Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Veja Online

"Na semana passada, IstoÉ acusou VEJA de ter feito exatamente a mesma coisa que ela fez. Mas IstoÉ esqueceu o que escreveu. Sua reportagem, publicada há 11 anos, tem até o mesmo título da de VEJA (imagem ao lado). A revista IstoÉ esqueceu também de corrigir o erro. Nunca o corrigiu. VEJA se corrigiu na edição seguinte.


Não estivesse tão ocupada com os aspectos pecuniários da operação, a revista IstoÉ poderia ter, pelo menos, consultado seus arquivos com o objetivo de verificar o que ela própria escreveu sobre o assunto em pauta. Por alguma estranha ramificação mental, a falta de ética costuma ocorrer paralelamente à falta de memória. Pois se tivessem consultado seus arquivos os funcionários de IstoÉ teriam encontrado na edição de 17/11/93 uma reportagem de três páginas com o imaginoso título ‘Até Tu, Ibsen’. A reportagem traz uma enorme foto do então deputado Ibsen Pinheiro com a seguinte legenda: ‘Ibsen movimentou em suas contas pelo menos US$ 1 milhão desde 1990’. Pois bem, a revista IstoÉ trouxe naquele número uma reportagem com o mesmo título e a mesma informação publicada por VEJA. Os funcionários de IstoÉ esqueçaram-se da sua própria reportagem e, aproveitando uma carta escrita pelo marqueteiro, consultor do PT e ex-jornalista de VEJA Luiz Costa Pinto, acusaram VEJA de ter cometido um erro proposital e, com isso, destruído a carreira do político Ibsen Pinheiro.


VEJA comete erros mas não erros propositais como o de IstoÉ. VEJA corrigiu a informação na semana seguinte em reportagem de uma página com o título ‘Um milhão de dificuldades.’ E o subtítulo: ‘CPI erra na conta de Ibsen Pinheiro mas ainda existem 230. 000 dólares inexplicados.’ IstoÉ nunca corrigiu seu erro. Especula-se qual a motivação de Costa Pinto, assessor do presidente petista da Câmara dos Deputados. Sabe-se que Costa Pinto trabalhou em um livro de Ibsen Pinheiro. Sabe-se também que a acusação à VEJA surgiu no momento em que o governo se empenha em criar um conselho que terá poderes para vigiar e controlar o trabalho da imprensa. Pelos padrões de ética de Costa Pinto, talvez tenha-se que esperar mais 11 anos até que sua consciência o obrigue a revelar sua real motivação. Parece ser mais do que uma simples coincidência o fato de a IstoÉ ter dado uma capa em que procura desacreditar o bom jornalismo de VEJA na mesma semana em que VEJA atacou a tentativa do governo de amordaçar a imprensa por meio da criação de um Conselho Federal de Jornalismo. A capa de IstoÉ que ataca VEJA foi ostensivamente comemorada pelo advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, amigo íntimo do ministro José Dirceu e advogado do PT, conhecido nas franjas do poder (e também nas sombras) pelo apelido de Cacai. No sábado em que as duas revistas chegaram às bancas, Cacai não se conteve de alegria e chegou a ligar para dois jornalistas da própria VEJA, para regozijar-se pelo ataque perpetrado por IstoÉ. Alegria também compartilhada por seus patrões.


Como mostram inquietantes evidências recentes, jornalismo não parece ser mais o foco de IstoÉ. Como escreveu o jornalista Milton Coelho da Graça em sua coluna no site Comunique-se com o título IstoÉ um triste drama da nossa imprensa:


‘…direção de IstoÉ já tinha cometido um pecado que nenhuma revista séria ousa cometer: vendera a capa para uma ‘marreta’ de 21 páginas corridas, em que o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro é louvado em 11 matérias, não-assinadas mas evidentemente muito bem pagas com dinheiro público e privado.


A ‘marreta’ em momento nenhum esclarece ao leitor que se trata de publicidade. Apenas um antetítulo geral – ‘Rio – Especial Desenvolvimento’ – e a mesma linha de diagramação sugerem que as 11 matérias se referem ao mesmo tema.


Afora essas 22 páginas (incluindo a capa), a revista tem mais 22 1/3 páginas de anúncios comerciais e três ou quatro de permutas. O que levanta uma primeira questão: IstoÉ, que tem uma equipe de jornalistas de primeira linha, precisa fazer essa baixaria? E há também uma segunda pergunta: como uma revista pode ter credibilidade em suas reportagens investigativas enfiando no meio delas matérias pagas desse tipo?


Há uma pessoa que circula em Brasília, Rio, São Paulo e outras capitais exibindo um cartão de visitas apresentando-se como ‘Diretor de Desenvolvimento’ de IstoÉ. É um personagem conhecido desde os tempos da ditadura, quando circulava por gabinetes, dizendo-se ligado ao Serviço Nacional de Informações e pedindo anúncios para a fase final e melancólica da revista Cruzeiro (Cláudio Humberto, na época Secretário de Comunicação do governo alagoano, expulsou-o da sala). Depois reapareceu em Última Hora (no Rio), passando cheques sem fundo e dando o beiço em jornalistas e operários, até Ary de Carvalho recobrar o título na Justiça. O curioso é que o nome desse cavalheiro não aparece no expediente de IstoÉ, mas várias pessoas (inclusive ligadas ao governo estadual e empresas do Rio) confirmam terem sido visitadas e recebido propostas de ‘anúncios institucionais sem marca de matéria paga’.


A direção da revista poderia esclarecer: existe ou não um ‘Diretor de Desenvolvimento’, encarregado de ‘desenvolver’ qualquer coisa, inclusive capas?’


A suspeita de Milton Coelho da Graça, reverberada por outros órgãos de imprensa, teve sua mais clara versão na coluna de Monica Bergamo no jornal Folha de S. Paulo. A coluna, publicada no dia 02/08/2004, reproduzida no site do Observatório da Imprensa com o título ‘IstoÉ vende capa’, dizia o seguinte:


‘A reportagem de capa da IstoÉ de 28 de julho, que tem o Rio de Janeiro como tema, foi bancada pelo Sesi fluminense. Eduardo Gouveia Vieira, presidente da Firjan (e do Sesi), disputará a quarta eleição seguida e teria financiado a publicação.


Nessa edição saíram duas páginas de anúncio do sistema Sesi/Firjan. Outros viriam por aí.’


(copyright Folha de S. Paulo, 2/08/04)


Outra história que chocou os jornalistas sérios dá conta de que a capa suspeita de IstoÉ foi feita como informe publicitário por um reputado jornalista. Ele trabalha na IstoÉ Dinheiro e foi contratado por IstoÉ para fazer um ‘informe publicitário’, pelo qual recebeu remuneração à parte. Quando viu seu ‘informe publicitário’ na capa de IstoÉ ele chegou a pedir demissão e devolveu o dinheiro pago pelo trabalho pago."




Adam Sun


"‘A checagem evitou a publicação de tamanha besteira…’", copyright Veja Online (www.veja.com.br), 17/08/04


"Ao contrário do que a diz a revista IstoÉ, os mecanismos de checagem de VEJA funcionaram. Nesta carta enviada por Adam Sun, então chefe da checagem de VEJA, à revista IstoÉ , ele desmente as mentiras publicadas pela revista e as lembranças seletivas de sua fonte, o ex-jornalista de VEJA Luiz Costa Pinto. Adam Sun conta que, com base no trabalho de checagem de VEJA, as provas documentais (cheques e extratos bancários) de que a redação dispunha não se mostraram suficientes para se chegar a um valor definitivo sobre as movimentações de Ibsen. VEJA publicou então os dados obtidos juntos à CPI e já publicados pelos jornais da semana.


Leia a seguir a íntegra da carta de Adam Sun


A respeito da reportagem ‘A verdade aparece’, na qual fui citado nominal, funcional e etnicamente, tenho a dizer que:


1. Não é verdade que tenha gritado: ‘Lula, essa soma não dá US$ 1 milhão. Dá US$ 1.000’.


2. Não é verdade que a checagem tenha recebido um prêmio de US$ 1.000 por ter detectado e corrigido um erro.


3. Não é verdade a afirmação de que ‘Adam Sun ganhou esse prêmio’.


Em 18/11/93, à época em que saiu a reportagem de capa sobre o deputado Ibsen Pinheiro, encaminhei à minha equipe em Veja a seguinte mensagem: ‘Incentivo à Checagem. Veja 1314, 17/11/93, p.31: Cheque no valor de Cr$ 8 milhões, em 16/3/93, valeria cerca de US$ 350 (e não US$ 350.000) e cheque de Cr$ 16 milhões, em 29/7/93, valeria cerca de US$ 250 (e não US$ 250.000). A checagem (Margô) evitou a publicação de tamanha besteira… Como incentivo, Mario Sergio [diretor de redação da revista] concederá a Margô [a jornalista Maria Margarida Negro] um prêmio de US$ 500…Parabéns.’


À luz desse registro, elaborado no calor da hora, há quase 11 anos – portanto isento de eventuais trapaças de nossas memórias, afirmo que:


1. A prática da checagem sempre foi a de confrontar dados e cruzar informações objetivamente. A base concreta e palpável foram esses dois cheques e a partir da cotação cambial nas datas em que foram emitidos descobriu-se que a conversão foi supervalorizada em 1.000 vezes. Margô alertou-me sobre essas discrepâncias — 350 x 350.000 e 250 x 250.000. Refizemos os cálculos e confirmamos o erro de conversão ao editor de Brasil e ao autor da reportagem. Como de praxe, teria dito: ‘Lula, o valor desse cheque é de apenas 350 dólares. E não 350.000’. Contaria ainda de como a apuração da checagem chegou a esse resultado: em 16/3/1993, pela cotação do Banco Central, 1 dólar valia Cr$ 22.405. Portanto, Cr$ 8 milhões correspondiam a US$ 350 (e não US$ 350.000 como tinha mandado em seu relatório); em 29/7/93, 1 dólar valia Cr$ 70.252. Portanto Cr$ 16 milhões correspondiam a US$ 250 – e não US$ 250.000. Esse é o procedimento padrão adotado pela checagem nas redações de Veja até hoje, creio, e pela revista Época, até 2002. Não basta matar a cobra; tem de mostrar o pau.


2. O prêmio concedido por esse furo de apuração da checagem foi de US$ 500, metade do que foi apregoado em ‘A verdade aparece’.


3. Quem mereceu e levou esse prêmio foi Margô, como era do conhecimento público e notório na redação da revista.


4. Efetivamente, não há referência a esses cheques tanto na capa como no texto interno.


Não haveria outro jeito: uma vez detectado o erro, faz-se a correção. Caso contrário, não teria sentido manter uma equipe de jornalistas na redação para zelar pela qualidade das informações publicadas.


A respeito da soma de US$ 1 milhão, cito a edição 1314 de Veja de 17/11/93, à p. 32: … ‘A CPI descobriu que no dia 23/4/1991… um depósito de 182.000 dólares… um exame extenuante feito por um auditor do Banco Central, a pedido da CPI, chegou a uma conclusão dramática. Entre 1989 e 1993, o deputado recebeu 881.000 dólares em depósitos numa outra conta…. Ou seja: somadas, as duas contas revelam depósitos de 1 milhão de dólares’.


À luz dessa reportagem:


1. Os depósitos bancários ocorreram entre 1989 e 1993.


Nesse período o país teve Cruzado, Cruzado Novo, Cruzeiro e Cruzeiro Novo. Só para atualizar os depósitos no padrão monetário nacional vigente demandaria certo tempo. Convertê-los em dólar, outro par de horas. Essa checagem seria extenuante e impraticável nas condições de fechamento, além de que ninguém era auditor.


2. ‘Somadas, as duas contas revelam depósitos de 1 milhão de dólares’.


A checagem somou 182.000 dólares com 881.000, valores dados por ‘um auditor do Banco Central, a pedido da CPI’, e o resultado conferia: um pouco mais de 1 milhão. Como essa conclusão partiu de uma fonte ouvida pela reportagem, nesses casos, o procedimento adotado pela checagem é reconfirmar com o autor da apuração a veracidade e a exatidão dessas informações. O que foi feito.


Ou seja: não é verdade que a checagem descobriu que a soma dá US$ 1.000 e não US$ 1 milhão.


Sempre me pautei pelo rigor da verdade dos fatos. Todos os erros de informação quando detectados pela minha equipe, tanto em Veja como em Época, eram sanados antes de a matéria ser publicada. Afirmar que a checagem sob a minha responsabilidade deixou de corrigir uma informação errada intencionalmente e ainda por cima ser conivente com esse tipo de mau jornalismo é uma injustiça ignóbil.


A verdade quando sustentada em fatos é a que prevalece, prevaleceu e prevalecerá.


Adam Sun’"




Benito Gama


"O jornalista Luis Costa Pinto mentiu antes e mente agora", copyright Veja Online (www.veja.com.br), 17/08/04


"O ex-jornalista Luiz Costa Pinto diz em sua carta que foi constrangido pelo então editor-executivo de VEJA , Paulo Moreira Leite, a conseguir a todo custo uma declaração de alguém para embasar o erro que a revista, segundo ele, estava decidida a cometer. Paulo Moreira nega que isso tenha ocorrido. A fonte, à qual Costa Pinto teria recorrido para embasar a informação, o então deputado Benito Gama, também desmente o episódio. Ele divulgou a seguinte Nota à Imprensa:


‘Com relação ao artigo e matérias publicados na Revista Isto É desta semana, informo o que se segue:


— Nunca recebi do jornalista Luis Costa Pinto, à época editor de Veja, em Brasília, qualquer pedido para confirmar uma mentira, ou qualquer informação falsa sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Orçamento;


— Se a sua fonte à época lhe encaminhou informações falsas e surrupiadas da CPI do Orçamento, o fez sem meu conhecimento;


— Como Presidente da Subcomissão de Bancos da CPI do Orçamento do Congresso Nacional só recebi cheques e informações bancárias oriundas da quebra de sigilo bancário em audiência com funcionários do Banco Central e na presença de representantes de todos os partidos políticos participantes da comissão;


— É inaceitável que o jornalista Luis Costa Pinto, após tantos anos, querer coonestar o seu erro, atribuindo a mim uma informação que nunca passei para ele;


— A fonte do jornalista, como ele revela no artigo de Istoé, era oculta na época. Preferiu mentir, passando para sua revista uma matéria falsa recebida de fonte não confiável e informando a seu editor, Paulo Moreira Leite, que tinha obtido as informações através de mim, o que não era verdade;


— O jornalista Luis Costa Pinto mentiu antes e mente agora ao escrever o artigo publicado por Istoé. É mais uma tentativa de falsear a verdade de uma pessoa que, usando a sua profissão, assacou contra a honra alheia e que agora, não sei por quais motivos, quer atribuir a terceiros a sua irresponsabilidade, que repudio;


— Por último, informo que estou entrando na justiça contra o Sr. Luis Costa Pinto por crime de calúnia e difamação.


Atenciosamente,


Benito Gama’"




Agência Estado


"‘Veja’ rebate ‘IstoÉ’ e acusa revista de mentir para leitor", copyright Agência Estado (www.agestado.com.br), 17/08/04


"Num texto sob o título ‘Uma farsa chamada ‘IstoÉ’, a revista ‘Veja’, da Editora Abril, publicou hoje na página na internet, uma pequena nota em que classifica a concorrente como ‘uma publicação desonesta’, pelo modo como abordou, na semana passada, as denúncias divulgadas em 1993 contra o então presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro.


A razão do ataque: ‘IstoÉ’ publicou, exatamente com ‘Veja’, o mesmo erro de informação que prejudicou a carreira de Pinheiro – um valor de US$ 1 mil transformado em US$ 1 milhão. ‘Veja’ retratou-se, uma semana depois, mas ‘IstoÉ’ nunca se corrigiu. ‘É quase inacreditável’, diz o texto de ‘Veja’, ‘mas o fato é que ‘IstoÉ’ publicou, na mesma semana em 1993, a mesmíssima reportagem, que trazia, inclusive, o mesmo título, ‘Até Tu, Ibsen’. ‘Veja’ lembra que se corrigiu na semana seguinte, mas ‘IstoÉ’ nunca o fez.


Na semana passada, ‘IstoÉ’ publicou com destaque uma denúncia sobre falhas editoriais da rival no tratamento do assunto, a partir de uma confissão feita por um jornalista que havia participado da cobertura do assunto em 1993. Acusado, na ocasião, de ter deixado sair a informação errada, porque a ‘Veja’ estava rodando na gráfica, o jornalista Paulo Moreira Leite, diretor de Redação do jornal ‘Diário de São Paulo’, ficou satisfeito com a nova informação. ‘A fraude foi tão mal feita’, diz Leite, sobre as acusações que recebeu, ‘que basta ir à internet, buscar a capa de ‘Veja’ e ver que lá nada tem sobre US$ 1 milhão’."