‘Uma coluna do Buchicho, editada no sábado, 31 de julho, e um artigo publicado no Vida & Arte (V&A) para respondê-la, quatro dias depois, movimentaram a Redação na semana passada. De uma longa discussão, da qual participaram, além do ombudsman, o chefe de Redação, Arlen Medina, a editora-chefe, Fátima Sudário, e o editor do Buchicho, Marcus Tardin, extraio o que considero mais importante para trazer ao conhecimento público. A questão começa com uma matéria do V&A, editada no dia 26 do mês passado, na qual, a convite do jornal, o arquiteto Marcus Lima faz uma série de observações, algumas negativas, sobre o Centro Cultural Dragão do Mar. Fernando Costa, a partir de um título absolutamente inapropriado, porque grosseiro, toma as dores de quem construiu o Dragão e utiliza-se do espaço da coluna Óperabufa, que assina aos sábados, para defender a obra e, pior, atacar o ‘arquiteto’, assim chamado todo o tempo no texto, sem o acompanhamento do seu nome. Peço licença ao leitor para reproduzir o tal título, situando-o melhor diante do caso: ‘neoliberal é a cabeça…´ Um erro, conforme considerei na crítica interna, porque se deve evitar que espaço do jornal, qualquer que seja, sirva à defesa de interesses pessoais ou de amigos.
Uma espécie de consenso estabeleceu-se na discussão, sob a resistência de Tardin, de que a manifestação do colunista foi a de quem concluiu que precisava partir em defesa de um amigo eventualmente atingido pela análise depreciativa de Marcus Lima, especialmente quanto a aspectos ideológicos do festejado centro cultural. Explico: Fernando Costa tem estreita relação de amizade com Paulo Linhares, que comandava a secretaria estadual de Cultura quando o Dragão do Mar começou a ser pensado e construído e, portanto, até hoje é identificado como o responsável maior pela obra.
Bateu, levou e vice-versa
Enquanto trocava impressões com Tardin acerca do caso, a partir da minha compreensão e diante da decisão dele de sustentar seu entendimento de que nada havia de excessivo na coluna, surge o artigo no caderno de Cultura, no qual Marcus Lima vale-se da mesma arma do colunista, o ataque pessoal, para apresentar uma ‘resposta à altura’. Cometíamos, ali, o segundo erro. Ficou claro, a partir de então, que o maior objetivo do debate interno que devíamos protagonizar, já com a Chefia de Redação integrada, seria procurar lições no episódio. A principal delas talvez seja que a comunicação entre setores dentro da empresa jornalística onde atuamos apresenta furos que terminam justificando situações tais. Lá no início do problema, o Buchicho poderia ter buscado um entendimento com o Vida & Arte, onde a matéria anterior fôra editada, ou com a própria Chefia de Redação, que é ponte entre os dois, para discutir a conveniência de publicar a coluna naqueles termos, respondendo de maneira agressiva à manifestação de uma fonte que atendera ao chamamento do próprio O POVO para apresentar sua visão acerca do festejado equipamento cultural. Caberia uma discussão interna que não houve, a mesma que faltou na hora do V&A dar o troco, em igual moeda e com o mesmo nível. Dois momentos nos quais considerou-se aspectos menores, deixando perdido em meio ao tiroteio verbal o pobre do leitor, que nada tinha a ver com as amizades do colunista ou a sensibilidade ferida do arquiteto.
O jornal que há além do buchicho
O problema, porém, estende-se além do simples uso de espaço da coluna para a defesa de um amigo, algo que normas internas vetam a qualquer profissional ou colaborador do O POVO. Diz respeito, por exemplo, ao processo eleitoral em curso, do qual participa diretamente o criador do Dragão do Mar, Paulo Linhares, candidato a vice-prefeito em Fortaleza e que parece ter sido objeto implícito da defesa enfática do colunista. Ou seja, a questão que Marcos Tardin minimiza, inclusive alegando que a coluna só gerou polêmica no ambiente interno, diz respeito, também, ao próprio processo eleitoral em curso em Fortaleza. Digo nas críticas internas quase todos os dias, e já manifestei preocupação em alguns momentos neste espaço externo, que devemos manter permanente o esforço por uma postura de absoluto equilíbrio diante da disputa político-eleitoral que toma de conta das ruas. Em certo sentido, o que dói na nossa consciência muitas vezes, embora seja uma necessidade que a realidade impõe, assumindo uma postura de caráter aparentemente policialesco em dadas situações. Explico que não se trata de defesa de censura ou algo que valha, mas, apenas, de dar sentido exato a cada informação, especialmente aquelas que carregam com elas o sentido analítico, diminuindo, quando não se puder eliminar, as brechas que se abrem às especulações ditadas pelas conveniências. Agir assim no caso, por exemplo, seria proteger a sociedade, representada pelo leitor, de um debate que há tomado espaços preciosos do jornal para ataques pessoais mútuos que nada acrescentam.
A solidariedade dos arquitetos
Vale ainda dizer, em relação ao que alega o editor do Buchicho, que a coisa não ficou assim tão circunscrita às paredes, sem ouvidos, da sede do O POVO. Os arquitetos Cassyus Costa e Antonio Martins da Rocha Júnior, este último presidente da seccional cearense do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), encaminharam mensagens ao ombudsman nas quais se solidarizam a Marcus Lima diante dos ataques contra ele desferidos, mesmo que em nenhum momento citando seu nome, pelo colunista Fernando Costa.’