Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jogadores silenciam, jornalistas esperneiam

Acho muito interessante a união da classe jornalística quanto se trata da defesa da categoria frente a algum fato polêmico onde o alvo é a imprensa. Trata-se do discurso dos injustiçados no palanque da inconformidade, que, mudando algumas palavras ou o estilo, parece ser sempre o mesmo e consegue, às vezes, unir todos os jornalistas da face da Terra no mesmo coro: ‘Não é justo que nós jornalistas sejamos ignorados por quem quer que seja’.

O caso da suposta crise no time do São Paulo durante sua preparação para o Mundial de Clubes no Japão foi tratado com unanimidade pelos defensores da livre imprensa como uma afronta à democracia e ao direito da informação. Eu, que não sou formado em jornalismo, nem em direito, nem em administração, que na verdade não sou formado em nada, além do meu segundo grau em escola do estado e um curso técnico ainda em andamento, esperava um tom mais crítico ou menos parcial por parte, pelo menos, dos jornalistas mais experientes, nem que fosse apenas para ouvir (ou ler) que a imprensa precisa apurar mais a fundo as notícias que são levantadas no meio.

Qualquer pessoa mais atenta sabe que, de forma mais ou menos discreta, existem jornalistas que defendem mais o seu time e atacam mais o adversário. Basta assistir aos programas de debate esportivo na TV.

Devo deixar claro que sou, sim, são-paulino e que fiquei indignado com o que aconteceu nesse episódio da ‘crise’ no time por conta de renovações de contrato e premiação pela vitória. E por mais que a estratégia do time em não falar com a imprensa depois do jogo tenha sido um tanto polêmica – e talvez desnecessária –, por que em vez de descer a lenha neste comportamento, os jornalistas não se reuniram e fizeram um fórum para discutir essa situação e tentar entender essa atitude? Em geral, quando ocorre um fato inusitado nós questionamos o que teria ocasionado tal reação, não é assim?

Achar-se o dono da verdade é o primeiro sintoma da ignorância, e parece que no Brasil existem vários jornalistas renomados com esse problema. No país do futebol não é segredo para ninguém que quase todos os jornalistas torcem para algum time. Até que ponto isso influencia as pautas não é possível mensurar, mas também não é segredo para ninguém que tal influência às vezes é maior do que o instinto jornalístico.

Críticas ao OI

Quando abri o Observatório, fui com a intenção de ler algo que trouxesse uma discussão com uma visão mais ampla, sem parcialidades, analisadas preferencialmente por quem não acompanha muito o futebol. Encontrei um texto que dizia exatamente tudo o que já foi dito em quase todos os outros meios de comunicação e que foi escrito por um jornalista palmeirense. Lamento, mas o OI desperdiçou um espaço importante do site. O caro jornalista poderá dizer que o que eu quero é ouvir alguém defendendo o São Paulo. Não é verdade. Neste momento, o que eu quero é apenas um pouco de justiça já que, apesar de a atitude dos jogadores ter sido polêmica, talvez até desnecessária, ela aconteceu por conseqüência de um ato.

Ninguém falou disso, ninguém cogitou que, de fato, algum jornalista poderia ter inventado, aumentado ou mascarado a história. O próprio Casagrande, quando questionado pelo Cléber Machado sobre o que achava dessa atitude dos jogadores, respondeu que também já passou por esse tipo de problema e que é difícil segurar as emoções nessas horas. Este é um problema sério. Associado a ele, vem uma outra situação já comprovada que coloca em xeque muitas vezes a qualidade da cobertura de um acontecimento: a carona nas informações sem a confirmação da veracidade do fato. Digo isto porque já vi um site publicar uma notícia com alguns erros propositais e essa notícia ser republicada por outra agência com os mesmos erros. A pressa em disponibilizar a notícia gera uma reação em cadeia que pode acabar por criar uma situação sem volta.

Um terceiro problema muito comum é quando, por intermédio do poder que lhes é concedido, alguns jornalistas colocam palavras não ditas por alguém ou fazem a interpretação que mais lhes convém para poder elaborar uma notícia. Por exemplo: ‘Fulano, já foi definida a premiação em caso de vitória?’. O atleta, às vezes jovem e inexperiente, sem saber muito o que está acontecendo, solta um inocente ‘acho que ainda não. Estão negociando’. Pronto!!! É a crise. Em dez minutos sai no site: ‘Jogadores e diretoria ainda discutem prêmio pela vitória’.

Ah sim! muitos vão se defender dizendo que não publicaram nenhuma mentira. Meus amigos, parem de ser hipócritas. Vocês sabem perfeitamente que a fonte pesquisada não é a mais confiável e que esse tipo de resposta não é objetivo. Se não ficou satisfeito com o que ouviu, procure outras fontes, vá direto na assessoria de imprensa, mas não saia correndo dali com informações erradas. Isso desprestigia a própria categoria. E parem com o falso moralismo de que precisam proteger a fonte que pediu para não se identificar. Ou identifica ou ignora a fonte. Não é assim que funciona? Suposições de que algo pode estar acontecendo, o clima está estranho, coisas desse tipo são apenas especulações e não jornalismo.

Respeito à ética

Por fim, algo que está acima de tudo que eu citei como problemas que precisam ser consertados: a ética. Respeitem os profissionais de outras áreas como vocês esperam ser respeitados. Se um jogador não quer conversar, é direito dele. Ele pode até estar sendo mal-educado, mas é direito dele. Isso não lhe dá o direito de colocá-lo na fogueira da Inquisição. Todos nós temos nossos momentos de aborrecimentos quando não queremos falar com ninguém, nem com jornalista. Apesar da importância que vocês têm para uma sociedade democrática, vocês não são nem melhores e nem piores que ninguém. São simples mortais, como todos.

Não é pecado buscar a notícia desesperadamente, afinal de contas esse é o trabalho de vocês. Mas nunca esqueçam de colocar lá na primeira linha da pauta de vocês uma palavrinha que deveria servir com inspiração pela conquista da qualidade da informação: a ética.

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Comprador, São José dos Campos (SP)