Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Morre ex-editor do Daily News

Morreu na semana passada, aos 89 anos, o veterano jornalista Michael J. O’Neill, ex-editor do jornal nova-iorquino The Daily News. O’Neill coordenou a cobertura sobre o assassino serial conhecido como “O Filho de Sam”, na década de 70, e posteriormente se tornou uma forte voz nacional em defesa do comportamento responsável da mídia. Ele morreu em sua casa, em Scarsdale, no estado de Nova York, de complicações por uma fibrose pulmonar, sua família informou.

O’Neill tornou-se editor-executivo do Daily News em 1974 – que era, então, o maior jornal de interesse geral dos EUA, com circulação de dois milhões de exemplares diários (hoje, está abaixo de 600 mil). No ano seguinte, ele publicou uma manchete considerada por muitos estudiosos da imprensa a mais famosa do jornalismo americano: “Ford to City: Drop Dead” (algo como “Ford para Nova York: morra”). A matéria se referia à recusa do presidente Gerald Ford em prestar assistência para salvar Nova York da falência. Ford nunca disse de fato a frase, ainda que ela resumisse bem suas ações.

Entre 1976 e 1977, O’Neill coordenou a cobertura de uma série de assassinatos de um homem que se denominava “O Filho de Sam”. O Daily News se tornou parte da história quando o colunista Jimmy Breslin recebeu uma carta supostamente do assassino, cujo nome verdadeiro era David Berkowitz. Depois de consultar a polícia, ficou decidido que o diário publicaria apenas partes da carta. Ainda que o Daily News fosse mais discreto que seu rival, o New York Post, O’Neill acabou se desculpando, posteriormente, pelos excessos do jornal que comandava. A revista New Yorker, na ocasião, chegou a acusar os dois tabloides de transformar o assassino em uma celebridade.

Um jornal mais completo

Fora o escândalo do assassino em série, o Daily News, sob O’Neill, ficou marcado por priorizar a cobertura sobre o governo. Ele buscou em outros jornais jornalistas mais novos, que ocuparam cargos de repórteres e editores, e determinou temas específicos para alguns jornalistas. Assim, ampliou a cobertura de ciências e permitiu a publicação de artigos mais longos, que quebravam com a tradição de textos curtos e superficiais dos tabloides.

Em 1980, O’Neill comandou o início de uma edição vespertina – que acabou encerrada no ano seguinte por contenção de custos. Na mesma época, ele foi um dos maiores defensores de computadores na redação, e criou uma página de artigos de opinião. Ao contrário da maioria dos editores-executivos, O’Neill supervisionava a página editorial, e escrevia, ele próprio, muitos editoriais.

O jornalista também foi responsável pela contratação de colunistas de peso como Breslin, Liz Smith, Mike Lupica, Pete Hamill e Michael Daly, que se tornaram influentes no jornalismo americano. Daly acabou saindo do jornal depois que descobriu-se que usava nomes falsos, e Hamill foi dispensado por suas opiniões políticas fortes. “Mike me disse que eu estava, abre aspas, muito à esquerda dos leitores do jornal, fecha aspas”, contou Hamill ao New York Times em 1979.

Frustração com a imprensa

No início da década de 80, O’Neill foi presidente da Sociedade Americana de Editores de Jornais, cargo que ocupou por um ano. Em seu discurso final, afirmou que a imprensa havia se tornado insensível, arrogante e hostil ao governo. “Nossa missão é reportar e explicar questões, não decidi-las”, concluiu.

Nascido em Detroit em 1922, Michael James O’Neill começou a carreira jornalística escrevendo uma coluna de humor para o jornalzinho da escola. Depois de passar pela Universidade de Detroit (com diploma em artes liberais), serviu como jornalista do Exército durante a Segunda Guerra Mundial, na Europa – recebendo uma condecoração por sua cobertura do conflito.

Em Nova York, trabalhou para a United Press, onde posteriormente assumiu o cargo de correspondente em Washington para assuntos internacionais. Em 1956, entrou para a sucursal de Washington do Daily News – tornou-se chefe de redação em 1968, editor-executivo em 1974 e vice-presidente executivo em 1979. Deixou o jornal em 1982, dizendo que queria “renovar um antigo caso de amor com a escrita”. O’Neill escreveu livros como Terrorist Spectaculars: Should TV Coverage Be Curbed? (Espetáculos terroristas: a cobertura de TV deveria ser controlada?, na tradução livre), de 1986, editou e colaborou com muitos outros. Passou também a defender causas como o “jornalismo preventivo”, para expor problemas antes que eles se tornassem crises graves. “Ele era o jornalista mais inteligente da cidade de Nova York”, afirmou Breslin em uma entrevista na semana passada. Informações de Douglas Martin [The New York Times, 31/5/12].