Financiados com R$ 38 milhões do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel), os 22 consórcios, formados por mais de 90 universidades e instituições de pesquisa, estudaram soluções tanto para a estrutura de transmissão e modulação dos sinais de vídeo, áudio e dados (difusão e acesso) quanto para os equipamentos de recepção (terminal de acesso) e a interatividade (canal de retorno). Com as arquiteturas mínimas desenhadas, o CPqD pôde medir os impactos e a viabilidade de cada proposta e chegar à formatação das duas soluções nacionais.
Da forma como os resultados estão compilados até o momento, é possível constatar que existe poucas ligações efetivas entre as partes nacionais do futuro sistema. Por exemplo, o único terminal de acesso desenvolvido por um consórcio foi demonstrado apenas no padrão japonês (ISDB). As aplicações e serviços testados, por sua vez, dão conta de soluções variadas que vão desde T-mail, T-voto, T-Gov, guia eletrônico de programação, Museu virtual 3D, Declaração de Isento, Serviço de Saúde. Entretanto, a maioria delas funciona em MHP, o sistema operacional do padrão europeu de TV Digital (DVB). Nenhuma destas aplicações foi validada de forma sistêmica por falta da estação experimental (veja abaixo).
Opções em aberto
Esta falta de compatibilidade inicial entre os ‘ossos’ do esqueleto esbarra ainda em outros obstáculos para os quais as pesquisas não apresentam resposta. Na maior parte dos casos, o CPqD deixou a opção em aberto para que a escolha seja mais política e econômica do que técnica. É o caso, por exemplo, do padrão de compressão de vídeo. Em geral, os padrões existentes no mundo trabalham com o protocolo MPEG-2, que utiliza entre 17-18 Mb por segundo para transmitir imagens em alta definição em um mesmo canal de 6 MHz. Mas já existe no mercado um padrão (H.264), mais caro, onde a mesma qualidade final de vídeo é alcançada ocupando apenas 8 Mb/s do mesmo canal. A opção entre uma tecnologia ou outra pode parecer um detalhe mas é ela que definirá, por exemplo, se será possível usar um mesmo canal de 6 MHz (onde atualmente trafega uma taxa máxima de 19 Mb por segundo) apenas para transmitir um programa ou usar o mesmo espaço para a chamada multiprogramação.
Canal de interatividade
Outra dúvida do CPqD diz respeito à característica do canal de interatividade da TV Digital brasileira. Apesar de terem sido apresentadas duas propostas pela PUC-RJ e pela Unicamp – o primeiro utilizando tecnologia existente de telefonia móvel e o segundo empregando tecnologia sem-fio de alta velocidade (Wimax) – o centro de pesquisas preferiu deixar esta opção em aberto para que sejam consideradas também a adoção de canal de retorno pelas redes de TV a Cabo, MMDS, telefonia fixa e outras infra-estruturas existentes. Em todos os casos, a escolha posterior não causaria problemas, desde que a unidade receptora-decodificadora (URD) possua uma porta USB ou equivalente para permitir a conexão da ‘caixinha’ ou do aparelho de TV Digital à rede.
Falta da estação-piloto
Segundo o CPqD, a inexistência de uma estação experimental para os testes prejudicou a avaliação de impactos e a análise dos resultados uma vez que ‘todos os middlewares, serviços e aplicações e canais de interatividade são validados de forma isolada, sem um teste sistêmico conclusivo’. O centro de pesquisas recomendou ao governo a liberação de R$ 2,5 milhões para a construção desta estação-piloto, que não foi adquirida antes por falta de recursos.
Independentemente desta iniciativa, a instituição entende que é possível, neste momento, definir uma arquitetura mínima do set-top-box (unidade receptora-decodificadora) que suporte estas inovações, permitindo a negociação com os fabricantes. ‘Mas ao longo do próximo ano, sem essa estação, será difícil convencer a qualquer ator da cadeia de valor a adotar uma das inovações, sem esses testes sistêmicos integrados’, justifica o CPqD.
SOLUÇÃO NACIONAL – 1
Subsistema | Propostas para Difusão e Acesso | Propostas para Terminal de Acesso |
Serviços, Aplicações e Conteúdo | Universidade Federal do Ceará, Brisa, Instituto Genius e Universidade Federal de Santa Catarina | Universidade Federal do Ceará, Brisa, Instituto Genius e Universidade Federal de Santa Catarina |
Middleware | Nenhuma proposta consolidada | Unicamp/Universidade Federal da Paraíba (APIs sobre kernel MHP) e PUC-RJ (Formatador NCL) |
Codificação de sinal-fonte | Estudos CPqD recomendam Vídeo (MPEG-2/H.264) e Áudio (AAC) | Estudos CPqD recomendam Vídeo (MPEG-2/H.264) e Áudio (AAC) |
Camada de Transporte | Unisinos+CPqD (implementação PSI) | Unisinos+CPqD (implementação PSI) |
Camada Física | Finatel (LDPC compatível com ISDB ou DVB) | Finatel (LDPC compatível com ISDB ou DVB) |
Canal de Interatividade | Em aberto (opções estão entre Wimax, Wi-Fi, Rede de Telefonia Fixa, Wireless, cabo [ethernet], MMDS, VSAT) |
SOLUÇÃO NACIONAL – 2
Subsistema | Propostas para Difusão e Acesso | Propostas para Terminal de Acesso |
Serviços, Aplicações e Conteúdo | Universidade Federal do Ceará, Brisa, Instituto Genius e Universidade Federal de Santa Catarina | Universidade Federal do Ceará, Brisa, Instituto Genius e Universidade Federal de Santa Catarina |
Middleware | Nenhuma proposta | Unicamp/Universidade Federal da Paraíba (APIs sobre kernel MHP) e PUC-RJ (Formatador NCL) |
Codificação de sinal-fonte | Estudos CPqD recomendam Vídeo (MPEG-2/H.264) e Áudio (AAC) | Estudos CPqD recomendam Vídeo (MPEG-2/H.264) e Áudio (AAC) |
Camada de Transporte | Unisinos+CPqD (implementação PSI) | Unisinos+CPqD (implementação PSI) |
Camada Física | Mackenzie (Turbo Code compatível com ISDB ou DVB) | Mackenzie (Turbo Code compatível com ISDB ou DVB) |
Canal de Interatividade | Em aberto (opções estão entre Wimax, Wi-Fi, Rede de Telefonia Fixa, Wireless, cabo [ethernet], MMDS, VSAT) |
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Jornalista, da Redação do FNDC