Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sobre o PNAD e o jornalismo-pinóquio

A Folha de S.Paulo mais uma vez deu nó de marinheiro em pingo d’água para esculhambar com o governo Lula. Pinoquiou, no domingo (25/12, pág. A-4), com as conclusões da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD 2005) em reportagem de Antônio Góis e, dois dias depois (27/12), martelou a patacoada por meio da coluna opinativa de Clóvis Rossi. Vamos aos fatos do crime de engana-leitor-desavisado.

No dia 25 de dezembro, a Folha, embasada em conclusões do sociólogo Álvaro Comim, do Cebrap, a partir da PNAD 2005, do IBGE, chegou às bancas e às residências de seus assinantes com a seguinte manchete: ‘Renda salarial cai e pobre depende mais do governo’. Logo abaixo dessa chamada, num texto explicativo sobre a reportagem, podia ser lido que ‘nos últimos nove anos, aumentou a dependência que a população extremamente pobre tem dos programas do governo’; e que ‘o estudo revela ainda que a distância entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres aumentou e que, se analisada a partir de seus extremos de riqueza e de pobreza, a economia brasileira não parou de produzir desigualdade’.

Na página A-4 da Folha, a íntegra da reportagem mais uma vez repetia que entre 1995 e 2004 ‘a economia brasileira não parou de produzir desigualdade’. Havia também o detalhamento dos resultados da PNAD 2005:

** ‘De 1995 a 2004 houve queda na renda tanto dos 10% mais ricos quanto na dos 10% mais pobres’;

** ‘No extremo da riqueza, o rendimento médio total dos trabalhadores caiu 21,9%, de R$ 4.230 para R$ 3.305’;

** ‘No outro extremo, a queda foi ainda maior: de R$ 96 para R$ 58, variação de –39,6%’.

Apenas numa pequena caixa ocupando apenas 11,50% do total do espaço dedicado à análise da PNAD 2005, e localizada no canto inferior direito da página, havia informação sobre o comportamento da desigualdade entre 2003 e 2004, anos do governo Lula: ‘Apesar da tendência de aumento da desigualdade entre extremos desde 1995, o Cebrap mostra também que de 2003 para 2004 [vale lembrar, durante o governo de Lula e do PT, destaco e friso] houve inversão nesse movimento’, pois ‘de um ano para o outro, a renda dos 10% mais pobres cresceu 11%, enquanto a dos 10% mais ricos caiu 1,3%’.

Isto mesmo: o escondido texto sobre o comportamento da desigualdade durante os dois primeiros anos do governo Lula contraria a afirmação, repetida tanto na capa como na íntegra da reportagem, de que entre 1995 e 2004 ‘a economia não parou de produzir desigualdade’.

Regra de ouro

Mas ao invés de corrigir a desinformação duas vezes repetida, a Folha voltou a pinoquiar, no dia 27/12, pág. A2, por meio da coluna opinativa de Clóvis Rossi, jornalista famoso pelo tom tucano e aziago e pela contradição de idéias e argumentos entre seus textos.

O colunista, que só lê as chamadas da capa e parte das reportagens do jornalão em que trabalha ou deliberadamente decidiu endossar uma mentira descarada, transcreveu em sua coluna, utilizando aspas, a desinformação publicada dois dias antes:

‘O estudo revela ainda que a distância entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres aumentou e que, se analisada a partir de seus extremos de riqueza e de pobreza, a economia brasileira não parou de produzir desigualdade’.

E foi ainda mais longe: referindo-se ao PT e ao PSDB, escreveu: ‘Acomodaram-se à miséria e à desigualdade no poder’.

Esse episódio é exemplo emblemático do comportamento canalha da grande imprensa brasileira. Carregam nas tintas de suas armas de papel impresso para esculhambar com o governo e dão nó de marinheiro russo em pingo d’água para minimizar, distorcer e boicotar os sucessos da atual administração federal.

A desinformação travestida de notícia e martelada até a exaustão é regra de ouro do jornalismo pinóquio.

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Estudante de medicina da Universidade Federal de São Paulo