Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Imprensa confronta Justiça por sigilo de fonte

O repórter da revista Time Matthew Cooper pode pegar até 18 meses de prisão por se recusar a testemunhar no processo que tenta descobrir qual funcionário do governo americano deixou vazar a identidade da agente da CIA Valerie Plame, mulher do ex-embaixador Joseph Wilson.

O casal viajou à África a pedido do governo dos EUA para investigar se o Iraque teria tentado comprar material radioativo ali. No ano passado, Wilson escreveu artigo em jornal criticando George W. Bush por ter dito em seu discurso de Estado da União que Saddam Hussein tentou obter urânio no Níger. Uma semana depois, o colunista Robert Novak revelou que sua mulher seria uma agente secreta, deixando a impressão de que o vazamento da informação fora uma represália da Casa Branca.

O juiz Thomas Hogan não aceitou o argumento de que os jornalistas intimados no processo poderiam se recusar a testemunhar por estarem protegidos pela Primeira Emenda da constituição americana, que versa sobre a liberdade de expressão e o sigilo de fonte. Diante desta decisão, o apresentador da NBC, Tim Russert, também intimado, aceitou falar, porém afirma que não revelou informações confidenciais. Cooper continua resistindo.

Segundo a AP [10/8/04], caso a Time perca o recurso contra o juiz, o jornalista pode ser preso e a publicação multada em US$ 1.000 por dia de desobediência à ordem judicial. Seu editor-administrativo Jim Kelly mostrou-se decepcionado: ‘Não achamos que um jornalista deve ser forçado a revelar uma fonte confidencial’.

Na semana passada, a repórter do New York Times Judith Miller foi intimada a testemunhar no mesmo caso. O publisher do diário, Arthur Sulzberger Jr., avisa que fará o possível para impedir que ela tenha de falar. ‘Esse tipo de intimação torna menos provável que as fontes se disponham a falar com os repórteres e, em última instância, é o público que sofre com isso’, declarou a Adam Liptak [The New York Times, 13/8/04]. O vazamento da identidade de Valerie fez com que até o presidente Bush e o secretário de Estado, Colin Powell, fossem interrogados.