Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Grande mídia dá pouco espaço à política nacional de juventude

Em março, ao longo do mês seguinte ao lançamento da Política Nacional de Juventude pelo governo federal, com a criação da Secretaria Nacional de Juventude, do Conselho Nacional de Juventude e do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Pró-Jovem), o tema ocupou pouco espaço na grande mídia. Esteve presente apenas na pauta de oito jornais, com a publicação de um texto por veículo. Foi em 1º de fevereiro que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou a medida provisória instituindo uma política que pretende atender os interesses dos jovens brasileiros.

O Pró-Jovem visa beneficiar 200 mil jovens em situação de risco e vulnerabilidade social e tem rubrica de R$ 311 milhões no orçamento de 2005. Executado em parceria com as prefeituras das capitais, o programa oferecerá oficina de capacitação com inclusão digital e qualificação profissional, mais uma bolsa de R$ 100,00 mensais. A iniciativa prevê também oferta de cursos supletivos para a conclusão do ensino fundamental. Em contrapartida, os alunos farão trabalhos comunitários. Para participar, é preciso ter completado a 4ª série do ensino fundamental, mas não ter concluído a 8ª, nem ter qualificação adequada para ingressar no mercado de trabalho. O Pró-Jovem integrará cerca de 50 ações governamentais relativas aos jovens, incluindo os programas Primeiro Emprego e o Programa Universidade Para Todos (ProUni).

Por se tratar de uma política de amplitude inédita e direcionada a um público que até agora pouco foi beneficiado por ações governamentais, pode-se dizer que a Política Nacional de Juventude esteve na pauta de um número pequeno de jornais e, no geral, de maneira superficial e descontextualizada. Como as análises dos meses anteriores mostraram, a mídia dá mais visibilidade a essas políticas por ocasião de seus lançamentos, deixando de acompanhar a implementação e os resultados posteriores.

Grande parte dos textos publicados em março não preocupou-se em contextualizar a situação da população jovem no Brasil, com relação a níveis de escolaridade, desemprego e outros índices socioeconômicos. Apenas três textos trouxeram avaliação de expectativas, com um deles evocando um cenário mais geral. A matéria Projeto Juventude deve embasar ações, publicada no Jornal do Tocantins, em 18 de março e assinada por Débora Borges, mostra dados de pesquisa com jovens sobre suas expectativas e preocupações na atualidade. O texto da Tribuna da Bahia, intitulado Secretaria vai incentivar políticas para os jovens, publicado em 25 de março, contextualiza a violência que atinge esse público. A entrevista do secretário de Juventude do Acre, Leonardo Brito, feita por Tatiana Campos para o jornal A Gazeta, de Rio Branco, em 27 de março, trata de questões de diversidade, gênero e violência relacionadas à juventude.

Cadê os jovens?

No geral, a mídia impressa poderia tratar o tema diversificando mais as fontes e, por conseqüência, ouvir os verdadeiros interessados na política pública: os jovens de famílias de baixa renda das capitais. No entanto, os jornais se concentraram na voz do Poder Executivo, responsável por metade das fontes ouvidas; com relação aos jovens, foram consultados apenas quatro representantes de organizações não-governamentais, que são classificados como protagonistas. Não foram entrevistados os jovens que têm o perfil para serem atendidos pelo programa.

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Nº de veículos monitorados: 60

Nº de veículos que trataram da Política Nacional de Juventude em março de 2005: 8

Nº de textos que abordaram/mencionaram a iniciativa: 8

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O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é citado na matéria Jovens até 24 anos representam 30% da população carcerária, publicada pelo jornal O Norte, de João Pessoa, de 22 de março, que traz dados de jovens em conflito com a lei. O diagnóstico do secretário nacional de Juventude, Beto Cury, de que as pessoas de 18 a 24 anos representam 30% da população carcerária do País, abre a reportagem. Nesse caso, também predomina a voz oficial, com fontes de outro ministro e do grupo interministerial.

A segunda edição do encontro Vozes Jovens, iniciativa do governo federal, que ocorreu entre os dias 21 e 23 de março, teve cobertura tímida e ouviu apenas um jovem protagonista, mesmo com a participação de 180 jovens negros, brancos, índios e homossexuais no evento.

População jovem

Com uma população de 34 milhões de adolescentes e jovens, com idades entre 15 e 24 anos, o Brasil não tinha uma política específica para atender a essa faixa etária. ‘Eu tenho menos de dois anos de mandato pela frente. Mas vocês, que estão na faixa dos 20, têm a vida inteira para fazer valer para sempre uma política nacional para a juventude’, disse o presidente Lula em um discurso de improviso, no lançamento da Secretaria.

O anúncio da política de juventude ocorreu na presença de diversos segmentos da sociedade, entre jovens, parlamentares e organizações. O Conselho Nacional de Juventude terá como finalidade propor as diretrizes das ações do governo voltadas para as políticas públicas de juventude. Com o lema ‘Tudo pelo jovem e nada sem o jovem’, o Conselho pretende garantir espaço para a participação do jovem em todo o processo de implementação e fiscalização do trabalho. Ainda em formação, o Conselho terá um terço de representantes do governo e dois terços da sociedade civil que sejam entidades de jovens ou que atuem nessa área.

Pesquisa

Na IV Reunião do Fórum Nacional de Secretários e Gestores Estaduais de Juventude, realizado em Palmas (TO) no dia 17 de março, a consultora especial do Projeto Juventude do Instituto Cidadania e secretária adjunta da Secretaria Nacional de Juventude, Regina Novaes, apresentou a pesquisa Perfil da Juventude Brasileira, do Instituto Cidadania, com um diagnóstico completo da situação do jovem no País. A pesquisa, realizada em 2003, ouviu 3,5 mil jovens e mostra que 74% deles acham que há mais coisas boas do que ruins no jovem. Dos temas que mais os preocupam, do total de três menções de cada entrevistado, segurança/violência está em primeiro lugar (55%), emprego/profissão é a segunda (52%) e drogas é a terceira (24%).

Sem informação

A inexpressiva cobertura da mídia sobre a Secretaria Nacional de Juventude pode explicar o fato de que poucos jovens brasileiros têm conhecimento dos programas governamentais dirigidos a eles. É o que pensa o secretário executivo do Instituto Juventude do Baixo Sul da Bahia, Lucas Guerrieri. Segundo ele, embora muitos jovens estejam articulados para participar da implementação dessas políticas, essa mobilização é pequena se comparada ao número da população dessa faixa etária. ‘Nós estamos provocando essa discussão, mas tem pouca gente sabendo. Na minha cidade as pessoas sabem, mas no estado da Bahia isso ainda está distante’, diz. Aos 25 anos, ele estuda Administração e mora em Ituberá, cidade baiana com 25 mil habitantes.

Para Guerrieri, embora a iniciativa do governo federal e do legislativo represente um avanço na concretização de políticas para os jovens, ele critica a forma como vêm sendo indicados os representantes da sociedade civil para o Conselho Nacional de Juventude – são convidados pelo governo até que se efetive eleições em conferências futuras. ‘O melhor caminho, de escolha de delegados por estados até a realização de uma conferência nacional, deveria já ter sido adotado. Mas deixo claro que os nomes apresentados até agora são de pessoas interessadas nas causas da juventude e articuladas nesse debate’.

Fontes ouvidas sobre a Secretaria de Juventude e o Pró-Jovem

Fontes ouvidas Março (8 textos )

Executivo

50%

Adolescentes/ Jovens Protagonistas20%

Representantes de organismos internacionais

15%

Legislativo

5%

Jovens de baixa renda/ excluídos-

Outros

10%