Mídia e educação são indissociáveis, por mais que a mídia comercial, estandardizada, queira desvinculá-las. Ou seja, por mais que a mídia comercial – leia-se, programas de grande audiência e grande arrecadação publicitária – queira colocar-se apenas como entretenimento e, assim, abrir mão do impacto educativo de seus conteúdos.
Contudo, felizmente, sempre houve o espaço da educação popular, da mídia comunitária, dos projetos de mobilização social. E, no Brasil, os estudos críticos latino-americanos, vide Paulo Freire e outros relevantes pesquisadores, muito contribuíram para o acúmulo de experiências e mesmo a criação de uma escola crítica na condução de projetos de mídia e educação, embora terem sido tolhidos durante o regime militar.
Instaurado o processo de redemocratização, em fins da década de 80 do século 20, deparamos com um país que tinha perdido muito de sua experiência com educação popular. A percepção deste cenário serviu de estímulo para retomada de diversas iniciativas e surgimento de novas, nas quais a aliança mídia-educação tem sido uma constante. E o quadro da cultura de convergência (JENKIS, 2008) traz novos desafios para a compreensão e atuação neste cenário, quando se deseja trabalhar com mídia e educação.
Programas seriados
Na obra Comunicação e Cidadania: conceitos e processos (MOURA et alli, 2011), resgatam-se algumas experiências relevantes que devem ser consideradas neste âmbito, as quais apontam sinais de transformações do público, no comportamento do cidadão, na utilização de dispositivos móveis ou na apropriação da rádio comunitária por movimentos civis. Contudo, há um grande campo a ser mapeado no que diz respeito às transformações em curso em um cenário multimidiático, especialmente quanto às gerações que nasceram sob o signo da convergência (BRASIL, 2007; UNESCO, 2008; TORRES MORALES, 2008; JACKS, 2010).
A pesquisa aplicada no estágio de pós-doutoramento de Alzimar Ramalho, supervisionada por Dione Moura, possibilitou-nos avizinhar novos fatores que devam ser considerados ao momento que pensamos o fenômeno mídia e educação em um contexto de convergência, das quais podemos elencar a postura de protagonismo dos jovens em desvendar os artefatos tecnológicos, especialmente os de produção audiovisual e condensar tais produções com as possibilidades das mídias digitais interativas. Condensar, inclusive, inserindo-os em processos vinculados à interface mídia/educação e cidadania, a exemplo do programa DiscurSOS da Mídia, veiculado pelo laboratório de webtv UnBClick e desenvolvido pelo projeto de extensão SOS Imprensa, da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, que em 2011 completou 15 anos de ininterruptas atividades de leitura crítica da mídia.
Essa experiência, desenvolvida ao longo de 2011, resultou ainda em outros três programas seriados (Webjornal da UnBClick e Cedoc FAC) além da produção de vídeos experimentais de formato unitário (Webdocumentários de 6 minutos e vídeos teórico-conceituais com duração de 1 a 3 minutos), todos disponíveis em www.youtube.com/unbclick. Sob orientação das docentes anteriormente citadas, 80 acadêmicos dos cursos de Jornalismo, Publicidade, Audiovisual, Comunicação organizacional e Letras exercitaram o protagonismo que ancora os pressupostos teóricos da mídia/educação; e os resultados demonstram que produção midiática oferece todas as condições para a intersecção do tripé ensino-pesquisa-extensão no ensino superior.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação/Unesco. Juventude e Contemporaneidade. Coleção Educação para Todos. FÁVERO, Omar; SPOSITO, Marília Pontes; CARRANO,Paulo; NOVAES, Regina Reyes (orgs.) Brasília: Edições MEC/UNESCO, 2007. Disponível em http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001545/154569por.pdf. Acessado em 09/04/2012.
JENKIS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2008.
JACKS, Nilda. Jovens e consumo cultural em tempos de convergência. Projeto de Pesquisa. Porto Alegre. 2010.
MOURA, Dione O. (coord.) Comunicação e Cidadania: princípios e processos. Brasília: Francis, 2011.
MOURA, Dione O.; RAMALHO, Alzimar. Pesquisa Webtv: “Mudanças no ensino de Comunicação em um cenário de protagonismo e convergência”. Itajaí (SC): Vozes e Diálogo, junho 2012 (no prelo).
TORRES MORALES, Ofélia Elisa. “Novas gerações, novas mídias, novos desafios: aproximações ao perfil do jovem blumenauense em tempos de convergências”. Intercom . Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. IX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul .Guarapuava . Anais…., 2008. Disponível em http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sul2008/resumos/R10-0574-1.pdf. Acessado em 08/04/2012.
UNESCO. Unesco apresenta Tecnologia. Tics na Escola Juventude e Internet. v. 4, n. 1, 2008. Disponível em http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001585/158530por.pdf. Acessado em 09/04/2012.
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[Dione Moura e Alzimar Ramalho são, respectivamente, da Faculdade de Comunicação/Projeto ComClick, UnB e do Iesb, Projeto ComClick, UnB]