A mídia não se empolga com belas façanhas. Não se toca com pequenos gestos de grandes significados. Prefere o estardalhaço. Na grande imprensa, apenas a Folha de S.Paulo destacou, na quarta-feira (13/6), a brava decisão da Comissão de Educação de retirar o nome de Filinto Müller de uma ala no prédio do Senado Federal.
A presidente Dilma Rousseff delimitou o escopo da Comissão da Verdade ao período 1945-1985, mas os senadores que apoiaram o projeto do PT foram à matriz da brutalidade política na qual se inspirou a repressão da ditadura militar: o Estado Novo.
Filinto Müller (1900-1973) foi chefe da polícia do Distrito Federal de 1933 a 1942. Caiu porque pretendia reprimir com violência a grande manifestação promovida pela UNE (União Nacional dos Estudantes), no Rio, a favor da entrada do Brasil na guerra contra o Eixo.
Revisão histórica
Encarregado de liquidar os líderes da rebelião militar comunista (a chamada Intentona de 1935), Filinto Müller prendeu o capitão Luis Carlos Prestes, sua mulher Olga Benário, Arthur Ernst Ewert e Machla Berger. Convicto antissemita, sugeriu a Vargas que despachasse Olga e Machla de volta à Alemanha onde, por serem judias, foram entregues à Gestapo e mortas no campo de extermínio de Bernburg. O marido de Machla, barbaramente torturado, enlouqueceu (depois da guerra foi entregue à URSS e morreu insano na Alemanha Oriental).
Filinto Müller fazia parte da linha-dura civil que pretendia estabelecer um regime fascista no Brasil e foi um dos artífices da conspiração que instalou o Estado Novo (1937). Não escondia a simpatia pelos integralistas, mas torturou os seus líderes quando tentaram depor Getúlio Vargas, em 1938. Depois do golpe de 1964, entrou para a Arena, elegeu-se senador e tornou-se um dos porta-vozes civis do regime militar. Morreu num desastre de aviação em Paris.
Mudar o nome de uma das alas do Senado, além de sanear a história do Legislativo complementa de forma nobre e natural o trabalho de revisão histórica empreendido pela comissão da busca da verdade.