A internet continua abrindo portas para pequenos e médios empreendedores. Antes enraizados às empresas físicas, os sites de comércio eletrônico no Brasil estão provando que podem alçar voos solos, sem a dependência de operações tradicionais. É o caso da Tricae, de produtos infantis, e da LikeStore, de montagem de pontos de venda no Facebook, com operações 100% online.
Ao mesmo tempo, companhias que precisam marcar presença no mundo “real”, por conta do modelo de negócio adotado, exploram as redes sociais para dinamizar receitas. A Petrocenter, escola de 600 alunos com cursos na área de petróleo e gás, descobriu que 80% das matrículas são geradas a partir de contatos feitos nas redes sociais. Da área contábil, a consultoria Insigne pretende reforçar o atendimento a clientes estrangeiros, via computador, a partir deste ano.
“Há muitas negócios que abriram braços virtuais e fracassaram”, lembra Gustavo Furtado, CEO do site de compras Tricae. “A operação na internet deve ser totalmente separada da física, com compradores exclusivos e uma equipe focada em marketing on-line, que é completamente diferente do similar offline.”
120 mil a 150 mil acessos ao dia
A Tricae, com atuação exclusiva na web, foi lançada em novembro de 2011 para oferecer artigos infantis para crianças de zero a dez anos. O número de visitas ao site, com mais de 40 mil produtos à venda, saltou de 136,3 mil no mês de lançamento para 3 milhões de acessos em março. “Resolvemos oferecer todos os produtos que uma criança precisa: brinquedos, roupas e calçados, fraldas e carrinhos de bebê”, explica. “A expectativa é encerrar abril com 4,5 milhões de visitas.”
Engenheiro de telecomunicações com MBA em gestão de negócios na Kellogg School of Management, nos Estados Unidos, Furtado começou a carreira em uma start up da área de infraestrutura. Trabalhou sete anos na Nokia Siemens, onde assumiu cargos de liderança na Alemanha e na América Latina. Antes de estruturar a operação da Tricae no Brasil, foi gerente de marketing de aplicativos para smartphones da Microsoft, em Seattle.
A ideia da loja on-line surgiu em julho de 2011. Um estudo de mercado indicou o potencial de um nicho ainda pouco explorado no país. O endereço eletrônico começou com 10 mil produtos à venda e cinco meses depois já oferecia mais de 40 mil itens. O número de visitas varia de 120 mil a 150 mil acessos ao dia e as regiões Sul e Sudeste representam cerca de 80% dos clientes.
O serviço de atendimento ao consumidor
O próximo passo da Tricae é investir em novas formas de pagamento. Além de compras à vista com boleto bancário e vendas parceladas em até 12 vezes, o plano é suportar débito em conta e pagamento de uma mesma compra com cartões diferentes. “Antes de abrir um braço virtual, aconselho fazer um estudo do mercado em que a loja vai atuar”, ensina Furtado. “É importante saber o tamanho do setor, quem são os concorrentes, fornecedores, o público alvo e, principalmente, qual será a diferenciação diante dos competidores.”
Ele afirma que a escolha da equipe é essencial para o sucesso da empresa. “Buscamos pessoas com experiência em comércio eletrônico e jovens capazes de resolver problemas de forma ágil.” A escolha da plataforma usada para fazer o site “andar” também pode definir os lucros futuros.
Furtado diz que o sistema precisa suportar o crescimento da quantidade de acessos simultâneos e ser flexível para lançar promoções, sugerir produtos baseados em compras anteriores ou nas páginas em que o usuário já navegou. “Talvez a parte mais importante do negócio seja o serviço de atendimento ao consumidor (SAC), que deve ter qualidade superior aos encontrados no mercado”, afirma.
Informações relevantes
Na Insigne, consultoria de 30 funcionários que atua nas áreas contábil e de tributos, a operação física deve ganhar reforço a partir deste ano, com o envio de relatórios para os clientes, a maioria estrangeiros, com operações na Alemanha, China, França, Estados Unidos, Noruega e Portugal. A área recebeu investimentos de R$ 50 mil e a ideia é oferecer atendimento on-line aos 70 clientes da carteira, segundo o sócio Sérvulo Mendonça. Na Petrocenter, escola técnica das áreas de petróleo e gás, segurança do trabalho e meio ambiente, as redes sociais ajudaram a empresa a engordar o número de matrículas. “Mais de 80% dos alunos encontram os cursos via internet”, diz o diretor Samuel Pinheiro.
A empresa, com 600 alunos em três unidades no Rio de Janeiro e em São Paulo, vai lançar um blog para cada estabelecimento. O objetivo é que a ferramenta sirva como um canal de comunicação do aluno com a escola, professores e colegas.
Segundo Pinheiro, para encontrar o caminho das pedras nas redes sociais, foi necessário contratar uma empresa especializada no setor, para fazer a gestão de conteúdo na web. “Não basta ter uma relação comercial com os clientes. A conexão acontece por meio do fornecimento de informações relevantes.”
Lojas online
As redes sociais também serviram de alicerce para o surgimento da LikeStore, que permite a criação gratuita de lojas no Facebook. “Investimos R$ 2 milhões para iniciar a empresa”, lembra o gerente de produto Ricardo Grandinetti. O serviço começou em agosto de 2011 e tem 4,5 mil lojas on-line, que oferecem 85 mil itens. Uma das principais características do negócio é o estímulo de vendas a partir das recomendações dos usuários.
A remuneração é feita a partir de uma taxa de comissão sobre as vendas realizadas. A cada transação é retido um valor de 2% a 5,9% da entrega. Toda a operação realiza de 1,5 mil a 3 mil vendas ao mês e as expectativas são de crescimento. Segundo a consultoria e-bit, o varejo on-line teve uma receita de R$ 18,7 bilhões em 2011. Em 2012, a projeção é de crescer 25%, chegando a R$ 23,5 bilhões.
Em maio, a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.net) lançou uma cartilha para a criação de lojas online.
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[Jacilio Saraiva, do Valor Econômico]