‘Se na Folha de S.Paulo, após o baque das demissões, a poeira começa a assentar, embora novas mudanças tenham sido anunciadas na noite desta terça-feira, na IstoÉ a temperatura subiu e mantém-se elevada por conta dos rumores de que o corte de pessoal, iniciado pelo Rio de Janeiro na última semana, com as demissões da editora assistente Liana Melo, do repórter especial Ricardo Miranda e do repórter fotográfico Carlos Magno, pode chegar à Redação em São Paulo.
O que se passa nessas duas redações é tema recorrente nas conversas entre os jornalistas da grande imprensa e todos, de certo modo, se mostram preocupados sobretudo porque ambas seguem na contra-mão dos acontecimentos. O caso da IstoÉ é ainda mais incrível: a revista, como de resto toda a Editora Três, foi uma das únicas a enfrentar as turbulências da crise sem cortar pessoal; justamente agora que o quadro se reverte, surgem os rumores de que chegou a vez dela.
Na Folha, a mais recente mudança foi definida na noite desta terça-feira, com a confirmação da saída, a pedido, do editor Márcio Aith, do Caderno Dinheiro. Márcio, convidado pelo diretor de Redação Euripedes Alcântara, começa em Veja, como editor executivo da revista, dentro de uma ou duas semanas, após período de descanso. Com sua saída, Sérgio Malbergier, até aqui editor de Mundo, passa a titular de Dinheiro, abrindo caminho para a promoção de Vinícius Mota, secretário assistente de Redação da Área de Produção, como editor de Mundo.
Algumas outras mudanças já definidas no jornal são as seguintes: Toni Pires é o novo editor de Fotografia; Izabela Moi, editora do Sinapse, passa a responder também pelo Equilíbrio, subordinada ao Núcleo de Revistas; e Ana Estela de Sousa Pinto é agora a editora do Programa de Qualidade e Treinamento, após absorção da estrutura remanescente do Programa de Qualidade do jornal. Érica Fraga, que integrava a equipe do caderno Dinheiro, está de partida para Londres, mas já acertou continuar como colaboradora fixa do jornal na capital inglesa. Deixaram o jornal o editor assistente de Mundo Otávio Dias, a diretora da Publifolha Ana Astiz (ex-correspondente do jornal em Madrid e que também escreveu para o caderno de Turismo), o editor de Brasil da Folha Online Daelcio Freitas e a assessora de imprensa Ariadne Pereira.
Rogério Gentile, adjunto de Brasil, foi confirmado editor de Cotidiano no lugar de Nílson de Oliveira. O caderno Mais, com a saída de Adriano Schwartz, passou para o comando de Marcos Flamínio Peres. A Folhinha foi assumida por Sylvia Colombo, a mesma do Folhateen. Ciência passou a ter como titular Cláudio Ângelo, sucedendo Marcelo Leite que continuou como colunista. A Revista da Folha, que integra a Diretoria de Revistas comandada por Cleusa Turra, está sendo editada por Vera Guimarães Martins. Em Suplementos, Bruna Martins Fontes agora responde pelo Caderno Imóveis e Construção, Paula Lago por Empregos e Negócios e José Augusto Amorim por Veículos, os três reportando-se diretamente à editora Patrícia Trudes da Veiga.
Em termos de corte, aparentemente tudo o que tinha de ser feito no jornal já ocorreu, restando apenas os ajustes em relação às vagas que se abriram nas várias editorias. Deve, inclusive, haver contratações e remanejamentos, possivelmente com significativa queda na remuneração, como o próprio ombudsman, Marcelo Beraba, destacou em sua coluna de dois domingos atrás.
IstoÉ
As demissões promovidas pela IstoÉ na Sucursal Rio surpreenderam não só porque era realmente inesperada, mas sobretudo pela forma como foi feita, através de uma comunicação do RH da empresa na ausência do chefe da sucursal, Aziz Filho, que estava e ainda está de férias. Aparentemente, pelo que apurou este J&Cia, as demais revistas da Três estariam ‘blindadas’ e não sofreriam cortes, até porque são naturalmente mais enxutas. Um dos problemas adicionais, para a Redação, é que esse corte chega num momento em que a revista enfrenta uma grave crise, por conta das desconfianças de que teria feito algum acordo comercial em relação à capa de sua edição do final de semana retrasado, com matéria laudatória sobre o Rio de Janeiro (curiosamente o local por onde se iniciou o corte). Houve pelo menos dois pronunciamentos de peso, mostrando suspeição em relação à Editora Três: um do articulista Milton Coelho da Graça, publicado neste Comunique-se, e outro do ombudsman da Folha de S.Paulo, Marcelo Beraba, no último domingo.
Ninguém sabe ao certo o que efetivamente poderá ocorrer, mas até o final desta terça-feira não surgiram novidades. Como era de se esperar, no entanto, uma série de boatos circulava dentro e fora da Editora Três com histórias cabeludas e versões diversas dos acontecimentos. Uma das possibilidades que se levantou foi de que as demissões poderiam atingir de forma mais intensa os colegas sem vínculo empregatício, porque isso representaria custos menores de indenização para a empresa.
Vamos aguardar os próximos dias e torcer para que não haja estrago, mas se ele efetivamente vier que seja pequeno.’
MERCADO PUBLICITÁRIO
‘Publicidade, uma questão’, copyright O Estado de S. Paulo, 8/08/04
‘O setor de publicidade no Brasil passou por muitas transformações nos últimos anos, incluindo aí um forte processo de desnacionalização. Poucas agências nacionais conseguiram sobreviver sem se associar a uma agência estrangeira, enfrentando a exigência de alinhamento de contas internacionais instalada pelas empresas multinacionais. A Talent, que ganhou pela décima vez consecutiva o Prêmio Profissionais do Ano da Rede Globo, é uma delas.
E, para responder algumas perguntas sobre o setor que fatura quase US$ 5 bilhões por ano, esta coluna convidou Julio Ribeiro, comandante da Talent.
Existe crise na propaganda brasileira como se tem alardeado? Ao contrário.
Os últimos dados sobre o balanço do semestre do setor, publicados pelo Meio & Mensagem, mostram que houve um crescimento considerável. Neste último semestre o crescimento nominal de faturamento foi entre 15% e 20%.
Qual a origem desta crise? Na verdade, nos últimos três anos a publicidade acompanhou a crise econômica que o País atravessou. A ausência de crescimento do PIB, a perda do poder aquisitivo do consumidor, queda nas vendas no varejo e o desemprego. A publicidade é uma espécie de latinha de cerveja amarrada no pára-choque do carro da noiva. Aonde vai o carro da noiva, lá vai a latinha junto. Ela acompanha os movimentos da economia de um modo geral. No momento, está acontecendo exatamente a mesma coisa, a publicidade está acompanhando o ressurgimento da prosperidade nacional.
A ética na propaganda está se deteriorando? No meu entender, não. Acho que a propaganda é uma das atividades mais éticas que existem no Brasil, ao contrário do que muita gente pensa. Você não vê nos jornais escândalos envolvendo agências de publicidade, como acontece em outros setores. E olha que o movimento no setor é considerável: R$ 14,8 bilhões em 2003. Quanto ao conteúdo, havendo controvérsia, temos que lembrar que a publicidade é regulada pelo Conar, um órgão fiscalizador, que tem o poder de tirar campanhas do ar. E o Conar é respeitado ainda que não tenha formalmente autoridade legal.
O timing do Conar nas suas decisões é razoável? Se a Justiça brasileira tivesse a velocidade do Conar, teríamos um país diferente. Você entra com uma denúncia e na semana seguinte você já tem uma notificação. Num período que varia entre 10 e 15 dias, as decisões são tomadas e as sanções são estabelecidas. É extremamente rápido.
O consumidor brasileiro mudou nos últimos dez anos? De que maneira a propaganda acompanhou essas mudanças? A população brasileira acompanhou as mudanças acarretadas pela globalização, que mudou os processos de produção e a forma de distribuição. Os grandes conglomerados como Pão de Açúcar e Carrefour são maiores que muitas empresas tradicionais. A globalização aumentou o poder de compra, a tecnologia permitiu produtos mais baratos. Um celular custava mais de R$ 1.500,00 há dez anos, hoje o consumidor sai da loja falando com um telefone que custa R$ 120,00. Houve, também, e isso é fundamental, o aumento da renda familiar em decorrência da mudança do papel da mulher na sociedade. Hoje, elas são executivas, que ganham tanto ou mais que os maridos, e têm sua renda incorporada ao orçamento da família.
Mas como isso influi? Bom, estamos passando do mercado de consumo para uma sociedade pós-consumo, em que as pessoas não precisam comprar a maioria dos produtos oferecidos. Mas elas continuam comprando, o que pode parecer um paradoxo. É que uma grande parte das compras hoje tem a finalidade de suprir carências que a nova sociedade determinou. A relação das pessoas com as empresas também mudou. Muitos destes valores, como ética, respeito, etc., passam a ser exigidos da empresa pelos funcionários. Hoje a responsabilidade social é vital para elas. Portanto o modelo de consumo mudou porque as pessoas compram por razões diferentes, produtos diferentes em estabelecimentos diferentes e por preços diferentes.
Como o senhor vê a ética nos negócios, no tratamento humano? Eu sou otimista. O que vejo é que estamos vivendo de novo uma época de valorização da ética, pelo que eu já disse. Imagem social é tão ou mais importante que o patrimônio líquido. A sociedade exige cada vez mais das empresas procedimentos como não destruir a natureza, não criar produtos que façam mal às pessoas, proíbe propaganda de cigarro, proíbe pessoas de fumar em ambientes coletivos. Temos que nos conscientizar que se trata de procedimentos novos.
A Talent sempre recusou contas de cigarro, bebidas destiladas e contas do governo. Essa atitude trouxe mais perdas ou ganhos? Eu cansei de ouvir que essa posição ética não fazia a mínima diferença para os nossos negócios e que elas eram inúteis. Mas nós fazíamos isso por convicção. Nós perdemos, de um lado, muito dinheiro. Calculo uns US$ 20 milhões ou mais por contas que deixamos de atender nos nossos 25 anos de história. Mas eu vejo que esta postura ética nos diferenciou entre as agências nacionais nos colocando numa posição bastante lisonjeira, pois tomamos esta atitude antes que ela fosse uma imposição da sociedade. Eu acho que muito do crescimento da Talent se deve às posturas éticas que temos.
A Talent não se associou a nenhuma empresa estrangeira. Foi das poucas.
Qual as razões que embasaram a sua decisão? A principal razão é que todas as propostas que recebemos não agregavam nada ao que já tínhamos. Eram propostas para você receber o dinheiro e morrer. Se houver uma proposta interessante, poderemos pensar no assunto. Mas, até hoje, não estamos convencidos que se associar a um grupo internacional seja a melhor alternativa para o sucesso e o crescimento.’