Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Katharine Q. Seelye


‘Eis uma capa da Newsweek para daqui a 100 anos: uma vista aérea dos Estados Unidos, com a Califórnia separada do continente e flutuando no Pacífico. A manchete: ‘Ilha Califórnia: mais popular do que nunca 62 anos depois do Grande Terremoto’. E a Sports Illustrated daqui a um século: ‘O Inferno Congelou! Cubs Vence a Liga Mundial de 2105’.


Essas falsas capas do futuro fazem parte de uma campanha de 3 anos e US$ 40 milhões da indústria de revistas para tentar convencer publicitários de que revistas, que existem nos Estados Unidos há quase 250 anos, provavelmente estarão aqui nos próximos 250, aconteça o que acontecer. Ao mesmo tempo, a indústria jornalística começou uma campanha multimilionária de 3 anos para melhorar a imagem para os anunciantes.


A Newspaper Association of America contratou a Martin Agency de Richmond, VA. – cujos clientes incluem United Parcel Service, Geico e Miller Beer – para ajudar a mudar a percepção de enfadonhos para contemporâneos dos jornais. A Magazine Publishers of America contratou a HotSpring, empresa especializada no desenvolvimento de marcas em Nova York, para ter idéias sobre como pode se reposicionar, e a agência de propaganda Fallon New York para atingir a indústria publicitária. Esta é a primeira vez que as revistas se unem num esforço de marketing de larga escala.


Não é segredo: os impressos se sentem mais ameaçados do que nunca. Os jornais e revistas podem ter reclamado quando o rádio e a televisão chegaram. Mas eles parecem estar em total pânico agora com a internet.


Com as campanhas de publicidade, os pobres e velhos impressos declaram ‘Já chega!’, como disse John Kimball, chefe de marketing da Newspaper Association of America. ‘Lê-se coisas sobre a morte da indústria, que a internet está comendo nossas refeições, que todo mundo vê televisão, que a propaganda nacional está decaindo nas grandes metrópoles’, ele afirma. ‘Mas o meio é muito forte. Há muitos anúncios nos jornais e não é porque as pessoas acham que estão fazendo caridade. Elas investem no meio porque dá resultado.’ Os jornais em geral são lucrativos, mas deixam Wall Street pouco entusiasmado. Um relatório da Goldman Sachs da semana passada alertou os investidores que ‘o fraco crescimento da receita publicitária, fracas receitas de circulação’ e ‘uma tendência descendente em estimativas de lucro’ reforçaram a ‘visão negativa’ da indústria dos jornais. E revelações recentes de números inflados de circulação pioraram o clima para alguns anunciantes.


Earl C. Cox, executivo chefe da Martin Agency e líder da campanha de relações públicas dos jornais, disse que a atual percepção dos jornais entre os anunciantes era de que eles eram ‘estáticos, inflexíveis e difíceis de comprar’. E, acrescentou, ‘não ajuda que os compradores da mídia sejam menores de 30 anos e seus focos estejam em outro lugar’, principalmente na internet.


Lembrou que os jornais precisavam recontar sua história para lembrar aos anunciantes que tem leitores altamente engajados e influentes e que eles prestam atenção, diferentemente de alguns ‘olhos’ que surfam pela internet.


Sua agência está para montar um plano estratégico até este verão, mas ele já tinha um conselho: no cartão de visita, em vez de ‘negócio de jornais’ pé melhor usar ‘negócio de notícias’. Tradução: o mundo dos jornais está muito antiqüado.


CONFIANÇA


As revistas estão em posição relativamente diferente. Elas parecem ter se recuperado da queda publicitária de alguns anos atrás. Páginas publicitárias na indústria em março aumentaram 1,2% em relação a março de 2004. No primeiro trimestre deste ano, apareceram 76 novas revistas. ‘A indústria de revistas está extremamente saudável’, disse Jay Kirsch, vice-presidente da AdMedia Partners, consultores financeiros para revistas. ‘As semanais estão em situação difícil, mas as mensais, de estilo e segmentadas, vão muito bem.’


Dos US$ 141 bilhões gastos em todo tipo de anúncio em 2004, cerca de 17% foram para revistas, segundo a TNS Media Intelligence. Os jornais ficaram com 20% disso; a televisão aberta, 18%; a televisão a cabo, 12%; e internet, 6%. A fatia dos jornais diminuiu, a das revistas estabilizou e a da internet cresce rapidamente. A Advertising Age previu na semana passada que as receitas publicitárias anuais de Google e Yahoo, juntas, equivaleriam às das três grandes emissoras de televisão, marcando o que é chamado de ‘grande momento’ na evolução da internet.


‘Eles são muito bons em expor produtos que os consumidores adoram, valorizam e confiam. Confiança é muito difícil encontrar estes dias’, disse Jack Kliger, presidente e executivo-chefe da Hachette Filipacchi Media US, que publica Elle, Woman’s Day e Car and Driver, entre outras. ‘Nós não temos sido muito bons em fazer o marketing de nossa mídia.’


Os leitores de revistas, como os leitores dos jornais, estão altamente engajados. Segundo Kliger, uma pesquisa mostrou que, quando lêem revistas, as pessoas provavelmente não usam outro tipo de mídia. Quando assistem televisão, ouvem rádio ou esperam para baixar alguma coisa da internet, provavelmente ouvem, assistem ou lêem alguma coisa. É possível ainda que estejam zapeando entre vomerciais ou apagando pop-ups invasores. Mas, assegura, os leitores de revistas normalmente encaram os anúncios como reforço e parte da experiência da revista. ‘O engajamento melhora o retorno do nosso investimento’, disse.


Nina Link, presidente do grupo de editores de revistas, disse que a campanha de marketing não quer denegrir a concorrência. ‘Somos honestos com as outras mídias no campo de batalha’, disse ela. ‘Não dizemos para não anunciarem neles.’ Mas, afirma, ‘queremos uma parte maior da receita’.


A idéia por trás das capas futuristas era mostrar aos anunciantes que seja quais forem os desastres naturais que possam ocorrer na Terra nos próximos 100 anos, as revistas sobreviverão.


Kliger disse que algumas revistas podem até a publicar capas futuristas atrás das capas verdadeuiras, só para reforçar a mensagem com leitores comuns – que talvez nem estejam preocupados com um mundo onde a clonagem será comum, as mulheres darão à luz aos 75 anos e o aquecimento global terá criado praias na Antártica.’



ARGENTINA vs. BRASIL


O Estado de S. Paulo


‘‘El Pingüino’ detesta os jornais brasileiros ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 4/05/05


‘RECUSA: ‘O presidente Kirchner não quer falar com a imprensa brasileira. Nem ontem, nem hoje, nem no futuro. Não falará nunca com a imprensa brasileira, jamais.’ A frase, disparada em julho do ano passado, durante a reunião de cúpula do Mercosul realizada na pequena cidade argentina de Puerto Iguazú, é do porta-voz de Kirchner, Miguel Nú‡ez. Apesar dos insistentes pedidos dos correspondentes brasileiros em Buenos Aires, Kirchner nunca quis dar entrevistas. Encurralado por um substancial grupo de jornalistas brasileiros, entre eles do Estado, o assessor do presidente não explicou os motivos da repulsa de Kirchner à imprensa que mais publica diariamente sobre a Argentina em todo o mundo, isto é, os jornais brasileiros. Os motivos dessa ojeriza não foram explicados pelo porta-voz. Os brasileiros não são o único alvo da indiferença de El Pingüino (O Pingüim), como é conhecido. ‘Os maus-tratos são iguais para todos’, diz Carmen De Carlos, do jornal espanhol ABC.’



INGLATERRA


Folha de S. Paulo


‘Três jornais apóiam Blair para 3º mandato’, copyright Folha de S. Paulo , 4/05/05


‘A recondução do trabalhista Tony Blair à chefia do governo foi ontem defendida por três importantes jornais britânicos com linhas editoriais divergentes.


São eles ‘The Times’ (conservador), ‘The Guardian’ (de esquerda) e o ‘Financial Times’, jornal econômico e financeiro. O semanário ‘The Economist’ já fizera o mesmo quinta passada.


Os eleitores renovam amanhã a Câmara dos Comuns, e o Partido Trabalhista -apesar da controvertida adesão de Blair à Guerra do Iraque- lidera com folga todas as pesquisas de intenção de voto. É possível, no entanto, que os eleitores não lhe dêem uma vitória ampla como em 1999 e 2001.


O temor no círculo de Blair é de que se elejam em grande número deputados trabalhistas mais nitidamente de esquerda, o que obrigaria o premiê a flexionar suas políticas internas, cada vez mais próximas do centro.


Os trabalhistas, diz o ‘Financial Times’, ‘demonstraram competência econômica’ nas duas legislaturas em que foram majoritários. A conquista de uma terceira legislatura consecutiva seria inédita na história do partido.


O jornal também critica a proposta do Partido Conservador, liderado por Michael Howard, de impor cotas à imigração, idéia rejeitada pelo empresariado.


O ‘Times’, propriedade do magnata australiano Rupert Murdoch, crê que ‘o melhor para o Reino Unido seria uma maioria trabalhista renovada e mais reduzida’ e uma oposição conservadora maior. A seu ver, o país ‘jamais alcançou um padrão de educação e de riqueza’ como durante as duas legislaturas em que Blair foi o primeiro-ministro.


Por sua vez, o ‘Guardian’, historicamente ligado aos trabalhistas, faz a ressalva de que Blair atolou o país no Iraque, num conflito que o jornal tem duramente criticado. Mas disse não se tratar de um referendo sobre a participação na guerra e que os trabalhistas continuam a ser uma alternativa melhor que os conservadores ou que os liberais-democratas, partido agora ascendente.


Parentes de militares mortos


Um grupo de familiares de soldados britânicos mortos no Iraque promoveu ontem uma manifestação diante da residência de Tony Blair, responsabilizando-o pelas mortes e pedindo uma investigação sobre a legalidade da participação de Londres no conflito. Já morreram 87, o último deles na segunda-feira.


As pesquisas indicam, no entanto, que o Iraque é um tema secundário durante a atual campanha. O desempenho do governo nas áreas de saúde e educação sensibilizam mais os eleitores.


Mesmo assim, a mãe de Anthony Wakefield, 24, o soldado morto na segunda, disse responsabilizar o premiê pela morte de seu filho. ‘Tony Blair mentiu para nós e apenas participou da guerra porque queria ter um lugarzinho na história’, disse ela.


Sua nora e viúva do soldado, Anne Toward, disse que a morte do marido ‘foi por responsabilidade direta de Tony [Blair]’.


Recentemente, ao ser abordado por um eleitor sobre o assunto, Blair respondeu que um chefe de governo é sempre obrigado a tomar decisões justas, mesmo que elas sejam bastante dolorosas.


Os liberais-democratas, único dos três grandes partidos britânicos que se opõe abertamente à guerra, tem 22% das intenções de voto, segundo pesquisa do Instituto Mori, publicada ontem pelo ‘Financial Times’.


Os trabalhistas surgem com 39%, e os conservadores receberiam em torno de 29%.


A Guerra do Iraque ressurgiu no primeiro plano do noticiário quando da divulgação de um documento de lorde Goldsmith -espécie de chefe da Advocacia Geral do Executivo britânico- no qual ele alertava que o conflito poderia ser contestado caso o Reino Unido não estivesse respaldado por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, que não chegou a ser votada. Com agências internacionais’



QUÊNIA


Meera Selva


‘Primeira-dama em dias de fúria’, copyright O Globo / The Independent, 4/05/05


‘A instável primeira-dama do Quênia, Lucy Kibaki, protagonizou uma série de confusões noturnas em Nairóbi no último fim de semana. Diplomatas, jornalistas e policiais foram alvos da ira da primeira-dama que os acusou de não a terem tratado com respeito suficiente.


O primeiro surto ocorreu por volta da meia-noite de sexta-feira, quando ela adentrou a casa do diretor do Banco Mundial no país, Mkhtar Diop, vestindo um conjunto de moletom e exigindo que ele abaixasse a música da festa que oferecia.


Um dos convidados contou: ‘Makhtar estava no palco, tocando baixo, quando Lucy entrou exigindo que parassem a música. Eles pararam de tocar imediatamente, mas ela tentou desligar os equipamentos. Estava doida pra arrumar uma briga.’


Nem mesmo os filhos de Lucy, que estavam na festa, conseguiram aplacar a ira da mãe, que voltou ainda outras duas vezes à casa do executivo – ao lado da sua – para despejar novos insultos sobre os convidados. Diop se manteve calmo na maior parte do tempo, mas se descontrolou quando ela gritou: ‘Você deve ter tido uma mãe muito ruim para fazer algo assim.’ Insultar a mãe de alguém é algo inaceitável na maior parte das culturas africanas e o senegalês Diop teve que ser contido fisicamente para não reagir a seus comentários.


Na noite seguinte, Lucy foi à delegacia local de short – um traje bastante incomum para mulheres africanas de meia-idade – e exigiu que Diop e os convidados fossem presos por perturbação da ordem.


O Quênia tenta atualmente retomar boas relações com o Banco Mundial, que criticou a corrupção generalizada no país e, na segunda-feira, todos os jornais sustentavam que o comportamento da primeira-dama constrangia a nação.


As reportagens só serviram para enfurecer ainda mais Lucy que, na noite de segunda, foi à redação do grupo jornalístico ‘Nation’ acompanhada de seus guarda-costas, exigindo que o repórter que escrevera sobre sua briga com Diop fosse preso. Ela ainda agrediu um câmera que a filmava e se recusou a deixar os escritórios do grupo até as 5h30m da manhã de terça.


Ao reclamar das reportagens ela afirmou: ‘Escreveram até que eu fui à delegacia de short. Qual o problema da primeira-dama usar short? Eu também uso saia e biquíni quando vou nadar.’’