Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Lugar de torcedor é na arquibancada

Mais uma temporada esportiva começa e antigas questões vêm à tona. Clubes falidos, êxodo dos principais atletas do país, campeonatos colocados sob suspeita, empresários mal intencionados e torcedores se digladiando nos estádios tornaram-se fatos e macularam a imagem de uma das maiores paixões do brasileiro: o futebol. Tais situações são corriqueiramente condenadas pelos profissionais da imprensa esportiva nacional. Há de se ressaltar que muitas críticas são pertinentes. Pede-se, a todo o momento, que o futebol seja tratado com mais seriedade, de forma profissional e que os torcedores recebam o respeito devido. Até aí, nenhuma discordância.

Uma situação que quase ninguém comenta, talvez por razões óbvias, também contribui bastante para a deterioração do futebol: a falta de profissionalismo de alguns profissionais da imprensa esportiva. Há tempos o futebol deixou de ser apenas um jogo de bola, Infelizmente, alguns cronistas ainda não se deram conta dessa realidade. Tratam o futebol como mera discussão de botequim.

Lugar da opinião

Em Belo Horizonte, por exemplo, por existirem apenas três clubes profissionais de futebol e um mercado jornalístico restrito, as discussões se tornam cada vez mais amadoras e pessoais. A maioria dos cronistas não enxerga um palmo à frente de suas paixões clubísticas. Alguns colegas transitam livre e descaradamente pelas fronteiras das relações-públicas, das assessorias de imprensa, da publicidade e propaganda e deixam a análise crítica, acima de tudo, e objetiva, na medida do possível, relegadas a segundo, terceiro ou quarto planos. O jornalismo esportivo, no sentido lato da expressão, praticamente inexiste. Por outro lado, palpiteiros/torcedores se amontoam nas redações dos principais veículos de comunicação. Não quero dizer que não existam bons ou excelentes jornalistas esportivos. Mesmo com parcimônia, eles ainda resistem.

Geralmente, o cronista que escolhe a editoria de esportes carrega uma paixão pelo futebol, conseqüentemente, por algum time. Não há crime nisso. Afinal, o futebol está intrinsecamente ligado à vida de grande parte dos brasileiros. O problema e o perigo surgem à medida que os cidadãos que detêm o poder do microfone e da caneta colocam no mesmo balaio paixão, interesses pessoais, o dever de analisar e a obrigação de informar.

Quando torcedores mal-informados e tomados pela paixão invadem estádios para agredir jogadores, árbitros e dirigentes, ouvimos a ‘célebre’ frase: ‘Lugar de torcedor é na arquibancada’. Certamente, o futebol há de melhorar quando tal opinião for colocada em prática especialmente pelos ocupantes das redações de jornais, rádios e TVs.

É o que desejo para o futebol, em 2006!

******

Jornalista, Belo Horizonte