Em entrevista para o Comitê para a Proteção dos Jornalistas [26/4/05], Jorge Olivera Castillo, um dos 29 jornalistas de oposição presos em março de 2003 pelo governo cubano, conta detalhes dos dois anos em que esteve encarcerado. Sentenciado a 18 anos de cadeia, num julgamento que durou apenas um dia, ele foi libertado no ano passado por motivo de saúde. Castillo afirma que teve apenas 15 minutos para falar com seu advogado antes de ser colocado diante do júri. ‘Eu não fiquei em silêncio. Defendi-me de todas as alegações feitas pelos promotores, cheios de um ódio visceral. Jamais poderei esquecer’.
Autocensura e revolta
O jornalista trabalhou entre 1983 e 1993 no Instituto Cubano de Rádio e Televisão, um órgão estatal. Segundo ele, todos que ali trabalhavam se autocensuravam, pois tinham medo de ultrapassar os limites do regime, sem ter muito claro qual era essa fronteira. ‘A propaganda é controlada de modo muito estrito pelo Departamento de Orientação Revolucionária, onde se desenham as estratégias de informação e doutrinação. Todos os veículos de comunicação são subordinados às estratégias criadas por essa agência. As pessoas se censuravam por medo de retaliação’, conta Castillo, que começou a questionar o governo quando a União Soviética vivia a perestroika. ‘Comecei a pensar em como quebrar aquela barreira de medo e terror, que é algo natural em Cuba, parte de sua cultura’.
Daí veio seu envolvimento com o jornalismo oposicionista. ‘Temos problema de falta de materiais, de fontes de informação. Tudo é tão adverso. Ainda assim, conseguimos articular um movimento de jornalistas independentes de alcance nacional’. O grupo chegou a publicar uma revista, intitulada De Cuba. Depois veio a prisão, onde Castillo, hoje com 43 anos, ficou recluso com criminosos comuns, como estupradores e pedófilos.
Condições subumanas
Logo quando foi preso, o jornalista ficou 36 dias numa cela em que os quatro prisioneiros não podiam ficar em pé ao mesmo tempo, pois não havia espaço. Uma luz fluorescente ficava acesa constantemente e, em vez de um vaso sanitário, havia apenas um buraco no chão. Após o julgamento, ele foi mandado para um presídio a 900 quilômetros de distância de onde vivia sua família. Devido à umidade e à falta de luz solar, Castillo começou a sentir o enfraquecimento de seus ossos. Com a comida, que às vezes chegava estragada, ele contraiu parasitas. A situação era tão extrema que companheiros de prisão se mutilavam para serem libertados por motivo de saúde. Duas dessas pessoas o jornalista viu enfiando uma mão num caldo de sacos de plástico derretidos. O resultado era a perda do membro e o direito de sair do presídio.
Após pedir durante um ano para ser transferido a um hospital, Castillo finalmente foi atendido e, enfim, libertado. Saber que havia organizações internacionais pleiteando sua liberdade foi uma grande fonte de esperança para ele. O jornalista conclui que a prisão massiva de opositores acabou não sendo uma boa estratégia por parte de Fidel Castro, pois causou muitas reações negativas. ‘Eles poderiam prender três ou quatro pessoas com intervalos de alguns meses, e isso não atrairia tanta atenção internacional’, observa.