Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Roberto DaMatta


‘Foi divertido (e instrutivo) ver o espetáculo das projeções sociais e psicológicas em cima de quem seria o novo Papa. Como sempre acontece, as previsões dos entendidos em Roma eclesiástica, os chamados ‘vaticanistas’ – vejam vocês que a modernidade inventa especialistas até em ‘vaticano’, hoje transformado num tema, mais do que num lugar – falharam. De qualquer modo, e apesar das torcidas e das reações sempre patéticas e exageradas, o eleito foi aquele que não poderia ser por motivos políticos (seria um conservador), e os que deveriam ser pelos mesmos motivos (os chamados progressistas) permaneceram cardeais. A eleição rápida e sem maiores dramas daquele que vai dirigir a existência do 1,12 bilhão de católicos de todo o mundo é mesmo o alemão Joseph Ratzinger, investido no papel e no cargo de Papa como Bento XVI. Sem descontinuidades ou crises político-institucionais, o Papa morreu, mas temos Papa.


Para nós, brasileiros, habituados a uma leitura da eleição como um ritual de vingança e, sobretudo, como uma ocasião apropriada para consertar esse nosso Brasil, cansativamente lido como descarrilado ou perdido, parece incrível que um Papa possa ter sido eleito com tanta tranqüilidade. Onde estão os boatos conspiratórios? Para que lado do tapete os cardeais do conclave enfiaram o pó negro das futricas, resultado da competição que deveria assolá-los? O que aconteceu com o egoísmo desses cardinais, todos prontos a terem o mesmo comportamento narcisista, cretino e auto-referenciado dos nossos ‘cardeais públicos’, salvo as honrosas exceções de sempre, essas exclusões que tristemente comprovam o estilo ineficiente e patife de governar?


Acostumados a testemunhar o comportamento corporativo e malandro dos nossos políticos que falam do bem do povo e do Brasil, pensando sistematicamente neles próprios, ficamos bestificados com essa eleição que obviamente passa pelos faccionalismos mas que, em nome de um bem maior, concilia as divergências e os interesses de região, etnia, tendência teológica, política e filosófica que certamente pressionam essa insigne plêiade de cardeais.


Como um observador de um estilo de vida pública marcada por conclaves que se parecem com rinhas ou ringes, lugar onde os interesses partidários e pessoais sempre escurecem o bem comum, redobrei minha fé no Espírito Santo depois dessa eleição do Papa Bento XVI.


Não seria o Espírito Santo a tal conexão que tanto nos falta? Não seria essa dimensão da Santíssima Trindade, esse Deus partido em forquilha, com três pessoas e manifestações o caminho que novamente junta e torna solidário com a instituição os motivos divergentes que toda disputa acaba despertando?


Mas o que é o ‘Espírito Santo’ no caso de uma comunidade nacional? Não seria ele o sistema de valores associados a um patriotismo esquecido, morto e sepultado por uma voraz politicagem que só vê o que está a um metro adiante do nariz e perdeu de vista por completo as obrigações para com o todo? Para com a terra onde se nasceu e onde os ancestrais estão enterrados? Temo que o nosso realismo político, que sempre vê mais longe que os valores, não enxergue mais o sentido desse tipo de reflexão. Eis novamente, dirão, o argumento ingênuo do patriotismo quando o que precisamos é discutir o ‘social’.


Mas como fazer isso sem invocar esse ‘Espírito Santo’ que faz surgir de todas as divergências, como ocorreu nesse conclave, os grandes interesses institucionais que nada mais são do que o balanço equilibrado de todos os motivos faccionais? Nessa perspectiva, não seria o Espírito Santo a mediação e o laço entre a lei impessoal (representada pelo Pai) e os motivos pessoais mais pungentes (simbolizados pelo Filho)?


Uma das lições desse conclave fala de como é possível ficar do lado do todo — igreja ou país- sem abandonar o seu próprio lado. O Espírito Santo permite que se tenha certeza que os discordantes não sejam inimigos. E também que possamos afirmar as nossas diferenças sem, entretanto, chegar à destruição do todo ao qual pertencemos e no seio do qual essas divergências fazem sentido.


A Igreja tem sobrevivido justamente porque sabe dosar divergências com convergências. Não se pode ter uma igreja (ou um país) sem limites, já que é o limite que engendra o ideal: aquilo que poderia ou deveria ser. Do mesmo modo e pela mesma lógica, não se pode pensar a Igreja apenas como uma agência política, com metas imediatas. O dogma e a fé assumem o lado mais antipático da cultura e da sociedade: o fato de que todas as comunidades, antigas ou modernas, são construídas em cima de escolhas e normas arbitrárias. O ‘creio porque é absurdo’ de Tertuliano nunca foi tão válido quanto neste momento de ascensão de Bento XVI. Porque todos temos razões para cismar se a comoção católica do momento não seria um sintoma de busca de transcendência, de limites e de outro mundo, em vez de uma simples e patética reação mediática. Amém. ROBERTO DaMATTA é antropólogo.’



Carlos Heitor Cony


‘O que sobra para os jornais’, copyright Folha de S. Paulo, 26/04/05


‘O ombudsman da Folha, Marcelo Beraba, acentuou, há pouco, o distanciamento entre a mídia impressa e as outras mídias. O exemplo que deu, e que outros mestres da comunicação estão dando, é a velocidade da notícia que o mercado exige cada vez mais instantânea. Tomando como exemplo mais recente a morte do papa, os jornais só a noticiaram no dia seguinte, na base de ‘O papa morreu’, com a variante ‘Morre João Paulo 2º’.


Desde a véspera, sites da internet e emissoras de rádio e de TV haviam dado a notícia, com os desdobramentos imediatos e as primeiras especulações.


Não faz muito, um avião da ponte aérea caiu nas imediações de Congonhas. Cinco minutos após, havia equipes de rádio no local, mais dez minutos, todas as equipes de TV colocavam na telinha os pormenores do desastre. Quase 24 horas depois é que os jornais publicaram a notícia.


O que está dito acima não é novidade. De diferentes modos, e por gente mais capaz, todos já fizeram constatação tão óbvia e explicável. Óbvia também tem sido a solução apontada para diminuir o fosso entre a mídia impressa e as demais: a opinião. Acontece que o rádio, a TV e quase cem por cento da internet estão fazendo a mesma coisa, com bons comentaristas, a maioria deles originários da mídia impressa. Outros, como o pessoal da internet, dando opiniões e fazendo considerações sem qualquer compromisso com os manuais de redação ou qualquer grupo político ou empresarial.


O que sobrará para os jornais? Também já foi dito: a qualidade do texto. E qualidade aqui não se trata de qualidade literária ou erudita, cujo leito natural é o livro. Há confusão a esse respeito. Literatura em jornal faz mal à literatura e ao jornal. A qualidade exigida é a do charme, do inesperado, do realmente novo -qualidades, por sinal, que me faltam, indicando que é hora, como disse João Paulo 2º em seu testamento, de ‘ir’.’



Folha de S. Paulo


‘Ratzinger e Bento 16 ‘, Editorial, copyright Folha de S. Paulo, 26/04/05


‘É obviamente cedo para tentar definir como será o pontificado de Bento 16. Suas primeiras declarações, porém, fazem antever um papado menos inflexível do que muitos supunham e temiam.


É bem verdade que juízos por enquanto dizem mais sobre as expectativas de quem os profere do que a respeito da real natureza do 265º pontificado da Igreja Católica. Ainda assim, pode-se afirmar que as manifestações do novo papa trazem indicações tranqüilizadoras para os que receavam retrocessos, em especial no campo do diálogo inter-religioso e da colegialidade.


Especula-se mesmo que a figura de Bento 16 terá um pouco menos do conservadorismo do cardeal Ratzinger, que ocupava a função de guardião da ortodoxia doutrinária, e incorporará algumas das preocupações de outras alas da igreja decisivas para a sua indicação. É possível especular também que, diante das muitas manifestações de temor quanto a uma onda de extremo conservadorismo na igreja, o papa procure em seus primeiros pronunciamentos dissipar apreensões.


Seja qual for o motivo, o fato é que alguns dos pontos abordados por Bento 16 em sua homilia do último domingo não parecem traduzir posições típicas do então cardeal Ratzinger. Num instante em que boa parte da mídia afirmava que haveria inflexão no ecumenismo, o papa pediu a união de todos os cristãos e elogiou o judaísmo. É uma posição que contrasta com o documento ‘Dominus Iesus’ (‘Senhor Jesus’), por ele elaborado em 2000, no qual afirmava a supremacia do catolicismo sobre os demais credos.


É possível que todas essas especulações sejam acertadas e que o pontificado de Bento 16 venha a apresentar aberturas que o perfil do cardeal não fazia supor. Não se devem, porém, esperar surpresas. Trata-se de um pontífice essencialmente conservador, que considera a moral incondicionada e prefere igrejas vazias, com poucos bons católicos, a templos cheios de maus fiéis.’



GOVERNO LULA


Eduardo Scolese


‘Primeira coletiva de Lula deve ser na sexta ‘, copyright Folha de S. Paulo, 26/04/05


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve conceder nesta sexta-feira, no Palácio do Planalto, sua primeira entrevista coletiva à imprensa, com a participação de jornais, emissoras de rádio e TV e agências internacionais.


Até agora, Lula concedeu diversas entrevistas, mas nenhuma que tenha reunido todos os tipos de mídia. Separadamente, o presidente falou, por exemplo, com correspondentes internacionais, colunistas de jornais e emissoras de rádio. O formato da entrevista ainda não foi definido.


Não se sabe, por exemplo, se os jornalistas terão direito à réplica, depois de ouvir a resposta.


Em alguns contatos que teve com o presidente, a imprensa não pôde, por exemplo, gravar a entrevista. Em outros casos, foram vetados o direito à réplica. A participação de Lula numa ampla coletiva é um pedido antigo de Ricardo Kotscho, seu antigo assessor, e de André Singer, hoje titular da Secretaria de Imprensa.


Desde que assumiu a Presidência, em janeiro de 2003, Lula tem protagonizado uma relação turbulenta com a imprensa. Um dos agravantes foi o envio ao Congresso da proposta de criação do CFJ (Conselho Federal de Jornalismo), que visava ‘orientar, disciplinar e fiscalizar’ o exercício da profissão e das atividades de jornalismo.’



Carlos Heitor Cony


‘Transparência ‘, copyright Folha de S. Paulo, 27/04/05


‘Moda é moda desde que o mundo roda. No momento, os clichês mais batidos na mídia, na política, na sociedade em geral, podem ser resumidos a três: ética, credibilidade e transparência. Quem possui os três é uma vestal, um varão de Plutarco, uma reserva moral da nação, sendo que alguns, devido à idade, chegam ao ponto de serem conservas, compotas viscosas como as de pêssego ou de mamão.


Das três, somente a transparência pode ser medida objetivamente. Ética muda de tempos em tempos, de profissão em profissão, de pontos de vista e conveniências pessoais. Credibilidade pode ser escamoteada, depende de um processo, de provas muitas vezes macetadas.


A transparência merece o pleonasmo de ser mesmo transparente. Todos a invocam: governantes, instituições, pessoas físicas e jurídicas. Apesar de tanto e tamanhamente invocada, ela é raríssima, sobretudo entre pessoas públicas que são obrigadas, por temperamento ou por cálculo, a mostrar apenas o lado iluminado, como a Lua, escondendo as trevas do outro lado.


Neste particular, embora desagradando a totalidade da opinião pública, cito como exemplo de transparência o malhado presidente da Câmara, Severino Cavalcanti. Não me lembro de nenhum político importante que tenha aberto o jogo de forma tão transparente, sem temer as bordoadas que recebe diariamente, vinda de todos os cantos e modos. Guarda dinheiro no colchão, nomeia parentes que considera capazes, assume aquilo que todos praticam, de uma forma ou outra, sob disfarces técnicos ou estratégicos, ou seja, o fisiologismo que predomina na vida pública nacional. Para citar só um caso, basta lembrar a emenda constitucional que permitiu a reeleição de FHC e que poderá dar a Lula um segundo mandato. O que corre de toma-lá-dá-cá cria uma teia de favores e desfavores que permanece submersa na face oculta da impropriamente chamada vida pública, que, na realidade, se transforma em interesse privado de cada um.’



O Estado de S. Paulo


‘Governo pede apoio de empresários para ação publicitária ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 26/04/05


‘Um ano e meio antes da eleição presidencial de 2006, a oposição já se prepara para carimbar o presidente Lula como ‘marqueteiro’. No Congresso, PSDB e do PFL criticam a falta de agenda política e cobram cada vez mais resultados na área social. Agora, até mesmo a operação espetacular para trazer ao Brasil o presidente deposto do Equador, Lucio Gutiérrez, entrou no bombardeio oposicionista. ‘A ordem é bater em Lula’, afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio. ‘Não adianta bater no Palocci porque isso só vai tirar votos quando ele for candidato a prefeito de Ribeirão Preto’, ironizou. Para o senador José Agripino (RN), líder do PFL, ‘este é o governo do marketing’. ‘Manda avião buscar presidente do Equador, faz périplo pela África, mas não cumpre promessas de primeiro emprego e farmácia popular.’ Mariana Caetano Ao mesmo tempo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobra de seus ministros da área social esforço redobrado na divulgação de seus resultados positivos, o governo articula o lançamento de nova campanha publicitária voltada para a auto-estima do brasileiro, agora com fins educativos. Em palestra para 150 empresários do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), o secretário de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, pediu ontem adesões para uma segunda etapa da campanha ‘O melhor do Brasil é o Brasileiro’, no ar desde julho. A idéia é lançar, até junho, um novo slogan – ‘Um bom exemplo, tudo começa por aí’, numa espécie de Parceria Público Privada (PPP) de comunicação.


O ministro negou que haja ligação entre a campanha e o apelo para que seus colegas façam mais propaganda de seus programas, mas o fato é que Lula, como revelou o Estado ontem, aposta na ofensiva de boas notícias oficiais para reverter a agenda negativa no País. A lista de dores de cabeça é longa. Inclui as denúncias contra o ministro da Previdência, Romero Jucá, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a falta de apoio no Congresso, o novo aumento de juros…


Preocupado com seu desempenho na corrida eleitoral em 2006, Lula teme o que chamou de ‘efeito Marta’. Acredita que a ex-prefeita Marta Suplicy perdeu a reeleição em São Paulo porque divulgou mal suas ações sociais. ‘Efeito Marta? O que é isso?’, desconversou Gushiken. ‘O que o presidente pediu aos ministros da área social é que de fato difundissem as informações em escala mais ampliada’, explicou, pouco antes, o ministro. Segundo ele, há realizações positivas a serem exploradas, por exemplo, no Fome Zero, no programa de agricultura familiar, na área educacional.


A despesa do governo com propaganda não vai mudar, insistiu. ‘Os ministros vão dar mais entrevista, falar mais com a imprensa, coisa que o político no Poder Executivo às vezes fica restrito’, afirmou Gushiken. Novas levas de comerciais voltados para a área social serão lançadas logo – ‘tem coisa todos os dias’, disse ele – mas o próprio ministro tratou de dar exemplo aos colegas ontem.


Atendeu a imprensa, sorridente, por meia hora. A seu pedido, porém, os jornalistas não puderam assistir à palestra-almoço em que pediu adesão para a campanha ‘Um bom exemplo – Tudo Começa por aí’. Antes, ele fez a defesa dos gastos públicos e da carga tributária, apontada pelos empresários como maior entrave para o crescimento dos negócios.


PESQUISA


Durante o encontro, foi divulgada uma pesquisa feita entre os integrantes do Lide, que deu nota 3,5 para a eficiência gerencial do governo. Gushiken também ouviu de um dos empresários reunidos no Hotel Grand Hyatt que fizesse uma campanha entre todos os servidores públicos sobre como atender melhor a população. O ministro disse que a nova campanha poderia incluir sim os servidores.


DETALHES


O slogan da campanha ainda pode mudar, mas o mote será mesmo exemplos a serem seguidos, contou Gushiken. Ele destacou que o governo será só um coadjuvante – os responsáveis são a Associação Brasileira de Agências de Propaganda (Abap), Federação Nacional das Agências de Propaganda (Fenapro) e Associação Brasileira de Publicidade (ABP) -, encarregado de buscar empresas interessadas em financiar o projeto. Na primeira fase, a campanha ‘O melhor do Brasil…’, com o mote ‘Sou brasileiro, não desisto nunca’ veiculou o equivalente a R$ 100 milhões em espaço de mídia cedido gratuitamente. Segundo Maurício Machado, da Associação Brasileira de Anunciantes, mais de 300 empresas aderiram ao projeto.


O novo pacote deve divulgar ‘bons exemplos’ nas áreas de saúde, educação, meio ambiente e segurança no trânsito. ‘Se focarmos no exemplo, estimulando as crianças a lerem, pode ser que a gente produza uma excelente campanha’, disse Gushiken. ‘Trata-se do interesse público.’ Empresas de áreas correlatas podem se beneficiar diretamente com a campanha, afirmou. Daí o esforço para que financiem o projeto.’



TODA MÍDIA


Nelson de Sá


‘Vontade de potência ‘, copyright Folha de S. Paulo, 27/04/05


‘Antes mesmo de chegar ao país, ainda no avião, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, saiu repisando os diplomáticos elogios. Na transcrição do site do Departamento de Estado:


– O Brasil é uma potência emergente e marcante na região, bem como globalmente. E está assumindo responsabilidades em lugares como o Haiti… É um fato que o Brasil é potência regional e uma crescente presença global. E nós pensamos que isso é uma coisa boa.


Depois:


– O Brasil é uma grande democracia multiétnica, como os EUA, com muitas das mesmas raízes africanas, européias… O surgimento de grandes democracias multiétnicas como Brasil, Índia, África do Sul é um desenvolvimento importante e não há o que temer.


Já em Brasília, em meio à ‘photo-op’ com Daiane dos Santos, Rice repetiu as mesmas declarações. Depois, ao lado do chanceler Celso Amorim, repetiu-se ainda outra vez. E tome então a seqüência de manchetes do ‘país que vai para a frente’. No Jornal Nacional:


– A secretária americana diz que o Brasil emerge como potência mundial.


No Jornal da Record:


– Rice elogia o papel crescente do Brasil no mundo.


No Jornal da Band:


– Condoleezza Rice diz que o Brasil está se tornando uma potência mundial.


Palavras, palavras. No site do Departamento de Estado, a secretária encerrou dizendo, ao ser questionada sobre apoio à cadeira permanente no Conselho de Segurança:


– É evidente que muito aconteceu desde 1945 e que a ONU, como outras organizações internacionais, vai ter que… terá que começar a refletir isso. E é isso o que nós vamos estar falando para os brasileiros.


Elogios, mais nada.


De todo modo, a BBC Brasil ouviu ontem vários ‘analistas em Washington’ e concluiu que ‘a visita de Rice é reconhecimento de liderança do Brasil’ na América Latina.


E os argentinos, mais uma vez, não gostaram nada. No título da reportagem, na versão impressa do ‘La Nación’:


– Rice viaja à região, mas não à Argentina.


Um funcionário do governo americano, ouvido pelo jornal, declarou que a secretária ‘recebeu vários convites, mas ela não tinha espaço suficiente para visitar a Argentina’.


Foi o bastante para a chancelaria argentina responder, no próprio ‘La Nación’ e em outros, que ‘não houve gestões entre a Argentina e os Estados Unidos para incluir Buenos Aires na viagem da secretária’.


SÉQUITO


Na esteira da secretária de Estado veio toda a cobertura anglo-saxã. Da britânica BBC World à americana Fox News, que até saudou o Brasil ‘potência emergente’, e às redes, como ABC e PBS


Constitucional


Em meio aos lamentos do novo presidente do Equador de que ‘ninguém telefona’, ontem, em entrevistas ao argentino ‘Clarín’ e outros, Condoleezza Rice foi direta:


– A chave é mostrar ao povo equatoriano que os EUA e todos os membros da OEA apóiam a via constitucional.


E nada de reconhecimento.


Alca ou OMC


O ‘Miami Herald’ publicou dois editoriais seguidos cobrando prioridade para a Alca na viagem da secretária.


Rice defendeu ‘reenergizar’ a Alca ao lado do chanceler Celso Amorim, mas antes avaliou que ‘o que precisamos é trabalhar juntos através da Organização Mundial do Comércio’.


‘Sonho’


Os canais internacionais de notícias voltaram as câmeras, ontem, para mais uma crise latino-americana. No enunciado do engajado ‘Página 12’:


– Na Nicarágua, sonham com o Equador.


As ‘ruas’ querem agora pôr um antigo sandinista no lugar de um conservador.


Sem volta


O ‘Los Angeles Times’ deu um longo perfil do padre nicaragüense Ernesto Cardenal, ex-ministro durante a revolução, repreendido por João Paulo 2º há duas décadas.


Cardenal agora é contra a volta do sandinista Daniel Ortega ao poder, apóia outro, mas vai ao ataque contra o papa Bento 16, ‘um inquisidor’.


DOENTE CONTENTE


Posando ontem com a secretária Condi Rice e depois com a modelo Naomi Campbell, Lula ainda achou um jeito de aparecer na longa entrevista que Daniel Passarela deu para ao argentino ‘Olé’.


De acordo com o treinador, ‘o presidente do Brasil é um corintiano doente’ e já mandou, por intermediários, o recado de que ‘está contente’.’



***


‘Nova onda ‘, copyright Folha de S. Paulo, 26/04/05


‘O ‘Financial Times’ informou que Condoleezza Rice, secretária de Estado dos EUA, conversa hoje com Lula ‘em busca de apoio na estabilização de uma América Latina cada vez mais volátil’.


Diplomatas brasileiros, ‘sempre chamados a apagar incêndios políticos nos países vizinhos’, estão agora às voltas com o Equador -e o ‘FT’ diz que ‘se espera o apoio público da secretária às iniciativas’.


Para a agência espanhola EFE, o Equador ‘é o assunto principal e mais urgente a ser tratado por Rice’. Para a agência britânica Reuters, o país é ‘a vítima mais recente em uma nova onda de intranqüilidade política que varre a América Latina’.


Diz o ‘New York Times’ que o problema é a economia:


– O crescimento econômico da região atingiu 5,5%, o melhor em uma geração, a inflação está baixa, as reservas crescem. Mas as boas notícias não se traduzem em habitação aos pobres, mais professores ou paz social.


Foi assim no Equador, pode ser assim em outras partes.


E tem a Venezuela. Domingo, em seu programa de TV e rádio, Hugo Chávez trombeteou o fim do intercâmbio militar com os EUA. Afinal, os oficiais americanos estariam ‘jogando os nossos rapazes contra nós’.


De quebra, anunciou a prisão de ‘vários’ americanos e que os EUA ‘podem’ estar planejando a invasão da Venezuela.


Segundo o ‘FT’, ‘Mr. Lula da Silva foi bem-sucedido em se apresentar como aliado tanto de Washington como de Caracas’, daí a conversa com Rice.


E daí a súbita -e rápida- viagem do ministro José Dirceu à Venezuela, noticiada ontem pelo Jornal Nacional.


GUERRA SANTA


‘Os cruzados como lição de harmonia?’, ironizou o ‘New York Times’ no título da reportagem sobre o filme de Ridley Scott, ‘Kingdom of Heaven’, reino do céu. Traz ‘batalhas no deserto’, ‘muçulmanos resistindo aos invasores cristãos’, prisioneiros mortos ‘por sua fé’ -e o cineasta diz mostrar como muçulmanos e cristãos podem viver ‘em harmonia’. Do ‘trailer’, no site do filme: – Paz, não guerra, é o que está no fim da cruzada.


PONTES DE AMIZADE


Dos telejornais brasileiros à BBC e ao ‘Washington Post’, foi mais um dia de ‘transformação’ para Bento 16. Após a homilia de domingo, em que ‘citou judeus mas não muçulmanos’, o papa achou por bem, ontem, ‘dizer aos enviados muçulmanos que quer continuar a erguer ‘pontes de amizade’ para estimular a paz’.


Enfim


A Globo News anunciou que ‘Lula vai conceder a primeira entrevista coletiva do mandato’. A primeira, em dois anos e meio. Antes, segundo o canal, ele ‘já deu entrevista a repórteres de rádio, correspondentes’ etc. -além, é claro, da Globo aqui e ali, desde a posse.


No site da Agência Brasil, o ministro Luiz Gushiken disse que agora ‘todos os ministérios devem buscar aproximação com os meios de comunicação’. É um ‘pedido’ de Lula.


Sem alma


O ‘Sunday Times’ publicou no domingo e a BBC Brasil ecoou ontem a ‘resenha’ que Christina Lamb escreveu sobre o novo livro de Paulo Coelho -cuja protagonista é baseada nela própria, correspondente de guerra do jornal. Ela descreve os contatos e encerra:


– Eu aprendi que entrevistar escritores que são celebridades pode ser mais perigoso do que cobrir uma guerra. Eles podem não atirar em você, mas podem roubar a sua alma.


COLETIVO DE CELEBRIDADES


Estréia no dia 9 mais um esforço dos ‘liberais’ dos EUA para reagir ao ‘domínio conservador’ na mídia. O coletivo de blogs The Huffington Post (logotipo acima) vai do jornalista Walter Cronkite ao dramaturgo David Mamet, passando pela atriz Diane Keaton -ao menos foi o que as celebridades prometeram, ironizou o ‘NYT’.’



FSP CONTESTADA


Painel do Leitor, Folha de S. Paulo


‘Leitor’, copyright Folha de S. Paulo, 26/04/05


‘‘Sou assinante da Folha há mais de 30 anos. Tenho escrito vários e-mails sobre assuntos diversos para o ‘Painel do Leitor’ e nunca tive minhas críticas publicadas, ao contrário do que acontece com autoridades e políticos, que ocupam 80 % do painel que deveria ser do leitor. Um bom exemplo é o caso dos secretários e vereadores aliados de José Serra, que têm espaço cativo nesta seção. Tem razão o leitor que escreveu ao ombudsman dizendo que este é um ‘painel sem leitor’. Sugiro uma auditoria nos selecionadores do ‘Painel do Leitor’, pois esse critério está trazendo muita desconfiança ao leitorado.’ Liberato Mauro Barison (São Paulo, SP)


Café


‘Como associado da Cooperativa Regional dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso (Cooparaíso), repudio e contesto o artigo ‘O fim do café mofado’, de Luís Nassif, publicado em 7/4 (Dinheiro), pois ele não retrata a realidade dos fatos. Cumpre-me esclarecer que a situação financeira e econômica da Cooparaíso é excelente e que não há nenhum fato que a coloque em risco financeiro ou econômico. A prova de tal fato está na AGO de 31/3/2005, em que aprovamos por unanimidade o seu balanço e a prestação de contas da diretoria. Portanto a alegação de que ‘a Valparaíso está em situação complicada’, além de inverídica e irresponsável, demonstra total desconhecimento sobre a sua saúde financeira -e até o nome da empresa foi distorcido, de Cooparaíso para Valparaíso. Saliento ainda que os financiamentos obtidos no Funcafé beneficiam os cooperados, e não a cooperativa. Esse fato demonstra a temeridade daquele texto e o total desconhecimento da questão pelo seu subscritor, com todo o respeito devido a ele. Em relação à criação da empresa Global, em que quatro cooperativas (três de Minas Gerais e uma de São Paulo) se associaram para ordenar a oferta de café, noto que o senhor Luís Nassif desconhece seus objetivos e a recente manifestação do senhor ministro Roberto Rodrigues (Agricultura), que recentemente fez o seguinte pronunciamento: ‘A Global é a primeira novidade no mundo do café nos últimos 20 anos, mais especificamente após o fim do Acordo Internacional do Café. Há muitos anos, venho defendendo a necessidade de iniciativas como essa. A aliança estratégica entre cooperativas e uma empresa de capital, na forma de uma sociedade anônima, de gestão totalmente privada, merece todo o nosso apoio’.’ Estevão José Figueiredo Pereira, advogado, associado e produtor de café (São Sebastião do Paraíso, MG)


Resposta do jornalista Luís Nassif – No Programa de Capitalização da Global, é oferecido como contrapartida a quem se associar ‘prioridade nos empréstimos a juros de 8,75% ao ano’. Ou seja, estão utilizando politicamente os recursos do Funcafé para atrair associados. De qualquer modo, já conversei com o deputado Carlos Melles, um dos pais da idéia, e com críticos e voltarei ao tema. Sobre o nome da cooperativa, leia abaixo a seção ‘Erramos’.’