No dia 24 de fevereiro, eu estava no CTI de um hospital, recém-saído de uma cirurgia, quando morreu o cantor Pery Ribeiro. Ele também estava internado há dias, em outro hospital do Rio. Heloisa, minha mulher, ficou logo sabendo, mas quis me poupar. Ele era nosso amigo. O cuidado de Heloisa, no entanto, foi inútil. Havia uma TV no CTI, bem à minha frente. Assim que abri os olhos, li a notícia: “Morreu Pery Ribeiro. Foi o primeiro a gravar ‘Garota de Ipanema’. Tinha 74 anos.”
É impossível, hoje, ficar alheio à informação. Não importa para onde você se vire, há uma TV ligada, grande ou pequena, com manchetes correndo no pé do visor, pondo-nos a par do que não precisamos saber. Há televisões no avião, no táxi, na van e no metrô; no aeroporto, no elevador, no saguão do hotel e no quiosque de praia; na sala de espera do dentista, do analista, do oncologista e do proctologista; e tanto no bar do restaurante mais besta quando no botequim mais sórdido, com ovo colorido e mosca de estimação. E, como as teletelas de 1984, elas não podem ser desligadas.
Já vi TVs até em igrejas, museus e capelinhas de cemitério. Mas nada supera uma TV no CTI. Suponhamos que, cheio de agulhas e todo ligado a soros e transfusões, você seja abalroado pela notícia de que uma avalanche de neve soterrou 200 turistas na Patagônia. E se sua avó, por exemplo, tiver ido esquiar ou disputar um campeonato de curling na Patagônia? Não sei sobre você, mas, por mim, dispenso essa congestão de informação que nos impõem. Gostaria de recuperar o direito de só ficar sabendo de coisas que me digam respeito, mesmo que dolorosas.
No dia 26 de fevereiro, voltei para casa. Algumas horas depois, ligando o computador, abri a lista de mensagens. Havia uma, do dia 23, desejando minha breve recuperação.
Era de Pery Ribeiro.
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[Ruy Castro é jornalista, escritor e colunista da Folha de S.Paulo]