha, que explicam como a rede Al Qaeda mudou sua estrutura desde o 11 de Setembro, ao impressionante depoimento de um clérigo muçulmano que mantém um website de divulgação para vídeos de ataques no Iraque e instruções para fazer uma bomba.


Oferece também uma possível explicação para o fato de a capital britânica ter sido poupada por tanto tempo, a despeito de seu alinhamento aos EUA: vigorava ali, segundo especialistas, um ‘pacto de segurança’ entre os terroristas, que não atacavam, e as autoridades, que não os prendiam.


Londres na Mira do Terror Quando: hoje, às 12h30, no GNT’


MEMÓRIA / JACINTO FIGUEIRA JR.
Folha de S. Paulo


‘O Homem do Sapato Branco’ morre aos 78


‘O jornalista e apresentador Jacinto Figueira Jr., conhecido como ‘O Homem do Sapato Branco’ -nome do programa de TV que manteve-, morreu anteontem, aos 78 anos, em São Paulo.


Figueira Jr. estava internado desde o último dia 22 de novembro, com problemas pulmonares. Em 2001 ele sofreu um derrame que o deixou com limitações motoras e de audição.


O corpo do apresentador foi velado na sede da Assembléia Legislativa. O enterro estava previsto para a tarde de ontem, no cemitério da Quarta Parada.


‘O Homem do Sapato Branco’ foi um precursor dos programas populares de auditório dedicados à exploração de dramas pessoais de cidadãos comuns.


Em entrevista concedida à Folha, em 2001, após o seu derrame, Figueira Jr. disse: ‘Hoje, sou imitado por três ou quatro. O Ratinho é um que me imita. Tem a Márcia [Goldschmidt], tem o João Kléber, que agora também começou a me imitar’.


O apresentador afirmou que já não conseguia mais espaço na TV e disse que estava ‘barrado, não por causa dos donos [das emissoras], mas pelos produtores e colegas’, que, segundo avaliava, temiam concorrer com ele. ‘Eu boto eles no chão’, disse.


‘O Homem do Sapato Branco’ integrou a grade de programação da TV Globo nos anos 60, quando a emissora buscou solidificar sua audiência entre as classes de baixo poder aquisitivo.


Figueira Jr. previa que a atual líder de audiência no Brasil seria forçada a popularizar novamente sua programação, para enfrentar a concorrência com o SBT.


‘Quem botou a Globo em primeiro lugar foi o ‘Sapato Branco’. Todo mundo sabe disso, mas esqueceram, não interessa, porque era um programa popular. Mas a Globo vai acabar caindo nessa de popular outra vez, porque televisão hoje é isso’, afirmou, em 2001.


José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que comandou a programação da Globo de 1967 a 1997, relatou à Folha, em 2000, o fim do programa: ‘Eu assisti a um episódio em que o produtor do ‘Homem do Sapato Branco’ deu uma cabeçada em um reclamante e disse: ‘Foi teu inimigo que te cabeceou’. E não era, era o sujeito da produção do programa… Era o Ratinho da época. Nesse dia, resolvi acabar com o programa’.’


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O Globo


Quinta-feira, 29 de dezembro de 2005


FIM DE ANO
Semana supérflua


Luis Fernando Verissimo


‘Estou pensando em lançar um movimento para acabar com esta semana entre o Natal e o Ano Novo. Ou o Natal passa para o dia 31 ou o dia 31 passa para o Natal. Assim, comemora-se tudo ao mesmo tempo, o ano termina e pronto. Porque esta semana não serve para nada. É o apêndice do ano, igual àquela inutilidade anatômica que – suspeita-se – só existe para agradar aos cirurgiões e cuja única função no nosso organismo é supurar. A única função da semana depois do Natal é dar tempo às pessoas para trocarem seus presentes – ou seja, nada que não possa ser feito na primeira semana de janeiro.


A semana supérflua só leva a maus hábitos. Ficar remoendo o ano que passou e acumulando ressentimentos no fígado, como se não bastasse a comilança do Natal, por exemplo. Ou inventando retrospectivas insanas (os dez melhores isto, os dez piores aquilo) só para ajudar a passar o tempo. Já que é uma semana sem assunto, qualquer coisa vira assunto, e repetem-se as reportagens com videntes, profetas, babalaôs e economistas que nunca acertam o que vai acontecer no outro ano. Embora deva-se reconhecer que nós é que, muitas vezes, não soubemos interpretar suas previsões em linguagem cifrada, como a que anunciava, no ano passado: ‘haverá um rei alemão’ (o novo Papa!) ‘e uma cueca rica’ (que ninguém poderia imaginar o que significava).


A melhor comparação que se pode fazer da semana entre o Natal e o Ano Novo é com um jogo de futebol já decidido na metade do segundo tempo mas que precisa ir até o fim. Um time já fez 4 a zero e não se interessa em fazer mais, o outro já desanimou e se entregou, o próprio juiz só pensa em tomar um banho e ir para casa, mas ainda faltam vinte minutos de jogo. A semana desnecessária é isso, os vinte minutos finais de um jogo já liquidado. Uma semana só para cumprir o regulamento ou, no caso, o calendário.


É claro que a maior catástrofe do ano, como a tsumani no fim de 2004, pode acontecer na sua última semana. A semana entre o Natal e o Ano Novo, além de tudo, é uma tentação para o destino fazer esta maldade suprema, provocar a principal notícia do ano quando todas as retrospectivas já estão prontas. Mas esta é apenas mais uma razão para suprimi-la.’


MARKETING POLÍTICO
Chico Santa Rita


Vai ser bem difícil, Lula


‘Os prognósticos sobre o provável resultado das próximas eleições se multiplicam a cada nova rodada de pesquisas divulgadas. Analistas buscam definir as chances de Lula, do candidato do PSDB ou mesmo de uma terceira ou quarta via.


Mas a experiência tem mostrado que é muito cedo para dar importância a essas quantitativas. Dois ou doze pontos, na frente ou atrás, querem dizer muito pouco agora. A análise que costumo fazer vai por outro caminho, menos aritmético, mais focado em indicadores que aparecerão com força durante a campanha, medindo potencialidades menos suscetíveis às variações que podem ocorrer com a intenção de voto.


Aqui mesmo no GLOBO, há oito anos, expus uma opinião que contradizia os números correntes e os ‘achômetros’ dos ‘especialistas’. FHC aparecia como candidato ao segundo mandato, mas seu governo claudicava, ainda abalado por três perdas imensas: Sérgio Motta, grande estrategista; Luiz Eduardo Magalhães, magnífico articulador; e Geraldo Walter, extraordinário consultor de marketing político, tinham morrido prematuramente. Lula crescia, embalado por aquilo que o PT sempre soube fazer melhor: oposição radicalizada. Parecia à primeira vista que a reeleição recém-aprovada nem mesmo seria provada pelos tucanos.


O governo tinha o que mostrar, mas vinha se comunicando muito mal. A estabilidade não era apenas monetária. Os indicadores sociais apontavam crescimento significativo. Daí a previsão, no texto: ‘Basta que se acerte a sintonia entre as ações e os atos de comunicá-las, que os sinais de recuperação do prestígio eleitoral virão, inevitavelmente.’ O presidente acabou reeleito.


Hoje é Lula quem está no poder, faltam dez meses para a eleição, o governo claudica e ele também perdeu auxiliares equivalentes – Dirceu, Genoíno e Duda — , abatidos por morte política. Os níveis de aprovação ainda são aceitáveis, apesar da queda que, teoricamente, pode ser interrompida. Parece se repetir o quadro de oito anos atrás.


Só que agora há componentes que mostram dificuldades para empreender a recuperação, encaminhando para um resultado oposto. Os problemas começam na própria composição dos números pesquisados. O que resta de prestígio a Lula está concentrado nas periferias das grandes cidades, entre a população mais pobre, e nas regiões Norte e Nordeste, segundo as recentes pesquisas Ibope, DataFolha e Sensus. Isso se explica pelo fato de que, infelizmente, vivemos num país de iletrados, onde as informações demoram mais para atingir as pessoas nessas áreas, e assim formar o consciente coletivo que leva às grandes decisões.


Fenômeno semelhante ocorreu recentemente na rápida campanha do Referendo, quando o crescimento avassalador do ‘Não’ foi mais lento nas mesmas regiões. Tivesse mais alguns dias de campanha e a derrota do ‘Sim’ poderia ter sido ainda mais acachapante.


A conscientização demora… mas chega! E a próxima campanha eleitoral será muito mais ampla e mais contundente, reunindo tudo o que se dispersou no tempo anterior, dos bingos do Waldomiro ao mensalão do Dirceu, só para falar no que já existe de fato.


Essa agenda negativa talvez pudesse ser minimizada por obras e realizações, renascendo o já usado ‘rouba, mas faz’, agora em versão petista. (Afinal, há muitos aliados do governo que são especialistas no bordão.) Mas o tempo para isso passou e a atual correria em alguns ministérios, tentando gastar verbas orçamentárias que ficaram por meses paralisadas, irá parecer eleitoreira. Não se constrói infra-estrutura de um momento para outro. Não dá para recuperar, como num passe de mágica, investimentos que não foram feitos. Não se faz obra com discurso.


Os méritos de uma economia com aparência saudável podem se dissipar quando questionado o que isso trouxe de benefícios reais para a população. Resta ver se alguns avanços sociais, hoje superdimensionados em comerciais televisivos, serão suficientes para sustentar a campanha de reeleição.


Mais provável é que a mistura explosiva de ineficiência + ganância + prepotência, que está marcando o governo, tenha, na campanha eleitoral, a sua hora da verdade. O jogo será muito pesado. Para a população restará fazer valer o seu voto. E continuar na maior torcida, mesmo após a Copa do Mundo estar terminada. Desta vez para que o Brasil, o país, se saia bem dessa.


CHICO SANTA RITA é consultor em marketing político e foi coordenador da campanha publicitária do ‘Não’ no referendo sobre armas.’


REVOLUÇÃO DE 30
Bernardo Araujo


Meirelles destrincha o ‘Golpe de 30’


‘Todos podem riscar seus livros de História: a Revolução de 30, na verdade, foi um golpe de Estado. Quem afirma é o jornalista e escritor Domingos Meirelles, especialista no assunto, no livro ‘1930: os órfãos da Revolução’ (Editora Record). Depois de dez anos de pesquisas, o apresentador do programa ‘Linha direta’, da TV Globo, relatou a história da queda do presidente Washington Luiz e a ascensão de Getúlio Vargas por um outro viés.


– Minhas fontes foram, principalmente, a imprensa operária, as cartas trocadas pelos embaixadores estrangeiros no Brasil e a documentação da Quarta Auxiliar, que era a polícia política da época, ancestral do Dops – conta ele. – O resultado é uma espécie de aula de anatomia: expõe as vísceras de uma conspiração com todas as suas misérias e horrores.


Segundo ele, a História oficial costuma retratar o presidente Washington Luiz como uma bobalhão.


– Isso não era verdade – contesta. – Ele era um homem das artes, amava Verdi, foi o responsável pela transformação da Casa de Rui Barbosa em museu. Era um conservador, mas não um idiota.


‘1930: os órfãos da Revolução’ é uma continuação do livro anterior de Meirelles, ‘As noites das grandes fogueiras’, sobre o movimento tenentista e a Coluna Prestes.


– O golpe, que veio logo depois de movimentos semelhantes no Peru, no Chile, na Argentina e na Bolívia, era uma tentativa dos militares de evitar que as classes trabalhadoras, já bem organizadas, chegassem ao poder – diz o autor. – E Vargas conseguiu a adesão de vários tenentes, que estavam exilados na Argentina, comprando-os com dinheiro ou pequenas posses, como vitrolas e discos.


O depoimento do filho de um tenente foi crucial.


– Ele me contou como era a vida deles em um armazém em Buenos Aires, na Calle Gallo – lembra. – E também como Vargas e Luiz Carlos Prestes tiveram dois encontros secretos. Nem assim o líder comunista foi para o governo.’


MEMÓRIA / JACINTO FIGUEIRA JR.
Obituário


Jacinto Figueira Júnior, jornalista


‘‘O homem do sapato branco’, com o jornalista e apresentador Jacinto Figueira Júnior, foi pioneiro, em 1966, dos programas policiais e populares. A atração foi exibida em várias emissoras. Jacinto contava que pensou em criar o personagem lendo Nietzsche e Schopenhauer. Para ele, os personagens que usavam sapatos brancos eram pessoas empenhadas em ajudar os outros. No programa, o jornalista priorizava entrevistas com pessoas comuns e transmitia ao vivo brigas de casais e vizinhos.


Jacinto trabalhou em TV até 1997. Vítima de um derrame em 2001, passou a viver com uma aposentadoria de R$ 700. Ele morreu anteontem, de falência múltipla dos órgãos, aos 78 anos, no Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, onde estava internado há mais de um mês em razão de problemas pulmonares.’


INTERNET
O Globo


‘Spam’ que usa o nome de Trump lidera lista sobre as pragas de 2005


‘NOVA YORK. O empresário Donald Trump derrotou as ofertas para aumento do órgão sexual masculino, informou ontem a America Online (AOL). Em spams , é claro: mensagens eletrônicas indesejadas que usam o nome do protagonista do reality show ‘O aprendiz’ (para tentar instalar um vírus na máquina de internautas) está no topo da lista das que mais infernizaram os assinantes da AOL em 2005.


Logo atrás das mensagens com o nome de Trump, em segundo lugar, veio ‘Penis patch’ (sobre aumento de pênis). E-mails pornográficos, com links para sites pornôs, não entraram na lista.


– O pornô saiu de moda no que diz respeito ao spam – disse Nicholas Graham, porta-voz da AOL.


A empresa bloqueou, por meio de seu filtro anti- spam , mais de 1,5 bilhão de e-mails por dia este ano. Ou seja, oito em cada dez mensagens recebidas pelos 26 milhões de assinantes da AOL em todo o mundo foram classificadas como lixo eletrônico. A empresa ressaltou, porém, que o volume de spam recuou 75% em relação ao registrado em 2003, quando começou a divulgar a ‘parada’ do lixo eletrônico.


Apesar da queda nas mensagens com conteúdo sexualmente explícito, a AOL ressalta que os spammers estão ficando cada vez mais espertos.


– O spam está mais traiçoeiro, esperto e perigoso que nunca. Então, para se proteger, os consumidores precisam adotar uma mentalidade de ‘alerta vermelho’ em 2006 – disse Charles Stiler, gerenciador de correio da AOL.


Hipotecas, Rolex e até medicamentos


Ainda na lista dos spams , do sexto ao décimo lugares, estão mensagens sobre ações (‘Breaking stock news’); compras inexistentes (‘Thank you for your business’); hipotecas (‘Your mortgage application is ready’); produtos de luxo (‘Your $ 199 Rolex special included’); e remédios (‘Online prescriptions made easy’).’


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 29 de dezembro de 2005


MEMÓRIA / JACINTO FIGUEIRA JR.
O Estado de S. Paulo


Morre o Homem do Sapato Branco


‘O ex-apresentador Jacinto Figueira Júnior levou o mundo-cão à TV Morreu às 20h06 de anteontem, aos 78 anos, o ex apresentador de televisão, deputado e radialista Jacinto Figueira Júnior, o Homem do Sapato Branco. Internado desde o mês passado no Hospital Beneficência Portuguesa, teve falência múltipla de órgãos. Às 2 horas de ontem, seu corpo foi levado ao salão nobre da Assembléia Legislativa, onde foi velado por amigos, parentes e colegas de trabalho, como Pedro de Lara. Às 14h15, um cortejo acompanhou seu corpo ao Cemitério da Quarta Parada, na zona leste.


Sempre polêmico, Jacinto foi corretor de imóveis, cantor country e vendedor de anúncios antes de estrear na televisão, em 1962, com Câmeras Indiscretas, na Cultura. Apesar da liderança no horário, o programa acabou um ano depois. Mas, determinado a revelar o ‘outro lado da sociedade’, estreou em 1963 Fato em Foco, também na Cultura. Pela primeira vez, a televisão mostrava o mundo-cão. Mas foi o nome do programa seguinte, O Homem do Sapato Branco, inspirado segundo ele num texto de Nietzsche, que marcaria de vez sua carreira. Começou na Bandeirantes em 1967, e passou depois à Globo.


O sucesso do programa o ajudou a se eleger deputado estadual pelo MDB. Mas, em dezembro de 1968, ele promoveria uma campanha desastrosa. Prometeu distribuir 40 mil cartões que dariam direito a mantimento, roupas e brinquedos. Apareceram 200 mil pessoas na porta da Globo, no centro, e a polícia usou bombas de efeito moral para dispersá-las.


Por essas e outras – Jacinto causou ainda mais polêmica ao mostrar, em plena ditadura, cesariana e ceia com moradores de rua -, o programa acabou retirado do ar pelo AI-5. Em 1969, também seria preso e teria o mandato cassado por ‘inquietação à ordem social’. Voltaria à TV no fim dos anos 80, novamente como Homem do Sapato Branco e depois no Aqui Agora, do SBT. Nos últimos anos, estava afastado das telas, o que, segundo o sobrinho Hélvio Figueira, só lhe causava desgosto. ‘Ele dizia que queria voltar, nem que fosse num takezinho de 30 segundos. Mas TV só quer garotão, não reconhece idoso. Nem o que a revolucionou.’’


INTERNET
O Estado de S. Paulo


Usuários da internet ultrapassam 1 bilhão


‘A internet termina o ano com mais de 1 bilhão de usuários em todo o mundo, sendo 36% na Ásia, 24% na Europa e 23% na América do Norte, segundo um estudo do Morgan Stanley. A previsão é que a rede atinja 2 bilhões de usuários por volta de 2015. Chegar aos 3 bilhões, porém, será um pouco mais demorado. A projeção é que esse número seja atingido somente em 2040. Em 2002, a estimativa é que havia no mundo 605 milhões de internautas.’


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


MPF determina suspensão de clipe na MTV


‘A MTV prometeu ao Ministério Público Federal que não veiculará mais a música E Por Que não?, que faz parte do projeto MTV Acústico Bandas Gaúchas. A acusação: menção indireta a pedofilia e incesto. O mesmo acordo, firmado com o procurador regional dos Direitos do Cidadão, Sérgio Suaima, reza que a emissora exibirá 60 vezes, de 2 de janeiro a 30 de março, o filmete Exploração Sexual, de 30 segundos, produzido pela Itaipu Binacional para a Coordenadoria Nacional do Programa de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, do Governo Federal.’


Keila Jimenez


Record traça metas para 2006


‘Foi um encontro com cara de confraternização, mas acabou em planejamento para 2006 a reunião realizada no dia 16 de dezembro entre os diretores da Record. Novos horários de novelas, mais jornalísticos e futebol estiveram na pauta do encontro sigiloso no Hotel Hilton, na zona sul de São Paulo.


Além da estréia em março de Cidadão Brasileiro, na faixa das 21 horas, a emissora prepara o lançamento de um terceiro horário de novela, na faixa das 18 horas, bem ao estilo teen de Malhação da Globo. Para tanto, contratou um ex-diretor da novelinha, Edson Spinello, que já está tocando o projeto.


Alguns atores jovens de Prova de Amor devem ser reaproveitados na nova trama, que pode estrear já no meio do ano. Por sinal, é o sucesso de Prova de Amor que impulsiona a Record a se arriscar em mais um horário dedicado ao gênero.


A novela vem alcançando médias de 12 pontos e está lotada de anunciantes.


FUTEBOL


Além de dramaturgia, no encontro ficou acertado que a rede deve ganhar um novo jornalístico noturno no próximo ano, e mais investimento em esporte, principalmente em futebol. Comenta-se que um dos interesses da Record seria a compra de campeonatos internacionais de futebol, como a Copa dos Campeões (que reúne os maiores times europeus) e campeonatos espanhol e italianos. Ambos estão hoje nas mãos da Band, em contratos que devem ser renegociados no próximo ano.


Debates eleitorais – ano que vem há eleição – e a cobertura da Copa do Mundo de futebol também estiveram em pauta na reunião. O nome do âncora Carlos Nascimento, da Band, voltou a circular nas conversas sobre os novos interesses da Record para 2006, assim como de uma série de atores da Globo.’


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