Diariamente abrimos os jornais e nos deparamos com números de pesquisas. É uma verdadeira avalanche de números de todos os tipos. Lá podemos encontrar que tantos por cento de jovens fumam, que X % de homens não gostam de fazer compras, e que os brasileiros atribuem essa ou aquela nota a tal governo. São tantas informações que fica difícil assimilar. Mas não é este o ponto que pretendo me deter. Quero analisar a forma como esta informação é transmitida pelos jornalistas aos seus leitores.
Para exemplificar, vamos tomar o caso da pesquisa Cepa/UFRGS sobre a opinião dos gaúchos em relação tanto ao governo federal como ao governo estadual. Ao ler as matérias sobre a pesquisa, segui meu cacoete de publicitário e fui atrás da metodologia e do questionário aplicado – enfim, da pesquisa em si. Chegando lá, pude fazer uma constatação que, aliás, não tem nada de mais, bastava um pouquinho de curiosidade e apenas cinco minutos por parte dos jornalistas para que pudessem perceber aquilo que eu denominei de pequeno-grande equívoco.
A primeira pergunta dizia o seguinte: ‘De zero a 10, que nota você dá para o governo [Germano] Rigotto neste terceiro ano de governo?’ Ou seja, este questionamento se refere ao terceiro ano da administração do governador do Rio Grande do Sul, e não aos três anos de governo. Tudo bem, não haveria problemas, se a pergunta fosse somente esta. Contudo, depois dela, vinham várias outras que serviriam para desmembrar a resposta da primeira. Nestas, porém, tínhamos a expressão ‘até o momento’, ou seja, estavam, ao contrário da primeira, questionando sobre os três anos de governo, e não apenas sobre o terceiro ano.
Leitor-consumidor
Mandei e-mails para diversos veículos de comunicação e para diversos jornalistas. Não recebi respostas e escutei poucos (ou sendo mais direto, nenhum) comentário sobre isso. Posso estar parecendo um ‘mala’, mas a forma como é feita uma pergunta pode alterar todo o resultado.
Vamos ter eleições em breve, e aí sim teremos uma avalanche de números. Seria bom os jornais estarem preparados para poder checar a metodologia e as perguntas. Para que possamos ter dados mais confiáveis (ou corretamente interpretados).
Enfim, pesquisa de opinião nada mais é do que uma pesquisa como qualquer outra. Em qualquer faculdade aprendemos que pesquisa deve ter uma dúvida inicial, da qual deverá ser desenvolvida a análise. A pergunta deve estar bem estruturada, e a análise não deve fugir do seu foco, senão… os dados obtidos serão no mínimo duvidosos.
Isso se aprende em qualquer faculdade, inclusive nas de jornalismo. E não será preciso ser publicitário ou especialista em marketing para descobrir os equívocos de uma pesquisa.
Nada contra os jornalistas, quero apenas informações mais completas, acho que mereço isso como leitor e consumidor.
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