Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Bruce Sterling

‘Costumávamos depender dos filósofos para colocar o mundo em ordem. Hoje temos os arquitetos da informação. Mas eles não estão fazendo o trabalho -nós estamos.

Está acontecendo uma revolução na arte e ciência da categorização, e seu nome é ‘folksonomy’ [algo como ‘gentenomia’], termo inventado pelo arquiteto da informação Thomas Vander Wal. A ‘folksonomy’ se parece com a taxinomia, a maneira tradicional de impor uma estrutura à pujante confusão da realidade crua. Por exemplo, o ser humano conhecido como Thomas Vander Wal poderia ser taxinomizado como reino Animalia, filo Chordata, subfilo Vertebrata, classe Mammalia, subclasse Eutheria, ordem Primata, subordem Haplorini, família Hominidae, gênero Homo, espécie sapiens.

Isso é exato, e os especialistas concordam em que é verdadeiro. Infelizmente, para usar plenamente esse esquema, você precisaria ter estudado anatomia comparativa e latim.

Uma ‘folksonomy’, por outro lado, surge espontaneamente enquanto os usuários da internet encontram uma informação, pensam no que ela significa e a rotulam com palavras descritivas. Então um software torna a informação acessível por meio de uma simples busca por palavra-chave. Os resultados não são definitivos ou científicos, mas podem ser muito úteis.

Entre no Google e digite ‘Thomas Vander Wal’. Pronto! A máquina de busca habilmente rastreia as páginas da web ligadas a esse nome, e em pouco tempo você pode saber não apenas sobre ele mas sobre as pessoas que se importam em elogiá-lo ou condená-lo na rede. Quem fez o trabalho pesado? Certamente não foram taxinomistas inteligentes navegando a corredeira de efemeridades da internet. Foi um bando de pessoas interessadas -’folks’, ou gente- e máquinas trabalhando nos bastidores que acrescentaram um pouco de ‘nomia’ tecnológica.

A ‘folksonomy’ surge de uma combinação de duas invenções: 1) máquinas capazes de automatizar, pelo menos em parte, o que é necessário para classificar a informação; e b) um software social que torna os usuários dispostos a fazer pelo menos parte do trabalho em troca de nada. Você perceberá que ‘1’ e ‘b’ realmente não combinam.

A ‘folksonomy’ é assim. Uma pitada de trabalho gratuito e um punhado de classificação mecânica o levarão de ‘1’ a ‘b’. Os exemplos estão proliferando, como os sites de ‘bookmarking’ social del.icio.us, furl.net e jots.com.

O serviço de compartilhamento de fotos Flickr domina o poder da ‘folksonomy’ para organizar uma poderosa torrente de imagens que fluem de câmeras digitais, telefones e PDAs [computador pessoal portátil] do mundo todo. O princípio é simples: é entediante nomear ou descrever os zilhões de fotografias particulares que você tira todo ano, mas esse trabalho é muito menos oneroso para pessoas que gostam de navegar pelas fotos on-line.

Processo democrático

Assim, o Flickr divide o mundo em categorias ‘populares’, que realmente interessam ao público on-line. Na ‘Flickrland’, o mundo é composto de arquitetura, praias, telefones-câmeras, cachorros, Europa, amigos, lua-de-mel e assim por diante. Ninguém inventou esse esquema, e o melhor é que é um processo constante e democrático. É um produto da interação de grupo, como pegadas deixadas numa área virgem por uma manada de bisões.

A ‘folksonomy’ é quase inútil para procurar informação específica e acurada, mas isso não interessa. Ela oferece um comportamento de rebanho muito barato e assistido por máquinas; senso comum ao quadrado; uma corrida às nascentes da semântica. É como se você jogasse um caiaque em um rio agitado e deslizasse não apenas pelas páginas da web mas também por rótulos, conceitos e idéias.

Isso não o levará a informações específicas, mas é novo e fascinante. Além disso, é nativo da web. O Flickr inventou uma máquina de grudar globos oculares -uma imensa projeção de slides na qual você pode colar seus olhos no que outras pessoas poderiam chamar de ‘gelo’, ‘fogo’ ou ‘sexy’.

Resta ver se as ‘folksonomys’ vão implodir sob o peso do enorme número de usuários ou vão sucumbir aos ataques malignos de parasitas e larápios. Nesse caso, a criação de taxinomias desestruturadas provavelmente se afastará dos usuários humanos em direção às máquinas; um software vai rastejar sobre cada imagem da web, contar o tom e a intensidade de cada pixel, tirar vagas pistas das estatísticas de tráfego e classificar a bagunça.

Máquinas escrupulosas

Os computadores não ‘sabem’ o que as imagens significam, mas eles nunca desistem, trabalham 24 horas por dia e não são tão inescrupulosos quanto as pessoas.

Em última instância, nenhum cérebro humano, nenhum planeta cheio de cérebros humanos, poderia catalogar o oceano escuro e em expansão de dados que produzimos.

Em um futuro de informação auto-organizada pela ‘folksonomy’, poderemos nem ter palavras para o tipo de classificação que estará ocorrendo; como as verificações matemáticas com 30 mil etapas, ela poderá estar além da compreensão. Mas permitirá buscas vastas e incrivelmente poderosas. Não surfaremos mais com as máquinas de busca. Faremos arrastão com as máquinas de significado.

Bruce Sterling é um dos principais escritores norte-americanos de ficção científica. É autor de ‘Reflexos do Futuro’ (Livros do Brasil), ‘Mirrorshades’ (Ace Books), entre outros. Este texto foi publicado na ‘Wired’. Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.’



Carlos Chaparro

‘Internet é aliada, não inimiga’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 22/04/05

‘O XIS DA QUESTÃO – Em tempos dominados pelo fascínio da imagem, a Internet representa o resgate do texto. E o que importa à discussão é o jornalismo de texto, qualquer que seja o seu suporte material (ou digital). Mas, para a organização das idéias, considero cada vez mais importante a separação conceitual entre ‘Jornal’ e ‘Jornalismo’. Jornal é negócio, tem de ser planejado e gerenciado com a perspectiva do lucro. Jornalismo é processo e linguagem com aptidões particulares, para que os embates da cultura e da democracia se realizem com sucesso.

1. Internet aliada, não inimiga

Volto ao assunto da semana passada (o fim do reino hegemônico dos grandes jornais) por impulso irresistível, devido ao alto nível e à intensidade do debate criado em cima do texto anterior. Um debate marcado pelo empenho em agregar idéias. E idéias que, convergentes ou divergentes, enriqueceram, e muito, a discussão sobre questões novas que as novas tecnologias, e seus efeitos culturais, colocam ao jornalismo.

Ficou demonstrado: em proveito das idéias, sem medo da exposição inerente à participação em debates públicos, e sem renúncias à demarcação de lugares próprios no espaço da polêmica, é possível discutir com polidez, inteligência e senso crítico.

Para aprender com o debate, imprimi os comentários. Reli-os mais de uma vez. E cheguei à conclusão de que, por falha minha, algumas questões colocadas no texto transitaram mal entre o implícito e o explícito, gerando, aqui e ali, equívocos de entendimento – razão suficiente para voltar ao tema e às idéias da semana passada.

Em primeiro lugar, devo esclarecer que em nenhum momento pensei, propus ou defendi o fim do jornalismo impresso. Ainda assim, foi ótimo que a provável ambigüidade do meu texto tenha levado o colega Antonio Goulart a nos dizer que não acredita no fim do jornalismo impresso em curto espaço de tempo. Nem eu, Goulart.

Entretanto, aproveito a deixa para dizer que considero essa uma questão menor. O que importa não é o jornalismo impresso, mas o jornalismo de texto, qualquer que seja o seu suporte material (ou digital) e o seu cheiro. Também sob esse ponto de vista, a Internet não representa qualquer ameaça ao jornalismo impresso. Ao contrário: em tempos dominados pelo fascínio da imagem, a Internet representa, de alguma forma, o resgate do texto. Por outro lado, é sempre bom lembrar quer a Internet deve ser entendida e tratada como aliada, não como inimiga do jornalismo impresso. Estou até convencido de que, graças à Internet, aproxima-se o tempo em que poderemos, de alguma forma, ‘imprimir’ em nossa própria casa o jornal que nos convém, contendo apenas o que nos interessa ler.

2. ‘Jornal’ e ‘Jornalismo’

Há outras razões para entender e tratar a Internet como aliada do jornalismo impresso. E uso como argumento de demonstração a realidade nova em que o sempre surpreendente Talis Andrade toca, ao nos lembrar, naquele comentário escrito em elegante francês, que, por apenas dois euros por mês, é possível a qualquer cidadão europeu ler diariamente Le Figaro no telefone portátil. Isso é a Internet: uma fantástica tecnologia de difusão que favorece, particularmente, os meios impressos – porque lhes garante a possibilidade de alcançar leitores em qualquer parte do mundo, simultaneamente. Essa maravilhosa possibilidade, que já faz parte da ‘realidade digital’ do nosso tempo, sinaliza uma definitiva ruptura cultural com os velhos costumes de busca e leitura da notícia. E anuncia uma nova possibilidade de economia de escala, para o ‘negócio jornal’.

Ao falar em negócio jornal, aproveito para propor a separação conceitual entre os objetos ‘jornal’ e ‘jornalismo’. Para a organização da discussão em que estamos envolvidos, considero cada vez mais importante essa separação conceitual. Se não separarmos os conceitos, corremos o grave risco de produzir uma discussão confusa e insolúvel.

Jornal, tal como o conhecemos, é objeto concreto, material, negócio. Como negócio, tem de ser planejado e gerenciado com a perspectiva da viabilização econômica. Ou seja: tem de dar lucro. E aqui se encaixa, com perfeição o comentário de Thomaz Magalhães, quando diz: ‘O risco, na verdade, é faltar patrão, faltar empresa que sobreviva’.

Jornalismo é outra coisa, objeto abstrato, processo de aglutinação e elucidação dos conflitos que constroem a atualidade – e, como tal, linguagem com aptidões e características particulares, para a narração socializadora do que de relevante acontece, e para a elucidação dos fatos, pela polêmica entre argumentos. E assim serve os embates da cultura e da democracia, para que aconteçam e se realizem com sucesso.

Ou seja (parafraseando o velho companheiro Talis Andrade, que há anos não revejo): jornal é tarefa para empresários e empreendedores; jornalismo se faz com jornalistas.

3. Relações de poder

Claro que a relação entre os dois objetos (jornal X jornalismo) é uma relação conflituosa. No Brasil, como no resto do mundo. No fundo, no fundo, trata-se do conflito entre as razões da sociedade (à qual o jornalismo pertence, assumindo-a como razão de ser) e as razões dos empresários (aos quais o ‘negócio jornal’ pertence). Conflito complexo, diga-se, que exige normas mediadoras, para estabelecer e organizar, por exemplo, relações de poder entre a redação e as diretorias das empresas. Usando o exemplo, é o que acontece na Europa, com as Comissões de Redação, os Estatutos Editoriais e a chamada cláusula de consciência.

No Brasil, onde infelizmente ainda faltam instrumentos desse tipo (precariedade grave da democracia brasileira), o jornalismo está desprotegido, o que explica boa parte da amargura e da desilusão com que tantos de nós olhamos e comentamos o nosso cenário jornalístico.

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E por aqui fico, deixando para o próximo texto a discussão sobre a preponderância das formas no atual jornalismo impresso brasileiro – outra questão fundamental desta nossa discussão, levantada por Iracema Torquato, Pérola Cardozo, Júlio Roldão, Guilherme Cardoso, Talis Andrade e outros debatedores do texto anterior.’



Antônio Gois

‘Pq jovens tc axim?’, copyright Folha de S. Paulo, 24/04/05

‘Quando surgiu, a linguagem típica dos jovens na internet -onde aqui vira ‘aki’, não é ‘naum’ e beleza é ‘blz’- parecia estar restrita aos chats, blogs e ICQs. O uso do ‘internetês’, no entanto, já começa a influenciar a escrita de adolescentes em sala de aula e preocupa educadores.

De 12 escolas particulares do Rio e de São Paulo consultadas pela Folha, sete afirmaram que vícios típicos da internet já são comuns em redações e trabalhos, três disseram que eles aparecem raramente e somente duas nunca identificaram esse tipo de erro.

O uso dessa linguagem, com total desrespeito às normas cultas, não é uma invenção brasileira. Ela é fruto da primeira geração de jovens que foi alfabetizada ao mesmo tempo em que aprendia a se comunicar pela internet. A necessidade de conversar usando o teclado do computador de forma ágil fez com que, rapidamente, o ‘internetê’ se alastrasse em quase todos os grupos de adolescentes com acesso à internet.

Os educadores ouvidos pela Folha foram unânimes em afirmar que não cabe à escola punir ou tentar proibir que, entre eles, os adolescentes se comuniquem assim. O risco, apontam todos, é de eles usarem essa linguagem em ambientes onde ela não é adequada, como é o caso das escola.

Reação

Para ‘reagir’ à entrada do internetês na sala de aula, alguns estabelecimentos de ensino têm adotado soluções criativas. No colégio Humboldt, de São Paulo, o problema foi identificado quando a escola pediu que seus alunos escrevessem cartas para estimular o diálogo com os estudantes de uma escola pública vizinha.

‘A coordenadora da escola municipal nos ligou dizendo que estava havendo um problema de comunicação, já que muitos alunos de lá não entendiam a linguagem cifrada dos estudantes que têm acesso à internet. Isso aconteceu em mais da metade dos bilhetes e muitos tiveram que ser reescritos’, conta Lucy Wenzel, coordenadora do ensino fundamental do Humboldt.

A partir deste problema, o colégio sugeriu que os professores trabalhassem essa questão em sala de aula. ‘Quisemos mostrar que, na internet, essa linguagem entre eles é adequada, mas, na escola, deve-se usar a língua padrão’, afirma Wenzel.

Atividade parecida foi feita pela professora de redação e literatura Muna Omran, da escola Dínamis, do Rio. Ela afirma que já percebe com freqüência erros de ortografia típicos do ‘internetês’ em trabalhos escolares. Para evitá-los, pediu que os alunos construam um texto nessa linguagem e que, depois, o ‘traduzam’.

Na escola Parque, do Rio, o professor de literatura João Guilherme Quental resolveu atacar o problema no campo do ‘inimigo’ e criou uma comunidade na internet para que os alunos troquem mensagens e poemas.

‘A contaminação [do internetês] já é visível e aparece até em provas de vestibular, mas não adianta proibir os alunos de se expressarem assim. O que fizemos foi criar uma comunidade na internet onde eles têm total liberdade para escrever. Aos poucos, os alunos vão percebendo que aquela linguagem tem uma limitação e que só funciona num certo meio e para um certo tipo de interlocutor’, diz Quental.

As escolas já percebem também que o ‘internetês’ está sendo usado em troca de bilhetes e mensagens por escrito. ‘Em qualquer bilhete, os alunos já utilizam esse tipo de linguagem. Isso acaba influenciando a escrita’, diz Carla Tullio, professora de português e informática do colégio Santo Américo, de São Paulo.

Os professores contam que ainda é muito raro encontrar um aluno que escreva toda a redação nessa nova linguagem vinda da internet. O mais comum é o uso inconsciente de acho com xis, aqui com ‘k’, você como ‘vc’ e até mesmo não como ‘naum’.

A intensidade desses erros depende muitas vezes do grau de facilidade que o estudante tem com a norma culta. ‘Em alunos que já apresentam mais dificuldade, essa situação é mais grave’, conta a professora de português Luci Prudente de Mello, do colégio Assunção, de São Paulo.

Apesar de todo o esforço para impedir que o ‘internetês’ chegue às escolas, todos os colégios ouvidas pela Folha deixam claro que de nada adianta satanizar a nova linguagem. Quando procuradas pelos pais, a recomendação dada, em geral, é entender que isso não é um problema, desde que fique restrito a um ambiente onde essa linguagem é adequada.

‘Outro dia, um pai falou que iria proibir o filho de usar o computador. Disse que era bobagem, que o filho dele sabia mais do que ele. É uma nova linguagem que é legítima’, afirma o coordenador de ensino fundamental do colégio Ítaca, de São Paulo.

Mesma opinião tem Francisco Aguirra, coordenador pedagógico do colégio I.L.Peretz, também de São Paulo. ‘Tentamos mostrar aos pais que seus filhos estão utilizando outra linguagem. Eles falam ‘olha como meu filho está escrevendo, que horror’, mas os alunos já sabem que aqui na escola não é permitida a utilização desse código’.’

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‘Canal exibe filme para jovens em ‘internetês’’, copyright Folha de S. Paulo, 24/04/05

‘Além de chegar às escolas, a linguagem vinda da internet também conseguiu um espaço na televisão brasileira, mais precisamente no canal de TV por assinatura TeleCine. Toda terça-feira à noite, o canal exibe um filme destinado ao público adolescente com as legendas em ‘internetês’.

As legendas nessa linguagem causaram revolta em muitos telespectadores, mas a rede afirma que é apenas uma forma de atrair a audiência do público jovem para a TV.

O professor Sérgio Nogueira é um dos que criticam a iniciativa do canal em adotar o ‘internetês’. ‘O uso dessas legendas é um desserviço para o ensino da língua padrão. É uma bobagem. A garotada não deixa de ir ao cinema, onde as legendas estão na língua padrão. Esse parece ser um marketing bobo. É querer ser modernoso demais’, afirma Nogueira.

Ele lembra que o ensino da ortografia é feito principalmente por memória visual. Quanto mais um adolescente se acostumar a ler fora da escrita padrão, mais dificuldade terá de lembrar a forma correta das palavras.

Trocas entre linguagens

A professora Maria Irma Hadler Coudry, do departamento de lingüística da Unicamp, discorda. ‘Isso fortalece o trânsito entre linguagens e entre diferentes tipos de mídia. Da mesma maneira que há horário ou canais para filmes franceses, há pessoas que vão gostar de ler a legenda em ‘internetês’ em determinados horários. Isso já faz parte da realidade do adolescente em todo o mundo’, afirma.

João Mesquita, diretor-geral do TeleCine, diz que o resultado até agora tem sido positivo para o canal, mas afirma não entender a reação contrária de algumas pessoas. ‘Aumentamos em 30% a audiência do público jovem naquele horário, mas não mudamos um canal inteiro. É apenas um filme por semana, no meio de 900 exibições por mês’.’

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‘Especialistas defendem linguagem da internet’, copyright Folha de S. Paulo, 24/04/05

‘Apesar do choque que esse tipo de escrita utilizadas pelos jovens pode causar em pais desavisados, especialistas em linguagem ouvidos pela Folha afirmam que o uso do internetês tem a mesma função das gírias, ou seja, são termos ou novos códigos usados para definir um grupo social.

‘Inventar e alterar linguagens por meio do uso é talvez a mais humana das capacidades. Convencionar abreviações é tão antigo quanto a invenção da escrita e, posteriormente, da imprensa. Assim, nada de novo no front, para tranqüilidade dos alarmistas que vivem prevendo o fim da civilização. O internetês é linguagem de uma tribo grande, poderosa e em expansão’, diz Marisa Lajolo, do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp.

O professor Sérgio Nogueira- que apresenta um programa na TV sobre língua portuguesa no canal SBT- lembra que há sempre várias formas de linguagem. ‘Todas são válidas, desde que no seu devido lugar. É natural que a juventude, criativa como ela é, crie suas marcas. Cabe à escola, no entanto, ensinar a língua padrão, que é a que esses jovens vão precisar para trabalhar ou para fazer concursos. É por isso que o professor deve conhecer essa nova linguagem’.

O internetês tem também a função de identificar quem está escrevendo do outro computador, já que, na maioria das mensagens trocadas pela internet, não é possível visualizar o interlocutor.

‘Se alguém entrar num chat escrevendo certinho a gente vai logo perceber que é adulto ou que não está acostumado’, conta a estudante Priscilla Mayrink, 14, que troca bilhetes e mensagens nessa linguagem com as colegas Joana Dias, 15, e Cindy Nagao, 15.

O internetês, como qualquer gíria, está sempre em mutação. A única regra clara desse grupo é não se preocupar em seguir a norma culta. Prova disso é que, a pedido da Folha, cinco estudantes fizeram versões para um trecho do choro ‘Carinhoso’, de Pixinguinha e Braguinha. Apesar de algumas semelhanças, as ‘traduções’ foram bem diferentes.’